Quando acordei, senti que tinha alguém a meu lado. Virei-me um pouco e reparei que era Cloe.

- Bom dia...- disse-me com uma voz doce

- Bom dia Cloe. Que fazes aqui?- perguntei ensonada

- O teu pai saiu, pediu que eu viesse cá dar-te uma olhadela de vez em quando...- respondeu ela triste.

- Que se passa?- perguntei levantando-me e indo em direcção á janela para abrir as cortinas.

- Nada...

- Esse nada soa-me a tudo...- respondi docemente sentando-me na cama novamente.

- É que...pronto eu vou falar, se não rebento! Os meus pais vão adoptar um moço da mesma idade do que eu!- respondeu-me com as lágrimas nos olhos.

- E isso é assim tão mau?- perguntei confusa

- Sim...não te sei explicar, é como se sentisse que agora terei de dividir os meus pais com alguém, eu sempre fui filha única...não me vou habituar...

- Tem calma, Cloe. Tudo vai ficar bem...olha e se fossemos sair? Ambas matávamos tempo, esqueciamos os problemas durante umas horas....

- Não me apetece...- respondeu secando as lágrimas

- Anda lá!  Não vamos ter muitos mais dias juntas....

- Isso quer dizer que te decidiste?- perguntou ela de olhos muito abertos.

- Em relação ao quê?- perguntei

- Escola Naval...sempre vais?

- Ainda não sei, mas não tirei a hipotese de ir do jogo...

- Ok, sendo assim eu vou! Mas só por ti mesmo....

Ficamos mais algum tempo a falar, e acho que consegui perceber o porquê de ela se sentir triste em relação a ter um "irmão" da idade dela e do sexo oposto. Ela estava com medo de se apaixonar por ele...e o pior é que já estava apanhadinha por ele e só o conhecia á uma semana. Eu percebia o lado dela, mas não podia fazer nada para a ajudar, não neste caso.

Por fim, levantei-me da cama e fui em direcção ao armário, peguei na minha roupa (http://www.polyvore.com/sem_t%C3%ADtulo_21/set?id=57916092#stream_box) e dirigi-me á casa de banho para fazer a higiene.

Quando acabei desci para a sala, o meu pai estava a chegar exactamente naquele momento.

- Bom dia Kath. Já acordada filha?

- Bom dia, sim...olha pai, mais tarde eu e a Cloe vamos sair pode ser?- perguntei ajudando-o com os sacos

- Claro que pode.- respondeu com um grande sorriso.

- Porquê isso?- apontei para a cara dele

- O quê? O sorriso? As compras? E toda a minha alegria?- perguntou ele animadi

- Isso tudo junto, sim.

- Tenho uma optima noticia para te contar. Mas anda ajudar-me a cozinhar, eu conto-te tudo no almoço.

Fui com ele até á cozinha e observei-o a tirar panelas, tachos, travessas e tudo o que se pode imaginar para cima do balcão.

- Isto tudo para quê?- perguntei olhando para a confusão que ele estava a fazer

- Vamos ter visitas. Vais gostar! Agora não faças tantas perguntas e ajuda-me...

Fui para junto dele e depois foi a hora de começar a cortar e a triturar legumes.

- Sabes? Sempre sonhei fazermos isto juntos um dia...- falou o meu pai.

- Cozinhar?

- Sim, cozinhar....mas em especial esta receita.

- O que tem de tão especial?

- Tu vais ver...

XX

Estava sentada a ver TV quando a campainha tocou.

- Filha, podes ir abrir?- gritou o meu pai da cozinha

Corri a abrir a porta.

- Thomas?- perguntei surpresa.

-Olá, eu mesmo...eu e o meu pai vimos cá almoçar.

- Tanto suspanse para vocês? ahaha o meu pai é mesmo demais!- ri animada.

Poucos minutos depois apareceu o meu pai.

- Olá, boa tarde - falou animado

- Então que nos vais contar?- falou o pai de Thomas.

- Isso só mesmo lá na mesa...- apontou para a mesa já posta, em tons de vermelho e branco (http://imgms.casa.abril.com.br/1/decoracao-natal-fotos-blogueiras-mesa-natal-01.jpg).

Fomos então para a mesa e o meu pai serviu o almoço. Reparei que a receita tão adorada dele era a sua preferida, aquela que eu nem sabia o nome mas também adorava.

- Gostas?- perguntou-me.

- Está tudo lindo...mas...o que é de...

- Já vais saberr...- interrompeu o meu pai

O almoço correu com normalidade e quando o meu pai disse que faltava a sobremesa, algo me dizia que era a hora...ele ía dizer o que tanto queria dizer.

- Bem, Kath, tenho duas coisas para te dizer. A primeira é que podes ir para a escola Naval, sem te preocupares muito com as coisas por cá.

- Como assim?- interrompi confusa

- Essa é a segunda coisa. Para menos preocupações, a tua mãe não é a principal suspeita...existe outro suspeito que acaba por ser ainda mais importante. - fiquei sem reacção, meramente olhei para ele..- Então? Não dizes nada?

- Eu...eu...não sei...

- Kath? Sentes-te bem?- perguntou Thomas com tom preocupado

- Sim, está tudo bem...- respondi mais calma.- Posso só pensar em alguma coisa, no meu quarto?- perguntei como forma de permissão para me levantar.

Não podia acreditar...isso quer dizer que havia sérios motivos para eu seguir com o meu futuro.

No entanto, não tive muito tempo para pensar pois Cloe chegou.

- Pronta?- perguntou ela quando desci

- Pronta.- respondi com um sorriso.

Despedi-me do meu pai e dos restantes e saí.

- Estás estranha...- comentou

- É...

- Que se passa? - perguntou séria.

Contei-lhe então tudo o que se passara naquela manhã depois da saída dela. Fiquei pensativa e á espera que ela me dissesse alguma coisa. Mas ela nem falou. Acho que entrou em choque, afinal de contas ela  e eu teríamos que nos despedir. E isso é sempre dificil.

Depois de alguns minutos em silêncio, ela falou.

- Acho que devias ir...

- Achas mesmo?

- Sim...

- Eu também queria ir. Mas e tu? e a minha mãe e a minha familia restante?

- Olha bem para mim!- falou séria e levantando-me o rosto- quero que fixes bem isto: num futuro próximo cada uma de nós vai para o seu lado, não por nós querermos mas sim porque é assim a vida. Quanto á tua familia eles vão te adorar independentemente das tuas decisões, por isso não estragues o teu futuro por nossa causa! Esforçaste-te tanto para entrar naquela escola naval, não vais desistir agora! Porque tu não és uma desistente! Ouviste?

Falou aquilo de uma maneira tão séria que me fez pensar que quem deveria ir era ela e não eu. Pareceu bastante determinada.

- Ouvi...e está decidido! Já pensei muito sobre isto. Eu vou e pronto.

Mal acabei de falar Cloe abraçou-me. Esse gesto tocou o meu coração profundamente. Tinha apenas uma semana e alguns dias para estar com ela e com a minha familia. Estava a precisar de ir ver a minha mãe, á alguns dias que ela não me via.

Ficamos mais uns tempos a conversar e depois voltamos para casa.

- Vens jantar?- perguntou o meu pai da cozinhar quando eu entrei.

- Sim...mesmo na hora não?

-Tu és muito boa a defenir horários...

- Pai? Eu acho que vou..- falei sentando-me.

- Vais a onde?

- Para a escola Naval. È o meu sonho, eu não o posso desperdiçar, não agora depois deste esforço todo!

- Acho que fazes muito bem... E então, já sabes como ficas em relação a morada?

- Eu gostava de ir morar com Thomas, ele já provou que me respeita e tem sido um grande amigo. Mas tudo depende de Anne.- falei entre garfadas.

- Eu acho que ela não vai ser um problema.

- Como assim?

- Ela está a pensar deixar a partida dela para o ano que vem..

- Porquê?- perguntei confusa

-Não se sente preparada para começar uma vida fora deste país..

- Anne sempre foi assim...- comentei com um sorriso

- Sim...

Depois do jantar pedi a meu pai que fosse descansar, notava-se bem que ele andava a trabalhar muito para reconciliar as visistas á prisão com o ordenado. Tinha de ir trabalhar mais cedo, para não ganhar menos. 

Depois de ele sair eu arrumei a cozinha. E depois de tudo estar mais ou menos perfeito subi para o meu quarto. E como estava cansada não demorei a adormecer..