Thalia:

Acredite quando eu digo que enfrentaria uma horda inteira de esqueletos-zumbis de novo só pra não sentir aquilo.

A sensação de culpa arranhava pela minha garganta cortando-a como se fosse feita de alfinetes. Minha pele se arrepiou quando outro raio atingiu pela 5ª vez o mesmo ponto acima de minha cabeça porque eu podia sentir ele queimando e furando minha pele sem nem ao menos ter me tocado de verdade, tudo porque eu não havia sido completamente sincera.

Nem com meu pai, nem com Nico.

A vida tende a se tornar um verdadeiro inferno quando se toma uma decisão errada, e não importa como, você tem que aprender a viver com ela depois. Eu me odiava agora porque, mais do que ninguém, eu deveria saber disso, mas contar a verdade é doloroso demais. E eu tinha medo do que aconteceria.

Tive medo quando decidi escondê-la, e tenho medo agora porque a verdade pode acender um pavio que se consome fácil demais, e em algum momento vai fazer Nico se afastar de mim, por bem ou não.

-Precisamos conversar. Agora. - murmurei, triste demais até para encará-lo. - Eu me viro com Phoebe depois... - disse, antes que ele falasse qualquer coisa, e quando ele assentiu, caminhamos em silêncio até o chalé de Hades.

Mesmo sabendo que ele estava tão nervoso com a situação quanto eu, ainda estranhei o fato de ele se manter em silêncio.

Me sentei na cama baixa do beliche, balançando os pés, nervosa. Respirei fundo diversas vezes, nãoconseguindo falar nada. O ar queimava em meus pulmões, me impedindo de nãocomeçar a chorar, silenciosa porém desesperadamente. Joguei a cabeça no travesseiro de Nico frustrada. E sentir seu cheiro ali não estava me ajudando muito.

Nico se aproximou com dois passos rápidos e largos, e secou meus olhos com a ponta dos dedos, me encarando.

E eu era covarde demais para conseguir encará-lo de volta.

Derramei mais uma lágrima, dessa vez por raiva de mim, por ser tão estúpida.

-O que aconteceu, Thals? - perguntou ele, triste, e eu abri os olhos.

-Eu TENHO que abrir o jogo com você, Nico... Te contar a verdade... - respondi, amargamente. - ...Mas eu não consigo! - abrecei meus ombros numa tentativa frustrada de tentar parar toda essa angústia, revolta e medo, e isso só o fez acariciar minha bochecha, capturando mais uma lágrima. - Eu sei que se fizer isso você vai me odiar para sempre... - teminei, e mesmo que parecesse preocupado com meu aviso, ele tentou me acalmar.

-Eu não vou deixar nada de ruim acontecer com você, Thals... Nada que você me diga vai me fazer mudar de idéia quanto a isso. - Afirmou, e eu neguei com a cabeça, sorrindo.

-Você é perfeito, sabia? ... Mas você não sabe do que está falando.

Ele deitou, se acomodando do meu lado, com o corpo virado na minha direção, e eu fiz o mesmo. Ficamos nos encarando, até que eu comecei a tocar a ponta de seus dedos com os meus, deixando claro que eu estava nervosa.

- Eu sei o quê aconteceu, Thalia. 

O fitei, corando.

Ele sabia.

-Sabe o quê, exatamente? - indaguei, hesitante.Ele respirou fundo.

-Ele te deu uma profecia sobre nós, não foi? Apolo... - Perguntou, mas não era exatamente uma pergunta.

-E-eu não sei se era sobre... Nós. - gaguejei.

-O quê ele disse, Thals? - perguntou, e eu virei o rosto, envergonhada. - Me conta, por favor! - pediu, e me abraçou. Não consegui evitar que outra lágrima silenciosa escapasse de meus olhos.

Nico... Você vai me odiar pra sempre...

Respirei fundo.

-" A promessa feita pelo medo de amar/ Quebrada antes mesmo de se ofertar/ O decreto dos deuses terão de vencer/ - repirei fundo de novo, deixando outra lágrima descer pelo caminho já traçado por outra em minha bochecha antes de terminar a prefecia. - ...E a seta aponta quem deve morrer."

Ele me encarou, perplexo.

-As duas primeiras estrofes não falam de você e eu. - eu o encarei. - Falam de Luke... E de mim.

Ele permaneceu calado, me encarando.

- Apolo me deu a profecia na missão de sua irmã, quando... -Me xinguei internamente por ter falado nela. Sabia o quanto era difícil para ele assimilar tudo de uma vez só. - Nós nos encontramos depois de... - engoli em seco, me impedindo de continuar colocando o dedo na ferida.

"Sou uma inútil..."

-Até onde você foi com ele, Thalia? - perguntou ele, e eu corei desesperadamente o encarando.

- Nós não fizemos, se é o que você está perguntando, seu pervertido. - respondi nervosa, e ele riu, cutucando minha bochecha com o indicador direito.

-Eu estava falando de Apolo. Mas obrigado pela informação... - ele disse, e eu corei mais ainda. 

-Você deveria gritar comigo por ter escondido isso de você, Nico. Não sendo compreensivo e... Gentil. 

-Quer que eu seja rude? - perguntou, aproximando seu rosto do meu.

-Não foi isso que eu quis dizer... - respondi, colando brevemente nossos lábios, abaixando o rosto logo em seguida. - Tenho uma coisa para fazer pela manhã. - avisei.

-Tudo bem... Eu vou com você. - disse.

-Não. - neguei a "oferta". - Eu... Tenho que fazer isso sozinha, Nico.

-Porquê? - ele exigiu uma explicação.

-Por que... Eu tenho que fazer isso sozinha. - repeti, incapaz de dar uma resposta mais plausível.

- Eu vou com você, Thals. - Agora ele não estava pedindo.

-Não começa, por favor... - pedi, abraçando seus ombros, aconchegando meu rosto na curva de seu pescoço.

-Tudo bem... Mas eu vou com você.- respondeu, e eu me calei.

Eu tinha que falar com meu pai, e ele não poderia ir até lá comigo.

A  profecia era clara.

"...E a seta apontar quem deve morrer."

Se ele não fosse, a seta não poderia apontar pra ele.

E pelo menos ELE continuaria vivo.