Passaram uma hora e já estávamos na frente de um lugar que dizia ser a gravadora "DOA Recording Studios". Lá dentro, tinham muitas pessoas, na verdade, fantasmas. Passamos por eles e fomos em direção de um balcão, onde tinha um homem moreno, vestido com um terno italiano muito bonito. Ele nos viu e disse:

         - Ah, Sr. Jackson, fico muito feliz em ver o senhor... Vivo – completou com um sorriso pouco convincente no rosto.

         - Oi Caronte, tudo bem? – respondeu Percy sendo simpático

         - Tudo ótimo, Sr. Jackson, mais ainda não recebi meu aumento – falou lançando um olhar feio na direção do meu irmão e de Annabeth, que sorriu se desculpando.

         - Não tem problema, Caronte. Viemos ver Hades novamente – Percy olhou para mim e completou – tenho certeza que ele irá lhe dar o tão merecido aumento.

         - Tudo bem, mas vocês sabem que precisam fazer para entrar, certo?

         - Claro – dessa vez quem respondeu foi Annabeth e pegou da sua bolsa alguns dracmas de ouro.

         - Sejam bem vindos ao Mundo Inferior.

         Havia fantasmas e esqueletos por todos os lados. Fiquei assustada e me aproximei de Percy. Ele me mostrou de longe onde ficavam a Elísio. Logo chegamos a um lugar, aonde tinha três entradas, consequentemente três filas. Duas das filas demoravam muito para seguir e a outra era muito mais rápida.

         Entre elas, havia um cachorro que sabia que se chamava Cérbero, ele era o Guardião do Mundo Inferior. Ele sabia que nós estávamos vivos, por isso não nos deixaria passar. Percy olhou para Frank e perguntou:

         - Você trouxe o que eu te pedi?

         - Mesmo estranhando, sim, eu trouxe – e tirou da mochila uma bola de borracha laranja, ainda vazia.

         Entregou a Percy, que começou a encher. Eu estava intrigada com tudo isso. Como uma bola de borracha laranja resolveria alguma coisa? Quando meu irmão terminou de encher a bola, chamou a atenção de Cérbero.

         - Ei, garoto, lembra-se de mim? – eu achei aquela cena muito engraçada.

         E por mais incrível que pareça, Cérbero pareceu lembrar. Percy brincou com aquele cachorro e depois de um tempo jogou a bola para a ele. E saiu correndo, todos o imitaram, é claro.

         Depois de passarmos pelo cachorro, Percy parou e disse:

         - Boa não foi?

         - O que fazemos agora? – perguntou Hazel nervosa.

         - Passamos correndo pelo detector de metais e vamos em direção ao castelo de Hades – respondeu Annabeth, como se fosse a coisa mais simples do mundo.

         Como ela disse, passamos correndo pelos detectores de metais e logo já podíamos ver o castelo de Hades. Era imenso. Demoramos uns 10 minutos até chegar lá. Vimos que ele e Perséfone estavam sentando em seus tronos, provavelmente discutindo.

         Fui a primeira a me aproximar, estava nervosa, hoje era dia de Natal, haviam se passado dois dias desde que Nico tinha desaparecido. Eles nos viram se aproximando. Ajoelhei-me entre o trono de Perséfone e Hades.

         - Senhor Hades, Senhora Perséfone.

Outros fizeram o mesmo, até Hazel. Ela estava nervosa, afinal, era a primeira vez que ela via seu pai cara a cara.

- Algumas complicações no caminho? – perguntou Perséfone bondosamente.

- Sim.

- Deixarei vocês conversarem – falando isso se retirou, sobrando apenas Hades.

- Senhor, viemos pedir sua ajuda – falei olhando nos olhos dele que eram da mesma cor que o do Nico.

- Eu sei, e, por favor, Jackson não prometa a Caronte algo que não possa cumprir – disse ele olhando feio para Percy.

- Sinto muito – disse meu irmão irônico.

- Humpf, vamos direto ao assunto. Há setenta e poucos anos atrás, foi feita uma profecia, que falava que a escolha do filho de um dos três grandes poderia preservar ou arrasar o Olimpo, logo depois, eu e meu irmão fomos obrigados por Zeus a fazer um pacto, jurando não ter mais filhos semideuses, e todos os filhos que tínhamos naquela época deveriam ser mandados para o acampamento. Eu não queria meus filhos naquele lugar. Não tinha nem um chalé para mim, vê se pode alguma coisa assim. Por isso, os meus filhos que já estavam lá permaneceram e os que não sabiam o que eram, foram mandados para um lugar especial...

- O Cassino Lotus – interrompeu Percy – Nico e Bianca foram para o cassino Lotus, não é?

- Jackson, não me interrompa novamente. Nico e Bianca não foram os únicos que eu mandei para lá. Três dos meus filhos foram para o Hotel Lotus, mas apenas dois saíram de lá, existe ainda apenas uma criança lá, que na época não foi viável tirar de lá, por já ter completado dezesseis anos. É da ajuda dela que precisam, ela vai ajudar a resgatar Nico.

- Você deixou “ela” lá, por já ter completado a idade dita na profecia? – perguntou meu irmão com muita raiva – que tipo de pai você é?

- Vocês não entendem, ela não é uma simples meio-sangue, ela assim como sua irmã, recebeu a benção de um Deus. Naquela época, é perigoso tira-la de lá. Hoje ainda é. Mas não temos escolha.

- Onde fica esse Hotel Lotus? – perguntei curiosa

- Fica em Las Vegas. Mas não é seguro vocês irem para lá – disse Hades.

- Por quê?

- Quando você está dentro do Hotel, o tempo não passa todos que estão dentro dele, só conseguem sair quando a mente estiver sã. Com o tempo vocês vão esquecer suas preocupações e suas responsabilidades. Ficariam lá presos por anos, sem nunca ter vontade de sair.

- E então como vamos buscar sua filha? – perguntei tentando ser lógica.

- Mandarei a fúria, Alecto, ir busca-la, enquanto vocês se alimentam e descansam. E depois iremos para o próximo passo.

- Como assim?

- Depois conversaremos, venham, vou mostrar um lugar para vocês descasarem.

Ele nos levou em direção ao interior de seu castelo. Levou cada um para um quarto onde poderíamos tomar banho e trocar de roupa e, pois logo seria a hora em que nós poderíamos comer. Ele disse que mandaria Alecto e que antes que imaginamos ela estaria de volta.

Resolvi trocar de roupa e me arrumar, estava cansada. Ouvi uma batida na porta, era Annabeth, o jantar estava pronto.

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Durante o jantar, tudo ocorreu muito bem, Hades pouco falou. A comida estava deliciosa, assim que todos terminaram de comer ele pigarreou e olhou para mim:

- Alicia, você sabe que terá que enfrentar a Deusa da Noite?

- Sim, a profecia deixou isso bem claro – brinquei – e também eu “sonhei” com os deuses olimpianos discutindo sobre isso.

- Você não sonhou. Atena disse que seria justo que você soubesse de tudo e convidou você para participar indiretamente.

- Hum...

- O hilário, é Zeus – disse dando um olhar para Jason – ele sempre teve muito medo de Nix, ele diz ser respeito, mas quando você é alguém como Zeus, você não precisa respeitar ninguém. Seu irmão sabe o que você precisa saber para lutar contra Nix, mas burro como ele é, ainda não percebeu.

- Como assim? – perguntou Percy

- Lembro muito bem da sua ultima visita aqui. Você lembra?

- Lembro.

- Então, está provado o quanto você é burro. Você sabe o que ela precisa fazer para poder sobreviver e a batalha que vocês tiveram hoje, só mostrou o quanto isso é necessário.

Pela cara de Annabeth, ela já tinha entendido. Logo Percy entendeu.

- Eu não quero que ela precise passar por isso – disse ele quase como um sussurro.

- Não quer, mas é necessário! – falou Hades.

- Ela vai sofrer!

- Sem isso ela pode morrer – falou ele dirigindo um olhar duro para Percy.

- Vocês não acham que eu deveria saber o que vocês estão falando? – perguntei interrompendo aquela discussão.

- Você está certa, Alicia – disse Hades – Há um ano, mais ou menos, seu irmão veio fazer uma visita, digamos, nada agradável aqui. Ele decidiu que estava na hora de tomar um banho em um dos rios que está sobre o meu domínio. Você sabe qual rio é esse?

E a resposta veio na hora:

- O Rio Estige.

- Muito bem. Ele se banhou no Rio Estige para se tornar invulnerável, para poder tentar lutar contra Cronos de igual para igual.

- Mas o rio não te torna invulnerável, todos devem ter algo que te prende ao mundo mortal, digamos assim.

- Muito inteligente – concluiu Hades – isso é o chamado Calcanhar de Áquiles. Pois ele foi o primeiro a se banhar nesse rio. Enquanto você está lá dentro você tem que imaginar algo ou alguém que te prende ao mundo mortal. Você deve escolher um ponto do seu corpo, que te tornara mortal e é somente se esse lugar for atingido você pode morrer.

- Ou seja, eu me torno invulnerável, mas qualquer simples arranhão que eu tenha no local escolhido eu morro? – conclui inteligentemente.

- Sim – disse Percy com um olhar triste.

- Isso aumentaria minhas chances contra Nix?

- Com certeza – respondeu Hades – mas tem o pequeno detalhe do menor corte pode te matar.

Pensei sobre aquilo. Havia sérias consequências, mas a luta contra a Píton tinha me mostrado o quando eu era fraca e inexperiente. Eu sabia o que eu deveria fazer e não seria fácil.

- Senhor Hades – falei – eu decidi ir ao Rio Estige.

Percy me olhou surpreso e o mesmo olhar se repetiu por todos os meus amigos. Meu irmão se aproximou e sussurrou:

- Você tem certeza, Alie?

- Tenho Percy, vocês precisam de mim, Nico precisa de mim e eu não posso deixar qualquer erro bobo prejudicar isso.

- Eu te entendo maninha – me abraçou e deu um beijo na minha testa.

- Vamos então – disse Hades indo em direção ao que eu imaginava ser o caminho do Rio Estige.

Caminhamos por alguns minutos até que chegamos à frente do Rio, eu estava nervosa e o pior de tudo, teria uma plateia assistindo aquilo. Durante o caminho fui de mãos dadas com Percy, ele foi me instruindo sobre tudo o que deveria fazer.

Quando chegamos, vi um rapaz que estava de armadura e tinha uma flecha presa no calcanhar.

Era Áquiles.

Ele se aproximou e disse:

- Você sabe das consequências e mesmo assim decidiu vir aqui. Avisei os outros dois sobre isso. Um deles morreu pela própria mão e o outro teve sorte e perdeu a maldição. Está pronta para as consequências?

Eu sorri, sempre gostei da história de Áquiles:

- Sinto muito, agradeço seu aviso. Mas é necessário – e falando nisso eu entrei no Rio.

Percy disse que para ele foi necessário pedir a benção de sua mãe. Como minha mãe tinha morrido eu só precisava que alguém que se preocupasse muito comigo me desse essa benção. Meu irmão decidiu fazer isso por mim.

Assim que entrei no rio, me arrependi de ter tomado essa decisão. Parecia que cada pedaço do meu corpo está pegando fogo. Eu estava perdendo. Precisava acabar logo com isso.

Fiz como Percy disse e imaginei uma corda me prendendo pela palma de minha mão. Um lugar idiota para escolher, mas era o local de mais difícil acesso em uma batalha. Vi os rostos de meu irmão, de Annabeth, Jason, Hazel, Frank, Piper, Leo e por último o mais lindo e especial de todos o de Nico.

Ele sorria para mim. Eu tinha caído. Ele sempre brigava comigo por eu ser desastrada, ele ofereceu sua mão para mim e eu feliz a segurei.

Nessa hora, eu saí com tudo do Rio Estige e parei deitada perto de Annabeth, que se ajoelhou do meu lado na mesma hora.

- Alicia, você esta bem? – perguntava ela apreensiva.

Percy se aproximou e sentou ao meu lado.

- Mana? – ele olhou para mim – tudo bem?

- Tudo ótimo – eu me sentia confiante e segura.

- Desculpe interromper o “momento família”, mas Alecto voltou – disse Hades com um estranho olhar.

- Vamos – eu disse brincando – quero conhecer minha outra cunhada.