Quando chegamos à Capital, fui levada ao Edifício da Justiça. Me empurraram numa sala e me algemaram numa poltrona. A sala era toda branca, com uma janela imensa, uma estante repleta de livros, uma mesa a minha frente e outra poltrona, dessa vez maior, vermelha-sangue. O cheiro era indecifrável, lembrava rosa e sangue ao mesmo tempo, havia vários porta-retratos, porém vazios, tudo meio macabro. Ouvi um barulho da porta se abrindo atrás de mim, logo depois, passos...

– Boa tarde, Srta. Flinch. – Eu conhecia aquela voz, era firme e ameaçadora ao mesmo tempo. Não o respondi. – Eu realmente pensei que fosse esperta, mas não tanto. – Ele riu nervoso. Era o Presidente Snow, seu paletó branco contrastava com a cor da poltrona em que se sentou. – Se safar da morte sangrenta na arena foi... BRILHANTE! Ninguém nunca fez isso antes. Nós soubemos da tua mãe. Sinto muito. E sobre teu irmão também. – E foi quando caiu a minha ficha.

– Vocês estão com ele, não estão? – Perguntei, quase sem voz, mas ainda forte, não derramaria uma lágrima sequer naquele lugar imundo.

– Não sei do que está falando, Srta. Flinch. – Seu sorriso não mudou por um segundo. – É óbvio que os cidadãos de Panem não podem saber do seu plano quase-perfeito de sair dos Jogos viva, não é? Isso enfraqueceria nosso poder. Eu tenho certeza que cooperará conosco, Ella gostaria que fizesse isso...

– NÃO TOCA NO NOME DELA! – Gritei.

– Você terá seu estilista e equipe a todo momento, AH! E guardas também. Lembre-se disso. A história é a seguinte: Isso tudo era nosso plano. – Ele gargalhou. – Um plano perfeito dos Idealizadores, para mostrar que não somos tão ruins assim. Que os merecedores, os astutos foram salvos! Que afinal, eles não devem se rebelar.

– Por que você não me mata de uma vez?

– Várias pessoas a reconheceram hoje enquanto caminhava com sua amiguinha pela estação, nas ruas, é complicado, sabe... Em meia hora terá uma entrevista com Caesar Flickerman, até lá, será treinada e irão te preparar. – Ele terminou e me tiraram da sala. – AH! – Os guardas pararam de me levar. – Nenhuma gracinha! É mais uma ordem que eu sei que Ella e Will apoiariam. – Dessa vez ele esteve sério.

Os guardas me levaram pra outra sala, onde estava a minha equipe. Os abracei, eles se tornaram amigos enquanto eu treinava pros Jogos.

– Nós achamos que tinha morrido!

– Eu... – Lembrei das palavras de Snow. – Também, mas eles decidiram me salvar, acredita nisso? Como são bons! – Fingi tudo.

– Mas então, vamos te deixar per-fei-ta. – Nós rimos.

Fui depilada, massageada, feitas as unhas, cabelo, tudo. As imperfeições eram cobertas e ficavam imperceptíveis. Me vestiram milhares de roupas até acharem as combinações perfeitas.

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Eu realmente achei que estava linda com aquela roupa que escolheram, me senti enfim, poderosa. Amarraram um lenço azul escuro com bolinhas brancas em minha cintura, me fizeram uma trança solta, fiquei realmente perfeita. Caminhei pra sala da entrevista. Era gravada, afinal, nenhum erro seria permitido. Caesar se levantou, me cumprimentou e começou.

– Então, Flinch, quem diria, hãn? Você. – Ele disse pausadamente. – Aqui. – Novamente. – VIVA! – Nesse momento rimos juntos.

– Pois é, eu fiquei tão feliz. Quer dizer, eu ainda não sei muito bem como tudo aconteceu, mas é realmente muito bom estar aqui. Eles viram que eu tenho potencial, me deram outra chance! Foram muito bons comigo e agradeço de coração. – Sorri pra câmera.

– Soube que foi vista pegando um trem pro Distrito 5, foi ver sua família? Ficaram muito felizes, garanto. Como está tudo lá? – Foi pra esse tipo de pergunta que eu fui treinada durante a preparação.

– Fui sim. Minha família... – A palavra ecoou em minha mente. – Está muito feliz, radiante, na verdade. – Eu ri. – O distrito está em festa, a Capital até mandou como um “dia da Parcela” pra lá. – Fiz isso de propósito, eu precisava fazer algo pela minha casa. – Seremos eternamente gratos.

– Tenho certeza que sim! E como você acha que se sentiriam os outros tributos nesse momento? – Eu meio que paralisei aí.

– Eu realmente não sei, mas eu acho que qualquer um no meu lugar, nesse momento estaria tão feliz por essa nova oportunidade que nem acreditaria, como eu. – Eu ri.

– E essa foi a nossa entrevista com a sobrevivente do Distrito 5. A primeira de todos os Jogos, hein, Flinch! – Nós rimos e nos despedimos.

Dois guardas me guiaram até um enorme salão, onde havia uma também enorme mesa. Os dois se afastaram, e um avox me serviu um caldo esbranquiçado com pedaços de frango grelhado, suco de laranja fresco e algumas amoras numa tigela. Acredito que seja uma mensagem do Presidente Snow. Terminei de comer, passei o guardanapo pelos lábios, apesar de saber nitidamente que aquelas amoras eram normais, eu não as comi, empurrei a tigela pra longe e fui saindo da sala, os guardas novamente me levaram até o quarto pra eu descansar. As janelas estavam com barras de metal, a porta foi trancada pelo lado de fora, mas os guardas continuaram lá, o lugar era frio, as paredes eram feitas de pedras, a cama era pequena, alguém do tamanho de Cato ou Thresh certamente não conseguiria se deitar ali. Me deitei, mas não preguei os olhos a noite toda. Só consegui cochilar por volta das cinco da manhã, pelo o que percebi na minúscula janela. Ouvi barulhos de coisas pesadas sendo empurradas e acordei. O quarto estava completamente ao contrário, havia uma mala no canto, me levantei e a abri. Havia roupas e acessórios, eu não entendi muito bem, mas logo ao lado da mala havia uma pequena poça de sangue e mais um envelope. Coloquei tudo em minha mochila, que estava jogada por perto, vesti algumas roupas da mala rapidamente.

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“Eu não te mandei ir pro Distrito 12? Você e eu sabemos que é a sua única saída, Flinch.

– 8”