Eu sonhei com aquele dia por tanto tempo, mas meu sonho não era tão alto assim.

Eu poderia reconhecer aqueles rostos em qualquer lugar. Cada livro que um dia eu li por causa deles. Cada coisinha que eu comprei graças a eles.

Faz 2 anos que os conheci. Havia uma placa: "Procura-se auxiliar para o setor juvenil" pendurada numa livraria no final de uma rua. Madame Benson disse que poderia ser uma boa ideia. Assim que vi eles, eu soube que seriam ótimas pessoas. Acho que gostaram de mim, trabalho até hoje por lá. 

Sim. Eram os donos. O Sr. e Sra. Vitch. Apesar de eles implorarem que eu chame de Daniela e Rafael. Sra Vitch - Mãe? - me ensinou muita coisa.

– Olá Pa. - Pa. Era a maneira que ela me chamava, eu simplesmente amava isso.

Eu só corri para abraça-los. Eu não acreditava. Sério? eles? Eu tinha medo de que alguém ruim me adotasse, mas agora eu sabia que estaria em boas mãos.

Fui me despedir das crianças. É. Crianças. Só havia elas ali. Ninguém queria adotar os mais velhos. A unica pessoa que eu poderia chamar de amiga de verdade, era Anne. Ela era filha da madame Benson. Sempre foi um amor. Ela tinha 12 anos, mas certamente poderia se passar por 16. Eu disse que estaria de volta, em quanto ela estava aos prantos.

Quando voltei, Daniela e Rafael estavam assinando os papéis. Madame Benson era outra que chorava com facilidade. Despedi-me dela. Ela era uma mulher muito boa.

Quando estava pronta para ir embora, madame Benson me chamou.

– Paola, você é uma menina especial. Não esqueça disso. Seus pais te deixaram aqui por um motivo mas agora você pode ficar tranquila. Eles sempre estarão no seu coração. - "Seus pais". Odiava quando ela falava isso. Eu não tinha pais. Não tinha. Agora tenho.

– Eu não preciso deles. Só preciso dessas pessoas que estão aqui. - eu disse - Confio nelas.

Então saí. Minha nova vida ia começar. Sim, estava tarde. Melhor tarde do que nunca né?

Pena que eu não sabia como seria essa vida. Eu poderia ter ficado no orfanato.