Paranóia escrita por Yan Kimyona


Capítulo 5
Capítulo 5 - Medo


Notas iniciais do capítulo

Hey voltei! Feliz natal e Feliz ano novo para vocês! Como foram as festas? Desculpem a demora, espero que não tenham abandonado a fic. Mudei a capa, ficou bom? Eu realmente não sou muito boa com essas edições de imagem mas tentei fazer o meu melhor. Boa leitura.



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No final das aulas a Ana veio toda pomposa conversar comigo.

- Vitória, desculpa se te passei uma impressão errada no banheiro depois da aula de Educação Física. – Ela disse com um sorriso mais falso que nota de três reais.

- Você não passou impressão nenhuma, eu ouvi tudo bem claro. – Respondi.

- Olha se dissemos alguma coisa de errado...

- ‘Alguma’ coisa de errado? - Cortei-a. - Eu não sou retardada, - talvez um pouco – sei muito bem o que eu ouvi, você sendo quem realmente é. Olha, nem precisava se dar ao trabalho de vir conversar comigo, não é como se eu fizesse questão de agradar pessoas como você.

- Pessoas como eu? O que você quer dizer com isso? – Ela me olhou como se eu tivesse apontando uma arma na cara dela, o que eu realmente queria estar fazendo.

- Me deixa em paz, ok? – Eu disse e sai de lá, aquela garota já estava me enchendo.

Na verdade eu tava pouco ligando para o que Ana e o grupo das perobentas estavam falando de mim. Eu realmente não me importo com nenhuma delas, o que realmente não saía da minha cabeça é a cena da minha conversa com o Bruno no campo, ainda me perguntava se tudo aquilo poderia ser real. Quero dizer, como assim um fantasma?

Sentia que se duvidasse estaria sendo cruel, mas sentia medo de acreditar e perceber que era tudo uma verdadeira idiotice. E sem contar que eu sentia que podia estar começando a gostar do Bruno o que torna tudo ainda mais estranho.

Quando cheguei em casa não tinha ninguém, não que eu me importasse, na verdade até preferia ficar sozinha. Tirei a roupa da escola, tomei um banho e fui esquentar meu almoço no microondas.

Fui até o meu quarto para pegar alguma coisa para amarrar meu cabelo e me deparei com Bruno sentado encima da minha escrivaninha.

- Oi. - Ele sorriu.

- Vai dar susto no cão. – Eu disse respirando fundo e colocando a mão no peito. Bruno começou a rir.

- Desculpe.

- O que você está fazendo aqui? – Perguntei.

Bruno ergueu uma corda e sorriu.

- Vim te convidar para se divertir um pouco. – Ele saltou da escrivaninha e ficou me encarando.

- Hum... Vamos brincar de cabo de guerra? – Perguntei.

- Quase. – Ele disse e saiu me puxando pelo braço.

“Real demais para ser um fantasma.” Pensei.

Ele me carregou até os fundos da casa onde havia um espaço bem grande com uma graminha que estava crescendo. O quintal da casa nova até que era descente.

Bruno amarrou a corda na árvore que havia no quintal e ficou segurando a outra ponta.

- Quer começar? – Ele disse girando a corda.

Espera um pouco...

- Nós vamos pular corda? – Eu perguntei e comecei a rir.

- É, faz bem para a saúde física e a gente acaba se divertindo bastante. – Ele riu também.

Eu esperei a corda estar no alto e entrei, comecei a pular no tempo de três segundos, Bruno não estava batendo muito rápido.

- Onde você arrumou essa corda? – Perguntei.

- Tem uma construção a alguns quarteirões daqui. – Ele explicou.

- Você roubou?

- Eu estou morto, não posso ser punido por roubar uma corda. – Ele deu de ombros.

- Tem razão. – Eu ri, acabei perdendo o compasso e errando o salto, quase ia levando um tombo.

Bruno parou a corda e soltou uma risadinha.

- Minha vez agora. – Ele me entregou a corda.

Comecei a bater e ele começou a pular. Era engraçado ver um garoto tão bonito como ele pulando corda.

- Por que estamos fazendo isso? – Perguntei.

- Eu sempre gostei de fazer isso, pode parece infantil, mas eu sentia saudade de me divertir, só que eu não podia pular corda sozinho. – Ele disse e eu fiquei com vontade de apertar aquelas bochechas.

Ri com o pensamento e acabei me distraindo, Bruno puxou a corda sem querer com o pé, com o impulso acabei cambaleando e topando com uma pedra. Resultado, levamos um tombo duplo e colossal e caímos um em cima do outro. A queda foi tão engraçada que começamos a rir na mesma hora.

- Mal cinco minutos e já levamos uma queda feia. – Bruno riu.

- Quer dizer que você pulava corda quando era vivo. – Comentei.

– É, eu pulava com a minha irmã, era divertido. Na época a gente não queria crescer tão rápido assim. Hoje em dia as crianças nem brincam mais disso.

- É por que hoje em dia a infância está perdida, quando eu era criança a gente passava horas nas ruas de São Paulo brincando de pular corda e muitas outras brincadeiras, só íamos para casa quando nossas mães vinham buscar a gente pelos cabelos.

- São Paulo? – Bruno parou de repente.

- Sim, eu morava lá, por quê? – Perguntei.

- Eu não sei, repentinamente São Paulo me pareceu importante... – Bruno disse pensativo.

- Será que São Paulo tem alguma coisa a ver com a sua morte? – Perguntei.

Bruno não respondeu apenas ficou olhando para o vazio pensativo, creio que estava tentando se lembrar.

Sentei na grama e imediatamente minha mentalidade de cinco anos surgiu.

- Bruno. – Cutuquei-o.

- Diga meu anjo.

- Você pode ultrapassar paredes? – Perguntei, parecendo uma menina inocente de 5 anos.

Ele riu e se levantou. Andou até o muro e ultrapassou a parede de tijolos maciços como se fosse a passagem para a plataforma 9 ¾ do Harry Potter. Fiquei de boca aberta enquanto ele voltava e sentava novamente do meu lado.

- Isso é muito legal. – Comecei a bater palmas parecendo uma foca adestrada.

- Você fica muito fofa com essa expressão. – Bruno comentou e minhas bochechas queimaram.

- Você disse que estudava na Ensino Troia não é? – Mudei de assunto.

- Sim.

- Mas a escola já existia 65 anos atrás? Tipo, é a escola mais velha que eu já vi e nem aparenta tudo isso. – Comentei.

- É, eu estudei nela durante cinco anos quando a escola foi fundada, depois eu morri e uns vinte anos depois teve um incêndio feio que acabou com a estrutura da escola, o governo demoliu e construiu outra, por isso a escola não é tão velha assim. – Bruno explicou.

- Entendi. Você viu o incêndio acontecer? – Perguntei.

- Sim, foi bastante assustador, até mesmo para mim. – Bruno estremeceu e eu resolvi parar de falar disso.

- Quer pular mais? – Balancei a corda e ele riu.

Passamos a tarde toda pulando corda.

Era divertido estar com um fantasma, a gente pode conversar e perguntar sobre coisas eu aconteceram quando eu nem era nascida. Estranho não é? Estou acostumada com isso.

Minha chegou em  casa e me viu rindo, perguntou se eu tinha bebido clara de ovo cru de novo para estar rindo sozinha. Bruno sumiu no ar como fumaça e minha mãe ficou brigando comigo por ter feito bagunça no quintal.

- Que corda é essa? Onde você arranjou? – Minha mãe balançou a corda no meu nariz.

- Eu achei na rua. – Menti.

- Por que você trouxe para dentro de casa?

- Por que eu estava entediada. – Dei de ombros.

- Francamente Vitória, qual a sua idade mental? – Ela bufou, jogou a corda em um canto e saiu.

Claro, como se eu fosse chegar na minha mãe e dizer: “Oi mãe, eu encontrei um amigo, ele está morto, mas isso é só um detalhe afinal ele é lindo e muito gentil comigo e a senhora se importaria se ele fosse seu genro?”

Ok, essa ultima parte foi brincadeira.

Talvez.

Na verdade eu estava me sentindo solitária. Eu faço brincadeira para afastar um pouco da dor que estou sentindo. Quero dizer, nenhum dos meus amigos de São Paulo me ligaram, ou conversaram comigo pela internet, aquele vazio, sentir que foi esquecido tudo é tão... Ruim. Esse sentimento pelo Bruno meio que me salvou desse vazio, estava me agarrando a isso, só que às vezes isso pode ser perigoso. Queria poder gritar tudo isso, será que algum dia eu poderia desabafar esse turbilhão de pensamentos com alguém confiável? Aliviar um pouco a cabeça e o coração...

Naquela noite eu tive um pesadelo.

Eu estava voando, brincado de fazer piruetas no ar, mas então eu percebia o que estava acontecendo abaixo de mim. Havia um caixão, e eu estava nele, minha família estava em volta e choravam bastante. O Bruno aparecia do meu lado e sorria para mim.

- O que está acontecendo? – Eu perguntava assustada.

- Está morta, lembra? Foi o que você fez para ficar do meu lado para sempre. – Ele respondia com um tom meio assustador.

Eu sentia meu corpo arder e gritava de agonia, acordei assustada e suando muito.

Foi a partir daquele dia que eu comecei a desconfiar daquela situação.


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Notas finais do capítulo

Alguém quer comentar algo? e.e