Paranóia escrita por Yan Kimyona


Capítulo 4
Capítulo 4 - Polêmica




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Só visualizando a minha situação.

Eu estou em um campo abandonado, sentada na terra pura, matando aula enquanto converso com uma pessoa que já morreu e que só eu posso vê-la.

Claro, isso só podia acontecer comigo.

Eu gostaria de dizer que é um pesadelo, ou que eu estou ficando louca. Mas sabe aquela história que por mais absurda que seja você sente que é verdade? E acha que estaria sendo muito cruel se duvidasse? É.

Tipo isso.

Bruno era um fantasma e por alguma razão só eu o via, e por outra razão mais estranha ainda me sentia bem demais quando estava perto dele.

Ele pegou no meu pulso e olhou para o meu relógio.

– Se você for agora, vai assistir as três últimas aulas. – Ah, pelo amor de Deus.

– Você acha que depois de conversar com um fantasma, descobrir que sou a única que pode vê-lo e sentir todas essas coisas estranhas, eu ainda tenho cabeça para ir à escola? – É loiro mesmo esse garoto.

– Sentir coisas estranhas? O que? – Eu e minha maldita língua grande.

– Nada, tem razão, eu tenho que ir pra escola. – Levantei de um salto, limpei a minha calça e coloquei a mochila nas costas, é melhor uma retirada estratégica do que uma conversa indesejada.

– É melhor você ir mesmo. – Ele se levantou e me abraçou. – Obrigado.

– Pelo o quê? – Sério, eu tenho que aprender a ser mais sutil.

– Por não me fazer se sentir tão sozinho.

Ele me soltou do abraço, e eu fiquei muda.

Não conseguia dizer nada, minha língua parecia que tava presa. Então eu só sorri acenei, e saí de lá correndo que nem diabo fugindo da cruz.

É sério, eu tenho mesmo que aprender a ser mais sutil.

Quando eu cheguei na escola o porteiro ficou me enchendo o saco, eu estava com muita coisa na cabeça, então eu concordei com seja lá o que ele estava falando e fui direto até a minha sala.

Estava vazia, mas as mochilas de todos ainda estavam nas carteiras. Olhei meu horário, era aula de Educação Física então todos deviam estar na quadra. Coloquei minha mochila na frente da Fernanda, o mesmo lugar que o Bruno havia sentado no dia anterior. Amarrei meu cabelo com um rabo de cavalo e saí correndo direto para a quadra.

Cheguei lá todos estavam fazendo um alongamento. Desculpei-me pelo atraso e me juntei a eles. Fernanda parou do meu lado.

– Dormiu mais que a cama foi? – Ela riu.

– Tive uns problemas pessoais. – Respondi rápido.

– Ah... – Ela deixou a conversa morrer e eu agradeci.

– Aconteceu alguma coisa? – Miguel se aproximou.

– Não, nada de importante. – Menti.

– Miguel, que coisa feia, já está interessado na Vitória, não é? Não perde tempo mesmo. – Fernanda brincou.

– Até parece Fernanda, de onde você tirou isso? – Miguel revirou os olhos.

– Sei. – Eu ria dos dois.

O professor liberou a turma para jogar o que quiser. Os garotos saíram para jogar futebol e algumas garotas estavam jogando três cortes. Eu estava sentada embaixo da árvore, repensando todo o meu início de manhã. E senti alguém cheirando meu cabelo. Virei à cabeça tão rápido que quase dei um jeito no pescoço.

Eu estava sozinha.

– Ei, Vitória, vamos jogar? – Fernanda estava me chamando para jogar três cortes com as garotas. Levantei e fui até elas, tava precisando mesmo me distrair.

Não deu nem cinco minutos de jogo e a Ana bateu na bola com força.

Adivinha em quem?

Pois é.

A bola acertou em cheio a minha cara. Tipo, com força. Eu chega tropecei a caí de bunda no chão. Fernanda me ajudou a levantar, enquanto algumas garotas me rodeavam.

– Você está bem? – Miguel estava do meu lado me olhando preocupado.

Como ele tinha chegado tão rápido do meu lado? Ele não estava jogando futebol ainda pouco?

O professo de educação física estava examinando meu rosto, perguntando se estava doendo. Eu respondi que fora a minha cara e a minha bunda, nada mais estava doendo, e o professor riu.

– Pode deixar, eu levo ela. – Miguel pegou meu braço e colocou envolta do ombro dele. – Vocês podem continuar jogando, eu levo ela para lavar o rosto e descansar.

– Tudo bem. – Professor concordou e as meninas voltaram para o jogo.

Miguel me levou até o bebedouro e se sentou no banco do lado enquanto me esperava beber água.

– Obrigada. – Agradeci, sentando do lado dele.

– A Ana de vez em quando exagera. – Ele riu.

Ah, é! A Ana que tinha me acertado com a bolada. Eu tinha até esquecido.

– Ela não me pediu desculpas. – Pensei alto.

– Talvez por que não se arrependa.

– Então, ela não gosta de mim? – Perguntei. Não que isso me incomodasse muito.

– É provável. Sinceramente acho que ela não gosta de ninguém. – Ele disse e eu ri.

Eu estava tentando me distrair, mas era complicado. Tudo o que estava acontecendo era absurdo, irreal, inacreditável. E mesmo assim eu sentia, sentia que era verdade, como se meu coração já soubesse faz tempo que eu iria conhecê-lo. Será que isso já aconteceu com alguém? Quero dizer, não o fato de conhecer um fantasma, mas tudo isso que explodia dentro de mim.

Eu queria perguntar para a Fernanda, ou o Miguel, ou até tentar uma conversa forçada com a minha família, mas eu sinto que não conseguiria dizer nada, e talvez nem deva.

– Não, não, não, não! - Miguel sussurrou de supetão.

Felícia estava passando no final do corredor, ela tinha acabado de ver a gente e tava acenando loucamente.

– Desculpa Vitória, eu vou voltar para a quadra, se cuida tá bem? – Ele mal disse isso e já saiu correndo portão a fora.

– MIGUELITO! – Felícia gritava e corria, mas Miguel já tinha corrido para a quadra deixando ela para trás, com cara de taxo.

Acho que já deu para perceber o quanto eu sou discreta e o dom que eu tenho de rir na hora errada.

Eu comecei a rir descontroladamente, sério, não deu para segurar. Felícia ficou vermelha, sei lá se era de raiva ou vergonha, mas aquilo só me fazia rir mais.

– Ei, você é da sala do Miguelito não é? – Ela perguntou apontando o dedo na minha cara com uma voz de esnobe.

– Sou sim, por quê? – Eu disse abaixando a o dedo dela com a minha mão.

– Sendo assim, não deveria estar na quadra junto com sua turma? – Ela perguntou me fitando com seriedade.

– É, eu devia, mas não estou. – Respondi, não gostando nem um pouco daquela conversa.

– Você tem alguma coisa com o Miguelito? – Fala sério, eu já estava perdendo a paciência.

– E se eu tiver? – Levantei do banco encarando aquela baixinha ruiva.

– Não, você não tem. – Ela sorriu e começou a tagarelar. – Eu sei por que ele ainda me pertence. Nós temos uma história juntos e você pode não saber, mas significa muita coisa e... – Revirei os olhos, aquela garota é um saco. Ela falava, falava e eu já estava sem paciência. Saí de lá. É melhor uma retirada estratégica do que uma conversa indesejada.

– Ei! Volta aqui garota, eu não terminei! – Ela berrou com aquela voz irritante. E sem me virar para ela, estendi minha mão e levantei meu lindo dedo do meio para aquela garota e entrei direto no banheiro feminino.

Me fechei em um box e sentei no vaso com a tampa abaixada, tirei meu celular do bolso e comecei a jogar um joguinho que uma bolinha vermelha. O sinal tocou. Eu estava esperando terminar a fase da água que é difícil pra caramba, para depois ir para a sala, quando eu escutei algumas garotas entrando no banheiro.

– Você viu a cara dela? – As garotas riam. – Sério foi hilário deu até pena dela. – Uma primeira voz falou.

– Ah, pra Jade, ela mereceu, sempre se exibindo daquele jeito. – Era a voz da Ana.

– Isso é verdade. – A tal da Jade disse de novo.

– Ai amiga, o que foi? Quem é aquela novata? – Uma garota que eu não estava reconhecendo a voz perguntou.

– Ah é, a Patrícia faltou ontem, explica para ela Ana. – A voz de uma garota loira que anda sempre com a Ana e que eu nunca lembro o nome disse.

– É que ontem essa garota chegou lá na sala, e como eu sou a representante de turma eu fui lá receber ela sabe com é Paty. Quando eu me apresentei ela tirou o capuz para mostrar aquelas mechas cor de rosa dela, super se exibindo sério. – Ana disse com uma voz enjoada e eu até deixei a bolinha vermelha do meu jogo cair nos espinhos.

Game Over.

– Ai credo. – A tal da Patrícia comentou.

– Eu fiquei sabendo que ela teve um acesso de loucura ontem na sala, tipo, conversando com gente que não existe, super sem noção. – A Jade falou e as outras garotas riram.

Eu a cada segundo gostava mais daquele grupinho. (Ironia, oi.)

– Sério? Credo, deveria estar bêbada ou sei lá. Talvez esteja até se drogando. – A garota loira que eu nunca lembro o nome disse.

Qual é! Eu sei que sou perturbada, mas eu tenho o sangue puro. Exceto aquela festa em SP que o povão me deu uma bebida estranha e eu fiquei doidona, minha mãe ficou fula da vida comigo, mas no final eu descobri com os infelizes dos meus amigos que não era pinga era só clara de ovo cru.

– Ai amiga credo. Que garota é essa que chegou na nossa sala? – A voz da Patrícia praticamente miou.

– Super sem noção. – A Jade disse e todas as meninas começaram a rir.

Véi, na boa.

Eu abri o Box do banheiro e todas as meninas olharam assustadas para mim. Eu saí de lá me sentindo meio que: “Eu ouvi tudo. O que vocês acham disso vadias, vão negar alguma coisa?”

Mas eu me controlei e somente sorri.

– Óleo de Peroba é ótimo sabia? – Comentei.

– O que? – Patrícia comentou.

– É ótimo para passar nessa cara de pau de vocês. – Eu disse e saí de banheiro. As garotas continuaram caladas, e eu nem olhei para trás para conferir alguma coisa.

Tem certas coisas que é melhor ignorar.

Parei na porta da sala, a professora de português já estava na sala, se eu não me engano o nome dela é Íris.

– Vitória não é? – Concordei com a cabeça. – O que você estava fazendo fora de sala?

– Foi mau professora é que tinha uma pilha gigante de fezes no banheiro e eu tive que me esquivar para não pisar nela sabe? Aí eu demorei por que estava pensando em um feito seguro de ultrapassar todo aquele esterco. – Eu disse e a turma deu alguns risinhos.

– Gostei da desculpa. Tudo bem, eu deixo entrar. – Gostei dessa professora.

Eu entrei e sentei no meu lugar. Quando o grupo da perobentas apareceu na porta, a professora não deixou elas entrarem e ainda bateu a porta da cara delas. É, eu gostei mesmo dessa professora.



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