A noite passou como um raio e na manhã seguinte, novas surpresas já começaram.

A campanhinha tocou logo cedo e foi Débora Martinez quem atendeu.

–Aqui é onde moram Dayse e Daiane Martinez?_O carteiro perguntou enquanto lia os nomes de dois envelopes.

–Sim senhor._A mulher afirmou mecanicamente.

–A senhora poderia, por favor, assinar a recepção da entrega?

–Claro.

Depois disso a mulher caminhou calmamente tentando analisar o conteúdos dos envelopes. Deu de ombros e foi novamente em direção a cozinha.

–Mas quem era o desocupado que estava na porta tão cedo Débora? _Thiago Martinez, o marido dela perguntou.

–Era o carteiro..._Ela respondeu simplesmente._Veio trazer cartas para Daiane e Dayse.

–Aposto que eram dos “gringos” que estavam aí ontem._ O mais novo dos irmãos Martinez entrou sorrindo travesso na cozinha seguido das duas irmãs. A mãe o fuzilou com os olhos, ele apenas deu de ombros.

–Que “gringos” estavam aqui ontem?_O homem perguntou erguendo as sombracelhas intrigado.

–Não era ninguém de importante papai._Dayse respondeu calmamente._Apenas caras do trabalho.

–E desde quando você traz trabalho para casa senhorita?_O homem perguntou rindo e fazendo a menina avermelhar na hora.

–De que carta estava falando mamãe? - Daiane perguntou curiosa. _Nunca na vida recebemos cartas de ninguém _Ela disse arrancando risadas dos demais.

–Não olhei direito. Mas essa é pra você e essa é para a Dayse._A mulher mais velha entregou dois envelopes lacrados na direção das meninas.

Cada uma pegou uma carta e ambas estranharam ao perceber que parecia ter sido enviada por um banco.

–Carta de banco Day? Sabia que era propaganda._Daiane disse prestes a jogar a carta no lixo.

–Não jogue fora ainda Nane. Primeiro abra e veja o que é._Dayse disse enquanto abria o próprio envelope.

Assim que Dayse abriu envelope franziu o cenho e crispou os lábios. Tratou de ler com atenção e depois encarou Daiane que tinha a mesma expressão de surpresa que ela.

–Dayse... Eu tenho umas perguntas para você._Daiane disse sorrindo estranhamente para a irmã.

–Pergunte Nane e depois eu é que tenho que entender que droga é essa._Dayse disse atraindo a atenção dos outros três presentes na cozinha para as duas.

–Quanto exatamente um “assistente” deveria ganhar?_Daiane perguntou com o cenho franzido._Acho que me mandaram um “pouquinho” a mais que o necessário.

–Quanto exatamente Nane?_A irmã mais velha perguntou.

–Uns dois ou três mil reais talvez..._Ela disse fazendo todos arregalarem os olhos.

No envelope de Daiane estavam exatamente cinco mil reais, sendo que o salário dela mesmo já sendo ótimo para uma “assistente” não deveria passar de mil e quinhentos ou dois mil reais.

–Pois não foi só com você que se enganaram._Dayse disse sorrindo._Eu acabo de receber dez mil reais, e por mais que eu fosse ganhar uma quantia “significativa” pelo meu trabalho, ninguém havia me falado nada sobre uma quantia em dinheiro chegar até mim antes mesmo de começarmos a primeira semana de gravação.

–Que tipo de banco dá dinheiro como “boas vindas” para as pessoas que nem se quer se lembram de ter feito contas lá?_Daiane arregalou os olhos.

–Qual o nome do banco Dayse?_O pai das meninas perguntou já começando a se assustar também.

–Deixa eu ver... Aqui diz “Süskind laughter corporation*”_Daiane disse logo assimilando o que aquela frase queria dizer.

–AQUELES ESTUPIDOS._ Ambas gritaram ao mesmo tempo assustando o pai e a mãe e arrancando uma risada escandalosa do irmão._Mas quem eles pensam que são pra brincar assim?_Agora Dayse andava de um lado par ao outro a procura de alguma coisa.

–Algum de vocês viu a minha bolsa, que eu usei no trabalho ontem?

–Você deve ter deixado no carro._Daiane respondeu fazendo Dayse correr para a garagem.

Quando Daiane chegou lá a mais velha já estava com o telefone em mãos falando com alguém.

–Você sabe que eu não sou uma fã louca.

–...

–Eu prometo não contar pra ninguém.

–...

–Oras, como assim pra que? Eu preciso falar com ele agora mesmo.

–...

–NÃO. Não estamos tendo um caso de jeito nenhum.

–...

–Tudo bem, pode falar.

–...

–Mas é claro que prometo. Não vai se arrepender. Muito Muito Muito obrigada mesmo.

–O que você estava fazendo Day?_Daiane perguntou chamando a atenção da mais velha.

–Conseguindo o numero do imbecil do Süskind._Ela respondeu já discando o número.

–Qual Süskind?_Daiane perguntou fazendo Dayse lembrar que não especificou qual dos dois ela queria.

–Não importa realmente..._Ela murmurou._Se eu achar um acho o outro também._Ela disse arrancando risos da mais nova.

Segundos depois uma voz soou do outro lado da linha.

Wilhelm e Wendler estavam em uma das salas de jogos do enorme hotel. A casa que havia sido preparada para eles, estava tendo os últimos detalhes acertados e por isso eles ainda estavam em um hotel. Haviam acabado de sair da academia e por isso estavam bastante suados, mas como eram “garotos” não se importaram muito com isso. Os gêmeos encontravam-se brincando animadamente no jogo Guitar Hero , e como músicos, eles definitivamente estavam bem no ramo cinematográfico.

–O que acha que elas farão quando descobrirem que a “contribuição” do banco na verdade veio de nós?_Wilhelm perguntou arrancando risadas do irmão.

–Espero que ninguém tenha dado a elas o endereço do nosso hotel._Wendler falou e foi acompanhado por Wilhelm nas risadas.

–Espera um pouco aí o hiena ninfomaníaca._Wendler disse fazendo o irmão tentar parar de gargalhar._Tem alguém me ligando._Ele disse verificando o visor do celular._O estranho é que não tem identificação.

–Desliga isso Wend, deve ser alguma fã._Wilhelm disse recebendo um olhar maligno do irmão.

–Não. Me. Chama. De. Wend._Ele disse pausadamente arrancando risos do outro._Não me provoque Wilhy..._Ele disse fazendo o mais novo fechar a cara em uma careta estranha.

Ambos se calaram e Wendler atendeu o telefone.

–Fica quieta Nane, um dos estúpidos atendeu o telefone._Ela disse em português fazendo Wendler franzir a testa do outro lado da linha.

–Quem fala?_O rapaz perguntou estranhando o fato de uma suposta brasileira ter o seu telefone.

–Aqui é alguém que gostaria de falar com o mais imbecil dos irmãos Süskind._Ela disse fazendo Wendler reconhecer a voz dela.

–Seja mais especifica bonequinha._Ele disse fazendo Dayse se irritar com o apelido._Não sei ao certo qual a sua opinião formada sobre nós.

Dizendo isso Wilhelm fez sinal para que o irmão colocasse no viva voz para ele poder ouvir a conversa.

–Diz de uma vez qual dos dois está falando._Dayse disse entre dentes.

–É o seu idiota favorito._Ele respondeu sorrindo.

–Pois era justamente com você que eu queria falar Wendler. Aposto que a idéia foi sua não foi?_Dayse falou sem perceber a própria mancada e só se deu conta quando percebeu que Daiane (que estava colada ao telefone) estava rindo e sendo acompanhada pelo “imbecil” do outro lado da linha.

–Assim você me magoa Day..._Wilhelm disse entre risadas.

–Acabamos de descobrir quem é o seu “gêmeo favorito”_Wendler falou fazendo Dayse perceber a besteira que havia dito. A menina agradeceu aos céus por ele não poder ver como ela ruborizou. Daiane riu ainda mais.

–PARE DE RIR COMO UMA HIENA EPILÉTICA DAIANE._A mais velha disse arrancando ainda mais risos da irmã e fazendo Wendler quase cair do sofá diante da crise de risos.

–Pelo jeito o Wilhelm e a Daiane são da mesma espécie._Ele disse fazendo Daiane e Wilhelm pararem de rir instantaneamente.

–NÃO VEJO GRAÇA NENHUMA NISSO._Os quatro falaram ao mesmo tempo e segundos depois já estava rindo novamente._Chega de palhaçada Wendler._Dayse disse se recompondo da crise pós ataque de risos._Eu ainda quero saber que história é essa de mandar dinheiro pra gente.

–Não tenho idéia do que você esteja falando Day._Ele disse se fazendo de desentendido.

–Talvez o nome “Süskind laughter corporation” te diga alguma coisa._Daiane disse sugestiva.

–Te lembra algo Wilhy? _Wendler perguntou ao irmão e Daiane e Dayse seguraram a risada diante do apelido.

Wilhelm fez uma careta de descontentamento._Não me lembra nada não Wend._Ele disse fazendo Wendler corar até a raiz dos cabelos. Isso arrancou ainda mais risos do mais novo.

–Encarem isso como uma forma de dizer “Não quero uma acompanhante feia”._Wendler disse sorrindo ao imaginar a cara de brava que Dayse provavelmente estaria fazendo._Usem para comprar um vestido ou algo assim.

–O seu vale foi menos Nane porque você é só uma “acompanhante-que-busca-bebidas” Ok?_Wilhelm pode sentir ser fuzilado depois de dizer isso.

–Precisamos ir agora meninas. Nos vemos a noite. E não se atrasem, por favor. Detestamos atrasos._Wendler disse desligando o telefone sem ouvir a resposta das meninas.

Dayse olhou incrédula para o telefone. Daiane estava a ponto de explodir de tão vermelha que estava.

–Vamos agora mesmo para o shopping._Daiane disse puxando a irmã pela mão._Vamos mostrar para eles com quem estão lidando.

–Espera Nane. Vai mesmo querer gastar o dinheiro deles?_Dayse perguntou ainda incrédula.

–Mas é claro que vou. Pra pelo menos isso eles devem prestar. _Ela disse fazendo a mais velha gargalhar.

As duas se dirigiram ao shopping e por lá passaram praticamente o dia inteiro. Compraram vestidos com a generosa “contribuição” dos Süskind e ainda resolveram passar em um salão de beleza. Chegaram em casa por volta das sete da noite e subiram no intuito de se arrumar. O vestido de ambas era simples, mas condizente a ocasião. Daiane estava elegante trajando um vestido verde, mas de cor sóbria que não deixava de ser sensual.O cabelo estava solto e mesclava entre mechas lisas e onduladas, dando a ela um ar travesso. A maquiagem marcava os olhos, como sempre, e nos pés usava um salto médio, mesmo que pra ela não fosse muito confortável. Dayse usava um vestido vermelho bem diferente do de Daiane. A mais velha era mais alta e ajudada pelo salto parecia ainda maior. Tinha os cabelos incrivelmente lisos e a maquiagem perfeitamente trabalhada a deixavam com um aspecto sensual e elegante ao extremo.

Ambas queriam provar para eles que não eram “acompanhantes feias”. Daiane queria mostrar que poderia ser a “acompanhante-que-busca-bebidas” mais bonita que ele havia conhecido e Dayse queria mostrar que não era “jovem e inexperiente”. Ela queria parecer mais mulher. Para ele. Ambas queriam. Os irmãos Süskind teriam uma surpresa aquela noite.

–Meninas..._Débora Martinez perdeu a fala assim que abriu a porta e avistou as duas filhas._Meu Deus, vocês estão lindas._A mulher disse se aproximando e arrancando risinhos sem graça das filhas.

Logo o olhar da mulher passou de encantado e emocionado para travesso e brincalhão.

–Acredito que os rapazes que estão lá em baixo esperando por vocês também irão se impressionar um pouquinho._Ela disse fazendo as filhas corarem mesmo sob as maquiagens fortes.

Ambas desceram as escadas e se dirigiram a porta da casa delas. Deram um beijo nos pais e no irmão e logo abriram a porta.

Wilhelm estava prestes a socar o portão quando alguém se aproximou e fez com que ele congelasse o gesto.

–Desistiu por que imbecil..._Wendler parou a frase nomeio assim que avistou o motivo de o irmão ter ficado paralisado.

–Mein...

–Gott...

Foram as palavras que saíram dos lábios do gêmeos Süskind.

Süskind laughter corporation* = Süskind corporação de risadas.