POV  Pietro

Bom, lá vamos nós mais uma vez cavar a essa história a fundo, mas seria por uma boa causa.

Carrie Anne? Era a minha ex. - Sua cara continuava sem expressão, então continuei a falar. - Eu sei que viu a foto na gaveta de cuecas, não estava guardando como lembrança, eu simplesmente esqueci daquela foto, caso tivesse lembrado, ela hoje seria pó.

Pó? - Ela pergunta, e sua expressão continua a mesma.

Sim, pó. Eu teria queimado junto com todas as outras, só que essa ficou pra me fazer relembrar desse passado desastroso com mais uma mensagem e ligação dela, hoje pela manhã. - Falei esperando algum tipo de surto dela, mas ela só esperava que eu falasse, seu rosto me pedia continuidade e foi o que fiz. - Vou te contar desde o começo.

Quando cheguei aqui na Inglaterra, ela me viu chegando, nunca me mudei desse lugar, e por incrível que pareça ela também não. Ela morava na casa da frente, que hoje é dos Dodgers. Eu passava observando as casas e avistei, sentada na varanda, olhando, com muito mistério, desde aí. Com o passar do tempo fomos nos conhecendo, e estudamos no mesmo colégio, passávamos muito tempo junto, criamos as nossas amizades, que as minhas hoje em dia continuam as mesmas. - Dei uma pausa para respirar, essa história me incomodava, por tanto sofrimento que passei. Observei a Nanda, e ela não tirava os olhos, me parecia curiosa. - Quando chegamos a uma certa idade, percebi que eu era apaixonado por ela, eu fazia maluquices com ela, mas por ela, porque se fosse por mim eu nunca faria. Ela era fanática por mistérios, saímos de madrugada pra investigar locais abandonados... Era sinistro, mas ela gostava então me fazia gostar. Passou mais um tempo e aquele amor me consumia, então a pedi em namoro, ela aceitou. Tava tudo indo bem, quando começou a umas coisas estranhas a acontecerem, mas eu gostava tanto que nem ligava... - Nanda interrompe.

Coisas estranhas? Que tipo de coisas estranhas? - Ela pergunta.

Eu nunca soube o que acontecia, eu via as pessoas falarem dela quando andávamos juntos, algumas meninas corriam, era estranho. Uma vez eu a vi chegando em casa, suada, com terra nas mãos e uma mochila preta nas costas, eu fui tentar falar, mas ela fugiu. Ela gostava tanto de mistérios que se tornou um, foi aí que comecei a me desesperar, porque eu já não a via constantemente como antes, eu via ela passar, e sempre com um casaco de capuz, eu gritava, ela olhava, só dava meio sorriso e mais uma vez desaparecia. A última vez que eu a vi, foi pelas nossas janelas, ela passava de um lado para o outro, até que apagou a luz. No outro dia eu a esperei e nada, no outro dia, nada, e no outro, no outro... Até hoje. Eu sofri muito, porque eu a amava demais pra dar conta, chorei por noites, entrei numa depressão, só vivia no quarto, me afastei dos meus amigos, fui encontrado desmaiado no quarto, me internaram, foi horrível.

E ontem depois que você desligou ela mandou uma mensagem, pedindo pra que eu ligasse.

E você ligou? - Ela pergunta.

Não, eu odeio ela, foi a única coisa que me restou dela, só ódio. - Terminei.

Ela disse alguma coisa a mais? - Ela pergunta, com um ar de mistério o que me incomoda.

Ela me ligou hoje, e eu falei tudo o que tava engasgado sobre o que aconteceu, e ela apenas disse que não podia dizer porque fugiu, simplesmente. - Nanda respira fundo, e me olha nos olhos.

Vamos descer, o pessoal pode pensar bobagem.— Ela riu de lado. Estranhei sua atitude, sem nenhuma reação com tudo isso. O que será que ela tá pensando? é o que eu realmente queria saber...