Thalia:

Eu me sentia exposta. E com o rosto muito quente também.

Não falei nenhuma mentira. Não posso simplesmente me livrar da caçada porque ela já faz parte de mim. Seria como pedir a Nico para deixar de ser um semideus: Não foi escolha dele. Ele simplesmente é, e não pode mudar ou abrir mão disso.

Exceto pelo fato de que eu tive sim uma escolha a fazer no meio de tudo isso, era a mesma coisa. A caçada era meu destino, já corria nas minhas veias. Já era parte de mim, uma BOA parte de mim, pra que eu simplesmente abrisse mão dela, que eu conseguisse deixar pra lá.

Engoli em seco. COMO eu poderia escolher?

- Desculpe. - sussurrou ele, se ajeitando em sua posição aparentemente desconfortável. - Eu só... - ele não achou palavras para completar a frase, o que fez sua voz ir sumindo. Jamais conseguiria colocar aquilo em palavras. E, pelo visto, ele também.

- Eu sei... - sussurro em resposta, acariciando seu joelho. Ele me encarou, tristonho.

 - Pode pelo menos me fazer um favor até se decidir? - perguntou ele. Olhei em seus olhos, e assenti. - Não faça nenhum gesto que dê a entender que... Bem, você entendeu... - disse, pegando minha mão de seu joelho e a depositando com cuidado em meu colo. - E também não olhe assim pra mim... - concluiu, abaixando a cabeça, tentando inutilmente esconder seu rosto corado.

- Assim como? - perguntei, meio confusa. 

- Como se a sua vida dependesse de mim. Só de mim. Como se você não tivesse dúvidas de que... Você e eu... - ele voltou a se calar, e eu me encolhi ao redor de meu próprio corpo.

- Cá entre nós, as vezes eu acho que não tenho mesmo... - respondo. - Eu só queria achar um jeito de descobrir se... nesses momentos... Se eu penso por mim mesma... Ou se é só Afrodite tentando me manipular.

Ao completar a frase, sinto o peso delas sobre Nico, o que só intensifica a dor que eu já sabia que ele sentia quando seu suspiro pesado ecoa no quarto.

Era essa a diferença entre nós. Enquanto eu duvidava de meus sentimentos e me fazia de durona tentando negá-los quando tinha consciência deles, Nico tinha certeza de tudo. Só tentava me mostrar, do ponto de vista dele, o que estava acontecendo. Não que ele não fosse durão. Ele era, mas não sempre. E diferente de mim, não costumava fingir.

Meus ombros pesaram sobre o corpo quando eu finalmente lhe respondi num sussurro.

- Devo isso a você. - e ele simplesmente se levantou, me deu as costas, e foi embora.

Tinha arrasado completamente com ele.

E também comigo.