A Última Chance escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 75
Parte IV - Capítulo 75 - A Última Chance


Notas iniciais do capítulo

Oooi pessoal! Posto aqui o ultimo capitulo da fic ~tentando não chorar~ Espero que não fiquem decepcionados com o final e que gostem de, tipo, tudo.
Até as notas finais!!!!



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Capitulo 75

A Última Chance


Eu ouvia meu nome. Estavam chamando por mim. Mas não era qualquer voz. Era a voz do meu pai, e podia sentir sua mão arrepiando meus cabelos como quando eu era pequena. Sua voz se tornou mais alta e nítida em meus ouvidos, mas não conseguia vê-lo. Não podia ver nada, na verdade. Estava tudo escuro, mergulhado numa negritude assustadora.


– Pai? - o chamei - Não consigo ver você.

Ele não me respondeu, mas continuou a me chamar meu nome. Sua voz foi se afastando, e se tornou um eco como se estivesse atravessando um longo corredor. Porque ele estava indo embora? Ele morreu por minha causa, eu entendo, mas queria estar com ele. Não era o melhor pai do mundo, mas era o meu pai, e eu o amava.

– Pai, por favor... Não me abandone. - pedi chorosa, me encolhendo, enquanto sua voz sumia e era substituída por outra, também masculina, mas muito diferente.

– Hey, ruiva. Por favor, não morra... Você tem um filho, lembra? Não pode morrer.

Apertei os meu olhos, de repente muito doloridos, e respirei fundo. Tive a sensação de não respirar fazia muito tempo.

– Ah, graças a Deus a criatura está acordando. Podemos ir agora?

– Quantas vezes preciso pedir pra calar a maldita boca, Stan?

– Qual é, vamos só deixar a criança com a criança e vamos embora logo! Vai dizer que quer ficar aqui cuidando de um bebê chorão? - fez-se silêncio por um tempo - Não acredito nisso.

Abri os olhos, encarando um teto com a tintura branca descascando. Ou seria a parede? Estava tudo rodando, não podia saber.

– Ian. - murmurei, mas minha voz saiu tão fraca que me perguntei se alguém ouviu.

– Ele está bem. - uma mão fria pousou em minha testa, mas não conseguia ver quem era - É melhor descansar um pouco.

– Eu quero o meu filho.

– Tenho certeza que sim, mas...

– O que aconteceu? - perguntei sentindo meu coração acelerar. Alguma coisa estava errada.

– Você estava quase morta há alguns minutos, quase não tinha pulso. - olhos cinzas entraram no meu campo de visão - É melhor continuar aqui por um tempinho.

Encarei o rosto bronzeado emoldurado por cabelos dourados por um momento, tentando entender se eu devia conhecê-lo.

– Quem... - pigarreei quando a fala doeu minha garganta - Quem é você?

– Cara, eu fiz o seu parto! Não se lembra de mim?! - ele parecia magoado.

– Wes? - estreitei os olhos - Não me lembrava de você desse jeito. Acho que estava mesmo alucinando.

– Alguém já disse que você tem cara de psicopata? - um homem estranho falou, os braços cruzados de maneira a mostrar seu enorme bíceps sub o suéter cinza colado no corpo, destacado pela pele oliva.. Seus olhos negros me avaliavam como se pudesse ver minha alma, e em seu pescoço havia uma tatuagem tribal que me fez imaginar que talvez estivesse mesmo fazendo isso por intermédio de alguma magia negra.

– Mas que inferno, Stan! Sai logo daqui.

O homem levantou as mãos em rendição e saiu do quarto. Wes suspirou e balançou a cabeça inconformado, e então se calou completamente por longos minutos.

– Er... - comecei, envergonhada - Obrigada por tudo. Realmente não sei como te agradecer por ter me ajudado.

Wes pareceu ficar um pouco vermelho, mas não dava para dizer com certeza por causa de sua pele dorada. Como alguém tinha a pele daquele jeito estando no meio da neve por tanto tempo?

– Então... Não foi nada.

Outro silêncio constrangedor preencheu o quarto, e só foi quebrando com um choro estridente.

– Ian. - murmurei, me preparando para me levantar.

– Parece que ele quer a mãe dele. Fique ai quietinha, vou trazê-lo aqui.

Wes saiu de lá parecendo incomodado e me recostei novamente na cama. Estava ansiosa para ver o rosto do meu pequeno Ian, já que quando o vi não estava no meu melhor estado.

O choro foi se intensificando e apesar do medo disso atrair zumbis nada me tirava a ansiedade e a alegria de poder segurar uma coisinha tão pequena, frágil, e tão minha nos braços.

Segundos depois Kalem apareceu na porta tão animado como não o via fazia muito tempo, os olhos brilhando, e atrás dele Wes vinha segurando um enorme pacote de cobertores.

Me endireitei na cama e um calor me subiu por todo o corpo, apagando todo o vestígio do frio da neve lá fora. Sentia como se estivesse perto de uma lareira muito quente e eu fosse parte dela ou ela fizesse parte de mim.

O cobertor felpudo fez cócegas quando roçou em minha bochecha e segurei com firmeza o bebê que chorava.

– Hey, não chora meu amor. Shiiiu. - passei o dedo indicador por seu rostinho, acariciando-o.

– Acho que ele está com fome. - Kalem sentou ao meu lado, se encolhendo ali.

Fiquei congelada por um momento, olhando para o mesmo ponto do rosto de Ian sem realmente vê-lo. Engoli em seco e voltei a fazer o mesmo que antes como se nada tivesse acontecido. Olhei furtivamente para os homens que me encaravam.

– O que está esperando? - Wes perguntou confuso;

– O que? - pisquei, o coração acelerado.

– O seu filho está com fome, oras...

O encarei por um momento, sem saber como responder.

– Depois eu que sou o idiota. - o homem moreno que ainda não tinha nome revirou os olhos - Não viu partes dela o bastante não, cara? Deixa a psicopata em paz por um momento.

Senti meu rosto esquentar e Wes olhou assustado para o amigo, e de repente parecia pálido em todo seu maravilhoso e dourado bronzeado. Saiu de lá sem falar mais nada e foi acompanhado pelo outro, mas ainda pude ouvi-lo dizer algo como “vamos aproveitar e dar o fora”.

– Quer que eu espere lá fora também? - meu irmão perguntou compreensivo.

Assenti, agradecida, e quando ele saiu fiquei olhando o rostinho vermelho de Ian, que ainda chorava tão alto quanto uma sirene. Eu sabia o que fazer, só não me sentia muito preparada pra isso. Na verdade, não me sentia preparada para cuidar do meu próprio filho. Mas teria que aprender a fazer isso.

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O início de fevereiro trouxe com ele sol forte e neve derretida, o que devo dizer, me agradou muito. O frio do último mês só fora suportável por causa dos vários cobertores e das bebidas quentes que Wes preparava pelo menos três vezes ao dia, usando folhas de chá - tiradas não sei de onde - e a lareira da sala. Ele era muito atencioso e sempre perguntava se Ian ou eu precisávamos de alguma coisa. Apesar de não gostar muito de abusar de sua boa vontade, tinha que admitir que era muito bom ter sua ajuda. Ainda era difícil para mim me mover muito rápido. Todo aquele esforço pra colocar a criança pra fora parecia ter me esgotado completamente. Se fossem gêmeos então, como eu imaginava? Estava ferrada. Felizmente quando contei sobre isso, Stan - o amigo da magia negra que finalmente tinha um nome - “gentilmente” contou que quando o bebê é um menino a barriga pode crescer um pouco mais. Não vi sentido nisso, mas preferi não discutir.


O importante no momento era: estava recebendo a ajuda de duas pessoas - apesar de uma ser extremamente relutante -, que mantinha tanto eu e meu filho como também Kalem seguros.

Mas, com a chegada de fevereiro, resolvemos sair dali. Os zumbis não eram tão burros quanto sempre imaginávamos, e já fora um grande risco permanecer na mesma casa por quase um mês. Logo não estaríamos mais tão seguros ali.

Coloquei tudo o que era meu numa mochila enquanto Kalem, que já tinha arrumado a dele, organizava a de Ian com tudo o que Wes e Stan tinham conseguido para ele.

– Não estou achando aquele lenço amarelo. - falou mexendo nas ultimas peças sobre a cama.

– Eu deixei na sala. - respondi colocando a criança adormecida na cama - Vou buscar.

Saí do quarto desabotoando minha blusa de frio que de repente me esquentava demais. Desci o primeiro degrau e parei ali, ouvindo meu nome na conversa.

– Então você quer simplesmente deixá-los para trás? - Wes parecia furioso.

– É o que estou sugerindo desde o primeiro dia.

– É UM BEBÊ! - o loiro gritou e me encolhi, arregalando os olhos. Não o tinha visto com tanta raiva. Até aquela hora.

– Escuta...

– Escutar? Escutar o que? Que você é um filho da mãe egoísta?

– VOCÊ QUER MORRER POR CAUSA DELES? - Stan explodiu - A CULPA NÃO É NOSSA SE A PIRRALHA NÃO SABIA COMO NÃO FICAR GRÁVIDA!

Apertei o corrimão de madeira com toda a minha força, os olhos ardendo.

– Você se sentiria melhor se os três morressem? - Wes perguntou mais calmo, e segundos muito lentos de silêncio se seguiram - Ótimo. Pode ir embora então. Eu vou com eles.

Passos rangeram no assoalho de madeira e corri de volta para o quarto.

– Onde está o lenço? - Kalem perguntou brincando com Ian no colo. Me sentei na cama sem responder, em choque, olhando para o chão - Aconteceu alguma coisa?

A porta se abriu e me foquei nos tênis de corrida grudados á frente, que pareciam esperar pacientemente que eu abrisse a boca. Talvez o dono deles estivesse fazendo isso.

– Kalem, pode nos da licença? - pedi sem levantar os olhos, mas pude ouvir quando a porta foi fechada novamente.

Continuamos em silêncio e passei a olhar minha mãe esquerda, cheia de pontinhas marrons. O corrimão tinha deixado uma lembrança. Mas aquelas farpas não me machucavam tanto quanto meus próprios pensamentos.

– Aqui. Você deixou o lenço amarelo lá embaixo. - os tênis se aproximaram - O que aconteceu com as suas mãos?

Quando não respondi, Wes se ajoelhou á minha frente e tomou minha mão na sua. Os cabelos razoavelmente compridos tamparam seu rosto quando o abaixou para examiná-la e começou o delicado trabalho de retirar as farpas. Um soluço alto ecoou pela sala, e me assustei ao perceber que era meu. Sem conseguir me conter soltei toda a raiva e tristeza que estava presa no nó que ocupava minha garganta.

– Me desculpe. - pedi, fungando.

As mãos de Wes pararam de se mover, mas ele não olhou para mim. Então continuei.

– Stan tem razão. Eu sou uma idiota, que agora tem que cuidar de um bebê que não devia ter nascido. Você devia ir embora com ele. - solucei novamente - Eu não queria ficar grávida, eu juro. Foi... Droga, não tenho como explicar isso. Eu amo Ian, ele é melhor coisa que tenho, mas... Talvez eu não devesse ter deixado ele nascer.

O homem á minha frente levantou a cabeça subitamente, novamente parecendo com raiva. Ele apertou minha mão já livre das farpas entre as suas.

– Nunca mais repita isso, entendeu? Você, Ian, Kalem... - suspirou, fechando os olhos - É a primeira vez que me sinto vivo desde... Muito tempo. Como se estivesse em família novamente. Entende como isso é importante para mim? Eu não vou deixar nada acontecer com nenhum de vocês.

Assenti, fungando, e uma de suas mãos limpou as lágrimas insistentes.

– Mas Stan...

– Não se preocupe com ele. O conheço desde que éramos crianças, tenho certeza de que vai mudar de ideia. E sinto muito que tenha ouvido nossa... Conversa.

Seu tom era tão sério que não ousei escutar. Depois das semanas convivendo com o lado gentil, divertido e envergonhado de Wes, não sabia como agir diante dessa sua parte autoritária.

– As coisas já estão arrumadas. - se levantou, jogando os cabelos que caiam nos olhos para trás, e pegou uma arma na parte de trás da calça e a estendeu para mim - Aquelas coisas estão em volta da casa. Acho que eu e Stan não fomos muito... Discretos. É melhor ficar com isso.

Ele saiu do quarto e permaneci olhando a arma, sem saber o que sentir. Só sabia que se algo acontecesse com Wes eu me culparia pelo resto da vida. Não era certo fazê-lo deixar seu amigo de infância para ajudar pessoas que só conhecia há no máximo quatro semanas, se chegasse a tanto. Era uma escolha dele fazer isso, mas me sentia responsável também.

Peguei minha mochila e me levantei, irritada por ser fraca a ponto de não fazer nada sobre isso, e mais ainda por realmente não querer fazer nada. Eu queria que Wes estivesse com a gente.

Desci as escadas quase correndo e encontrei Kalem com Ian no colo e suas mochilas, um pouco assustado.

– Aconteceu alguma coisa? - perguntei, e ouvi barulhos estranhos na porta.

– Estamos cercados. Wes foi pegar o carro para não precisarmos andar no meio dos zumbis.

Uma buzina soou um segundo depois, e sabia que não poderíamos demorar. Tirei a arma que tinha colocado no bolso lateral da mochila e destravei, ouvindo reconfortante clique. Era bom estar novamente com uma arma. Devia estar no meu sangue, já que minha família inteira por parte de pai tinha alguma ligação com exército, armamento e essas coisas.

Passei um braço pelo ombro de Kalem e abri a porta de uma vez. Não tinham muitos zumbis perto da porta, já que o carro tinha atraído eles, mas alguns voltaram sua atenção por causa do barulho da porta. Minha mira não estava tão boa e errei pelo menos uns três tiros antes de acertar um. Esse foi só o menor dos problemas. Assim que o primeiro tiro foi disparado, Ian acordou assustado e abriu a boca num choro estridente. Ele era muito novinho e seus ouvidos ainda eram sensíveis. Um barulho alto como o de tiros não eram nada agradáveis para ele, mas seu choro com certeza chamou a atenção dos zumbis que ainda não tinham nos visto ali. Mantive Kalem á minha frente para ter certeza de que nenhum estava próximo demais deles. Quando chegamos ao carro, Wes abriu a porta do passageiro e atirou nos que vinham atrás de nós, enquanto eu abria a porta de trás para meu irmão entrar. Assim que ele e Ian estavam seguros, entrei no lado do passageiro, e quando estava fechando a porta um zumbi agarrou o braço que a puxava. Assustada, puxei o braço e o zumbi, insistente sem querer largar, veio junto com a porta, que esmagou sua cabeça.

– Eca. - foi a única coisa que falei enquanto limpava o sangue que respingou em meu rosto com a manga da blusa e Wes ria - Não tem graça.

– Você riria se visse a sua cara.

– Engraçadinho. - revirei os olhos enquanto o carro entrava numa rodovia, e Ian ainda chorava - Kalem, me dê o Ian.

Peguei meu filho que se debatia dentro do cobertor e o ninei, conversando baixinho. Gostava de contar histórias, principalmente as que realmente tinham acontecido e ainda mais as que tinham acontecido na minha família. Mas a história que eu estava contando dessa vez não era a melhor de todas. Era a história de como eu e Kalem nos separamos da nossa família e amigos , mas claro, editada para parecer uma linda história, e sem mortes.

– Isso aconteceu mesmo? - Wes perguntou quando terminei.

– Com menos fantasia e cores, mas sim.

– Então sua família está por aí.

– Pelo menos eu espero que sim. Já faz quase um ano. - abaixei o olhar com um nó na garganta.

– Me desculpe a pergunta, mas quantos anos tem? Sempre tive vontade de te perguntar isso.

– Tenho dezenove.

– Caramba! Sou dez anos mais velho que você!

Sorri com sua animação, mas parei assim que o carro deu uma parada brusca. Apertei Ian contra mim e ouvi algo cair no banco de trás.

– Está tudo bem, Kalem? - perguntei.

– Ai... Está sim. - ele apareceu no espelho retrovisor, massageando a cabeça.

– O que foi isso? - fiz outra pergunta olhando pelo retrovisor, e fiquei chocada.

Stan estava parado no meio da estrada com cara de tédio. Ele veio andando em direção ao carro e Wes abaixou o vidro do seu lado, impassível.

– Como sabia que viríamos por aqui?

– Eu leio mentes, cara. - Stan deu um sorriso irônico.

– Pode ler a minha agora? - o homem ao meu lado desdenhou.

– Você está me xingando com todos os palavrões existentes. E está inventando mais alguns.

– Acertou. O que está fazendo aqui?

– Por sorte sua - apontou para um carro estacionado á frente - eu não tinha muita gasolina.

– Você é um idiota. - Wes falou parecendo inconformado.

– Eu sei.- Stan concordou, e então olhou para mim - Eu vou na frente.

Wes ia dizer alguma coisa, mas toquei seu braço e fui para trás enquanto o outro homem se sentou onde antes eu estava.

– Ele é maluco. - Kalem sussurrou para mim.

– Eu sei. - respondi, rindo.

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Mais quatro meses se passaram e a casa onde passamos a ultima semana já estava cercada por zumbis que batiam nas portas e a maioria das janelas já tinham os vidros quebrados por causa disso, pela quantidade deles ali era até estranho não terem conseguido entrar ainda. Ian chorava quase toda hora e os atraía, mas não era á toa.


Fazia dias que ele não estava bem, e tudo o incomodava. Depois de muito choro, percebemos que ele estava com febre e que tossia com frequência. Nessa hora eu já estava desesperada. Era apenas uma gripe, mas ele só tinha cinco meses e ficar doente não era legal. Felizmente ele já estava melhorando, mas a febre ainda era alta. De acordo com o termômetro que pegamos na ultima farmácia, 39.7 graus. Com todo o estresse de ficar acordada para olhar Ian e vigiar a casa para o caso de algum zumbi conseguir entrar, Wes teve que me arrastar para o carro. Estava desesperada demais para ficar dentro de casa.

Ele dirigiu até uma estrada deserta e eu coloquei os pés em cima do banco abraçando as pernas e repousando a cabeça nos joelhos.

– Olha, sei que está com medo, mas não pode entrar em pânico, ok? Ian precisa de você, e não sei se percebeu, mas Kalem também está mal, só está fingindo que está bem porque não quer preocupá-la.

– Porque não me contou? - perguntei indignada.

Wes deu de ombros.

– O garoto me fez prometer.

Suspirei e afundei a cabeça entre as mãos. Eu queria gritar, chorar, quebrar alguma coisa. Braços me puxaram para o lado e eu me deixei levar, deitando a cabeça em seu peito. Nos ultimos meses, Wes e eu tínhamos nos tornado muito próximos.

– O que foi isso? - perguntou, de repente tenso.

– Isso o que? - minha voz saiu abafada por sua blusa.

Um barulho de estalos altos foi ouvido e levantei minha cabeça muito rápido.

– Eu não trouxe minha arma. - falei trêmula.

– Eu também não.

Cerca de cinco zumbis saíram das árvores e foram em direção ao outro lado da rodovia. Respirei fundo, aliviada. Wes ligou o carro e, quando pisou no acelerador, mais zumbis começaram a sair das árvores, e caminhavam direto para o carro.

– Não vai dar pra passar por cima... - ele resmungou tentando manobrar o carro.

– Não tem outra saída?

Comecei a abrir todas as partes ali que pudesse ter uma arma ou qualquer coisa que pudesse ser usada para matar, e achei um revólver calibre 37 com todas as munições. Não seria o bastante.

– Somos dois, com oito tiros e mais de dez zumbis. - falei - O que vamos fazer?

Wes pegou a arma da minha mão.

– Quando eu gritar “agora” você pisa fundo, ok?

– O que vai fazer?

– Só confie em mim. E dirija.

Ele abriu a porta e, se desviando de todas as mãos podres que tentavam agarrá-lo, subiu no teto do carro enquanto eu passava para o banco do motorista. Olhei para cima de boca aberta mesmo sem poder vê-lo, imaginando o que faria. Um estrondo soou e um dos zumbis que estava do para-choque caiu. A maioria dos outros estava agora na parte de trás do carro, tentando pegar o Wes, ou na minha janela. Mais barulho e outros três caíram.

– AGORA!

Pisei no acelerador e ao mesmo tempo que o carro pulava ao passar em cima de um corpo, Wes também rolava lá em cima. Devia estar difícil de se segurar. Pisei fundo até chegar a 80 quilômetros por hora e não poder ver nenhum zumbi. Depois disso parei o carro e o loiro entrou cambaleando ofegante.

– Isso sim... foi radical. - falou engolindo em seco.

Encostei no banco com a cabeça rodando e fechei os olhos. Um minuto depois liguei o carro de novo e dirigi de volta para a casa, onde encontramos a mesma situação só que mais fácil. Mas teríamos que ir embora, e logo.

– Ainda bem que chegaram. - Stan nos recebeu - O garoto piorou.

Meu coração falhou uma batida.

– Ian?

– Por favor, ruiva, o bebê já está bem. É só uma febre, você que fica se preocupando demais. Estou falando do seu irmão. E temos que sair o mais rápido possível, a tranca da porta dos fundos não vai aguentar muito tempo mais.

Assenti e corri para o segundo andar. Encontrei Kalem dormindo e me sentei na beirada da sua cama. Ele abriu os olhos preguiçosamente, parecendo exausto.

– Devia ter me contado que estava mal.

– Você já estava preocupada com o Ian. Não precisava de mais nada.

– Porque pensou isso? - perguntei confusa.

– Porque ele é pequeno e precisa de mais atenção. - falo baixinho, e seus lábios formaram um biquinho de mágoa. E nesse momento senti que ele estava se sentindo deixado de lado.

– Deixe que eu me preocupe... Isso e porque eu me importo com você. Porque eu te amo. Não esconda essas coisas de mim, querido.

– Precisamos ir. Agora. - Stan apareceu na porta .

Ajudei meu irmão a se levantar, e ele estava muito quente. Peguei sua mochila e o deixei ir na frente, alerta caso algo acontecesse, e Stan nos acompanhava de longe. Ele podia ser arrogante, prepotente, imbecil, egoísta, e muitas outras coisas, mas quando se acostumava com alguém, realmente passava a gostar dela. Bem, ele ainda não ia muito com a minha cara, mas ele adorava Kalem e Ian.

No andar de baixo, Wes carregava Ian e sua mochila além arma em sua mão em punho. Parecia irritado.

– Temos que ir agora.

Tirei uma faca da mochila. Estávamos tentando não fazer barulho.

– Não pretende atirar, não é? - perguntei apontando para a arma em sua mão.

– Ah, não. - Wes respondeu - Isso é só por precaução. Acho melhor eu carregar Ian, da última vez você quase o deixou cair. Stan, você dirige.

Stan contou até três e abriu a porta. Ele foi na frente, matando os mais próximos com um pé de cabra, e logo atrás ia Wes com meus dois garotos. Eu fiquei para trás, matando os que nos seguia e que chegavam muito perto.

Entramos no carro e Stan arrancou, me fazendo bater a cabeça no banco da frente e depois na cadeirinha ao meu lado.

– Hey! - reclamei.

– Coloca o Ian ai na cadeirinha. - Wes se virou no banco da frente, me estendendo o garoto que se debatia, agitado.

Peguei ele e com muita dificuldade afivelei só os cintos principais. Era melhor não complicar as coisas. Caso precisássemos sair rápido dali, levaríamos muito tempo para tirar todos os cintos, e não dava para falar: “Hey zumbi, será que dá pra esperar só um pouco até eu terminar de soltar o meu bebê?”

– Está se sentindo muito mal? - perguntei a Kalem. Seu nariz estava vermelho e tossia o tempo inteiro. Coloquei as costas da mão em sua testa para sentir a temperatura, e estava bem quente.

– Me sinto acabado. - falou.

O puxei para o meu colo e Kalem deitou a cabeça nele, fechando os olhos. Acariciei seus cabelos que já estavam quase os tampando e também fechei os meus. Estava exausta, depois de passar três noites sem dormir.

No meu sonho, eu estava em frente a uma casa com um vestido floral. Eu estava feliz. Toda a minha família estava reunida. Todos os meus amigos. Era um dia de sol, e o barulho reconfortante de pessoas felizes conversando era tranquilizante.

– Mamãe! - um garoto de uns cinco anos gritou correndo até mim. Seu cabelo entre o castanho e o loiro comprido voava com o vento e seus olhos dourados brilhavam animados.

– Diga, querido? - perguntei, mesmo o eu de verdade não tendo falado nada.

– Onde está o meu presente?

– Vamos lá buscar.

Segurei sua mão e, do outro lado, alguém pegou minha outra mão. Daryl. Franzi as sobrancelhas e continuei o caminho até a casa em busca do presente. De repente o lugar pareceu muito vazio e frio. Queria dizer que tinha algo errado, mas meu corpo não me obedecia, então passei a repetir meu mantra de “isso é apenas um sonho”. Quando chegamos á escada da varanda, o garoto soltou minha mão para ir correndo até a porta. Queria dizer para ele ficar e continuar segurando minha mão, para não soltar, mas ele o fez e, quando abriu a porta, a bagunça toda começou. As coisas começaram a sair de dentro da casa e de repente estavam por todo lado. Aquelas mãos apodrecidas puxavam o garoto para dentro da casa, e enquanto eu tentava chegar até ele outros surgiam do nada atrapalhando o caminho. Daryl continuava atrás de mim, também matando aquelas coisas, mas só apareciam mais delas.

– IAN! - gritei desesperada, apenas ouvindo seus gritos, sem poder fazer nada, até eles pararem. Me joguei no chão, chorando agoniada, sem saber mais o que fazer. As mãos das coisas se curvaram como garras prontas para me cortar para o jantar, e esta preparada para isso.

Abri os olhos assustada, e a primeira coisa que fiz foi olhar meu filho, que dormia esparramado em sua cadeirinha. Suspirei aliviada e encarei Kalem ainda deitado em meu colo, imaginando se fosse ele no sonho. Estremeci e empurrei qualquer pensamento sobre o sonho para a parte mais profunda da minha mente, mas não consegui deixar de pensar no que eu faria se algo acontecesse com um dos dois, se eu desistiria de tudo e me entregaria como tinha feito no sonho.

Lá, o sol já se estava se pondo e meu corpo doía por ficar na mesma posição por horas.

– Onde estamos?

– Não sei o nome do lugar. - Stan respondeu monotonamente - Estamos a umas quatro horas de Atlanta. Acho que devíamos procurar um lugar para passar o dia amanhã. Parece que vai chover, e essas estradas são muito escorregadias. E também não estou afim de dirigir na chuva.

Olhei para fora e só conseguia ver campos e mais campos e mais campos com algumas árvores. E a noite caiu com campos e mais campos e mais campos com algumas cercas. Já estava começando a irritar, mas a escuridão total era ainda mais irritante e realmente dava sono.

Quando estava amanhecendo, Stan trocou de lugar com Wes finalmente e foi dormir. Eu já estava quase dormindo novamente, quando o carro parou. Ouvi os dois homens conversarem no banco da frente, e uma porta se abriu. Não me importei muito, se fosse algo importante ou perigoso eles teriam me acordado.

– Porque paramos? - Kalem perguntou.

– Pensei que estivesse dormindo. Não sei porque paramos.

Ouvi mais vozes e abri um pouco os olhos, mas não vi nada de errado. Outra porta se abriu e fechou novamente e tom das vozes aumentou.

– Eu conheço essa voz. - meu irmão falou, de repente alerta.

Prestei mais atenção nas vozes e cheguei á mesma conclusão. Me endireitei, ansiosa, e pelo parabrisa, vi Stan e Wes na frente do carro, conversando com alguém.

– Que tal a gente ver o que está acontecendo? - sugeri, inquieta. Tinha algo errado.

Kalem abriu a porta e saiu, sendo seguido por mim. Esfreguei os olhos irritados pelo sol e encarei os homens que conversavam ali, e um deles me encarava como se tivesse visto um fantasma.

Rick.

Ele parecia mais velho e cansado, os cabelos brancos apontando por todos os lados em sua cabeça.

– Delilah? - chamou incrédulo.

– Rick! - meu irmão comemorou, parecendo que nem estava doente um minuto antes.

– Como sobreviveram?

– Vocês se conhecem? - Wes parecia confuso.

– Como estão todos? - o ignorei, ávida demais para perguntar - Minha mãe, Damen, Daryl, Carl, Judith, Carol...

– Vocês ficaram longe por muito tempo e... Muita coisa mudou. - falou um pouco hesitante - Mas sua mãe e seu irmão estão bem.

– Eu quero vê-los. - pedi.

– Eu posso levar vocês até eles.

Sorri, pronta para aceitar a oferta de Rick. Olhei para o meu irmão, que estava super empolgado, e me virei para meus novos amigos, que não pareciam nada confortáveis, e isso me fez perceber que a proposta de Rick significava “só vocês, sem os outros dois estranhos”.

– Tem certeza de que quer ir com ele? - Wes perguntou no meu ouvido, me fazendo arrepiar.

– Se você forem junto, não. - sorri, fazendo disso um pedido para que eles fossem conosco.

Wes sorriu e me deu um beijo na testa.

– Rick, eu vou com eles. Pode mostrar o caminho?

Ele acentiu e foi em direção ao seu carro, mas antes que pudesse entrar nele o chamei de volta. Peguei Ian em sua cadeirinha e o levei até Rick, que o pegou no colo.

– Ele é a cara do Dixon, mas com seus olhos. - riu divertido - Só espero que não tenha o mesmo temperamento.

Nesse momento Ian pegou um faxo do seu cabelo e puxou com toda a sua força de bebê no início da sua fase de querer pegar tudo o que vê.

– Bem, a força também é a mesma. - resmungou tentando soltar a mãozinha que segurava o cabelo a qualquer custo - Ainda bem que Judith já passou disso. Mas agora ela quer andar pra todo lado. É difícil segurá-la. Vamos logo. Acho que os outros vão adorar a surpresa.

Peguei Ian e voltei para o carro. Meu coração batia acelerado, e eu não conseguia acreditar que ia ver todos novamente. Queria gritar, pular e chorar, mas me mantive quieta no banco.

O caminho foi tão longo que pareceu levar uma eternidade. Meus dedos tamborilavam o tempo todo em minha perna e cheguei a perguntar mais de uma vez se estávamos chegando. Obviamente não teve resultado, já que ninguém sabia para onde estávamos indo.

Entramos em uma estrada de terra e seguimos por mais alguns minutos, até pararmos. Prendi a respiração ao mesmo tempo e sentia como se fosse vomitar. De repente não estava mais num sonho, pronta para ver as pessoas que tanto esperava havia um ano inteiro, mas numa incerteza que me fazia imaginar se estaria tudo igual, se eu conseguiria voltar para aquela convivência de antes. E tinha mais medo ainda de quem teria perdido durante esse tempo.

Kalem foi o primeiro a sair do carro e Stan foi junto com ele. Ouvi uma comoção acontecer lá fora e me senti nervosa como nunca. Eu tinha que sair, mas não conseguia.

– Algum problema? - Wes perguntou, segurando minha mão na sua.

– Não sei se estou preparada pra isso.

– Você parecia muito animada pra rever sua família.

– Eu sei. - o olhei atônita, sem saber o que responder - Minhas mãos estão tremendo. Por favor, fique do meu lado.

– Sempre. - respondeu, puxando minha mão até seus lábios e beijando a palma antes de sair do carro.

Sem confiar em minhas mãos para carregá-lo, dei um beijo na testa de Ian e o deixei no carro. Teríamos tempo para apresentá-lo á família depois.

A primeira coisa que vi ao sair do carro foi Kalem cercado por um amontoado de cabelos ruivos e braços. Tinha muitas pessoas ali, mas ainda não eram todas. Não conseguia pensar muito no momento, então não consegui perceber quem era. Wes segurou minha mão e ficou ao meu lado como disse que ficaria.

– Delilah! - minha mãe chamou, os olhos dourados marejados enquanto abria o braço que não estava em volta de Kalem me convidando para um abraço.

Olhei para o homem ao meu lado e ele soltou minha mão, sorrindo encorajador. Me sentia como um bebê que vai dar seu primeiro passo. Eu não devia estar tão hesitante, devia?

Respirando fundo, andei até minha mãe lentamente e passei meus braços por seu pescoço, num abraço fraco. Em retribuição, ela me puxou para si e me apertou, num choro baixinho.

– Ah, meu Deus! Eu pensei que tinha perdido vocês, que tivessem morrido. Procuramos por vocês, mas não encontramos e...

Entrei no modo automático. Eu estava ouvindo, mas não prestava atenção nas palavras. Estava mais ligada nos braços quentes á minha volta, e como eles me faziam sentir como uma criancinha e protegida. Sentia falta dessa sensação.

– Senti sua falta, mamãe. - foi tudo o que eu falei.

– Eu também senti sua falta, querida. - ela começou a mexer nos meus cabelos, que estavam novamente na altura da cintura, como fazia quando eu era mais nova.

Nos soltamos e outro par de braços me sufocaram.

– Nunca. Mais. Suma desse jeito. Tem ideia do que nos fez passar? - Damen me apertava tanto que mal conseguia respirar - Pensamos que tivessem morrido depois de tanto tempo.

Ele me soltou e encarei todas aquelas pessoas que não via fazia tanto tempo. Com certeza o grupo tinha diminuído, e bastante, mas não conseguia puxar da minha mente quem é que faltava, sentia como se estivesse tudo bloqueado. Ainda sim olhei em cada rosto, agradecendo aos céus por essa pessoa estar viva, mas procurando uma em especial. Encontrei Daryl no fundo, com os cabelos mais compridos e parecia cansado. Não pude evitar sorrir para ele, mas seus olhos não me encaravam. Segui a direção a que estava olhando e percebi que era para mim mas... Era para minha barriga. Graças ao tanto que andei nos últimos tempos em busca de suprimentos e ao genes vindo da minha mãe, depois do parto não mantive o pouco peso que ganhei e voltei quase ao normal. Ainda estava um pouco mais cheinha que antes, mas nem tanto. Talvez isso, no momento, como não estava carregando nenhum bebê nos braços, pudesse deixar a entender que eu não tive um.

Era hora de apresentar Ian á sua família.

Voltei para o carro e peguei meu filho, que me olhava como se entendesse o que ia acontecer a seguir. Dei um beijo em sua testa e o segurei firmemente, deixando-o sentado em meu braço equilibrando seu próprio corpo. Ignorei Damen que praticamente pulava pedindo para ver seu sobrinho e fui até Daryl que encarava o garoto nos meus braços sem expressão. Sem dizer nada, passei Ian para seus braços, e meu pequeno filho ficou encarando seu pai até descobrir seu cabelo e começar a puxá-lo. Não pude deixar de me alegrar ao perceber que Daryl sorria e reparar em como os dois eram parecidos. Rick tinha razão. A única diferença entre os dois eram os olhos dourados do garotinho em seus braços.

– O nome dele é Ian. - falei - Eu nunca te agradeci por me dar a coisa mais importante que tenho. Obrigada.

Ele não respondeu, mas seu sorriso ficou maior e começou a conversar com Ian. Deixei os dois por lá e fui ver o resto do pessoal. Abracei a maioria - os que gostavam de mim, pelo menos - e tive que aguentar longos minutos do Merle discursando o que ensinaria para meu filho e quando ele terminou tirei varias coisas da lista e ameacei que se ensinasse uma daquelas coisas a Ian ele acabaria nunca tendo os próprios filhos. Não adiantou muito.

Mais tarde, todos nos reunimos ao redor de uma fogueira para comer e depois, quando me levantei para ir trocar a fralda de Ian, Daryl se ofereceu para fazer isso. Fiquei um pouco com Judith, que andava de um lado para o outro a todo momento atrás de algo diferente, e logo que cansei voltei para o meu lugar entre Damen e Wes, contando as pessoas de quem já tinha sentido falta.

Não era preciso contar Ethan. Mas contei Tia Connie. Rachel. Beth. Matt. Lola. Herschel. Ariane. Mas ainda faltava mais alguém. Perguntei a Damen sobre isso, e antes dele responder me perguntei se queria realmente saber a resposta.

– Tia Connie sofreu muito quando soube da morte do tio Carter. Imagina quando Ethan morreu? Ela era durona, mas ainda sim... Um zumbi acabou matando ela, quando ela saiu com os outros pra buscar comida. Distraída. Rachel, Matt e Herschel morreram naquele dia, na prisão. E então Beth se suicidou. Não foi uma grande surpresa. Perdeu o pai e o namorado, mas a Maggie não se conforma até hoje. Lola e Ariane se sacrificaram para nos salvar, assim como a Taty. Isadora... Bem, isso foi um erro. Deixar ela ir buscar água sozinha num rio. Quando chegamos era tarde demais. Foi há uns seis meses.

– Meu Deus. E Isabela? - perguntei, tentando controlar o nó em minha garganta.

– Ela... Bem, não sei o que dizer. Ela não fala comigo há uma semana, e nem sei porque! O que eu fiz de errado? - se irritou.

– Não entendi. Espera, vocês estão juntos?

Ele sorriu orgulhoso.

– Sim. Estamos namorando há mais de sete meses.

– Como ela te aguenta? - perguntei, e recebi um tapa no braço - Mais alguma coisa que eu deva saber?

– Bem... Seja amiga da Hannah e tal, mas nem tanto. Depois de certas confusões descobrimos que ela tem uma leve ninfomania, causada por histórias da infância dela... O pai abusava dela. - ele suspirou inconformado - Mas então. Ai ela sai agarrando as pessoas. Incluindo mulheres. Maggie está traumatizada até hoje. Mas ainda acho que a Jen que provocou daquela vez...

– O que? - perguntei assustada.

– Da cena da Jen e da Hannah se agarrando. Ainda culpam a Hannah porque a Jen ainda é muito nova pra ter feito isso e bla bla bla, mas aquela cara de santa não me engana.

Arregalei os olhos ao ouvir aquilo. Tinha várias perguntas, mas preferi não me chocar mais.

– Charlie! - Carol gritou do outro lado da fogueira, se levantando.

Olhei para trás e vi o homem cambaleando, e então caiu logo á frente. Abafei um grito com as mãos e me afastei, enquanto todos se amontoavam para tentar ajudá-lo.

– Vem. - Damen me puxou para mais perto, mesmo eu não querendo ir.

Charlie tinha o braço sangrando e o rasgo na blusa deixava á mostra uma enorme mordida. Meu estômago embrulhou e tentei sair dali, mas não consegui. Segundos depois, Carol chegou com uma seringa com poucos milímetros dela cheia de um líquido vermelho, que ela o injetou no homem estirado ali.

– O que é isso? - perguntei.

Ela me olhou de soslaio parecendo incomodada e não me respondeu.

– Isso, Delilah - Rick tomou a frente -, é a cura. Ou o que conseguimos para chegar próximos dela.

– O...o que? Como assim? - gaguejei - Como conseguiram isso?

– Milton.

– O Milton morreu.

– Não sem antes deixar isso com Charlie. Jamie trouxe junto com um recado. Foi o que ele conseguiu com as pesquisas de vocês.

– Mas ele... Ele falou que nenhuma delas deu certo.

– Não queria comprometer você, caso o Governador descobrisse que tinha enviado para nós.

– Isso quer dizer que... - me interrompi.

– Quer dizer que ainda podemos morrer com hemorragia ou com algumas das outras doenças que vem na mordida, mas tem muito mais chance de funcionar.

– Ah meu Deus. - foi a única coisa que eu consegui dizer.

Olhei em volta para todos os rostos das pessoas que tentavam ajudar, e em nenhum deles eu consegui registrar medo. Via preocupação, mas nada de medo.

Não pude evitar um sorriso ao sentir uma nova esperança me preencher e imaginar que havia sim um lugar para todos nós nesse mundo. Um lugar pelo qual nós lutaríamos para chegar, com todas as nossas forças, sempre protegendo quem amávamos, e nós chegaríamos lá. Mesmo que fosse a nossa última chance.



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Notas finais do capítulo

Não vou me despedir aqui. Clique em "próximo capitulo" e leia, por favor :3