No centro da sala estava uma barra de aço, uma katana de verdade, uma katana replica (Tensa Zangetsu), algumas facas, uns sacos de salgadinhos e bolacha, duas barras de chocolate e quatro refrigerantes. Não era exatamente o que Tiago tinha previsto que seriam os suprimentos, mas já dava para uns dois dias de busca, ou talvez menos.

 - Pronto, agora vamos por a comida em mochilas e vamos sair.

 - Já que você mencionou mochila, onde você pos a sua? – disse Richard curioso.

 - Eu joguei fora – sorriu Tiago – ela ia me atrasar por causa do peso.

 - Você é um inútil mesmo – olhou para as “armas” – quem vai ficar com o que aqui? Acho que elas não sabem usar armas – olhou para as duas brevemente – sabem?

 - Não, mas posso ajudar a carregar os suprimentos – disse Alice.

 - Também não sei, mas posso ajudar a Alice, caso você queira Richard – disse Yui meio rosada.

 - Eu ainda acho melhor nos mesmos carregarmos tudo, evita possíveis atrasos – Tiago refletiu por uns instantes – sem contar que é o mais educado a se fazer, você fica com essa espada que você já estava usando e pega mais umas facas ai, eu fico com essa replica sem corte, e elas ficam com a barra de aço e algum cabo de vassoura, pelo menos da pra empurrar eles um pouco.

 - Mas ela não tem corte você é louco? Ou quer morrer mesmo? – indagou Richard.

 - Não tem corte ainda – colocou a mão no bolso e tirou uma lima – peguei na caixa de ferramentas, em alguns minutos ela deve estar pronta.

 - Mas você vai tirar a tinta preta da lamina se fizer isso.

 - Você prefere a tinta ou a sobrevivência?

 - Ta bom, enquanto você afia isso eu e as garotas iremos colocar as coisas nas mochilas.

Cerca de uma hora depois já estavam todos saindo do apartamento com as mochilas nas costas e, as assim chamadas, armas em punho. Tudo corria bem, desceram as escadas silenciosamente e chegaram ao portão da frente – um imenso portão de ferro de 3 metros de altura, completamente enferrujado e que rangia tão alto quando era aberto que se podia ouvir a uma quadra de distancia – lembrando do barulho que ele fazia ficaram hesitantes, pois estavam cientes que o barulho atrairia muitos deles.

 - Não da pra sairmos daqui sem fazermos barulho, e se fizermos ira aglomerar um monte deles aqui – disse Tiago.

 - Por que não saímos por onde você entrou? – disse Richard.

 - Impossível, a menos que você consiga pular esse muro que tem uns 4 metros.

 - E como vocês dois passaram?

 - Tinha uma escada do outro lado, mas ela caiu quando Alice passou pra esse lado.

 - A gente pode dar impulso pra passar pro outro lado.

 - É muito alto, e mesmo que conseguíssemos teríamos de deixar um pra trás.

 - Então o que a gente faz senhor sabe tudo?

 - Só temos uma alternativa, perigosa porem útil.

 - E qual seria?

 - Abrimos o portão e matamos todos eles enquanto as duas se escondem aqui dentro, simples não?

 - O seu retardado?! Deve ter pelo menos uns 30 ai fora.

 - Então você ta com medinho? Seu gamer de merda HAHAHA

Diante da situação Richard ficou extremamente nervoso, com sua ira a flor da pele abriu o portão de forma bruta e saiu correndo decepando a cabeça dos zumbis a sua frente.

 - Esse sim é o Richard que eu conheço, mas deixa um pouco da diversão pra mim, não consigo deixar você brincando sozinho HAHAHA – gritou Tiago correndo também e se juntando à carnificina.

Um zumbi se aproximou por trás de Richard enquanto ele matava uns outros, quando percebeu já era tarde demais para conseguir se defender, a boca arreganhada do zumbi escorrendo um misto de sangue e saliva estava uns 30 centímetros do ombro de Richard, quando a mordida parecia certa Tiago apareceu e chutou o zumbi para o lado, ganhando tempo para levantar Richard (meio perdido devido ao susto), e logo em seguida girou sua espada pondo a lamina para trás, de forma que ficasse rente ao braço e correu em direção ao zumbi como um gato devido a sua velocidade, Richard, Yui e principalmente Alice ficaram boquiabertos com tamanha mobilidade e velocidade, graças ao fato de ter afiado a lamina por quase uma hora pode facilmente decepar um dos braços do zumbi, e após ter passado por ele girou o corpo rapidamente e agachou levemente, o bastante para seu braço ficar na altura da cabeça do zumbi que estava caindo para trás com o impacto do golpe anterior, a lamina zunia no ar quase flutuando, a corrente presa ao cabo esvoaçava, a cabeça já não estava mais presa ao corpo e girava pelos ares, o sorriso sangüilouquente se complementava com umas gotas de sangue que saiam da lamina, e o olhar frio e assustador ficou brevemente marcado na mente de Alice, que não negou a expressão de medo, que logo foi substituída por um alivio por eles (principalmente Tiago) estarem vivos, e por estarem lá para proteger-la desse caos gerado pelo que poderia ser considerado o fim do mundo.

Pouco tempo depois dessa breve e sanguinária luta pela sobrevivência o cenário estava completamente mudado, corpos dilacerados, sangue em toda a parte, e os dois parados um de costas para o outro, sujos com um pouco de sangue no meio do caos, a cena ficou eternizada nos corações e mentes de Yui e Alice, que estavam escondidas, mas num lugar onde fosse possível vê-los, quando o perigo já havia passado as duas correram em direção a eles, Yui estava com os olhos cheios de lágrimas, que escorriam pelo seu belo rosto,  devido à preocupação, e prontamente se atirou nos braços de Richard, soluçando e chorando.

 - Nunca mais se arrisque assim – disse Yui com um tom bem baixo de voz.

 - Tudo bem, não estamos mais em perigo – falou Richard abraçando-a lentamente.

 - Me prometa que nunca mais fará isso – disse levantando a cabeça e olhando nos olhos de Richard.

 - Eu prome... – Richard foi interrompido por um empurrão que acabou fazendo com que ele e Yui se beijassem.

 Yui envergonhada se afastou um pouco – muito rosada e olhando para o chão – e Richard se virou para “brigar”com o responsável, mas se surpreendeu com o que viu, Tiago estava no chão com a mão no rosto e Alice estava com a mão direita fechada e chorando, aparentemente nervosa.

 - O que aconteceu?

 - Nada, só levei um soco de “obrigado por sobreviver” – disse Tiago sarcástico.

 - seu idiota, não tente bancar o herói de novo – disse Alice se interrompendo por um estante por causa do choro – se você morre o que será de mim? – e continuou a chorar.

Tiago se levantou e foi até ela, estendeu o braço esquerdo e colocou suavemente a mão sobre a cabeça dela.

 - Prometo te proteger, custe o que custar – passou gentilmente o polegar abaixo do olho direito enxugando as lagrimas e escorregou a mão até a nuca dela bem devagar – e se caso eu morrer, Richard te protegera, mas por enquanto eu estou aqui pra isso, então pare de chorar – falou calmamente pra Alice.

 - Ta bom, mas...

 - Agora vamos para sua casa – olhou em volta – antes que cheguem mais deles.

 - Comecei a gostar de você – balbuciou Alice quase sem som.

 - Não ouvi, repete, por favor – disse Tiago chegando mais perto.

 - Nada não – sorriu Alice abraçando Tiago.

E nesse momento foi possível observar que mesmo em meio ao caos e a destruição ainda era possível sentir e demonstrar sentimentos tão humanos, contrastando com os mortos vivos sanguinários, assassinos e sem sentimento ou sequer algo que poderíamos chamar de alma.