Flores do Mal escrita por Morgana Black


Capítulo 2
O fruto proibido




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"Fuja da armadilha que está armada e espera pela presa"

-Regulus, preste atenção no jogo!

A voz risonha chegou aos ouvidos do rapaz e o libertou do seu estado de inércia. Fazia alguns dias que permanecia naquela condição: desatento e pensativo, como se algo de muito intrigante houvesse roubado os seus pensamentos e o mantivesse longe de tudo e de todos.

-Desculpe-me, Cissy, acabei me distraindo! – Ele sorriu sem jeito, tentando concentrar a atenção no jogo de xadrez. Ele sempre foi um jogador excepcional, mas até mesmo Narcisa, que sempre fora uma jogadora medíocre, estava obtendo êxito em seu jogo.

-Quem é ela?

Regulus desviou a atenção da posição comprometedora onde deixara sua própria rainha e ergueu os olhos para a mulher que estava sentada a sua frente. Narcisa o encarava com seus olhos de um azul muito claro, uma expressão de sagaz curiosidade e um sorriso quase cândido em seu belo rosto.

-Ela quem, Narcisa?

-Regulus, para justamente você estar tão distraído assim, só posso supor que esteja apaixonado por alguém! – Narcisa inclinou-se levemente para a frente, tocando a mão do primo caçula. – Quem é ela? É alguém que conheço?

Era quase cômico aquilo tudo. Alguns anos antes, Regulus nutrira uma paixão infantil pela prima e agora ela estava ali, querendo lhe dar conselhos amorosos. Que grande absurdo! Ele não estava apaixonado. De maneira alguma. E quando o disse à jovem dama, ela riu baixinho, incrédula, piscando os olhos claros para ele.

-Ora, primo, qual o problema em se apaixonar? Você ainda é jovem, não tem compromisso com ninguém e ter aventuras amorosas nessa idade é completamente normal.

-Cissy, eu não estou apaixonado! – O tom de voz era um pouco mais irritado e vendo que dali não sairia nenhuma informação, Narcisa encolheu os ombros e dissimulou o sorriso curioso de seu rosto. – Quando Lucius voltará da Escócia?

-Não faço idéia! – A mulher franziu levemente a fronte. – A cada dia que passa acho que meu marido tem dado mais atenção aos negócios que à família.

O olhar da mulher se turvou por breves segundos, antes que ela fizesse um gesto com a mão delicada, como se quisesse afastar aqueles pensamentos de si.

-Mas sei que os negócios são importantes para ele, não vou ficar comprometendo o meu marido com minhas queixas chorosas.

Em um rompante de curiosidade, o rapaz olhou a prima diretamente nos olhos e perguntou com certa insegurança:

-Você o ama, Cissy?

-Se eu amo o meu marido, Regulus?

O rapaz fez um gesto afirmativo com a cabeça, parecendo muito sério. De todos os seus parentes, Narcisa era a única pessoa por quem ele nutria uma sincera afeição. Nem mesmo seu irmão mais velho conseguira despertar tamanho carinho e preocupação. E doía em seu íntimo ver Cissy aparentemente infeliz e solitária, tendo de cuidar sozinha da casa e suportar a insegurança de não saber se o marido realmente estava tratando de negócios ou se apenas arrumara um subterfúgio para viver alguma aventura fora do matrimônio.

-Eu amo Lucius mais que tudo! – Disse com convicção. –Mais até que a mim mesma.

-Então, eu realmente espero que ele nunca a faça sofrer!

Narcisa sorriu do modo preocupado e atencioso do primo, soltando um leve suspiro.

-Só realmente lamento ele ter estado longe na noite do seu baile. – e como se tivesse se recordado de algo, Narcisa voltou a encarar o primo e perguntou: - Soube que você conheceu o Sr. Riddle na noite do baile. O que achou dele?

-Não conversamos muito! – Regulus desconversou, mas algo estranho fez com que suas mãos ficassem levemente trêmulas. – E eu gostaria de entender porque todos acham esse rapaz tão interessante!

-Bom, eu não o conheço tanto assim, ele costuma conversar mais com a Bella, mas penso que seja a sua inteligência. E ele é tão gentil com todos, sempre com um sorriso no rosto.

-Pois eu não vi nada de tão interessante assim! – o rapaz retrucou.

-Você diz isso, porque ainda não o conhece bem. Não sei explicar, mas tenho a impressão de que ele tem algo que sempre encanta a todos.

-Até mesmo você? – Havia uma leve ponta de cinismo nas palavras de Regulus, mas Narcisa parecia (ou fingira) não ter notado.

-Ora, não vejo problema algum em apreciar um rapaz digno e inteligente. Se aprecio isso em meu querido primo Regulus, não há nada de errado em admirar isso em outras pessoas. – E então uma expressão de compreensão se espalhara no rosto da jovem dama. – Ou o meu primo quer me fazer acreditar que está com ciúmes do Sr. Riddle?

-Ciúmes daquele rapaz que fala de coisas sem propósito e que vi uma única vez na vida?!

-Perdoe-me, então, Regulus! – Narcisa espantou-se com aquela reação, já que estava acostumada a ouvir apenas palavras gentis do primo. – Mas garanto que mudará a sua opinião quando o conhecer melhor.

XxX

"Você veio aqui
Atrás do seu mais profundo desejo
Atrás daquele desejo que até agora esteve silencioso
Silencioso
"

O St. James Theatre nunca parecera tão inspirador a Regulus Black. Passara os dois últimos anos em Paris, respirando o ar romântico da cidade-luz, com seus belos teatros e seus atraentes transeuntes, mas algo ali na sua cidade natal lhe dava uma sensação boa. Que os outros considerassem Londres uma cidade seca e frígida, mas havia um algo a mais no ar daquela cidade. Como magia!

O coche sacolejava levemente enquanto se aproximava do teatro, quando novamente sentiu o seu corpo se agitar em estranhos calafrios. Era certo que estando em meados de fevereiro o tempo deveria ser realmente frio, mas aquilo não era comum. Achando que fosse alguma coisa da sua cabeça – um delírio, talvez – ele se despediu do cocheiro e demorou-se algum tempo em frente ao teatro, observando as belas damas em seus melhores vestidos, acompanhadas por seus companheiros.

Regulus arregalou os olhos levemente, quando sentiu uma presença ao seu lado.

Riddle.”

Outra vez.

-Sr. Riddle, eu tenho a impressão de que senhor sente um prazer mórbido em me assustar! – retorquiu, ajeitando o casaco e se encaminhando para o teatro.

-Não tenho culpa se você estava distraído. – Tom disse a guisa de desculpas.

Regulus ignorou o comentário e começou a se dirigir para a entrada do teatro, misturando-se a multidão. Como a presença de Riddle poderia perturbá-lo tanto, sendo que, apesar de seus comentários inusitados, Tom nunca lhe fizera nada?

Sentindo um misto de culpa e arrependimento, Regulus diminuíra o ritmo de seus passos, até que Tom o alcançasse. Vendo que o outro demorava um pouco para isso, Regulus olhou para trás e viu que uma garota – por volta dos doze anos – o abordara, com um sorriso simpático no rosto.

-Uma rosa para sua dama, Senhor? – A garota ofereceu com gentileza. Tinha os cabelos de um ruivo muito intenso presos numa única trança comprida; as roupas eram simples e era de se espantar que ela ainda não tivesse morrido de frio, pois pareciam muito puídas. Contudo, o sorriso era cativante e carregando sua cesta de rosas vermelhas, provocou em Tom algo semelhante à curiosidade.

-Você está sozinha aqui, garota? – Tom perguntara com sua voz mais gentil.

-Sim, senhor! – Ela afirmou, com um gesto da cabeça. – Ajudo mamãe vendendo rosas na porta do teatro.

Regulus observava com certa curiosidade o modo como a garota parecia encantada na presença de Riddle. E ele a compreendia perfeitamente. Tom Riddle tinha um encanto próprio, que era praticamente impossível oferecer-lhe resistência, embora Regulus estivesse tentando lutar contra isso há semanas.

-Qual o seu nome?

A garota ruiva ficou um pouco surpresa com aquele inesperado interesse do jovem cavalheiro. Trocou a cesta de rosas de mão e respondeu:

-Meu nome é Ginevra, mas meus irmãos me chamam de Ginny. Eu prefiro assim, acho que Ginevra parece nome de velha.

-Ginevra vem de Guinevere, a grande rainha da Bretanha. – Riddle abriu um sorriso sagaz. – Você tem o nome de uma rainha, Ginny , isso a aborrece tanto assim?

Parecendo deslumbrada com aquela revelação, a garota negou.

Tom ergueu a mão enluvada até o rosto da garota, retirando uma mecha rubra de cabelo de seu rosto bonito. Ginny tinha os olhos levemente arregalados, atenta e imóvel, como se a voz sussurrante de Riddle fosse o sibilo de uma serpente que encanta sua vítima.

Tom comprara algumas das rosas de um vermelho muito vivo, até mesmo semelhantes à cor dos cabelos flamejantes da garota:

-Elas são para você, Ginevra! – Tom disse baixinho, inclinando-se levemente. – Você não as venderá para ninguém, porque elas são um presente meu, certo?

-Obrigada, Senhor! – Ela agradeceu, os olhos brilhantes, antes de se afastar.

"Além do ponto sem retorno
Sem olhar para trás
Nossos jogos de faz de conta estão no fim
"

-Eu gostaria de saber que tipo de magia o Sr. usa para encantar todos dessa forma!

Tom fingiu parecer surpreso, ainda observando Ginny se afastar, talvez em busca de algum possível cliente.

–Está falando de Ginny ? Ela apenas me chamou a atenção. – E continuava a observar a garota proceder da mesma forma com os outros cavalheiros, ofertando-lhe os seus serviços. O olhar dele tinha algo de intenso e inescrutável, como se a garota fosse um espécime a ser estudado. - Veja como ela parece pura e selvagem ao mesmo tempo!

-Selvagem? – Regulus arqueou as sobrancelhas, abandonando muito de sua postura defensiva e parecendo apenas curioso com a colocação que Riddle fizera.

-Selvagem como um jardim que ainda não fora tratado, mas que ainda mantém a sua beleza. – E com o seu costumeiro sorriso enigmático, acrescentou: - Bela como o Éden, que um dia fora puro para depois se transformar no berço do pecado.

-Você fala coisas muito curiosas! – Regulus sorriu, um sorriso mais sincero e divertido, voltando a caminhar para dentro do Teatro.

Notando que aquela era a primeira vez que o jovem Black o tratara por “você”, Tom não deixou de se rejubilar internamente, por razões que somente ele compreenderia.

-Todos nós falamos coisas curiosas. Mas existem pessoas que falam mais que as outras!

-E por que não ficou com as rosas que comprou da garota? Foi apenas por cortesia?

Enquanto adentravam o camarote de onde assistiriam a peça daquela noite, Riddle mexia distraidamente no anel de pedra negra que usava em seu anelar esquerdo.

-Cortesia? Sim, talvez fosse um pouco por isso. – E abriu aquele sorriu estranho e único. – Mas a verdade é que não gosto de flores.

-Flores tem perfume, Tom! E as rosas são ainda mais perfumadas! –Regulus retorquiu com um ar apaixonado. - Pense na textura delicada de um botão de flor entre seus dedos e o toque macio como os lábios de uma donzela, da beleza de suas pétalas!

-Flores tem cheiro de morte! – Riddle argumentou com uma certa impaciência, a voz baixa e fria. – Flores não são eternas, têm a sua beleza apenas por um breve período, porque logo vai ter o seu delicado botão de flor sendo esfarelado pelos dedos putrefeitos da mortalidade, sendo que tudo o que vai sobrar é a lembrança distante de seu breve encanto.

Regulus encolheu os ombros levemente, deixando aquela questão de lado. A cada momento que passava, o adolescente achava Riddle mais e mais intrigante. Mas em sua mente, aquilo não significava má coisa.

O Teatro estava praticamente lotado. Era a estréia da peça “O Leque de Madame Windermere” e havia expectativa por parte de todos, ansiosos por saber o que de fascinante iria ser apresentado.

Quando o primeiro ato foi iniciado e se desenrolara o diálogo entre Lady Windermere e Parker, Regulus já havia esquecido por que razão relutara tanto em admitir que Tom Riddle era uma pessoa agradável. E aceitando que Tom Riddle sempre permaneceria um enigma para Regulus Black e que seus pensamentos e reais intenções seriam sempre um mistério obscuro, o jovem Black apenas deixou-se levar.

"Além de todos os pensamentos de "se" ou "quando"
Não adianta resistir
Abandone o pensamento e deixe o sonho descer
"

Assistir à estréia da peça de Oscar Wilde fora o primeiro de muitos outros encontros com Tom Riddle. Visitas à museus e parques, jantares na casa das figuras mais ilustres da sociedade britânica... os dois rapazes sempre estavam juntos.

Era certo que por vezes Regulus tinha a impressão de que aquilo tudo não ocorria por sua própria vontade, mas por um capricho de Riddle, como se este o mantivesse sempre sob sua vassalagem, quase como um servo fiel.

E era perturbadora aquela estranha “amizade” que nascera entre os dois, já que Regulus tinha a constante impressão de que Tom sempre sabia o que ele pensava, como se fosse capaz de adivinhar seus pensamentos. E aquilo era incômodo, porque sentia-se nu e exposto ante aquele poder. Quase frágil, como se fosse uma criança que não saíra dos cueiros.

As conversas eram sempre curiosas, carregadas de palavras dúbias e sempre com significado subentendido. Regulus nunca sabia realmente o que Tom queria dizer. Conversavam sobre questões de moral e ética e, às vezes, o jovem Black sentia-se desconfortável com aquilo tudo, como se a cada conversa, idéias estranhas e quase proibidas fossem inseridas em sua mente.

"Que fogo violento inundará a alma?
Que rico desejo destranca a porta?
Que doce sedução jaz diante de nós?"

Contudo, apesar de toda a estranheza daquele relacionamento, Regulus considerava sinceramente ser um amigo de Riddle. E a cada dia ele tentava se aproximar mais daquela presença. Havia algo de muito único que emanava daquele rapaz, que parecia amplificar conforme o tempo e reverberar nele constantemente. Como se uma voz secreta sussurrasse palavras envenenadas em sua mente e fizesse surgir imagens que não poderiam ser normais.

Aquilo perturbava seus pensamentos e involuntariamente seu corpo reagia. Ele era jovem, deveria ser comum que os desejos transformassem as madrugadas em tentativas desesperadas de aplacar aquele furor, mas o que lhe tirava o sossego era que embaixo dos lençóis, lutando contra os seus instintos, seu corpo desejava ser tocado por outras mãos e diante de seus olhos semicerrados surgia uma única imagem: o rosto de um anjo, que lhe sussurrava segredos proibidos e cheios de pecado.

Estou ficando louco”

Constantemente ele murmurava, as mãos trêmulas, sentindo-se imundo de tal forma, como se estivesse envolvido em águas sujas que o tragavam para as suas profundezas, fazendo-o se afogar naquela estranha obsessão.

Como aquilo poderia estar acontecendo?

Até poucos meses atrás não suportava a idéia de se encontrar na presença do “Talentoso Riddle” e agora ele se dava conta de que desde o primeiro momento, ele desejava estar em sua presença, ouvir sua voz macia e cheia de malícia, ouvir suas palavras repletas de arrebatador cinismo.

Não sabia de onde surgira aquela certeza, mas havia um “algo mais” que o ligava a Riddle, mesmo que ele não soubesse o que era.

XxX

Além do ponto sem retorno
A última porta de entrada
Que segredos quentes e não ditos
Nós aprenderemos, além do ponto sem retorno?”

-As pessoas são divididas entre ordinárias e extraordinárias Regulus! Existem pessoas que nascem e vivem com o objetivo de serem normais, "vulgares"...

Após o jantar na casa da família Malfoy, Riddle insistira para que os dois dividissem o mesmo carro e continuassem a discussão interrompida pelos constantes comentários da anfitriã.

-E como são essas pessoas "vulgares", Tom? - Regulus riu, inclinando-se levemente para o lado como se o outro rapaz fosse lhe segredar algo. - Como posso identificá-las?

Tom ergueu uma sobrancelha, uma expressão que não poderia ser decifrada, enquanto olhava fixamente para o adolescente que o acompanhava.

-Ah, elas são tão fáceis de encontrar... São pessoas que se contentam com pouco, com coisas simples e banais. Chafurdam em frivolidades e encontram a felicidade assim, achando que a única coisa que importa é o amor!

-Mas o amor não é importante? - Regulus arregalou levemente os olhos, empertigando-se. - Só pessoas ordinárias consideram o amor importante?

-Regulus, aprenda uma coisa: amor é um sentimento que nos enfraquece. - Tom assumira uma postura ainda mais séria, a voz soando baixa e quase ríspida. - Ame alguém e isso irá sugar toda sua vida, toda sua energia. Você viverá unicamente pelo outro, pela felicidade do outro. Vai encontrar a felicidade nas coisas pequenas do dia-a-dia.

-E eu posso supor que você seja uma pessoa extraordinária , não é?

Tom sorriu, um sorriso estranho e de sedutora crueldade.

-Extraordinários são aqueles que buscam um "algo mais", que não se deixam prender às regras e convenções do que é certo e errado.

-Como assim?

-Regulus, certo e errado, assim como bem e mal não existem. Só existe o poder e aqueles que são demasiado fracos para utilizá-lo.

Um arrepio atravessou de maneira incômoda as costas de Regulus. Havia um tom quase alucinado em Riddle ao dizer aquilo. A voz não passava de um sussurro quase lânguido, mas ainda assim parecendo gélido e distante.

-Você não acredita nisso, Regulus?

A persuasão daquela voz despertou Regulus de seu estado de quase-transe.

-Eu acredito naquilo que é belo, no que eu posso sentir e tocar. - O rapaz sussurrou de volta e sentiu um leve rubor tingir-lhe o rosto pálido, ao mesmo tempo em que suas mãos gelavam, ao notar o olhar negro de Tom o encarar com uma quase malvada displiscência. Riddle sabia o que Regulus desejava sentir e tocar, como se estivesse gravado a fogo em seu rosto qual era o objeto de sua luxúria, o desejo de sua carne. - Isso faz de mim uma pessoa extraordinária, Tom?

-Isso faz de você um tolo romântico, que acredita no amor e quer ser amado. - Riddle riu baixinho, um riso curto e debochado, do ar levemente indignado do adolescente. - Tão jovem ainda, tem tanta coisa para aprender...

O olhar de Tom queimava Regulus, como se fosse gelo. Tão irresistivelmente perigoso! E era como se em todo momento, Tom soubesse do desejo mais obscuro e libidinoso de seu coração.

O sacolejar quase ritmado do coche embalava os dois rapazes e, totalmente arrebatado e desligado do mundo, o jovem Black sentiu dedos longos e insensíveis tocarem seu rosto e deslizarem lenta e preguiçosamente até seu pescoço, deixando apenas um rastro de calor inquietante, despertando todo aquele fulgor que o deixava tão cheio de irracionalidade.

"Eu conheço os seus segredos"

O toque de Riddle era firme, imperioso e soberbo. Não havia como oferecer-lhe resistência e Regulus não tinha a intenção de fazê-lo. E quando a boca do outro tomou a sua de maneira autoritária, era como se Regulus deixasse de ser quem era e se tornasse algo mais débil e frágil, fazendo-o se recordar das lendas que Bellatrix lhe contava – na tentativa de assustá-lo – sobre os íncubus e súcubus, demônios que surgiam na noite e seduziam os mortais para sugar-lhes a energia.

O beijo tinha gosto de absinto. Era amargo e viciante, daqueles que te levam a perdição. Um beijo que fazia Regulus vislumbrar coisas proibidas e tentadoras, um beijo que tinha gosto de ruína. Um beijo que deixava nele uma sensação de algo funesto e deliciosamente prazeroso

E Regulus sentira, naquele momento, que já não havia mais retorno: Ele pertenceria a Riddle até o último de seus dias.

Além do ponto sem retorno
A última porta de entrada
A ponte foi atravessada

Então fique e veja-a queimar
Nós passamos pelo ponto sem retorno”


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Notas finais do capítulo

- Os trechos em itálico são da música “The Point of no return”, do Fantasma da Ópera.

— A peça “O leque de madame Windermere" escrita por Oscar Wilde estreou no St. James Threatre em fevereiro de 1892 – fato verídico.



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