O caminho foi tranqüilo, como esperado todos os zumbis haviam se aglomerado no hospital às suas costas. A recepção da delegacia estava escura, pois as luzes estavam apagadas, Tiago podia sentir algo ruim prestes a acontecer, algo que nenhum deles estivesse esperando, sinalizou com a mão para eles pararem e ficarem quietos, e um vulto passou rápido por trás deles, talvez pudesse ser um fruto da imaginação de Tiago por causa do medo, mas ele tinha certeza de quem não estavam sozinhos, o som produzido por seu fone ecoava de tão grande que era o silencio no local, era possível ouvir a musica claramente como se fosse uma caixa de som, o relógio na parede atrás do balcão completava a tensão com seu infinito e infernal TIC TAC, o vulto apareceu novamente – dessa vez não era a imaginação – e os pegou de surpresa, atacou Richard na tentativa de morde-lo, foi tudo muito rápido, o corpo de Tiago se moveu quase instintivamente e se atirou sobre o zumbi com farda, com o pulo Richard acabou caindo e torcendo o tornozelo – pelo menos não tinha sido mordido –, o zumbi caído no chão com Tiago mordeu-o no pescoço, felizmente sua blusa e o microfone do fone de ouvido impediram os dentes do zumbi de tocarem a pele e acabasse infectando-o, Tiago empurrou o zumbi para o lado, se levantou e pegou a espada de Richard com a mão direita após passar a sua espada de lamina negra para a mão esquerda, olhou brevemente para seu fone destruído, fechou os olhos e sorriu.

 – Você não deveria ter feito isso, ira pagar por essa atitude seu verme!

Inclinou seu corpo quase 90° sem mover seus pés, quando estava prestes a cair no chão abriu os olhos e deu inicio à uma corrida sanguinária, se mexendo como um monstro, cortou a cabeça do zumbi em X e atirou a espada negra com força na direção de Alice, que ficou assustada até que ouviu algo caindo atrás dela, olhou e viu um zumbi com a espada fincada no crânio, e como se isso não bastasse surgiu um outro zumbi atrás de Tiago, Yui tentou avisa-lo, mas antes que pudesse dizer algo o zumbi já estava esquartejado no chão e Tiago ao seu lado em pé com a katana ensangüentada, com o olhar distante, como se tudo aquilo tivesse sido feito inconscientemente. Virou-se para direção de Alice e começou a andar meio cambaleando e arrastando os pés, Alice ficou assustada com essa aproximação – afinal tinha o visto ser mordido e não sabia que a mordida não tinha atingido-o – quando Tiago passou ao seu lado pode ver que não tinha ocorrido nada com a mordida, e pensou em dizer algo, mas o silencio foi quebrado por outra coisa, foi quebrado pelo som da espada negra se quebrando atrás dela enquanto Tiago propositalmente a puxava para o lado ao invés de puxá-la para cima.

 – Isso é a punição para quem tenta tirar coisas preciosas de mim, talvez isso sirva de lição para que nunca mais tente atacar Alice.

Depois de dizer isso pisou no crânio do zumbi com força, de modo que os miolos dele se espalharam pelo chão.

 – Vocês estão bem?

 – Sim – disse Yui.

 – Tirando o tornozelo e o susto, até que eu estou bem – disse Richard

Alice ficou sem palavra, pois não sabia mais o que fazer, Tiago era uma boa pessoa, mas em meio a situações de risco ele se tornava um monstro ou algo parecido, e sempre demonstrava que talvez isso fosse o ideal para ele. Essa tormenta de pensamentos à atormentava, à assustava, era muita coisa para uma garota só, o risco de perder seus pais, se é que ainda estivessem vivos, os amigos da escola provavelmente mortos e o mundo acabado, caindo, se despedaçando. Algumas lagrimas começaram a rolar de seus olhos, os acontecimentos das ultimas horas transformaram a garota sorridente e alegre numa menina fragilizada e assustada. Enquanto as lagrimas corriam lentamente por seu rosto, Tiago enxugou algumas com sua mão.

 – Me desculpe ter quebrado a promessa de não me arriscar, mas eu também prometi te proteger à qualquer custo – deslizou um pouco a mão e puxou levemente o canto da boca de Alice, de modo que formasse um meio sorriso – você é muito mais bela enquanto sorri, então não chore mais, esta bem?

Alice balançou a cabeça dizendo que sim e enxugou as lagrimas do rosto.

 – Richard? – disse Tiago.

 – Fala.

 – Você sabe onde provavelmente estariam as armas?

 – Acho que ali, atrás daquela porta – apontou para uma porta com a placa escrita “quarto de evidencias” – se não estiver lá não sei onde podem estar.

 – Tudo bem, você que entende de armas, vem escolher seus brinquedos.

 – Ta, só me ajuda a levantar, UM CERTO ALGUÉM ME FEZ O FAVOR DE ME MACHUCAR.

 – HAHA, melhor um tornozelo machucado do que uma mordia não acha? HAHA

 – Engraçadinho, ajuda logo.

 – Ta – estendeu a mão e puxou Richard.

 – Consegue andar?

 – Acho que sim, isso até que é bem tranqüilo em vista dos problemas que tivemos nas férias do não passado HAHA.

 – Com certeza, isso ainda é bem mais fácil HAHAHA.

 – O que aconteceu com vocês ano passado? – perguntou Yui.

 – É uma longa e doida historia, mais tarde nos contamos, aliás, você conta Richard HAHA.

 – Pode deixar.

Aproximaram-se da porta e a abriram, era como o paraíso para qualquer fã de guerras ou colecionadores, tinha tanta coisa que os olhos de Richard brilhavam, mas algo no fundo da sala, em uma das prateleiras, Richard viu algo que fez seus olhos lacrimejarem de emoção, uma pistola Colt .45 modelo 1911, prata com marfim no cabo, pente alongado e mira laser. Era algo que ele não tinha visto nem em filmes ou jogos, em contrapartida, o que atraiu Tiago era algo maior, e bem comum de ser visto, uma M4 CARABINE, com uma ACOG de 2x, mira laser e lanterna, sem contar no carregador de 100 balas, não parecia grande coisa no ponto de vista das garotas, afinal armas eram apenas armas.

 – Vamos por tudo nessas bolsas – disse Tiago pegando umas bolsas na prateleira – peguem todas as armas e munições.

Até que não demoraram muito para fazer isso, em vinte minutos as bolsas já estavam cheias e nas costas de Richard e Tiago. Eram pesadas – afinal as armas eram em si pesadas –, mas a sensação de felicidade dos dois era tão grande que praticamente anulava o peso das bolsas.

 – Mal vejo a hora de comer algo, essa ação toda me deixou faminto – disse Tiago.

 – Se me lembro bem você não precisa de ação pra ter fome HAHA – disse Richard.

 – Tem razão HAHA.

E assim partiram novamente para o apartamento de Alice, conversando e brincando ao longo do caminho, de forma que a alegria, principalmente dos dois, era contagiante. Ao chegarem colocaram as bolsas no apartamento e começaram a montar as barricadas, montaram três ao todo, uma por andar, só para ter certeza de que pudessem dormir sossegados, mas como para Tiago ainda não era segurança o bastante, resolveu montar um alarme na primeira barricada, algo bem simples até, dois fios de energia presos em um pregador, de forma que com uma rolha segurada pelo pregador impedia os fios de se tocarem, mas se a rolha fosse retirada os fios se juntariam e acenderia uma lâmpada no apartamento deles, então prenderam o pregador na parede e colocaram uma linha presa na rolha e na barricada, de forma que ao desmontar ou derrubar a barricada a rolha sairia e acenderia a luz, deixando-os em alerta.

 – Prontinho, agora a gente pode relaxar – disse Tiago.

 – Onde você aprendeu isso – disse Alice.

 – Isso é parte da longa historia que eu disse antes.

 – HMM.

 – Mais tarde eu te conto, pode ser?

 – Ta bem.