A Mansão Subterrânea escrita por Justine


Capítulo 7
A lona verde


Notas iniciais do capítulo

Alguém chegou a se perguntar o que a lona vede oculta?



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Luísa havia passado a noite ali mesmo, perto da lona verde e fedorenta. Eram sete horas da manhã quando ela acordou e sentou-se, dobrando os joelhos.

Lúcia acordou e avistou Luísa de costas, a uma certa distância. Suspirando e balançando a cabeça, foi até onde a amiga estava. Aproximou-se dela e, como quem está pisando em ovos, falou:

- Er... Luí? Me desculpe por ontem, sim?

A garota não respondeu, apenas balançou a cabeça afirmativamente. Porém, mais tarde, quando todos estavam finalmente acordados, ela se sentiu a vontade para conversar.

- Em primeiro lugar - disse ela, já de volta ao lugar onde costumava passar a noite com os amigos, o olhar em chamas - eu não estou me apaixonando por ele, como muitos sugeriram, não é, senhor Roberto?

Roberto suspendeu os ombro e nada respondeu. Luísa continuou:

- E em segundo lugar, eu fiquei animada porque sei que ele sentiu uma atração física por mim - ela fez uma pauso e olhou para os amigos, exibindo um sorrisinho malicioso - E nós podemos tirar proveito disso!

- Como assim? - quis saber Pedro.

- Vou explicar: mesmo para alguém da idade de Sérgio, ainda que esteja segurando um revólver, manter quatro pessoas em cativeiro sozinho é muito difícil. Então ele nos deixa aqui, em péssimas condições, sem água e comida.

Pedro coçou o queixo.

- Continuo sem entender.

- Vou dar um exemplo: lembra daquela aula de biologia, que o professor falou sobre aquela festa ilegal, que acontece em Santa Catarina?

- A farra do boi? - indagou Roberto, coçando a nuca - O que isso tem a ver?

- Muita coisa! Quer ver? - e, virando-se para Lúcia, pediu: - Lú, você que presta atenção nas aulas mais do que nós, nos conte como acontece a farra do boi.

- Bom, geralmente ocorre na época da Páscoa... Antes disso, o boi é deixado em cativeiro, sem água e comida durante dias, até o dia da farra, quando o pobre animal é solto e perseguido por pessoas que o agride com varas, pedaços de pau e etc. Fraco demais para se defender ou lutar, o boi aguenta a tortura até morrer ou foge para o mar, onde se afoga.

- Isso mesmo! - disse Luísa - É exatamente aí ode eu queria chegar!

Ninguém parecia estar entendendo nada, mas Pedro foi o único a se manifestar:

- Continuo sem entender.

- Ai, acorda, Peu! Sérgio não quer correr o risco de uma tentativa de fuga bem sucedida por parte de seus prisioneiros, pois sabe que isso pode não acabar bem para ele. Então, ele vem aqui com aquela pistolinha de matar baratas todos os dias, só para ver como está nossa situação, e continuará a vir, até o dia que nos encontrar vulneráveis demais para tentar qualquer tipo de defesa. Aí ele começará a matança, seja ela como for. É mesmo um covarde!

Pedro tornou a coçar o queixo, mas agora parecia que tudo estava ficando mais claro para ele.

- Ah... Então foi isso o que ele quis dizer ontem, quando falou que nós ainda não estávamos prontos.

Luísa balançou a cabeça, afirmando.

- Ok, Luí. - disse Roberto, rapidamente - Mas com isso tudo, como podemos tirar proveito da atração física que ele sente por você?

Os olhos da garota brilharam.

- É aí que entra o meu plano! Escutem!

Pedro, Roberto e Lúcia escutaram atentamente o plano de Luísa, e quando ela terminou, estavam perplexos.

- É um plano ousado. - comentou Pedro.

- Arriscado, eu diria. - concordou Roberto.

- Eu sei. - admitiu Luísa - Mas é o único jeito de tentar sair daqui. E então... Vocês topam ou não?

- Bom... Eu não quero ficar aqui para ver o que o tal do Sérgio faz com os seus "bois". - disse Roberto, simulando aspas com os dedos.

- Entre morrer às mãos de meu avô e morrer às mãos de um estranho, eu fico com a primeira opção. - declarou Pedro.

- Eu também 'tô' dentro. - concordou Lúcia - Topo qualquer coisa para sair deste lugar.

- Então formou - bradou Luísa, animada.

Colocando suas mãos sobre as outras, o quarteto fantástico entoou seu grito de guerra.

- Seguiremos juntos, pois a união faz a força! Quarteto Fantástico!

Lançaram as mãos para o alto, rindo bastante. Pareciam ter enxergado uma luz no fim do túnel.

- Agora é só esperar o peixe cair na nossa rede! - disse Roberto, com um sorriso bem malandro nos lábios.

Mas, com o passar das horas, a primeira decepção foi anunciada: os relógios dos rapazes já marcavam sete horas em ponto, mas nenhum sinal de Sérgio. Pedro ficou visivelmente irritado.

- Até parece que adivinhou o nosso plano! - rosnou o rapaz.

- Calma aí, pessoal! - disse Luísa, otimista - Aposto que ele vai aparecer ainda hoje.

Mas nem Lúcia parecia tão otimista.

- Não sei não, Luí. Acho que ele vai demorar para aparecer, agora.

- É - concordou Roberto abatido - E quando ele finalmente aparecer, então estaremos fracos o suficiente para colocar qualquer plano em prática. Então facilitaremos o trabalho dele...

- Ou não! - disse Luísa, entusiasmada, enquanto abria sua mochila. Parecia ter se lembrado de que, dentro dela, havia algo muito importante.

- O que você quer dizer? - quis saber Roberto, olhando para ela, curioso.

Luísa não respondeu. Apenas retirou da mochilinha um pacote de biscoito recheado e um cantil de água.

- Uma mulher prevenida vale por duas!

Ela abriu o pacote e, num instante, os amigos avançaram em sua direção, felizes por ter o que comer e beber depois de dias. Se nunca souberam o que é necessidade, estavam descobrindo agora.

- Vamos comer apenas dois biscoitos e beber um gole de água cada um. - aconselhou Luísa - Afinal, não sabemos por quanto tempo ainda vamos ficar aqui.

- Quem diria! - disse Pedro, enquanto comia o seu biscoitinho de chocolate - Nós, acostumados a ter tudo do bom e do melhor, felizes por estarmos comendo estes biscoitos e tomando água quente.

- É. - concordou Lúcia - Uma viagem para algum lugar da Europa para mim é algo tão normal que nem chego a achar uma novidade. Mas agora estou feliz por causa de um lanche.

- Sempre tivemos tudo o que quisemos tão facilmente... É incrível como certas situações podem ensinar certas lições. - disse Luísa.

Até Roberto, sempre tão orgulhoso, admitiu:

- Nunca havia me contentado com tão pouco antes.

Continuaram comendo vagarosamente suas pequenas quantias de biscoito, mas Luísa não tirava os olhos da lona verde, que com certeza ocultava algo. Não importava o que fosse, ela sentia que só ficaria sossegada quando descobrisse.

- Pessoal... - ela disse - Vamos ver o que tem embaixo dessa lona?

- É - concordou Roberto - Eu também gostaria de dar uma olhada.

Pedro e Lúcia, porém, trocaram olhares preocupados.

- Receio que não seja a melhor coisa a fazer, pessoal. - disse a garota.

- Por que não? - insistiu Luísa.

- É que talvez a surpresa não seja tão agradável. - explicou Pedro.

- Ah, qual é? - resmungou Roberto - O que pode ser mais desagradável do que estar aqui?

Pedro e Lúcia trocaram mais uma vez olhares apreensivos. Até que finalmente o rapaz falou:

- Está bem. - e, acompanhado por Lúcia, foi até a lona.

Os dois abaixaram-se perto dela e cada um segurou uma ponta do tecido sujo. Após contarem silenciosamente até três, suspenderam-o de uma vez. Com pesar, viram então que suas suspeitas estavam estavam certas: a lona escondia três corpos em estado avançado de decomposição. Luísa, que havia ido em direção aos amigos, só não caiu no chão porque foi amparada por Pedro. Roberto aproximou-se e, espantado coa a cena, perguntou, enfiando rapidamente um pedaço de biscoito na boca:

- Noossaa... O que é isso?

- Corpos em estado coliquativo avançado. - respondeu Pedro mortificado - É isso que está causando o mau cheiro.

Os três observaram em silêncio o espetáculo macabro que se desenrolava. As carnes já amolecidas e pastosas preparavam-se para se desgarrar dos esqueletos, enquanto vermes e outros animais decompositores os infestavam. Apenas Luísa não olhava; ainda nos braços de Pedro, mantinha o rosto virado para outra direção qualquer, e desabou no choro. Pedro acho melhor tirá-la dali, e assim fez, deixando Roberto e Lúcia incumbidos de cobrir os corpos novamente.

Mais tarde, quando Luísa dormia no colo de Pedro, o rapaz fez o seguinte comentário com Roberto e Lúcia, que estavam acordados:

- Acho que encontramos os três adolescentes.


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Notas finais do capítulo

Sei que demorei para postar. Viajei, então ficou difícil e o nyah também estava me dando aquela dor de cabeça....
Espero que gostem, pois eu goste muito de escrever este capítulo.
Ah, e quem quiser saber mais sobre a farra do boi, pode acessar estes sites:
www.pea.org.br
www.wikipedia.org/wiki/Farra_do_boi
Até o próximo, e por favor, deixem comentários!



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