Tonight, We Are Young. escrita por Giovanna


Capítulo 3
III


Notas iniciais do capítulo

Não digo nada sobre o que fizeram no capítulo passado. Só que eu não estava com vontade de postar esse.



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Katie olhou-se no espelho. Não estava se sentindo bem. A vontade de vomitar e de desmaiar tomava conta do seu corpo naquele momento. Mas sabia que não podia. Tinha a obrigação de sair com a mãe para mais um “encontro entre amigas”, como a mãe dizia. Se não saísse com a mãe, seria pior. Respirou fundo, pegou o celular que estava jogado na cama, o fone de ouvido para alguma necessidade e desceu.

A mãe a encarava com uma expressão irritada. No mínimo, Katie havia passado dez segundos do horário que a mãe havia determinado e esta já havia se estressado. Não disse nada e nem olhou para a mãe. Só abriu a porta de casa e foi até o carro.

– Você está atrasada, Katie Gardner. – Katie não respondeu para não falar o que estava em seu pensamento e desencadear uma briga pior do que a que viria a seguir. – Estou falando com você.

– Eu ouvi. Não sou surda. – Katie retrucou. Olhou pela janela enquanto a mãe bufava e dava partida no carro.

O caminho até algum lugar (que, quando estavam chegando, Katie notou que era o shopping) foi rápido e silencioso. Katie observava tudo. Era incrível como tudo aquilo acompanhara sua mudança. Tudo aquilo, até as pessoas, os lugares, as decorações. Até chegava a pensar que o mundo estava mudando para entrar em sintonia com si mesma.

Desceram do carro e foram para a praça de alimentação. Os olhos de Katie recaíram em uma mulher e uma menininha, as quais estavam sentadas em uma mesa com vários lugares e acenava para as duas. Era a tia. A tia de criação, mas continuava a ser sua tia.

Katie acelerou os passos e deixou a mãe um pouco para trás. Viu a tia se levantar e abrir os braços ternamente. A garota foi amassada pela mulher, mas sorriu. Adorava estar com aquela mulher, de fato. Se sentia bem maravilhosamente bem ao estar ali. Conseguia sentir que tinha um pouco da vida que levava antes.

A menina olhou para baixo e viu uma pequena menininha ruiva de quatro anos com os braços estendidos para ela. Katie segurou a menininha no colo. De fato, adorava crianças. Adorava a energia positiva, o puro amor, a sinceridade e a inocência que as pequeninas emanavam.

– Hey Julia. Vamos no parquinho? – Katie perguntou, olhando sugestivamente para a mãe da menina, que assentiu. Ela pegou na mão da menininha e elas caminharam rindo, até que Julia se soltou da mão de Katie e saiu correndo. Katie tentou acompanha-la, mas a menina corria demais. Gritava pelo shopping, chamando a atenção de todo mundo. Katie viu a menina parando e abraçando uma mulher que estava acompanhada por um menino. Prendeu a respiração. Não podia ser verdade.

– Você poderia me avisar que estava correndo por causa disso, Julia. Eu não correria que nem uma louca atrás de você. – Katie disse, olhando irritada para a menina, que sorriu culpada e Katie desarmou.

– “Diculpa”.

– Tudo bem. – Katie olhou para a mulher, que sorria para as duas, e esboçou um sorriso doce e confuso para ela. – Tia Elly.

– Kay! Quanto tempo, querida. – A mulher a abraçou, o que fez Katie despertar.

– É sim. Bem, estamos indo para o parquinho. Mamãe e tia Héstia estão sentadas por ali. Logo voltaremos! – Katie disse, pegando Julia pela a mão e saindo correndo, sem nem esperar a resposta.

A verdade era que não queria encarar a mulher mais uma vez e nem olhar o elemento que estava ao seu lado. Era o filho dela, isso era óbvio, mas, mesmo assim, não queria encará-lo. Ele lhe trazia más recordações. Ele fazia parte de um passado que Katie não gostava de encarar, porque lhe fazia mal.

– Kay? Chegamos! – Julia chamou a atenção da garota que estava perdida em pensamentos, fazendo-a despertar.

– Oi? Ah sim. Estarei aqui, Ju! Volte logo.

A garotinha assentiu e saiu correndo para a fila de um dos brinquedos que estavam ali. Katie sentou-se, com as mãos no rosto, pensativa. Sentiu que estava sendo observada, mas tentou dar de ombros. Havia muitas pessoas naquele lugar, certo? Talvez, não estavam olhando para ela, mas sim para algo ou alguém em sua frente.

Aquela mesma sensação persistiu com ela. Levantou o olhar e virou para trás e olhou. O filho de tia Elly estava sentado ali e acabara de desviar o olhar. Katie sacodiu a cabeça e voltou para frente. Pegou o celular e começou a mexer, enquanto Julia corria em sua direção. A menina parou em frente à Katie e segurou sua mão, como se quisesse voltar para onde estava sua mãe. Katie apenas assentiu, levantou-se e conduziu a menininha até a mãe, que sentiu-se e apontou para Katie sentar-se ao lado dela, o que fez as três mulheres rirem. O menino se juntou a elas, fazendo Katie não levantar o olhar, mas sentir olhares em cima de si.

Não entendia porque ninguém havia feito nenhum comentário. Será que ninguém percebera o clima estranho ou as tentativas de fuga de Katie? Ou não queriam perceber. Katie só continuou brincando com Julia. Não. Não mesmo. Não iria levantar o olhar.

Sentiu o celular vibrar no bolso e o tirou de lá. Era uma nova mensagem de Annabeth. Típico. Annabeth sempre a salvava.

“Kay! Você tá viva? O que aconteceu?”

“Ah, Annabeth. Eu não deveria ter levantado da cama hoje. O dia tá um cocô.”

“O que aconteceu, Katie?”

“Você não acredita. Minha mãe me arrastou para o encontro com as amigas dela, estou tendo que cuidar da Julia, minha mãe está expondo toda a minha vida para as amigas dela. E isso está me deixando irritada.”

“Amigas? Você disse ‘para as amigas dela’? Não era só a tia Héstia que ia, Kay?”

“Eu também achava isso. Até que fui levar a Julia para o parquinho e sabe quem apareceu? Tia Elly.”

“Então você quer dizer que...”.

“Sim, Annabeth. Travis está sentado na minha frente e não para de me olhar.”

.

Travis bagunçou o cabelo e sorriu. Estava sentindo toda a sua liberdade ao virar aquela garrafa. Estava sentado ao lado de Percy, que sorria ao ver o amigo fazendo. Aquela era a segunda vez que Travis estava provando álcool e se sentia livre, tal como da primeira vez.

– Estava na hora de você deixar de ser um otário, Travis Stoll. – Disse para si mesmo, enquanto virava mais uma vez o conteúdo da garrafa para o seu corpo, causando-lhe arrepios.

– Vai com calma, Travis. – Percy disse, tomando a garrafa da mão do garoto, que puxou novamente.

– Qual é, Percy! Isso aqui é bom demais.

– Moleque, você vai ter uma overdose, se continuar desse jeito. Para com isso. Me devolve essa garrafa e se endireita. – Percy tomou a garrafa e a quebrou, fazendo todo o líquido que tinha ali dentro se espalhar.

– Você acha que é responsável, Jackson? Você quase engravidou a garota da semana passada. Vai seguir o seu caminho.

– Cala a boca, Stoll. – Percy deu um soco na barriga do amigo e se levantou, deixando-o bêbado e atirado ali no chão.

Travis sacodiu a cabeça e respirou fundo. Não precisaria caminhar muito para chegar em sua casa. Em alguns minutos, esperava, estaria lá. Levantou-se rindo do estado em que se encontrava e olhou para os dois lados da rua. Tinha uma ideia.

Andou cambaleante até a praia, tirou a camisa e caminhou em passos grandes até o mar. Aquilo era a amostra de sua liberdade. Aquilo sim era. Caminhava em direção ao fundo, e sentia-se cada vez mais coberto pela água. Não imaginava que a sensação de tudo aquilo era tão boa. Sentia a água quase chegando em sua barriga. Olhou para trás. A areia já estava longe. Sorriu.

Foi despertado por um grito feminino. Voltou-se completamente para trás e viu a silhueta de uma menina branca, com o cabelo negro acenando para ele. Ele respirou fundo. Conhecia aquela menina.

– TRAVIS! O QUE ESTÁ FAZENDO? ESTÁ LOUCO?

Continuou a andar, mas, agora, em direção à areia. Ao se aproximar da menina, viu seus olhos azuis elétricos mais elétricos que o possível, o encarando, nervosos. Ela batia o pé no chão, em sinal de que estava sem controle. Saiu correndo na direção dele, e ele abriu os braços, esperando um abraço dela, mas, totalmente contrário às suas expectativas, ganhou vários tapas.

– O que aconteceu? Por que foi tentar isso, Stoll?

– Por que veio me procurar, Thalia? Eu estava encontrando a liberdade.

– VOCÊ TAVA SE SUICIDANDO, SEU DOENTE! Você não percebe que aquilo ali é fundo?

– Mas não tem fim!

– PRA VOCÊ TEM.

– Tá, Thalia. Tchau. – Travis disse e deu as costas para a menina, andando cambaleante.

Caminhava pela calçada coçando a cabeça. Ele não aguentava mais ficar preso a alguém. Precisava encontrar a sua liberdade e, pelo que parecia, ninguém aceitava a sua liberdade. Ninguém aceitava sua vontade. Ninguém o ajudava a conquistar sua liberdade. Parecia até que estava tentando dominar o mundo! Mas não. Só estava querendo encontrar a sua paz. Ah sim. Porque encontrar a liberdade, para ele, era encontrar a paz.



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