Nico:

Thalia estava me deixando louco!

Bati a porta do meu chalé assim que passei pela porta.

-Oi, Nico. - saudou um garoto sentado no meu beliche. Logo o reconheci pelos olhos azuis como o oceano e os cabelos pretos levemente arrepiados.

-Oi,Percy! Vá embora, por favor! - disse. Não estava com muita paciência pra conversar. Ele me encarou, sério.

-Não até você me dizer EXATAMENTE o que está acontecendo.

Eu grunhi.

-Não quero papo agora!

- Acho que você não tem escolha se quer mesmo ficar sozinho. - ele apoiou o braço no colchão, e saltou pro solo seguro de meu quarto. - O quê aconteceu, cara?

E então, eu explodi.

- THALIA! ELA aconteceu! - berrei, levantando as mãos, enquanto ele se apoiava na madeira da cama e cruzava os braços. - Ela... Argh,ela é convencida, egoísta, chata, COMPLETAMENTE idiota e...!

- Perfeita pra você.

-É! xatamente... Espera. O quê?! 

Ele sorriu.

- Você gosta dela, Nico - acusou.

-Argh! - me joguei de costas na cama com as mãos sobre o rosto, e agora ele realmente riu. O encarei, irritado. COMO ele podia rir de uma situção dessas?

- Fala sério, Nico... Porquê você não está lá com ela?

Bufei. Se ele soubesse...

- Pra você é fácil falar... Você já TEM  Annabeth... E pelo que eu me lembro, foi ela quem tomou a iniciativa. - acusei, e ele revitou os olhos pra mim, ainda de braços cruzados.

- Por que ela é filha de Atena, Nico. Ela é mais corajosa que muitos garotos daqui do acampamento... Inclusive EU! - disse, como se isso fosse o maior absurdo do mundo. - Mas acho que como filho de Hades, você deveria ser o durão aqui, e ficar se lamentando não vai fazer Thalia cair matando em cima de você.

Bufei de novo. Droga!

- ODEIO quando você tem razão. - admiti, vencido.

- E eu odeio quando meus amigos se fazem de idiota, mas cá estamos nós... - revidou ele. Ai.

- Tudo bem! Alguma sugestão?! - perguntei, e ele suspirou dando um tapinha no meu ombro.

- Faça isso acontecer, di Angelo. Você, mais do que ninguém, sabe que não é covarde. E nem fraco... - ele disse, mas foi interrompido pelo grito estridente de Annie do lado de fora do chalé. Ele se levantou num pulo. - Vai falar com ela, Nico. - aconselhou, e saiu dali correndo.

Voltei a colocar os braços na testa, em sinal de... Ahn, nem Eu sei o porquê, pra falar a verdade!

"Tudo bem, Nico. Você sabe que Percy tem razão. Ou você FAZ acontecer... ou simplesmente NADA vai acontecer..."

[...]

Abro a porta devagar. As luzes estão completamente apagadas, exceto por uma fracca luz amarelada de abajur ligada sobre o corpo aparentemente adormecido de Thalia.

Me aproximo um pouco, evitando fazer barulho. Eu preciso falar com ela...

-Thals?! - sussurro, e ela grunhi e se mexe um pouco na cama. Me aproximo mais.

-Nico?! - ela sussurra pras sombras, e tenho certeza de que está realmente acordada. - Cadê você?!

Respiro fundo, e saio das sombras.

Finalmente me aproximo o suficiente para que a luz do abajur me ilumine. Seu tom amarelado e fraco parece apenas realçar ainda mais o azul intenso e eletrizante dos olhos de Thalia.

Ela me vê, e abre um sorriso envergonhado e tímido pelo canto da boca.

- O que está fazendo aqui?! - pergunta ainda sussurrando.

"Não faço idéia."

Respiro fundo de novo, e retribuo seu sorriso de forma verdadeira.

- Na verdade, eu meio que estava na esperança de você estar inconsciente e me agarrar de novo...

Ela me fita, séria.

-Achei que não queria mais nenhum gesto desse tipo. - acusa.

Eu hesito.

-Acho que mudei de idéia. - digo, e me sento ao seu lado na cama. Ela se senta também.

- Por que você está fazendo isso, Nico? - pergunta, me encarando.

Eu arrepio uma mecha de cabelo que pendia teimosamente sobre seus olhos claros que eu tanto apreciava.

 - Porque eu te amo, Thals. - admito, sorrindo, mas ela permaneceu séria.

- O que você quer que eu responda? - perguntou. Eu observava sua reação a cada palavra minha.

- Que você também me ama é uma boa opção. - retruco, calmo.

- Mesmo que não seja verdade? - rebate ela, e eu a abraço por trás, apertando suas costas contra meu peito, apoiando minha bochecha sobre sua têmpora esquerda. A aperto um pouco, mas ela não reage a nada disso.

- Sei que é. Mesmo que você não diga isso... Eu sei que é verdade.

Ela hesita por tempo demais, e fica tensa em meus braços.

- Como pode ter certeza disso, Nico? 

Eu beijo sua bochecha e sorrio pra ela. Ela me olha nos olhos e eu finalmente respondo.

- Porque é como eu me sinto. E eu sei que é como você se sente também. Eu simplesmente sei.

Ela baixa os olhos, pensativa, mas volta a olhar pra mim rapidamente. Não diz mais nada, e por um tempo, só deita a cabeça em meu peito. Por um momento, acho que ela voltou a dormir, mas seu suspiro profundo e sua voz fraca falando comigo através da escuridão ecoam em meus ouvidos.

- Acho que é disso que eu tenho medo. De nãao ter toda essa sua certeza... - e volta a fechar os olhos. - Boa noite, Nico.

Acaricio seus cabelos uma última vez, feliz por não estar mofando no chalé de Hades, e sim aqui, perto de Thalia.

- Boa noite, Thals.