As Bruxas De Tonderville- A Maldição escrita por Yan Bertone


Capítulo 24
Armamentos




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Victória estava desaparecida. Jorge em meio à névoa era impossível de ser visto naquele momento. O que eu poderia fazer? Estava sozinho e não tinha a menor chance contra ele.

Como eu queria que Angus estivesse ali naquele momento. Ele era a única pessoa que poderia lutar contra isso. Juntos nós éramos mais fortes, mas sem ele eu morreria e, com isso, tudo estaria acabado.

Encarávamos-nos e, aos poucos, nos aproximávamos um do outro. Nenhum de nós piscava um olho, apenas olhávamos fixamente um para o outro.

-Tome isso – disse uma voz atrás dele e em seguida uma das cadeiras do refeitório foi quebrada bem em sua cabeça, mas pareceu não fazer nenhum efeito.

-O que foi isso? – perguntou o diabo, virando-se para trás e saindo de seu estado de transe. – Pensa que pode me deter dessa maneira? Quebrando uma mísera cadeira em minha cabeça?

Assim que ele se virou, foi possível ver quem havia feito aquilo. Era Victória. Ela não havia ido se esconder, queria ajudar e aquela foi a única forma que ela encontrou para que pudéssemos acabar com ele.

Percebi rapidamente o porquê de ela fazer isso tudo. Estava distraindo-o para que eu pudesse fazer alguma coisa, mas eu não estava com a espada. Havia decidido que a deixaria na Floresta Encantada, pensei que voltaria rapidamente para lá e que não precisaria dela em momento algum.

Os segundos se passavam e Victória se afastava lentamente dele. Jorge continuava desaparecido, esquecido em meio à névoa, enquanto isso, eu não sabia o que fazer. Seria impossível se aproximar dele sem ser visto, se fizesse isso, ele me mataria.

Foi nesse momento que ouvi. O barulho do motor do carro era inesquecível, sempre chegando em boa hora, nos salvando de todas as confusões desde que nos conhecemos.

-Parem – gritou Angus. Carregava uma arma nas mãos, mas Joana não estava ali.

-Que surpresa agradável – disse o diabo se virando para ver quem tinha chegado. – Há quanto tempo não nos víamos.

-Quem dera eu ficasse o resto de minha vida sem te ver novamente – disse Angus. Parecia estar enfurecido e mantinha a arma apontada para o diabo.

-Não seja cínico Angus – disse ele. – Você não sabe de que lado luta. Sempre foi assim, mas ainda pode ter uma maneira de você sobreviver. Venha para o nosso lado Angus, o lado ao qual você foi criado para lutar.

-Nunca – disse Angus.

Nesse instante, ele atirou. A bala cravou no peito do diabo, mas não fez efeito. Apenas perfurou na pele, nem uma gota de sangue saiu. O tiro se repetiu, mas, assim como a primeira vez, não teve o menor efeito.

Uma gargalhada foi ouvida e, logo depois, a figura encapuzada do diabo se desmaterializou e desapareceu no ar.

A névoa sumiu juntamente com ele, deixando a mostra Jorge, sangrando mais do que antes.

-Jorge – disse Victória correndo ao seu encontro.

-Temos que levá-lo para a Floresta Encantada – disse Angus. – São ferimentos diferenciados, nenhum médico comum poderia fazer com que ele fique bem, assim como aconteceu com Victória.

Angus carregou Jorge até o carro. A arma agora escondida em seu grande casaco escuro. Não havia mais ninguém do lado de fora da escola, apenas um menino sentado no canto, certamente esperando que seu pai chegasse para levá-lo para casa.

-Onde está o carro? – perguntei, sem conseguir avistá-lo.

-Tive de estacioná-lo do lado de fora da escola – disse Angus. – Não havia lugar para parar quando cheguei aqui.

Tendo em vista que Jorge sangrava mais a cada minuto que passava, corremos até o carro de Angus. Estava parado no único lugar onde não batia sol em toda a rua de trás da escola. Joana estampou um largo sorriso no rosto ao nos ver chegar.

-Ainda bem que sobreviveram – disse ela. – Não suportaria perder mais ninguém em minha vida.

Ela era quem mais sofria com tudo isso, mas teria o conforto de morar com o pai em poucos dias. Alguém que ela conhecia desde sempre, em quem ela podia confiar para qualquer coisa que acontecesse em sua vida, sem medo de enfrentar os perigos que viessem pela frente.

-O que aconteceu com Jorge? – perguntou ela ao avistá-lo.

-Explicamos no caminho – eu disse. – Temos que sair daqui imediatamente.

Angus colocou Jorge no banco da frente. Prendendo-o com o sinto de segurança para que não acontecesse nenhum acidente a mais com ele. Logo em seguida, sentou-se no banco do motorista e deu a partida, rapidamente o carro correu em direção à Floresta Encantada.

-Acho que agora devo uma explicação para todos vocês – disse Angus, curvando o pescoço levemente para trás. – A primeira questão que eu gostaria de explicar era o porquê de o diabo estar aparecendo para todos vocês, afinal de contas, isso é uma coisa que não acontece frequentemente.

“O demônio é um ser que não vive nos limites da Floresta Sombria. Ele só pode vir para nosso mundo quando alguém o convoca.”

-Foram as bruxas não foi? – perguntou Victória.

-Sim – respondeu Angus, dando uma pausa um pouco demorada. – A primeira vez que isso aconteceu foi quando eu ainda estava do lado delas, pouco antes de elas serem queimadas em público.

“Estavam reunindo uma grande multidão na Floresta Sombria, assim como está fazendo agora. Elas e as mais diferentes criaturas faziam pacto frequentemente nos terrenos da floresta. Era uma época de grande desequilíbrio e tensão, pessoas morriam todos os dias e foi em dias como esse que a caça às bruxas foi declarada.”

“No momento em que elas foram mortas em público que tudo se desfez, mas agora elas querem vingança e que juram que podem conseguir.”

“Estão fazendo as mesmas coisas, tudo está como antes, mas, se continuar dessa maneira, vai ficar muito pior.”

-Temos que deter isso – disse Victória. – Somos mais fortes que eles, nós só precisamos de um treinamento, algo que começaremos assim que Jorge se recuperar.

O carro passava rapidamente pelas casas, as duas florestas estavam visíveis a nossa frente. Um caminho ao qual eu já estava acostumado. Viramos em uma esquina e seguimos em direção à Floresta Encantada.

Jorge estava quase inconsciente no banco da frente, mas aprecia estar aguentando e lutando contra seus ferimentos.

A estrada de pedra parecia ter piorado, ou era apenas o carro que corria demais sobre ela. A entrada da floresta já estava visível. Eu apenas encarava Jorge pensando se ele conseguiria suportar tanta dor até chegarmos. Ele estava pálido, seus lábios não tinham nenhuma cor e ele respirava profundamente, suas roupas estavam manchadas de sangue de cima a baixo, mas o sangramento parecia ter melhorado um pouco.

Passamos rapidamente pela entrada, parando em frente à enfermaria da floresta. Quando o carro freou, Angus correu para ajudar Jorge a sair do carro. Levantou-o nos braços e entrou com ele, deixando-nos sozinhos.

Saímos do carro correndo também. Querendo saber o que iria acontecer com ele. Estávamos ansiosos para saber se ele ficaria bem.

Angus não estava em lugar nenhum na enfermaria.

-Ele deve ter entrado em uma sala junto com Jorge e o médico – disse Victória e concordamos com ela. – Se ele fez isso, só nos resta esperar, tenho quase certeza de que ele ficará bem. Foi aqui que me curaram quando eu quase havia morrido, o método deles é diferente.

Ela explicava isso a Joana, que nunca havia entrado naquela ala da Floresta Encantada. A enfermaria ficava em uma área mais afastada, em meio às árvores, um pouco mais distante das construções da floresta.

Sentamos em um banco em frente a enfermaria e esperamos, Foram questões de minutos para Angus sair de lá com uma expressão séria no rosto.

-O que o médico disse? – perguntou Joana. – Ele vai ficar bem?

Angus abaixou a cabeça, fazendo com que todos nós pensássemos que sua resposta seria a pior de todas.

-Vai – disse ele. Agora levantando a cabeça com um largo sorriso estampado no rosto.

-Ainda bem – disse Victória. – Quando poderemos começar a treinar? – perguntou, estava realmente ansiosa para saber como seria o nosso treinamento.

-Acho que não precisam esperar até que Jorge melhore para começar o treinamento – disse Angus. – Ele ainda vai ter que ficar semanas de repouso e o treinamento tem certa urgência. O que acham de começar já?

-Claro – disse Victória e eu concordei.

Seguimos para as construções da casa, onde muitas pessoas ficavam, era onde Angus mais ficava enquanto estava na Floresta Encantada. Lá ele chamou um dos membros da guarda para nos ajudar com o treinamento.

-Pessoal – disse ele. – Esse é Dave. Ele vai ser o encarregado de treiná-los até poderem combater pessoalmente quando chegar o momento certo.

Era um homem simpático. Carregava uma arma na cintura e tinha uma faca em um cinto, do lado oposto ao da arma.

-Olá – disse ele, parecendo meio tímido. Tinha um sorriso no rosto e olhava fixamente para todos nós.

-Vou deixá-los a sós – disse Angus. Indo em direção ao escritório. Estava junto com Joana, que não treinaria, pois Angus pensava que ela era muito jovem.

Dave nos levou para um local onde a guarda treinava. Uma área isolada em meio às árvores, mas, depois de chegarmos, era uma grande clareira. Um amplo espaço. Para podermos treinar da forma que quiséssemos.

-Essa é a área em que a guarda da Floresta Encantada habitada – disse Dave. – Geralmente as pessoas e criaturas não vêem muito para cá. Além de não ser de nenhuma utilidade para eles, é um local muito isolado de todos.

Olhando tudo aquilo era possível ver que a floresta não se limitava apenas nas construções e na enfermaria, mas que tinha um amplo local onde a guarda habitava. Não parecia ser tão pequena pensando dessa maneira.

Dave não lutava e desempenhava mais o papel da guarda na floresta. Era ele quem tomava conta de tudo e que coordenava para que nada fugisse do controle.

-Vou levá-los a uma área de treinamento a qual receberão seus objetos e que poderão dar início ao treino – disse Dave.

Andamos mais um pouco. Atravessamos praticamente toda área descampada em que os treinos aconteciam, mas, finalmente, chegamos a uma construção nem um pouco antiga. Com traços modernos e aparelhos sofisticados do lado de fora.

-Nossa – exclamou Victória. – Isso é incrível.

Ao entrarmos, aparelhos de última geração nos circundavam a cada canto do local. Grandes monitores e telas eram espalhados de fora a fora. Como uma sala de monitoramento.

-Venham comigo – disse Dave. Rindo de nossas expressões ao ver o local. – É daqui que monitoramos qualquer tipo de coisa. Temos que ficar sempre atentos a qualquer tipo de coisa que acontece nos arredores da cidade e nos limites da floresta, pois temos que proteger os moradores.

Seguimos por um corredor em que não aprecia tão sofisticado quanto a primeira sala em que estivemos, mas que a modernidade não deixava de ser lembrada. Com monitores informando cada coisa que acontecia e portas automáticas onde era preciso colocar senhas para ter acesso.

-Dave – exclamou uma mulher ao entrarmos em uma sala onde era possível ver uniformes e armamentos colocados em cima de uma bancada. – São as pessoas de quem você me falou?

-Sim – respondeu Dave com um sorriso largo no rosto. – Eles precisam de roupas para treinar e também de armas que eles possam manusear facilmente. Acha que pode tomar conta deles? – perguntou.

-Com toda certeza – disse a mulher. Dave nos deixou a sós com ela. A sala em que ela ficava era como uma sala normal. Com uma janela que dava para o lado de fora e um porta que também parecia sair da construção.

-Vejamos o que posso fazer com vocês – disse a mulher examinando-nos da cabeça aos pés.

Parecia ser uma pessoa simpática e eu tinha um leve pressentimento de que nos daríamos muito bem com ela.

Ela andou em direção a um armário que ficava no canto e retirou alguns uniformes.

-isso vai ajudá-los a treinar – disse ela entregando um para cada um de nós. – Sem elas suas roupas poderão rasgar ou sujar enquanto treinam.

-Obrigada – disse Victória e logo em seguida agradeci também.

-Não há de que – disse a mulher. – A propósito, meu nome é Vilma, trabalho aqui a mais de trinta anos. Agora vamos ver as armas que usarão.

No momento em que ela disse isso pensei diretamente em minha espada. A qual havia me acompanhado durante muito tempo em épocas passadas, a que me dava força e poder contra muitas coisas.

-Já tenho minha espada – eu disse e Vilma virou-se para mim rapidamente.

-Sei do que você está falando – disse ela. – Mas aquela espada é somente para batalhas. É preferível que você utilize outra em seus treinamentos. O poder da espada pode te impulsionar a lutar melhor, mas você também deve saber lutar sem ela.

Pensei rapidamente no que Vilma disse e percebi que ela tinha razão. Por mais que eu treinasse, se fosse com a espada, eu nunca saberia quem estaria desempenhando o seu papel, eu ou a espada.

Em meio aos meus pensamentos nem mesmo percebi que Victória havia acabado de colocar seu uniforme sobre a roupa que estava antes. Tratava-se de um macacão acinzentado, com protetores nos joelhos e nos braços, caso houvesse um acidente em meio o treino. Vesti meu uniforme e recebi uma espada que Vilma me entregou. Era leve e podia ser facilmente manuseada.

-Agora está na hora de você – disse ela a Victória. – Escolha qual a arma que mais lhe cairá bem.

Vilma fez um gesto apostando a mesa de armamentos. Onde havia arcos, espadas e facas. Nada como armas de fogo, era tudo voltado à época medieval.

-Escolho as adagas – disse Victória. Olhando fixamente para elas posicionadas perto de uma espada a qual me chamou a atenção.

-Pensei que as escolheria – disse Vilma.

-Posso ficar com essa espada ao invés da que você me entregou? – perguntei, trocando ligeiramente uma pela outra.

-Claro – disse ela.

Era isso. A parte a qual Vilma estava destinada a fazer já estava concluída. Nossos armamentos já haviam sido decididos. Bastava treinar e ficar preparado para que tudo desse certo no final.


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