Drogo Stark

No topo do mastro um dos homens de ferro gritou

- NAVIO À VISTA.

Drogo se retesou. Isso não significava nada, porém tinha um pressentimento que problemas estavam a caminho. E Shadow parecia pressentir o mesmo, pois desde o começo da viagem estava agitado, no início Drogo atribuiu isso ao desconforto do navio, porém agora não tinha certeza.

- Cores? – ressoou a voz da Capitã.

- Não ostenta nenhuma, Capitã. Mas me parece o Snake Navy.

- Maldição! – praguejou ela e, para a surpresa de Drogo, a Greyjoy começou a escalar os cordames com incrível habilidade.

Em seu ombro havia o inseto nojento que sempre a acompanhava. Reprimiu a repulsa. A Mulher de Ferro era belíssima, mas qualquer atração que pudesse sentir por ela fora anulado com a visão daquele pequeno animal. Seu primeiro instinto quando o vira fora matá-lo. Era isso que se esperaria de qualquer pessoa e uma lady normal ficaria eternamente grata. Porém notou que ela acariciava o inseto como se gostasse de sua companhia. Ele simplesmente não entendia.

Quando chegou ao topo do mastro ela tirou do casaco uma luneta. Praguejou novamente e desceu segurando-se na corda e apoiando os pés no mastro. Quando chegou ao convés passou a distribuir ordens à tripulação. Seu olhar verde voltou-se então para ele e os demais passageiros.

- O que as ladys ainda fazem aí paradas? Vão para dentro das cabines onde é seguro. Batalhas marinhas não são lugar para senhoras da terra.

Algumas das mulheres obedeceram. Porém a mercenária não se moveu, tampouco nenhum dos homens. A Greyjoy estava furiosa, parecia prestes a berrar ordens, quando o marinheiro que antes estava no posto do mastro pulou de lá, porém como estava envolto de cordas não atingiu o convés, apenas ficou pendurado à quase um metro e meio do chão.

- Capitã, é ele. Está vindo rápido, não temos como ficar fora de alcance. Devo dizer ao mestre de armas que prepare-se para batalha?

- Maldito seja! Sim, Rato, faça isso. – seu olhar se dirigiu aos passageiros – Façam como quiserem, mas não atrapalhem. Mas aviso que lutar no balanceio do mar é diferente de lutar em terra firme, melhor seria se ficassem dentro das cabines.

Ela se afastou rapidamente. Drogo repousou a mão em sua espada aguardando tenso, os demais pareciam estar tão ansiosos quanto ele.

Engoliu em seco. Não podia fracassar em seu primeiro teste. Sabia o quê essa viagem significava, provar a sua mãe que podia salvar Westeros seria provar sua capacidade de liderança e assim ser finalmente reconhecido. Porém nem Bran, nem Daenerys, nem Jon ficaram satisfeitos com tantos com o seu sangue partindo em uma missão que parecia ser suicida. Ele se lembrou do monstro que enfrentara durante a Final da Justa, havia sido um enorme desafio, mas nada comparado a o quê viria a seguir.

Duas das mulheres saíram da cabine, uma era Lady Baratheon, porém agora usava calças masculinas e um gibão com o emblema de sua casa, trazia em suas mãos um poderoso martelo de guerra. A segunda era Lady Lannister, esta usava um vestido digno de uma senhora de Casterly Rock porém trazia uma ornamentada espada na cintura, Drogo reconheceu-a instantaneamente, Oathkeeper, a espada forjada do aço de Ice, que pertencera à Eddard Stark. Drogo sabia que Brienne d’Tarth havia ficado com a arma, mas não sabia que a 'mulher cavaleiro' havia repassado para sua filha. Mas de qualquer maneira duvidava que a garota soubesse usar tal arma, ela teria melhor uso nas mãos de seu irmão.

- O que está acontecendo? – perguntou a Lannister para ninguém especificamente, porém seu tom era de uma rainha falando com seus subordinados, aquilo não agradou a Drogo, quem esse projeto de leoa pensava que era?

- Piratas, ao que parece. – respondeu educadamente Gyles Tyrell – Talvez seja melhor voltar à cabine onde é seguro, milady.

- Sim farei isso. – disse ela observando enojada os homens de ferro e rapidamente se afastando.

Assim que ela sumiu de vista, Drogo viu o navio inimigo, era tão grande quanto Black Kraken, porém ao contrário das velas das cores Greyjoy tinha velas negras. Havia vários piratas se movimentando rapidamente. Um se destacava dos demais, não apenas por suas roupas ricas, como por sua postura que exalava liderança, além de sua inegável semelhança com a Capitã.

- Prima querida. – disse ele sorrindo provocantemente, Drogo notou que possuía uma espada na mão – Senti sua falta.

- Não posso dizer o mesmo, primo. Não tenho tempo para você agora, siga seu caminho e poupo você e sua tripulação de uma morte lenta e dolorosa.

Ele gargalhou debochadamente e se aproximou da bancada de seu navio, com um sorriso irônico estampado no rosto, usava uma joia na orelha tal qual uma mulher, tinha uma barba curta e os olhos pintados como era de costume dos nascidos nas Summer Islands. Porém ainda assim não parecia um afeminado. Observando-o Drogo concluiu que as mulheres certamente o achariam bonito.

- Sempre tão divertida, Mary. – disse ele sorrindo enquanto os piratas desembainhavam suas espadas.

Drogo também sacou a sua e sentiu que seus companheiros também o faziam. O uivo de Shadow ressoou, ele também queria participar da ação, isso quase fez Drogo sorrir. Mas só libertaria o lobo em último caso, Shadow não distinguiria Homens de Ferro de Piratas, avançaria na jugular de todos.

- Senhores – disse o Capitão Pirata – Ao saque!

Raven Arryn

É claro que Raven já tinha ouvido falar de Baelon Greyjoy, o Tentáculo dos Mares, o infame pirata filho de Euron Greyjoy. Ele era belo, com cabelos negros e olhos verdes. Porém tinha um sorriso zombeteiro irritante que parecia gravado em seu rosto.

Desejou que Nikky estivesse ali, a amiga era a especialista em Piratas. Lembranças de sua curta temporada em um navio pirata lhe veio à mente, uma das maiores aventuras que compartilhara com sua amiga. Sky se aproximou e pousou em seu ombro, a ave parecia relaxada, mas assim como Raven ela se preparava para a batalha, iria furar os olhos de alguns piratas.

As trigêmeas dothrakis estavam com armas em punho, entretanto não se moviam, apenas esperavam. As três tinham uma postura defensiva, como se estivessem prestes a rasgar a garganta de quem quer que se aproximasse de seu líder, Raven tinha que admitir que elas lhe intimidavam um pouco. Se perguntou onde estava o dragão de Rhaego, um enorme lagarto cuspidor de fogo seria útil agora.

Como se tivesse escutado sua pergunta muda, ele voltou seus olhos violetas para ela e disse com um forte sotaque

- Valyria está caçando ao norte. Já a chamei, mas ela demorará um pouco.

Assentiu observando enquanto os primos Greyjoy conversavam. Amaldiçoou em silêncio os Targaryen e sua estúpida missão, se a rainha não houvesse prometido a devolução de suas terras e seus títulos ela jamais teria entrado nessa maluquice suicida.

- Senhores – disse o Baelon Greyjoy – Ao saque!

Sky voou de seus ombros e Raven avançou em direção aos piratas. De fato ela não tinha muita experiência em lutar no balanço do mar, porém tinha habilidade. Era maravilhosa a sensação de lutar em grupo, cada um de seus companheiros guardava suas costas, assim como ela fazia com as deles. Tinha o mesmo tipo de parceria com Nikky, mas era diferente em um grupo maior.

Pelo canto do olho observou um dos piratas avançando pelas costas em direção ao Príncipe Perdido. Nenhuma das dothraki estava à vista. E pelo visto nenhum de seus companheiros notara-o, pois ele vinha sorrateiramente pelos cordames. Raven abriu o caminho com Peacemaker e parou a espada do pirata, que ia em direção ao pescoço de Rhaego.

Forçou o braço para frente, o pirata se desequilibrou e caiu nas águas. Raven sorriu e voltou a luta, mas não sem antes notar o olhar impressionado do Targaryen, sorriu, era bom que ele tivesse um pouco de respeito.

Em determinado momento cruzou espadas com o próprio Tentáculo dos Mares e observou chocada que ele não segurava a lâmina, como pensara no inicio, mas de uma forma muito estranha o aço parecia ligado ao seu braço direito, como se fosse uma extensão dele.

- Gostou? – sorriu ele indicando com a cabeça a mão direita – Minha querida prima me fez o favor de decepar minha mão alguns anos atrás, mas não podia deixar que esse pequeno incidente interferisse na minha vida pirata.

- Pare de conversar e lute, Baelon. – ressoou a voz da Capitã se aproximando.

- Mary, minha cara. – sorriu ele – estava justamente falando de você.

Os dois Greyjoy começaram a lutar entre si, Raven não se aproximou, aquilo parecia pessoal demais, talvez fosse melhor deixar a Capitã lidar com o primo. Continuou a lutar, segundos depois foi a sua vez de ser salva por Renly Lannister. Ela apena assentiu para o loiro e continuou a batalhar. Perdeu a noção do tempo e de quantos piratas encontraram seu fim em Peacemaker. A espada estava rubra de sangue, tais quais suas vestes, mas a adrenalina ainda corria solta no sangue de Raven.

As garotas que antes estavam na cabine, agora que tudo estava em segurança, saíram curiosas. Baelon Greyjoy estava de joelhos no meio do convés, no lugar onde antes estivera sua espada, agora havia apenas um toco, desprovido da mão, sua arma repousava no chão, ao pés de Raven. O que restara da tripulação pirata era cativa dos Homens de Ferro. A Capitã Mary Lane segurava sua espada na garganta do primo.

- Suas últimas palavras? – perguntou ela.

- Se o fizer se arrependerá – ele disse ainda sorrindo – Tenho informações essenciais, querida.

A Capitã não disse nada, apenas esperou. Raven observou a arma do pirata de perto, ao contrário das espadas que já vira, essa não possuía punho ou botão, a lamina era ligada à uma espécie de metal retorcido que o pirata encaixava e amarrava no toco, onde antes costumava ficar sua mão.

- Antes de seguir sua busca para leste deve fazer uma parada nas Ilhas do Basilisco. Há algo de seu interesse lá.

- E o quê poderia ser, primo?

- A chave de sua vitória. – respondeu ele – Alguém que poderá lhe ajudar muito. Sei apenas disso.

- E quem seria essa alma bondosa que nos auxiliaria tanto? – perguntou irônica.

- O Regicida – sorriu ele apontando com o toco para sua espada– Onde acha que consegui aquilo?

Raven sentiu que Renly Lannister se tencionar ao seu lado, porém Lady Narcysa parecia indiferente acariciando seu filhote de leão como se este fosse um gato.

- Muito bem, primo. – disse Mary abaixando a espada – Isso é o suficiente para comprar sua vida, mas não sua liberdade. Contramestre.

Um dos homens de ferro se aproximou do pirata e o forçou a ficar de pé. Baelon se desvencilhou dele e se aproximou da prima. Ela não fez nada para impedi-lo.

- Eu não achei que seria, mas creio que saiba de mais uma coisa que possa pagar não só por minha liberdade como por um barco.

A capitã semicerrou os olhos verdes encarando os do primo que eram exatamente iguais. O pirata continuava a sorrir.

- Eu vi Ramsay Snow – disse ele.

Seu tom era um pouco acima de um sussurro, entretanto todos no navio escutaram. A Capitã cerrou os punhos, porém manteve o rosto inexpressivo, mas sua raiva era evidente. Raven quase sentiu pena dela.

- Ele está vivo. Em Ibben. Esperando por você.

O grupo de heróis se entreolhou.

- Muito bem. – ressou a voz da capitã – Flynn, dê ao meu primo um bote e devolva sua espada.

Um dos homens de ferro se aproximou, ele era mais alto que os demais, com a pele escura e não usava nada para cobrir o tórax musculoso. Ele apenas assentiu para Mary Lane e escoltou o Greyjoy para fora do navio, mas antes que ele saísse a voz do Imediato ressoou.

- Capitã, e os sobreviventes?

Mary Lane olhou para os três piratas vivos, Raven conhecia-os. O primeiro era conhecido por sua tendência a matar crianças, o segundo por estuprar todas suas vítimas não importando sexo ou idade, e o terceiro gostava de queimar pessoas vivas, não necessariamente inimigos, muitas vezes eram apenas gente comum do povo, inocentes.

Os olhos verdes de ambos os Greyjoy se encontraram e ela respondeu com uma voz lenta e calma.

- Não há sobreviventes.

Simultaneamente os homens de ferro degolaram os piratas e os jogaram ao mar. Baelon Greyjoy assistiu àquilo sem piscar, ele não parecia se importar com seus homens mais do que Raven. Então apenas sorriu e subiu em seu bote.