Dormi a viagem toda, quando cheguei ao destino, tudo estava diferente, parecia um cenário de guerra, os prédios estavam todos pichados, abandonados, as ruas vazias e o pouco comércio, fechado. Corri pra casa, alguns minutos depois, cheguei à minha antiga rua, poeira alta, algumas construções no chão e pessoas se escondendo em suas casas, apenas olhando pelas frestas nas janelas ou furos nas paredes. Lágrimas começaram a descer pela minha face quando cheguei ao barraco que um dia fora minha casa, bati na porta repetidamente, até que uma mulher com feições fortes a abriu.

- Olá, eu... – Comecei.

- Eu sei quem é você. – Ela falou seca.

- E quem é você?

- Eu estou cuidando da sua irmã, Ella.

- Onde estão minha mãe e meu irmão, Will? – Perguntei. E ela abriu mais a porta para que eu pudesse entrar.

- Eles estão desaparecidos, quer dizer, só seu irmão. Sua mãe...

- O QUE HOUVE COM ELA?

- Shiiiii. – Ela me olhou feio e mandou me calar. – Ella está dormindo. Sua mãe faleceu, aconteceram algumas brigas e rebeliões aqui e bom, num dos dias ela teve que ir buscar algo pros seus irmãos comerem. Depois de várias horas, vimos que ela não voltava e Will foi atrás. Se passaram dois dias e Pacificadores vieram avisar sobre a morte dela. E ele não foi mais achado.

As lágrimas agora eram mais frequentes agora, minha irmã, Ella, foi até a sala onde estávamos conversando, ela era linda, morena com os olhos azuis, tinha 11 anos e ainda não participava das colheitas, corri e a abracei forte. Will, meu irmão tem o cabelo castanho como o dela, e os olhos como os meus, é alto e forte, tem 24 anos e nunca foi pra arena. Meu pai morreu há sete anos, ele se parecia comigo, cabelo ruivo curto, bochechas rosadas, olhos negros e sempre mantinha esse sorriso de orelha a orelha. Sinto falta dele, era o que mantinha a família unida.

- A Turnê dos Vitoriosos já começou? – Me virei pra mulher novamente.

- Na verdade já terminou. Tanta coisa aconteceu, minha filha... Eles fizeram algumas mudanças graças a essas rebeliões que ocorreram em todos os distritos. Katniss e Peeta já estão em suas novas casas.

- Eu precisava visitá-los. – Olhei pros cantos da casa.

- Você está fugindo, não é? – Ela riu baixinho. Tentei disfarçar, mas ela persistiu. – Eu acho bom que vá, estão fazendo revistas nas casas por aqui, três vezes por semana. Pra você não é seguro ficar. Eu posso continuar cuidando de Ella.

- Não! – A pequena garota correu até mim e agarrou minha perna.

- Vem, vamos conversar, Ella. – A chamei pro seu quarto.

Sentamos em sua cama, e eu comecei a explicar tudo.

- Olha, querida, eu tenho que encontrá-los, é a nossa única chance. Só eles podem nos salvar e salvar Will também. Você já está grandinha e tem que entender que de vez em quando temos que sacrificar a nossa segurança pelo bem maior. – Falei.

- Eu quero ir com você, Flinch!

- Eu não posso te levar, Ella, é muito perigoso pra você! Eu... Eu estou fugindo, a Capital não me deixaria ficar viva nunca. O que você acha que fariam comigo?

- Eu não quero nem pensar nisso. – Ela abaixou a cabeça.

- Me diga, quem é aquela senhora lá na sala?

- Ela veio antes da mamãe partir. Parece que ela é irmã dela, foi o que mamãe me disse.

- Vamos, eu tenho que correr pra chegar logo no Distrito 12. Você vai ter que ficar com ela, sinto muito. Eu prometo que vou voltar pra te buscar. – A abracei de novo e voltamos pra sala e me virei pra mulher. – Olha, muito obrigada por cuidar dela. Logo eu volto, ok?

- Tudo bem. Eu espero que dê tudo certo.

Eu sorri, peguei algumas roupas e fui saindo de casa. Deixei algum dinheiro com elas e corri de volta pro centro da cidade, de cara vi alguns Pacificadores, apertei o passo e dei a volta, foi quando me pararam e tiraram minha mochila de minhas mãos.

- Revista diária. – Um deles falou, com um sorriso irônico.

- Perai... Flinch dos Jogos Vorazes? – Outro se intrometeu.

- Eu tenho que ir, com licença.

- Acho que a Capital ia adorar isso. – O primeiro riu novamente.

Me algemaram e me arrastaram até um carro-Pacificador, parecia uma van e balançava como uma carreta de caminhão. Me jogaram na parte de trás e correram com o automóvel.