Capítulo 10 – Eu sou tão estranha e complicada que me dá câncer .

Minha situação era estranha. Eu estava com uma blusa masculina toda manchada, ofegante pela corrida e descalça, enquanto o Potter me encarava furiosamente, mas não aquela fúria de “eu vou te bater por que eu sou o macho alfa (?)”. Mas uma fúria de quem aguentou tempo demais pra falar alguma coisa.

Eu me sentei ainda com nossos olhares conectados, eu estava tensa.

– Por que você saiu correndo? – perguntou depois de alguns minutos de silêncio.

Ele iria falar do beijo obviamente. Respirei fundo.

– Ainda não estava pronta para isso – respondi o mais sincera que pude. Ele se sentou no sofá a minha frente, um pouco inclinado pra mim.

– Não é a primeira vez que nos beijamos – concluiu o que eu já sabia. Encarei ele raivosa.

– Mas antes era diferente, em situações diferentes. – disse elevando um pouco a voz. – O caso é, o que as pessoas da escola vão pensar?

– Dane-se o que eles vão falar – disse com o maxilar trincado, se encostando no estofado – não to nem ligando para o que eles pensam. Eu quero saber de você, e por que saiu correndo. – abri a boca pra repetir o que havia dito e ele me cortou – e não adianta dizer a mesma coisa, eu sei que não foi por isso.

Eu respirei fundo, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

– Eu não sou obrigada a ficar com você! – disse o mais calmamente possível! Que se fosse por mim você estaria do outro lado do mundo! E que eu só estou com você por essa maldita aposta. Eu sai correndo por simplesmente não. querer. ficar. com. você. – sibilei a ultima parte.

Eu sabia que tudo o que eu tinha dito era mentira, mas meu ego e orgulho não em deixariam falar o contrário.

– Você não consegue esquecer o passado? – perguntou furiosamente passando a mão nos cabelos espetados.

– NÃO QUANDO VOCÊ FEZ A CAGADA! – berrei perdendo o controle. – NÃO EM VENHA FALAR SOBRE ESQUEÇER, VOCÊ NÃO SABE NEM METADE DO QUE EU PASSEI POR VOCÊ!

Ele me encarou bem nos olhos.

– EU JÁ TE PEDI UM MILHÃO DE DESCULPAS. – berrou também colocando as mãos pra cima – PORQUE NÃO ACEITA DE UMA VEZ?

Senti as lágrimas escaparem.

– Se fosse tão fácil, eu já teria feito. – e sai correndo porta a fora. Eu devia estar parecendo uma drogada ou bêbada, pois minha aparência, meus olhos vermelhos e as lágrimas pareciam uma placa de “olhe pra mim”.

Fui correndo (coisa que eu fiz muito hoje) e cheguei a casa do Remo. Sim, só dele. A família dele é rica e seus pais viajam muitos, então, a casa fica só pra ele o ano todo.

Toco a campainha a espera de alguém, o que eu vim fazer na porta de um homem enquanto estou chorando? Talvez eu acho Dorcas aqui. Quando abriram a porta, era Remo mesmo que de sorridente, passou para a expressão preocupada.

– O que foi Lily? – me deu passagem pra entrar.

– Dorcas tá ai? – disse numa voz embargada e meio histérica.

– Lá em cima – ele deve ter ficado assustado. Remo era assim, não tinha jeito com as mulheres.

Eu, antes de subir a escada, o olhei um pouco maliciosa.

– O que a Dorcas faz lá em cima? – ele corou, tipo, muito mesmo e eu soltei uma risadinha.

– Trabalho de escola – disse se virando, para esconder as bochechas.

Subi as escadas correndo e fiquei procurando o quarto de Remo em meio de tantas portas iguais. Quando finalmente achei, Dorcas estava passando as páginas de um livro qualquer entediada, ela me olhou sorrindo, talvez pensando que era Remo e logo ficou com o semblante preocupado.

Eu estou tão mal assim?

Eu me taquei nela e disse tudo o que havia acontecido, me embolando nas palavras e tive que repetir algumas falas. Ela raciocinou um pouco pra entender.

– Por que você não fala com Marlenne logo? – disse passando a mão em meus cabelos.

– Você acha que eu já não tentei? – disse um pouco indignada – ela não vai desistir nunca! Só se passou 3 dias desde a festa, e nesses 3 dias eu tentei convencer que isso é loucura mais ela não me escuta! – disse num tom estranho entre histeria, tristeza e raiva.

– Você sabe que Marlenne sabe ser bem insistente quando quer – suspirou – Quer chokito?

A encarei confusa e vi que ela me estendia.

Por isso eu amo a Dorcas. Quem mais me daria chocolate nessas horas?

Marlenne que não, dizendo que engorda.

Dei de ombros e peguei, abrindo a embalagem e dando uma mordida. Remo apareceu na porta, meio hesitante.

– Lílian, nós temos que estudar... – ele se enrolou um pouquinho. Sorri.

– Tudo bem, tchau. Depois eu falo com você, Dorcas – me despedi e desci as escadas, saindo da casa dos Lupin e andei por uns 25 minutos até chegar em minha casa. Acho que de tanto correr de uma casa pra outra, devo ter emagrecido pra caramba.

Isso significa, que eu vou poder me entupir de sorvete!

Abri a porta de casa o mais silenciosamente possível pra não encontrar minha mãe ou a Petúnia, queria comer sorvete antes de morrer. Morrer entupida de sorvete seria uma boa morte pra mim.

Credo, agora deu pra mim escolher a morte ideal?

Sentei na bancada da cozinha com o pote de sorvete de chocolate no colo e colher na boca, encostei na parede e comecei a comer sem nem sentir o gosto, perdida em pensamentos.

Será que o Potter vai desistir de mim?

Eu me sinto estranha, uma mescla de felicidade por ele estar desistindo e de tristeza pelo mesmo motivo.

Eu sou tão estranha e complicada que me dá câncer.

Petúnia chegou com minha mãe em seu enlaço, furiosa com a boca dormente. Eu sabia que se ela não estivesse anestesiada ela estaria me xingando a plenos pulmões aqui. Minha mãe, por incrível que pareça, não me xingou nem nada. Só me lançou um olhar de “mais tarde você vai ver” e levou Petúnia, com sua cara mais de monga ainda, pra cima.