As Bruxas De Tonderville- A Maldição escrita por Yan Bertone


Capítulo 23
Ataque




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A manhã chegou e nem mesmo percebi. Eu estava esgotado com o dia anterior, já Joana, fez questão de bater com toda força na porta de meu quarto.

-Já vou – eu disse. Abri os olhos e olhei em volta. O pequeno quarto da cabana era aconchegante, mas apertado.

Levantei-me e vesti meus sapatos, os únicos que me restavam até aquele momento. Abri a porta e me deparei com a pequena cozinha da cabana, sendo usada naquele momento somente por Joana. Ele fazia café, em um pequeno fogão situado abaixo da janela de madeira do lado oposto da porta, mas parecia estar atrapalhada.

-Quer ajuda? – perguntei e ela se virou repentinamente, não tinha me visto entrar.

-Não precisa – disse. – Aprendi a fazer isso sozinha a alguns dias., pode ser útil de vez em quando.

Uma geladeira ficava ao lado do fogão e a abri, pegando o último suco que tinha para tomar. Não costumo comer muito no café da manhã, principalmente quando estou atrasado para a escola, por sorte aquele não era o meu caso.

Joana terminou de fazer o café no mesmo momento que terminei de beber o suco. Deixei-a sozinha, ela gostava de se virar, queria fazer as coisas sem a ajuda de ninguém. Saí da cabana, vestindo um agasalho que encontrei no armário de meu novo quarto, havia várias roupas lá dentro.

O dia estava frio, mas isso era algo com o qual eu não me incomodava, preferia assim, não gostava de passar muito calor. Olhei em volta, a floresta parecia estar vazia, mas era como as fadas agiam, em silêncio e secretamente. As construções, não muito longe dali pareciam estar com as luzes apagadas, apenas a do escritório estava acesa.

-Joana – chamei e no minuto seguinte a porta se abriu. – Vou para o escritório, se quiser me encontrar é só ir para lá também.

-Está bem – disse ela, voltando a tomar café.

Corri em meio às árvores. O vento gelado batia em meu rosto, em pouco tempo, eu estava em frente ao escritório. A casa estava vazia, mas a luz permanecia acesa, como se houvesse alguém ali.

Abri a porta e me deparei com Angus. Estava sentado na sua poltrona, lendo o mesmo livro que leu para mim e para minha mãe outro dia. O que ele mesmo havia escrito, desde a época em que a maldição ainda não tinha sido lançada.

-Bom dia James – disse ele.

-Bom dia – eu disse, fazendo com que Angus levantasse a cabeça vagarosamente.

-Sente-se – disse e foi exatamente o que fiz. A mesma poltrona em que ele havia me feito a proposta.

-Desculpe por pegar o casaco, mas... – comecei, mas ele fez um sinal para que eu parasse de falar.

-O casaco é seu James – disse ele. – Todas aquelas roupas são suas, só não comprei muita roupa para sua irmã. Enquanto vocês treinam ela deve ficar um pouco distraída com as compras, vai fazer com que Joana esqueça da morte de sua mãe.

Aquilo me abalou. Desde que tinha acontecido ninguém tinha dito nada como aquilo. Sempre disseram de uma forma mais carinhosa quando falaram, mas, por pior que fosse era a verdade, eu teria de me acostumar com a situação.

-Ótimo – eu disse, tentando disfarçar a dor que sua fala havia me causado.

Ele deu um largo sorriso. Angus era o tipo de pessoa que parecia se acostumar rapidamente com as coisas, uma pessoa fria, mas que tinha ainda tinha um pouco de consenso com tudo aquilo.

-Já tomou café? – perguntou ele. Tínhamos ficado em silêncio por um tempo, mas logo ele resolveu quebrar o gelo.

-Sim – eu disse. – Não como muito de manhã.

A conversa não tomava nenhum rumo. Sempre que dizíamos alguma coisa ficávamos mais tempo em silêncio do que o que demoramos em nos comunicar. Era em meio a esse tempo que eu pensava, seja em como tudo ficaria, se daria certo ou não, não só no meu destino como o de todos nós.

O escritório sempre parecia um lugar estranho para mim. Com vários livros e estantes que tomavam conta de todas as paredes do local.

Alguém bateu na porta, uma pessoa que sempre batia com o mesmo toque. Três batidas e uma pausa, logo em seguida um suspiro foi ouvido.

-Quem será que é? – perguntou Angus.

-Joana – eu disse. – falei para ela que estaria aqui.

-Pode entrar – disse Angus, animado em vê-la novamente.

Ela estava energizada, não pelo café, mas sim porque iria fazer compras, era assim desde pequena.

-Olá – disse ela rapidamente. – Esse lugar parece deserto o que aconteceu com todo mundo?

Aquela era um pergunta que eu também gostaria de saber a resposta. O que me fez olhar fixamente para Angus no minuto em que Joana terminou de falar.

-É a maneira que eles têm de fazer uma homenagem quando alguém morre – explicou ele. – Eles ficam um dia inteiro em silêncio, somente as pessoas da guarda falam, mesmo assim somente assuntos de extrema importância.

Agora tudo estava explicado, estavam de luto pela morte de minha mãe. As fadas ficavam quietas em meio a Floresta Encantada e todas as outras criaturas também.

-Quando vamos às compras? – perguntou Joana sentando-se no colo de Angus.

Era incrível como ela agia como se conhecesse Angus a muito tempo. Não faziam nem mesmo um dia inteiro e ela só havia descoberto que ele é nosso avô ontem de tarde. Pareciam que passaram anos juntos, como ele sendo avô e ela uma neta que senta em seu colo esperando uma história, ao mesmo tempo tomando uma enorme caneca de chocolate quente no inverno.

-Agora mesmo – respondeu Angus, feliz por ver que estava conseguindo fazer com que Joana se esquecesse dos acontecimentos de ontem. – A menos que James tenha mais alguma coisa a dizer.

-Não – eu disse imediatamente quando os dois se voltaram para mim. – Só quero que me dê uma carona até casa de Victória, combinei com ela de passar lá hoje.

-Claro – disse Angus.

Saímos do escritório, com Angus trancando a porta, não queria que ninguém entrasse ali. Havia muitas coisas confidenciais e de extrema importância.

O carro de Angus nunca foi um dos melhores, mas, cansado como eu estava, parecia estar ótimo quando entrei e me sentei no banco macio. Abri a janela e deixei que o vento batesse em meu rosto a viagem inteira.

Ninguém dizia uma palavra, eu sabia o porquê de Angus estar agindo daquela maneira. Ele estava triste com o que tinha acontecido. Quem não estaria? Perder a própria filha, esse dia era um que ele nunca deve ter pensado que iria chegar.

Joana estava quieta no banco de trás, mas eu a sentia chutar minhas cotas a cada minuto que passava. Era sua agitação, ela sempre fez isso, não importa o que estiver acontecendo, se ela estava agitada, não conseguia ficar parada.

Olhei para trás com um olhar ameaçador e me deparei com ela sorrindo.

-Você nunca se cansa? – perguntei, mas ela não disse nada.

Aos poucos, a enorme casa de Victória foi aparecendo, em meio às estreitas ruas da cidade. Não sei se ela estaria ali, mas minha única alternativa era sair do carro e apertar a campainha. Pensava que a mãe dela, que não pareceu gostar de mim desde a primeira vez que nos vimos, poderia abrir a porta, mas, ao invés disso, foi Victória.

-James – disse ela. – Bom dia.

-Bom dia – eu disse. Em seguida fiz um sinal para Angus ver que estava tudo bem. O carro seguiu para a área comercial da cidade, desaparecendo no asfalto.

-Entre – disse Victória, dando espaço para que eu adentrasse em sua casa.

Estava escura, um pouco diferente da última vez, mas ainda continuava seno uma imensa casa para apenas três pessoas morarem, o que ela detestava.

-Pensei que não vinha mais – disse ela se sentando na sala.

-Tive que ter uma conversa com Angus logo após o café da manhã – expliquei. – Jorge foi para a escola hoje?

-Acho que sim – Victória pareceu hesitar por um momento. – Não contamos nada sobre o que aconteceu para nossos pais. Só estou aqui porque fingi ter uma dor de cabeça muito forte e minha mãe resolveu me deixar faltar.

Ficamos sem falar por um tempo, não tínhamos muito assunto. Eu passaria na casa de Victória para buscá-la para o treinamento, mas teríamos de esperar que Jorge voltasse da escola para treinarmos.

Era bom ficar perto de Victória, ela parecia fazer com que as coisas se acalmassem e que tudo voltava a ser como antes. Sem monstros para termos de enfrentar e bruxas para caçar, mas essa não era a realidade, tínhamos que treinar para que tudo voltasse ao normal, ainda havia muita coisa a fazer.

-O que acha de esperarmos Jorge na porta da escola? – perguntou Victória.

-Talvez – eu disse. – Acho que as pessoas da escola não iriam gostar de nos ver sendo que não fomos à aula hoje.

-Não vai acontecer nada – disse ela sorrindo.

-Tudo bem então – concordei, mas tinha um pressentimento de algo poderia acontecer.

Saímos da casa de Victória e seguimos em direção á escola. Ela morava perto, mas, cansado do modo como eu estava, tudo parecia ser longe. Victória também estava cansada, me disse que não havia conseguido dormir a noite, mas tínhamos que chegar até lá.

Chegamos e tudo parecia estar calmo, mas a porta da entrada da escola era de metal, impossibilitando que qualquer um visse o que estava acontecendo lá dentro. Era cercada por uma grande grade também de metal para a total segurança dos alunos.

Sentamos perto de uma árvore, o dia parecia estar esquentando, o que me fez tirar a jaqueta. A escola era grande, mas, de onde estávamos, era possível enxergar toda a sua fachada. Fazia poucos minutos que estávamos ali, justamente quando algo aconteceu, diversos alunos saíram correndo, menos um, Jorge. O que poderia estar acontecendo?

-O que foi isso? – perguntou Victória querendo entender o que estava acontecendo, mas, naquele momento, só havia uma maneira de descobrirmos.

-Temos que entrar – eu disse, mas Victória era contra essa ideia. – Ou você vai junto ou fica aí sozinha.

-Vou com você – disse ela, perdendo o medo de enfrentar o que fosse que estivesse lá dentro.

Corremos um ao lado do outro. Passávamos por diversas pessoas o mais rápido possível, mas nada indicava que chegaríamos a tempo.

-Acho melhor procurarmos de onde os alunos vieram – eu disse, mas Victória me cutucava freneticamente. – O que foi? – perguntei.

-Já encontrei o motivo de todo aquele caos – respondeu ela, me virando para a criatura.

-James – disse ele a me ver. – Eu estava aqui conversando com seu amiguinho quando todas aquelas pessoas correram. Acho melhor eles ficarem calmos.

-O que você quer? – perguntei. Ainda era impossível distinguir quem estava falando, pois usava um capuz, deixando seu rosto nas sombras.

-O dia está chegando – disse ele. – Estamos de olho em vocês. Nada passará por nós enquanto uma criatura sombria ainda restará. Pouco a pouco vocês serão destruídos.

-Quem é você? – perguntou Victória.

-Seu pior pesadelo – disse ele. – Muitos não gostam de pronunciar meu nome, mas vou dizer. A cada vez que ele é pronunciado uma coisa ruim acontece. Eu sou o diabo.

Uma grande gargalhada saiu de sua boca, fazendo com que todas as portas das salas fossem arrancadas. Teríamos de lutar. Era isso ou morreríamos.

-James – chamou Jorge. Estava sentado em um canto no chão, encostado com uma parede. Seu rosto ensanguentado – Ajude-me.

Eu tinha que fazer alguma coisa. Se eu não fizesse ele mataria Jorge, era tudo o que ele queria, juntos nós conseguíamos destruir as bruxas, mas, separados, ficávamos mais fracos. Ele podia nos vigiar a mando das bruxas com os pactos feitos dentro da Floresta Sombria, mas a força dos seres da Floresta Encantada sempre se sobressaiu a deles.

-Não o machuque – eu disse, aproximando-me lentamente em sua direção.

-E o que você vai fazer James? – perguntou ele. – Se eu posso matá-lo, posso te matar também.

Era uma ameaça. Eu não sabia o que fazer. Estávamos encurralados e nada que fizéssemos naquele momento ajudaria. O que mais me desanimava era a maneira como Jorge olhava freneticamente para mim e para Victória, pedindo ajuda. Ele não queria morrer, nenhum de nós queria, mas, naquele momento, não parecia haver outra alternativa a não ser a própria morte. E eu teria de enfrentá-la, ou tudo estaria acabado.

Penso em todas as pessoas que moram nessa cidade, ou até mesmo nos limites da floresta. Penso em minha mãe, morta por eles, ela merecia viver, assim como todos nós.

-Não vai nos matar – eu disse, mas ele não me dava atenção.

A passos quase que imperceptíveis eu me aproximava. Uma densa névoa escura tomava conta do corredor, onde antes era o porto de encontro dos alunos entre as aulas. Jorge havia desaparecido em meio à fumaça. Olhei rapidamente para trás e também não vi Victória. Onde ela estaria? Não sei, mas não importava desde que ela estivesse em segurança. Era apenas eu e ele. Apenas um poderia sobreviver, mesmo que eu sobrevivesse, ele ainda poderia se sobressair. Não sei como se mata o diabo, só sei que precisava de ajuda, ou tudo estaria acabado, antes mesmo de eu perceber que o fim estava próximo.



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