Puxei a porta do quarto, e por incrível que pareça, estava aberta, os guardas não estavam mais ali, algo muito estranho estava acontecendo. Fui andando devagar até o corredor de saída, onde alguém se jogou sobre mim. Quando consegui me virar e ver a pessoa, era o meu acompanhante nos Jogos, Sylve, um homem não tão alto, com o cabelo branco e a pele clara.

– SYLVE, O QUE É ISSO? – Gritei.

– Calada, garota!

Ele tentou me imobilizar e quando conseguiu, tirou de seu bolso uma seringa. Gritei mais ainda, levantei minha perna e o chutei pra longe. Fiquei em pé novamente e olhei pra ele, estava estranho, com raiva. Ele veio como um animal pra cima de mim, e me afastei rapidamente, enquanto Sylve foi de encontro com a parede de pedras. Uma delas caiu, eu a peguei e com ela, bati em sua cabeça. O sangue escuro começou a sair, enquanto peguei a seringa e corri pra pegar minha mochila que estava caída no chão, dei o fora do Edifício e fui pra estação de trem, não liguei nem um pouco pros outros estarem me reconhecendo, nesse momento todos já tinham visto a minha entrevista com Caesar. Peguei o trem pro Distrito 12 e pelo caminho todo, não conseguia entender o que estava acontecendo. Primeiro, a Capital queria me matar, mas alguém não, alguém ali sabia que eu ia sobreviver, e deixou tudo planejado para que isso desse certo, já hoje de manhã, quem me ajudou, voltou. Outra pessoa acabou com a guarda do Edifício da Justiça e ainda quis me matar e dessa vez tenho certeza que não foi a Capital, Sylve está do lado deles, ou melhor, estava.

– DISTRITO 12! – O homem a minha frente gritou. – Agora esse trem vai voltar pra Capital, senhorita!

– Oh, obrigada. – Peguei minha mochila e ao seu lado, tinha uma carta.

“Tenho certeza que fez o certo, eu vou te guiar, Flinch, faça o certo sempre.

– 8”

Não disse nada, quando pisei na plataforma, Katniss surgiu ao meu lado. Ela me abraçou e depois sorriu.

– Eu sabia que viria aqui. – Disse.

Dessa vez ela não estava com sua famosa trança, seu cabelo castanho estava solto, e vestia um grande casaco. Fomos andando até sua casa na Vila dos Vitoriosos, eu nunca estive naquele distrito, mas parecia muito ruim, como o meu estava, as pessoas em suas casas morrendo de medo.

– Você pode ficar aqui por quanto tempo precisar.

– Obrigada. Olha, - Eu a mostrei a seringa. – Meu acompanhante nos Jogos, Sylve tentou injetar isso em mim hoje, eu acho que ele... Morreu.

– Eu vou entregá-la a minha mãe, tenho certeza que ela descobrirá o que tem aqui. Mas agora me conte tudo que ocorreu.

Eu desabafei e contei tudo o que sabia e o que não sabia. Meus medos e verdades, mesmo sem não conhecê-la de verdade, eu sei que é a única pessoa que posso confiar. Sua irmã, Prim, que me lembrou Ella, nos trouxe chá e biscoitos. Assim que terminei de contar tudo, um homem entrou pela porta, tinha o cabelo escuro, os olhos acinzentados e feições delicadas, apesar da carranca que carregava no rosto e dá força que se continha em seus músculos, ele deu um breve sorriso assim que olhou em nossa direção.

– Bom dia, Catnip.

– Oi Gale. Essa é Foxface. – Katniss disparou.

– Foxface? – Eu falei e ri.

– Ah, me desculpe, eu não me lembrei de seu nome, achei o apelido apropriado.

– Não tem problema, eu adorei. Meu nome é Flinch.

– Prazer, Flinch. – Ele estendeu sua mão e eu a apertei. Ela parecia ter o dobro do tamanho da minha, ele sorriu simpático e se sentou ao meu lado.

– Eu descobri o que era aquilo, garotas, algum tipo de sonífero. E bom dia, Gale. – A mãe de Katniss nos avisou.

– Nós precisamos protegê-la. – Sua filha falou ao homem ao meu lado. – Não acho muito prudente ficar aqui, é melhor se mudar pra casa de Haymitch.

– Ela poderia ficar lá em casa. – Gale falou e Katniss não respondeu, mas também não ficou muito feliz.

– Vou preparar algumas roupas pra você, Flinch. – Sra. Everdeen me avisou.

– Oh não, não é preciso. Eu expliquei pra Katniss que alguém me ajudou, tenho bastante roupas aqui. – Mostrei a mochila.

Peeta e o acompanhante dos dois nos Jogos entraram pela porta. Acho que ele é Haymitch, quem comentaram mais cedo, no meio da conversa. Nós começamos a conversar sobre assuntos mais diversos, Katniss contou sobre a minha situação pra eles. Então de repente eles se interessaram pela minha vida.

– Meu pai morreu quando eu tinha oito anos, ele foi trabalhar um dia e só... Não voltou mais. Tenho uma irmãzinha, Ella, que hoje tem 11 anos e um irmão, Will de 24. Minha mãe acabou de morrer e meu irmão está desaparecido. Ella está com uma tia nossa, mas eu tenho que colocá-la em segurança, sabem? Eu tenho que fazer alguma coisa. – Acabei de falar, quase chorei ali. Gale passou o braço pelas minhas costas e me deu um abraço reconfortante. Katniss percebeu e fez cara feia, Peeta viu o rosto dela e não gostou nenhum pouco, Haymitch só ria da situação em cadeia.

– Eu acho melhor irmos. – O moreno me chamou.

– Ok.

Me despedi de Katniss, sua mãe, Peeta, Haymitch e Prim. Eles continuariam me ajudando, mas eu não podia ficar ali, era óbvio demais, durante o caminho até a casa de Gale, fomos conversando muito e rindo mais ainda.