A Última Chance escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 74
Parte IV - Capítulo 74 - Nove Meses


Notas iniciais do capítulo

PESSOAS, me desculpem pela demora. Mas vou me explicar. Eu tive uma epifania sobre a fic, depois de ficar um pouco deprimida por ela estar acabando, e mudei um pouquinho final dela. Mas só um pouquinho. Então esse é o penultimo capítulo, e espero que não se decepcionem com o final.
Capitulo dedicado á linda Anitta L. Flor, sua recomendação foi MAIS que perfeita, e alegrou um dia que não estava muito bom. MUITO obrigada! ♥
Espero que gostem :3



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Capitulo 74

Nove Meses


 

Um mês inteiro já tinha se passado, e Kalem e eu não saímos da estrada nem por um dia. Estávamos ávidos por encontrar os outros e prometi que enquanto tivéssemos condições iríamos procurá-los. Enquanto isso, o tempo passava depressa e logo já estava com três meses de gravidez. Apesar disso, minha barriga tinha o tamanho de quatro ou cinco, e comecei a me preocupar com a ideia de que fossem gêmeos. Não era impossível, visto que eu tinha o genes, e vai saber do lado da família do Daryl.

No momento estava ensinando Kalem a dirigir, o que achamos uma boa ideia ele aprender caso eu não pudesse fazer isso ou ele tivesse que fugir sem mim e também estava difícil fazer isso com minha mão direita inchada. Usávamos estradas secundárias ou particulares vazias, onde não havia outros carros para bater. Kalem aprendia rápido.

Nos primeiros dias sozinhos descobrimos que na mala do carro tinha uma boa quantidade de armas e munições e comida e gasolina também. Queria muito abraçar quem tinha colocado todas aquelas coisas lá. Depois disso tivemos alguns problemas, é claro. Como o carro, zumbis, dormir, zumbis, eu passava mal constantemente, zumbis... Mas sobrevivemos muito bem e ainda conseguíamos dos descontrair com assuntos triviais e jogos, mas mesmo nesses momentos conseguia ver algo nos olhos do meu irmão.

– O que foi? O que está te perturbando? - perguntei uma noite, enquanto nos preparávamos para descansar.

– Nada... Só queria que a mamãe estivesse aqui.

– E...?

– Me sinto culpado por ter esfaqueado o Governador. - admitiu, colocando tudo para fora num fôlego só.

– Não se sinta. Você fez o que devia fazer. Além disso, aquilo não o mataria. Não precisa se sentir culpado.

– Mas talvez ele não tivesse morrido se eu não agisse. Não devia ter pegado sua faca debaixo do travesseiro. Me desculpe.

– Me escute. Se você não tivesse feito o que fez, teria morrido. E então aquele homem, me mataria, e iria atrás da nossa família e dos nossos amigos. Você provavelmente salvou a todos nós. Deve estar perturbado por ter visto ele morrer, mas você fez a coisa certa. Agora vem aqui.

O puxei para o meu lado, colocando sua cabeça em meu colo.

– Aproveite que ainda pode dormir no meu colo. logo a minha barriga não vai deixar.

– Como eu posso chamar ele? - perguntou passando a mão em minha barriga.

– Ainda não pensei em um nome.

– Não, quero dizer... Me sinto estranho pensando nele como meu sobrinho. Só tenho doze anos! Seria melhor, sei lá, considerar ele como um irmão?

– Irmão? Mas eu sou sua irmã. - acariciei seus cabelos.

– Está mais para minha mãe. - murmurou franzindo a testa.

– Desde quando? - perguntei com um riso fraco.

– Desde, tipo, sempre. - sorriu e fechou os olhos - Desde que trocava minhas fraldas até quando ficamos sem nossos pais e você cuidou de mim e da Gael fazendo o melhor que podia. Você será uma ótima mãe, Lia.

Enquanto Kalem caia em seu sono, sei um beijo em sua testa e voltei a acariciar seu cabelo, imaginando quando teria perdido seu aniversário de doze anos.


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Minha barriga de quatro meses - que aparentava ser de seis - finalmente começou a pesar, e minhas aulas de direção e ligação direta passaram a ser mais complicada. Os enjoos tinham passado, mas minhas pernas se cansavam facilmente e minha mão continuava com uma aparência nada boa. Teria que tomar logo uma atitude quanto a isso, ou teria que quebrá-la novamente para colocar no lugar.

Também estava tendo dificuldades com os zumbis. Era complicado para eu matá-los sem atirar e chamar a atenção de outros, e preferi deixar meu arco e flecha com Kalem, que era muito bom com eles. Me sentia tão orgulhosa quanto qualquer um poderia ficar ao ver o garoto que ajudou a criar desde bebê agindo de maneira tão madura numa situação tão difícil.

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O tempo estava ficando cada vez mais frio e o desespero que sentia crescia cada vez mais. Minhas roupas estavam muito apertadas e não me esquentavam, e todos os dias o clima parecia ficar mais ameno. Talvez estivéssemos indo para o norte ou simplesmente o inverno chegando. Não fazia a mínima de onde estávamos, e não me importava. E Kalem também não parecia se importar muito, virando em qualquer lugar da estrada que parecesse seguro quando era sua vez de dirigir. Para falar a verdade, depois de meses procurando por nossa família, perdemos aquela necessidade e esperança de encontrá-los. É claro, nunca desistiríamos deles, mas nossa prioridade era sobreviver, acima de tudo.

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Com seis meses de gravidez já não me aguentava mais e implorava aos céus todos os dias para os próximos três meses chegarem logo. O frio estava congelante e passávamos a maior parte do tempo no nosso novo carro azul esportivo. Depois de a gasolina acabar, abandonamos o anterior e procuramos um carro que tivesse o tanque cheio – difícil, mas não impossível – e um bom aquecedor, porque as pontas dos nossos dedos estavam tão frias que a pele ficou de um vermelho arroxeado doentio. Depois de encontrar roupas apropriadas, cobertores e ficarmos mais confortáveis ali dentro, dirigimos com cuidado entre os vários carros acidentados e queimados pela estrada que nos levaria a Washington DC. Quem sabe a Casa Branca ainda não estivesse de pé? Depois de ver mortos voltando á vida não duvidava mais de nada. Mas, quando chegamos á principal avenida que nos levava até a antiga casa do presidente dos Estados Unidos da América, encontramos apenas barreiras obviamente ineficazes contra zumbis e o que restava de homens que um dia deviam ter sido do exército que tentou proteger a Casa. O longo gramado estava coberto por corpos e aquilo não parecia nada atraente.

Uma batida soou do meu lado da janela e gritei assustada. Um zumbi batia letargicamente sua mão contra o vidro deixando marcas de sangue negro em forma de mãos nele. Com um arrepio, vi vários outros iguais a ele se levantar e acelerei atropelando todos que via pela frente antes que o carro ficasse cercado demais para que pudéssemos passar.

Foi nesse mesmo dia que meu bebê deu seu primeiro chute em minha barriga, e foi um dos momentos mais felizes da minha vida, apesar de tudo.

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Quando mais um mês se passou estávamos próximos a Denver. Levamos um mês inteiro para chegar até lá, por causa de nossas paradas. Uma grávida e um garoto de doze anos eram obviamente mais vulneráveis, não só ás coisas que nos espreitavam do lado de fora do carro – que agora era um belo Impala 1990 – como também do cansaço, do frio, da fome... E a cada dia eu estava mais perto de ter meu filho em meus braços, e me perguntava todas os dias como faria isso sozinha. Nunca pediria a Kalem para ajudar, e nem queria que ele fizesse isso. Então teria que fazer meu próprio parto, e isso me deixava desesperada. Eu não estava pronta para isso, e na verdade acho que nunca estaria. A única coisa que me animou durante os dias desse horrível e enregelado sétimo mês de gravidez foi uma lembrança.

– Hoje é dia 10 de novembro. – Kalem falou me olhando esperançoso.

– Como sabe? – franzi a testa.

– Eu conto todos os dias e anoto. – falou envergonhado puxando um bloquinho de papel e um lápis do lado de sua mochila.

– Sério? – sorri – E o que tem de mais em ser dia 10?

– Hoje é o aniversário do Damen. Ou seja, é o seu aniversário também.

Fiquei encarando meu irmão, piscando perplexa. Como podia me esquecer que dia 10 de novembro é o meu aniversário? Estava tão ocupada tentando proteger Kalem, meu bebê dentro de mim, procurando comida – que havia acabado muitas semanas antes – e tantas outras coisas, que minha cabeça parecia não ter espaço para mais nada.

– Obrigada por lembrar. – murmurei finalmente, dando um beijo em sua testa antes de me encostando no banco do passageiro e fechar os olhos.

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No oitavo mês parei completamente de dirigir. Minha barriga não cabia mais no espaço entre o volante e o banco, e quando o ajustava para trás, meus pés não alcançavam os pedais. Mas Kalem parecia muito contente e até parecia estar se divertindo por ser o “guia” de nossa pequena viagem. Estávamos voltando em direção á Georgia. E tinha começado a nevar. Por sorte a camada ainda estava fina e dava para dirigir se fôssemos com cuidado. Mas quando a neve caísse de verdade e se prendesse no chão, teríamos que fazer a escolha: ficar dentro do carro com o aquecedor até podermos voltar para a estrada, ou esperar esse tempo dentro de uma casa dando um jeito de nos aquecer, e provavelmente teria meu filho durante esse tempo. Estava morrendo de medo e ás vezes, sem conseguir me segurar derramava algumas lágrimas de medo. Medo da dor que sentiria, medo de não conseguir, medo de não conseguir proteger meu filho e Kalem... Medo do que viria a seguir, e desejei secretamente que o tempo parasse bem ali.

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A casa ficava numa cidadezinha no interior da Georgia, e não foi nem um pouco difícil acabar com os zumbis que estavam dentro dela, eram apenas três, e permiti que meu irmão acabasse com eles sozinho, mas sempre por perto caso algo saísse do controle. Nos mudamos para lá assim que a neve se acumulou no chão e não conseguíamos andar mais nem um metro. Ocupamos a casa e ficamos lá dentro enrolados em nossos cobertores, ás vezes nos arriscávamos e colocávamos algo para queimar na lareira, de papelão, ou tecido, qualquer coisa que pegasse fogo. Foram dias tranquilos. Até que começou.

Numa noite, enquanto comíamos alguma coisa desconhecida enlatada que encontramos na cozinha da casa, senti uma dor estranha no abdômen. Não era nada insuportável, só um pouco incômoda, e assim que terminamos de comer subimos para um dos quartos e nos ajeitamos na cama de casal no meio dele. Abracei Kalem, que usou meu ombro como travesseiro. Demorei um pouco a dormir e então finalmente consegui, só para acordar no meio da noite, um calor horrível corroendo meus braços, pernas e pescoço, e uma dor lacerante que tornava quase impossível eu me mexer. Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu murmurava.

– Chegou a hora.

Balancei Kalem, que dormia profundamente, e ele acordou assustado. Forcei um sorriso enquanto me esforçava para me sentar e o abracei, deixando-o confuso.

– Eu quero que você vá para o carro. Leve cobertores e algo para comer, e só saia de lá quando eu te chamar.

– Mas... – tentou protestar.

– Mas nada. – falei com a voz entrecortada, quando uma pontada abalou meu corpo – Vá agora. Faça o que eu disse. Eu te amo, ok?

– Eu também te amo.

Com um ultimo abraço ele saiu do quarto e eu me deitei na cama sentindo as contrações e imaginando como faria aquilo sozinha.

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Bônus Track


Assobiei tentando imitar o canto de uma andorinha, mas dos meus lábios saíram apenas ruídos estranhos, que poderiam ser tudo menos um assobio. Havia prometido a Stan que faria isso quando achasse algo, mas eu esqueci da parte principal: Eu. Não. Sei. Assobiar.

– Mas que inferno. – resmunguei e andei a passos largos até o arbusto congelado, onde Stan mexia em sua arma como se fosse um maníaco. Quero dizer, ele é bem maníaco sim, mas ás vezes o modo aberto como demonstra isso é realmente... Maníaco.

– Finalmente o passarinho voltou. Espera, pássaros assobiam. Claramente você é um pássaro defeituoso. Quero reembolso. – falou sarcástico.

– Ah, cala a droga dessa boca e vem me ajudar. Logo ali na frente tem uma placa indicando uma cidadezinha a dez quilômetros daqui. O que acha da gente ir até lá e ver se alguma casa tem comida? Seria uma boa ideia passar a noite lá também. Parece que vai nevar, e não estou muito afim de morrer sufocado por um monte de neve.

– Cara, alguém já disse que você fala demais? – ele esfregou os olhos irritado.

Suspirei e me virei, indo na direção que a placa estava. Com alguns resmungos e palavrões, Stan começou a me seguir e fizemos o caminho em silêncio. Era muito fácil atrair aquelas coisas mortas, e apesar de ser bom e re-matar elas, preferia não me arriscar.

– Bem que podíamos encontrar uma garota bonita nessa cidadezinha. – ele comentou com um sorriso malicioso quando entramos na rua principal do pequeno vilarejo e me fez revirar os olhos.

– Porque não pega uma mulher-zumbi? Talvez te agrade. Do jeito que você é estranho talvez goste mesmo.

– Nossa, muito engraçado, Sr. Hilário. Eu devia era...

Ele foi interrompido por um grito. E não era um grito qualquer, parecia que estavam nos chamando. Instintivamente peguei minha arma e a destravei, e Stan fez o mesmo. Mais uma vez alguém nos chamou e, mais á frente, pude vez uma forma na penumbra do amanhecer correndo em nossa direção. Apontei minha arma para a criatura, mas assim que ficou mais próxima pude ver que era apenas um garoto.

– Stan, abaixa essa arma. É só um garoto.

– Um garoto que pode querer nos comer. – falou entredentes com a arma ainda na mira.

– Eu preciso de ajuda. – falou o garoto engolindo em seco.

– Ah, com certeza precisa. – Stan ironizou – Qual é o plano? Dizer que alguém está morrendo e dizer que está sozinho no mundo, nos atrair para o seu grupo e roubar nossas coisas?

– Minha irmã está tendo um filho. – falou o garoto ignorando o ataque idiota do paranoico ao meu lado.

– Onde ela está? – perguntei.

– Está numa casa, no fim da rua. Eu não sei o que fazer, ela me mandou ficar longe, mas não tem ninguém pra ajudar.

O segui até uma casa amarela no final da rua, mesmo com os protestos de Stan. Talvez ele tivesse razão, mas não seria legal deixar uma mulher fazer o próprio parto se fosse verdade. A casa parecia muito silenciosa e parada, sem nenhum movimento. Comecei a cogitar que talvez o garoto realmente estivesse nos enganando, mas não dava pra voltar estando na ponta da escada. Subi, deixando o garoto me guiar pelo corredor, e paramos na frente de uma porta fechada.

– Abra. – mandei para o garoto, e ele girou a maçaneta ao mesmo tempo que apertei minha arma em punho.

O garoto virou as costas para a porta parecendo pálido e entrei no quarto, onde encontrei uma garota ruiva, que parecia ter no máximo dezesseis anos, deitada na cama. Sua pele suada fazia alguns cachos do cabelo grudarem na testa e tinha uma expressão tão agoniada que sua dor era quase palpável. Seus olhos dourados e assustados encontraram os meus.

– Quem é você? – perguntou arfante.

– Caramba, quando eu disse que seria legal encontrar uma mulher bonita eu não quis dizer uma mulher bonita grávida. – Stan falou como se sentisse que tinha sido traído.

– Eu vou fingir que não escutei isso. Só, por favor, tira essa coisa de dentro de mim! – a garota falou se contorcendo e murmurando alguns xingamentos.

– Cara, você faz isso. – Stan bateu solidário em minhas costas e saiu fechando a porta.

Olhei para a garota á minha frente e andei hesitante até ela.

– E então...- tentei falar algo. Não sabia o que fazer.

– Anda logo! Isso ta doendo como o inferno... – apertou a enorme barriga e se inclinou para frente, como se usasse toda a sua força para se sentar, e então se deitou novamente arfante – Quando dizem que a cólica é uma amostra grátis de um parto, não era verdade. Não chega nem perto de uma amostra grátis.

Sentei-me bem na beirada da cama.

– Me desculpe, eu não sei o que fazer.

– Descubra. – falou entredentes.

– Estou tentando ajudar, seja mais receptiva, ok? – bufei, frustrado.

Os dedos dela se enterraram no colchão com violência e pensei que fossem atravessar a cobertura reforçada dele.

– Tem. Uma. Pessoa. Saindo de dentro de mim.

Passei as mãos pelos cabelos, nervoso, pensando em como fazer isso. Não seria a coisa mais agradável da minha vida, mas era necessário.

– Tudo bem, tudo bem... Vamos dar um jeito. Acho que eu vou ter que tirar a sua calça... Se não se importar.

– Desde que... – ela se interrompeu fechando os olhos com tanta força quanto sua mão em punho – Anda logo.

Normalmente não ficaria receoso em tirar a roupa de uma mulher, mas essa era uma situação diferente. Tirei sua calça com todo o cuidado, com movimento lentos para não fazê-la sentir mais dor, e tentei não pensar no que estava prestes a fazer.

– Eu realmente não sei o que fazer. Acho que devíamos seguir os filmes. Sabe, aquela coisa de “faz força” e tudo mais.

A garota engasgou por um momento, estremeceu e arrastou as unhas pelo colchão fazendo um barulho irritante, os olhos fechados em agonia.

– Mas se não tiver dilatação isso não da certo. – falou quando abriu os olhos novamente - Ah, céus, eu quero anestesia.

– Francamente, o que deu em você pra ficar grávida logo no meio do apocalipse zumbi? É maluca? E eu não sei nada sobre essa coisa de dilatação. Não sou médico.

Sem responder, ela me encarou com os olhos marejados. Não entendi muito bem, mas parecia ter a magoado. Ótimo, magoei uma mulher grávida em trabalho de parto.

– Vamos tentar fazer isso do jeito que você falou então. Se não der certo o máximo que pode acontecer é eu e meu filho morrermos. – uma lágrima escorreu por sua bochecha – Pode contar até três?

Pensando que o que estávamos fazendo era insano, suspirei. Estávamos colocando duas vidas em risco.

– Um. – contei – Dois. Três.

Ela apertou a beirada da cama e seu corpo inteiro tremeu com a força que colocava. Se deixou cair de volta na cama com soluços altos saindo de seus lábios.

– De novo. – colocou pra fora num suspiro.

– Um. Dois. Três.

Mais uma vez ela colocou toda a sua força e fiquei imaginando o que aconteceria se não tivesse ido para a pequena cidade ou se o garoto não nos visse. Provavelmente ela faria isso sozinha e as chances de isso dar certo não eram muitas.

– Um. Dois. Três.

Um grito agudo saiu por seus lábios junto com um forte soluço, e o choro ficou realmente alto.

– Um. Dois. Três.

Outro grito foi ouvido, e a porta se abriu minimamente.

– Hey, gata que está grávida, se puder tentar não gritar agradeço. – Stan falou continuando de costas para nós – Os zumbis já estão se juntando na rua.

– Não a perturbe, cara. – passei o punho trêmulo por minha testa. Apesar do frio, estava suando. Só não estava mais que a ruiva.

– Só estou falando.

A porta se fechou novamente e me voltei para a cama.

– Vamos novamente.

– Não.

– Como assim não? – perguntei confuso.

– Ele não quer sair, vai ficar aqui dentro. – olhou para a enorme barriga irritada – Está de castigo, escutou, mocinho?

– Certo... Acho que está delirando.

– Eu também.

Revirei os olhos e voltei para a posição de antes.

– Vamos lá. Um. Dois. Três. De novo... Um. Dois. Três. Um. Dois. Três.

Perdi a conta de quantas vezes contei um, dois, três, e nada acontecia. A garota tinha parado de chorar ou gritar fazia muito tempo, como se já tivesse se acostumado com aquilo. A única demonstração de que ainda senti alguma coisa eram seus olhos fechados com força e as mãos que apertavam qualquer coisa ao seu alcance – inclusive minha mão, que pensei que fosse quebrar. Até que um milagre aconteceu.

– Espera, estou vendo alguma coisa. Acho que é a cabeça dele. Vamos de novo. Um. Dois. Três.

Ela empurrou mais uma vez. Contei novamente, e de novo, e de novo e... Um choro ecoou por todo o lugar. O corpo da ruiva, mesmo que obviamente exausto, pareceu mais alerta que nunca, olhando com os olhos cansados a criatura em meus braços.

Segurei o pequeno bebê chorão em meus braços, coberto de sangue. Era um menino. Gritei para Stan pegar algum cobertor e um pano, e não demorou a voltar com um de lã e uma toalha. Passei ela pelo corpo da criança e depois a envolvi com o cobertor, colocando-a nos braços de sua mãe.

– Hey meu amor. – murmurou com a voz fraca, passando o dedo por seu rostinho. Então olhou para mim, voltando logo para seu filho – Como você se chama mesmo?

– Está falando comigo? – perguntei.

– Sim. – seus olhos quase se fechavam.

– Wes.

– Obrigada por tudo, Wes.– estendeu a criança para mim – E esse é meu pequeno Ian.

Seu corpo caiu na cama inconsciente, e encarei o bebê em meus braços, encolhido em seu manto quente. Ian. Esse era o nome do meu pai. Sorri para ele e prometi silenciosamente que não deixaria nada lhe acontecer enquanto eu estivesse vivo.


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Notas finais do capítulo

E ae, o que acharam? :3 Please, me contem! Quero muito saber a opinião de vocês! *-* Ah, vou postar a nova fic até segunda, e vou colocar o link dela aqui. Muito obrigada por lerem!
Beijoos e até a próxima (e última) vez! ♥