Paranóia escrita por Yan Kimyona


Capítulo 3
Capítulo 3 - O que diabos está acontecendo?


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, eu andei na semana de provas, andei correndo para recuperar minha notas que estavam baixíssimas, e uns outros problemas pessoais. Enfim, aqui está. Boa leitura. =D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/273094/chapter/3

Sabe quando você se sente desolada, e nada do que você faz te deixa melhor, e tudo o que você quer é algo para se distrair?

Então.

É o terceiro fone de ouvido que eu estrago.

Sério, eu tenho problemas, um fone de ouvido não dura mais que um mês na minha mão, é estranho por que só um fone estraga aí eu fico surda de um ouvido só, por que o outro fone não funciona.

O pior foi contar isso pra minha mãe.

- Mãe... – Ela tava colocando a janta no fogo.

- Oi. – Ela respondeu enquanto cortava a batata.

- Eu preciso de um fone de ouvido.

- Outro? Já estragou quantos fones? Dez? – Por que as mães sempre são exageradas?

- Não, só três.

- Ah, claro, vou comprar logo um estoque de fones, para ver se dá algum jeito nisso. – Ela respondeu com ironia balançando a faca.

Vish.

- Olha, se quiser comprar um estoque eu não me importo. – Por que cargas d’água eu fui dizer isso?

Minha mãe começou a agitar a faca na minha direção enquanto dizia palavras zangadas, acho que era alguma lição de moral, eu não sei, não prestei atenção, estava mais preocupada com aquela faca no meu rumo.

Voltei correndo para o meu quarto e fiquei ouvindo ela cortando os legumes com força, parecia que ia partir a tábua ao meio.

É, eu acho que estressei ela.

Eu saí meio que as pressas de manhã cedo. Eu não fui jantar com medo de minha mãe me colocar para comer com a mão pregada na mesa, então eu esperei todo mundo ir dormir e fiz um sanduíche às escondidas, acho que minha mãe ainda tava zangada, por que quando me olhou fez uma careta, então eu saí correndo de casa.

Eu estava passando por aquela mesma rua que eu tinha encontrado o Bruno no dia anterior, observando a pichação na parede.

“NÃO É A POLÍTICA QUE FAZ CANDIDATO VIRAR LADRÃO, É SEU VOTO QUE FAZ LADRÃO VIRAR POLÍTICO.”

Eu amo essa pichação, até parei para tirar uma foto.

Só que quando eu olhei como a foto ficou no celular, apareceu alguém na foto.

O Bruno estava encostado no muro, tampando a palavra “VOTO”. Assustada, olhei para o muro de novo e ele estava lá, sorrindo para mim.

Certo, eu deveria ter medo, deveria ter saído gritando e correndo dali no mesmo instante, mas aquele sorriso me prendeu no mesmo lugar.

Ele caminhou em minha direção e enquanto caminhava a luz passava por ele de um jeito estranho, como se ele transpassasse a luz.

É oficial, eu fiquei maluca.

- Oi. – Ele disse.

- Você existe mesmo? – Gente, eu sou retardada, meu Deus.

Que tipo de pessoa cumprimenta outra com: “Você existe mesmo?”

Ok, tudo o que aconteceu no dia anterior foi estranho, mas caramba, ele foi tão gentil comigo, por que agir tão estranha assim?

Deve ser por que eu sou estranha, mesmo...

- Droga... – Bruno mordeu os lábios e levantou a cabeça, como se tivesse angustiado, ou sentindo que fez alguma besteira.

- O que foi? – Perguntei.

- Desculpa, eu não sei por que só você consegue me ver, mas eu não pude evitar de conversar com outra pessoa depois de passar tanto tempo sendo invisível e eu acho que não devia te meter em toda essa bagunça, me desculpa mesmo, eu passei dos limites, eu sou um idiot...

Interrompi ele colocando a mão na boca dele (Como eu sou educada), mas eu precisava fazer ele parar de tagarelar e começar a explicar o que deve.

- Como assim ‘só eu consigo te ver’? Por favor, explique direito, eu estou confusa. – Eu disse tirando a minha mão da boca dele.

Ele me olhou profundamente, por vários minutos, os olhos dele me prendiam tanto, eu não conseguia desviar o olhar, ele parecia que estava sofrendo.

- Desculpa. – Ele abaixou os olhos.

- Para agora de me pedir desculpas e explica o que está acontecendo. – Isso soou meio autoritário.

Era tudo o que eu precisava, dar uma de mandona.

- Vou te explicar tudo, mas agora não, vai pra escola, eu te encontro depois. - Ele sorriu de leve.

Ah, claro, agora ele tá pensando que depois de me deixar super curiosa vai sair de fininho? Esse garoto realmente não me conhece.

- Opa, não, esquece a escola, isso é mais importante. – Eu disse segurando o pulso dele antes de ele ir embora. – Eu preciso saber o que está acontecendo.

Ele riu.

- Certo, que personalidade forte. Já que você quer matar aula, quem sou eu para discordar? – Ele pegou a mão que eu tinha segurado seu pulso e entrelaçou os dedos dele nos meus.

Certo, eu acho que minhas pernas falharam.

Ele deu a volta na quadra me puxando, me levando até um portão enferrujado. Ele olhou para mim, e estendeu a mão para o portão.

- Abre. – Ele disse, e eu empurrei o portão velho com a mão, me deparando com um campo abandonado.

É nesse lote que está a pichação daquela frase foda.

Ele entrou me puxando e o portão se fechou nas nossas costas. Eu me virei assustada e quase ia levando uma queda, se o Bruno não tivesse me segurado.

Acho que vou cair mais vezes.

- Eu sei que tudo o que eu vou falar vai parecer loucura e talvez você não acredite em mim, ou saia correndo com medo, mas eu não posso mais perder essa chance. – Ele começou.

Eu me sentei encostada no muro (pouco me importando se eu ia sujar aquela minha calça), senti que a história ia ser boa.

- Vitória. – Ele disse meu nome todo tenso, se sentando na minha frente. – Eu estou morto.

Wait... What?

Ok, deixa só eu abaixar um pouco para pegar meu queixo porque ele caiu.

- Para o mundo que eu quero descer! – Eu me aproximei dele. – Você está o que?

- Eu morri faz muito tempo, aqui. – Ele colocou as palmas estendidas na terra. – Eu não me lembro como, eu só sei que estou preso neste lugar.

- Isso não faz sentido. – Comecei a tocar no rosto dele que nem uma retardada. – Você está aqui, eu posso te ver e te tocar.

- Eu também não entendo. – Ele disse tirando as minhas mãos do rosto dele gentilmente. – Durante muito tempo eu fiquei vagando por essas ruas, só observando as pessoas, mas de repente você chegou e esbarrou em mim. Só que ninguém nunca conseguiu me tocar, sempre atravessavam por mim, você por alguma razão, consegue me ver, me ouvir e me tocar.

Sabe aquele tipo de pessoa que fica rindo na hora errada, é, você sabe.

Eu comecei a rir de nervoso, e de repente meu olho começou a lacrimejar, quando dei por mim, eu ria e chorava ao mesmo tempo, e vai por mim, não é nada bonito de se ver.

- Vitória, calma. – Bruno me abraçou e eu comecei a soluçar no ombro dele.

- Eu estou assustada. – Desabafei. – Sinto que estou perdendo a cabeça e tudo isso é tão estranho pra mim.

- Você acredita em mim? – Bruno perguntou enquanto acariciava meu rosto.

- Eu não sei... – Eu enxuguei minhas lágrimas e me controlei, quando eu fico muito assustada e nervosa eu tenho acessos desse tipo, eu geralmente não me importo com eles, mas eu não queria que o Bruno me visse assim.

- Me desculpa se eu te enchi de informações. – Ele deu uma risada nervosa.

- Você estava com o uniforme da Ensino Tróia. – Eu ressaltei.

- Eu estudava lá. – Ele explicou. – Quando eu percebi que tinha alguém que podia me ver, eu fiquei eufórico, me senti vivo de novo, sem aquela tristeza imensa misturada com solidão e incompreensão.

- Eu não sabia que fantasmas sentiam tudo isso. – Eu ironizei. Como eu sou inconveniente. – Mas como é isso? Você morreu e sua alma saiu do seu corpo e ficou vagando por aí? – Que diabos de pergunta foi essa?

- Eu não me lembro de muita coisa, parece que tudo foi apagado. Eu sei que eu estava olhando para mim mesmo. Meu corpo estava todo sujo de sangue e uns cinco garotos estava saindo do campo. E desde então eu fiquei vagando por aqui. Com o tempo eu fui recobrando aos poucos lembranças de quando eu era vivo, mas não consigo me lembrar o que me levou a morte. Tentei milhares de vezes me lembrar, mas nunca consegui.

Era tudo tão louco e irreal, mas ele dizia tudo com tanta intensidade que eu não podia deixar de acreditar nele.

- E a sua família? – Perguntei.

- Minha mãe e meu pai morreram há anos. Minha irmã mais nova cresceu e teve dois filhos. Ambos cresceram e se mudaram para outros estados. Eu não posso sair daqui então não sei como eles estão. Minha irmã morreu faz dois anos. – Ele disse com bastante tristeza.

- Você morreu há quanto tempo? – Cara, eu nunca pensei que iria fazer essa pergunta na minha vida.

- 65 anos atrás.

Eu fiquei olhando para ele igual a uma retardada. Perdi a fala e minha cabeça estava a mil.

- Mas por que só eu consigo te ver? – Eu perguntei depois de uns cinco minutos processando tudo o que ele tinha dito.

- Eu não sei. Mas eu sei que isso não é por acaso. O motivo que só você pode me ver, pode esclarecer tudo, me fazer lembrar como eu morri, e descansar em paz. – Seus olhos brilharam e meu coração doeu.

Mas o que diabos está acontecendo?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem, eu gosto. u.u