A Canção De Hohen escrita por MrMartins


Capítulo 5
Primeiros Encontros - Parte III




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Era o fim?

Era aquilo o fim?

Caído no meio de uma floresta, sem honra e sem glória?

Hart tentou se levantar. Suas pernas tremiam, seus braços fraquejavam e ainda assim ele insistia. Seu corpo o atormentava, gritava, contorcia-se, enquanto era forçado pela mente a se pôr de pé. Os olhos da Sombra ainda zombavam dele. “Não vai conseguir. Você vai morrer. Você vai morrer”, eles diziam. Hart se levantou cambaleante; mal conseguia segurar a espada, mas se levantou.

— Foge! — ele gritou para Ellienne. — Eu te consigo tempo, mas você tem que fugir!

Ellienne recuou um passo.

— Não — ela disse.

Ellienne correu a mão para o pescoço e puxou um colar de dentro do vestido.

— Hilde… — ela falou. — Dê-me tempo.

Hilde passou para uma postura agressiva, apontando a lança para a Sombra Caçadora. Ellienne fechou os olhos e apertou o colar com força, cortando seus dedos e molhando a joia com seu sangue. Nas mãos da princesa, surgiram linhas de um azul brilhante.

A Sombra Caçadora eriçou-se rosnando e se atirou com toda sua potência contra Ellienne.

Sangue voou.

O monstro rugiu e recuou, ferido pela lança de Hilde. Ela atacou outra vez. Hilde tentou interceptar o golpe. Falhou. As garras da Sombra se ergueram e desceram impiedosamente. Garra contra espada. Hart. O soldado cruzou o ataque do monstro. O impacto estremeceu cada fibra do corpo de Hart, seus joelhos fraquejaram, mas ele resistiu, seus ossos sendo esmagados pela força da Sombra. Hilde avançou contra a fera, forçando-a a recuar.

Hart caiu de joelhos.

Lentamente as linhas azuis avançavam pelo corpo de Ellienne, lentamente a Sombra Caçadora se tornava mais furiosa, brutal, veloz. Seus golpes partiam troncos de árvores, espedaçavam pedras, criavam crateras.

Hart mal se suportava de pé. Todo seu corpo tremia de dor, seus olhos embaçados falhavam em acompanhar o monstro, seus reflexos pesavam. Hilde não estava em melhor estado — sua jaqueta estava manchada de sangue em várias partes, sua lança de luz se desfazendo.

E então a Sombra Caçadora atacou mais uma vez. Com as patas dianteiras, ela jogou Hilde para longe e com a cauda levou Hart ao chão. Emma tentou se levantar, porém seu corpo cansado pela magia não se suportava.

—Xeque

A Sombra Caçadora caminhou lentamente em direção à princesa, sorrindo cruel, agitando sua cauda, salivando e rosnando. A poucos metros de Ellienne, ela parou e flexionou as patas traseiras, pronta para se lançar para o ataque final. Hart se levantou desesperado e correu para tentar interceptar a fera. Não foi rápido o bastante. A fera abriu sua bocarra monstruosa, pronta para cravar suas presas no corpo de Ellienne.

Mate—

—Não—

Todo o corpo da princesa estava tomado pelas linhas azuis reluzentes, seu colar brilhando num branco celestial.

Houve um clarão e então o mundo inteiro parou.

Hart não viu mais nada, porém antes de perder os sentidos, ele poderia jurar ter ouvido o grito de guerra de um deus, um som de estrondosa grandeza e poder inigualável, um grito que nenhum ser mortal poderia imitar, estremecendo os Céus e a Terra.

E então, escuridão.

Hart acordou algumas horas depois. Estava deitado no chão, com bandagens ao redor dos locais onde seus ferimentos eram mais graves. Sua espada e suas roupas estavam ao seu lado. Um pouco mais à frente, alguns soldados conversavam, outros cuidavam de suas lesões e outros ainda, ao redor de uma fogueira, preparavam comida.

— Acordou rápido — falou uma voz.

O dono da voz, Karl, apareceu pouco depois. Ele tinha uma bandagem ao redor do braço e não usava mais o uniforme militar, mas os modos negros dos Magos do Colégio de Vültzhein. Ele se sentou ao lado de Hart e ficou encarando seus ferimentos.

— Como se sente? — Karl perguntou.

— Como se um trem tivesse me atropelado — Hart respondeu tentando se sentar.

— Não, pode ficar deitado. Você apanhou bastante lá. Mas apesar disso conseguiu proteger a princesa. Acho que vão te dar alguma coisa por isso. Não é todo dia que um soldado de baixa patente salva a Princesa-Herdeira.

— Eu não salvei ela. Eu tentei, mas não ia conseguir parar aquela coisa. Achei que ela fosse matar a princesa, só que aí teve um clarão e eu apaguei. Onde vocês estavam?

— O monstro saiu voando quando viu que a princesa não estava mais ali. Tentamos segui-lo, mas ele era rápido demais. Quando chegamos, já estava tudo acabado. Vance quase perdeu a cabeça quando a criatura atirou aquela magia em vocês.

— Eu achei que fosse morrer ali. Aquela coisa, por que ela estava atrás da princesa?

— Não sei. Mas não acho que ela esteja sob o controle de qualquer inimigo que conheçamos.

— Como você sabe?

— Até onde eu sei, se qualquer um dos Grão-Duques que acham que merecem o trono tivesse alguma coisa assim lutando por ele, pode ter certeza de que já teriam tomado o trono.

— Os outros Duques não iam apoiar isso.

— Não é tão simples, Hart. O novo rei poderia decidir se aliar a Gáris ou Aber e só isso já garantiria apoio militar e econômico o bastante para sustentá-lo no trono.

— Mas e os Duques leais à Princesa? Eles fariam alguma coisa.

— Talvez sim. Mas seriam quantos? O tio dela, Olaf, a grã-duquesa Verena e os Duques de Reingar e Strustshëlm e isso só se o novo Rei decidisse quebrar o acordo do antigo Rei e tirar o ducado dos dois. A situação não está nada bonita para a Väulderifäng. Muitos grão-duques querem que Loren seja coroado. Na verdade o que eles querem mesmo é a mãe dele no poder. É por isso que precisamos levar a Princesa para a capital de uma vez. Temos que chegar lá antes que eles possam se organizar e voltar a opinião pública contra nós. E agora sem os carros vamos levar pelo menos cinco dias para chegar.

— Podemos pegar outros carros, não?

— Não sem denunciar nossa posição e isso nos deixaria muito abertos para ataques. Perdemos muitos homens só com esse, não dá para arriscar outra batalha.

— Mas, o que vamos fazer então?

— Queria poder responder isso.


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