Acordei meio atordoado, e fiquei apoiado nos meus cotovelos, pelo menos por uns cinco minutos até perceber que estava na casa de Paul, então me lembrei da confusão de ontem. Emily era louca de pedra, que já havia assassinado pessoas, e estava atrás de Kamilla, tínhamos passado o dia na delegacia, e depois uma guerra de batatas fritas. Um dia bem incomum a meu ver.

Levantei-me e segui para cozinha, bebi um copo d’ água e voltei. Deparei-me com Austin e Harry dormindo no tapete, e ele estava... babando. Káh estava dormindo no sofá, linda como sempre. Só tivera uma chance de observá-la dormindo, e eu não iria desperdiçar outra. Ela parecia menor ainda no sofá que tinha mais de quatro lugares, parecia um pequeno anjo. Agachei na frente do sofá e fiquei examinando sua face, tranquila, serena, parecia que não tinha nenhum problema, sua mente devia estar a quilômetros daqui. Passei as costas de minha mão em seu rosto macio. Então encostei o polegar em seus lábios e fui surpreendido pelos seus olhos que se abriram vagarosamente. Rapidamente me joguei para trás, tentando parecer natural, tentando parecer que tinha acabado de acordar.

J: Bom dia.

K: Bom dia Johnny. – Ela disse sorrindo –

K: O Harry tá...

J: Babando? Sim, ele está. – Nós rimos baixo –

J: Então... Como foi a noite? Teve bons sonhos?

Ela demorou a responder então pressenti que não.

J: Não precisa responder se não quiser.

Tentei sorrir, mas não consegui, não sabia o que dizer.

K: Eu estou com fome. – Ela disse colocando a mão sobre a barriga – O que tem para comer?

J: Não sei, vamos para a cozinha.

Dei minha mão para ela, que a pegou sorridente. Eu fui olhar a geladeira e Káh foi olhar os armários.

K: Alguma coisa ai? – Fiz que não com a cabeça – Nem aqui.

Então Paul adentrou a cozinha de pijama com uma foto do homem aranha na camiseta, coçando os olhos.

K: Belo pijama, homem aranha.

Ele a fuzilou com os olhos e eu soltei uma gargalhada, o fez Kamilla começar a rir também.

K: Você não tem nada para comer aqui?

P: Deve ter salgadinhos, ou ovos, não sei. E para sua informação Kam’s, o homem aranha é um herói muito respeitado.

Então ela ficou na ponta dos pés e esticou o braço, como se tentasse pegar alguma coisa. Quando fui em sua direção para ajudá-la ela tirou uma caixa de cereais.

 K: Imagino que Fruit Loops também seja um cereal muito respeitado.

Ela disse em tom de deboche, jogando a caixa para Paul, que olhou como se não soubesse que caixa era aquela.

P: Isso não é meu, nem sei como veio parar aqui.

Eu e Kamilla nos entreolhamos e começamos a rir. Der repente aparecem Harry e Austin na porta da cozinha.

K: Bom dia. – Ela disse sorrindo –

H: Bom dia.

A: Adorei seu pijama Paul, onde comprou?

Austin disse sarcástico.

J: Por que não o pergunta do Fruit Loops dele?

Harry imediatamente tirou a cabeça da geladeira, olhou para Paul que ainda segurava a caixa e soltou uma risada muito alta, nos fazendo rir. Paul saiu da cozinha e Káh começou a olhar os armários novamente, tirando algumas tigelas. Logo ele voltou com uma roupa normal.

K: Alguém quer cereal?

Ela disse pegando o leite e colocando na tigela.

P: Agora você quer não é?

K: Eu faço o que posso para não morrer de fome. Você quer Paul? – Ela disse estendendo a tigela –

P: Obrigado. – Ele disse pegando-a e se sentando na mesa -.

Logo todos nós acabamos comendo Fruit Loops e pão. Mas enquanto observava meu cereal, a memória do baile finalmente veio em minha mente.

“J: Kamilla...

K: Sim?

J: Eu te amo.

K: Eu sei Johnny, também te amo.

J: Não Kamilla, eu te amo de verdade!”

Então ela saiu correndo, chorando. Eu deveria estar muito bêbado mesmo para ter dito para ela uma coisa dessas.

Kamilla POV

No final de tudo nós tivemos que comer Fruit Loops e pão, era só isso que tinha na casa de Paul. Deve ser por isso que ele passa tanto tempo na casa de Harry. Ri sozinha pensando nisso. A conversa fluía bem, e tirava meus pensamentos sobre ontem. Será que Greg já sabia de tudo?

Observava os meninos rindo e conversando até que meus olhos pararam em John, sua cara não estava nada normal. Estava diferente de antes, estava preocupada, triste. Ele percebeu que eu o observava e me olhou com tristeza nos olhos. Não desviei o olhar para que ele percebesse que eu havia percebido. E antes de eu abrir a boca para perguntar o que havia acontecido ele se levantou, colocou sua tigela na pia e disse que já estava indo.

A: Mas já John?

J: É meninos, eu esqueci... Esqueci...

K: Esqueceu?

J: Esqueci de entregar um trabalho na escola.

H: Mas hoje é sábado, você ainda pode entregar na segunda.

J: Mas eu não terminei ainda. Tchau.

Ele saiu apressadamente pela porta antes que alguém pudesse fazer mais uma pergunta, pois todos nós sabíamos que ele estava mentindo. Mas qual era a razão? Senti um cutucão em meu braço.

A: O que aconteceu com ele?

K: Com John? – Com quem mais né Kamilla? –

Ele assentiu com a cabeça.

K: Não sei, ele ficou assim de uma hora para a outra.

A: Hm. Você tem ideia do que aconteceu?

K: Não, sinto muito.

Terminamos de comer, e mais ninguém falou nesse assunto. Ajudei Paul a lavar a louça, e recebi muita água em troca. Mas foi divertido. Se bem que não seria eu que iria limpar o chão depois. Dividi um táxi com Austin e Harry. Minha casa foi a última a chegar. Tive até um pouco de receio ao entrar nela, ela me trazia algumas lembranças não memoráveis, então decidi dar uma volta, na praça que tinha perto do prédio.

Senti meu celular vibrando, o peguei e o nome de Greg brilhava na tela.

Ligação On

K: Oi Greg!

G: Oi Káh, como está?

K: Bem e você?

G: Também.

K: A que devo a honra desta ligação? – Escutei ele rindo –

G: Só queria saber como estava, fiquei sabendo do ocorrido. – Meu sorriso rapidamente desapareceu –

K: Então eles te ligaram.

G: Sim, fui prestar depoimento esta manhã.

K: Por que nunca me disse que era namorado dela?

G: Por que quando você me falou de Emily, não sabia que era essa Emily.

K: Hm.

G: Eu juro! Nem sabia que ela tinha assassinado outras meninas.

K: Quando saímos da última vez, aquele homem que falou com você, o que ele queria?

G: Ele só estava perdido.

K: Greg, não minta para mim. Emily me disse que ela havia o mandado para te relembrar que você era “dela”.

Houve um longo silêncio, presumi que estava certa.

K: Você contou sobre isso para a polícia, não contou?

G: Sim.

K: Então por que estava mentindo para mim.

G: Eu achei que você não sabia, não queria te preocupar mais.

Aquela desculpa dele havia sido horrível, eu acho que ele havia percebido que eu não iria acreditar.

K: Greg tenho que desligar. Foi bom falar com você.

G: Tudo bem, tchau.

Ligação Off

Eu deveria ter perguntado se Emily havia sido presa mesmo, mas ele não devia saber. Então liguei para o oficial, que me respondeu que achava que seria, mas só dependeria do juiz, e ele não sabia me dizer, teria que pegar mais provas sobre as meninas assassinadas, chamar parentes, e que teria muito trabalho, mas ela permaneceria por lá até o julgamento. Pelo menos ela não ficaria solta.

Voltei meus pensamentos para o que ocorrera esta manhã, com John, mas nada que ele ou alguém pudesse ter feito me veio à mente. Depois de umas boas horas revezando entre ficar sentada no banco e caminhar decidi finalmente ir para casa.

Adentrei-a e estava tudo normal, fechei a porta e me dirigi cuidadosamente até o quarto, mas tudo também estava normal, e quando eu digo isso quer dizer tudo bagunçado. Ri sozinha, joguei minha bolsa no chão e fui tomar um banho, o céu escuro indicava que vinha chuva pela frente.

Entrei em um moletom e fui assistir televisão junto com um chocolate quente, algo me dizia que minha semana seria igual.