As Bruxas De Tonderville- A Maldição escrita por Yan Bertone


Capítulo 25
Treinamento




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/270816/chapter/25

Logo após vestirmos os uniformes e recebermos as armas, entramos em campo. Era o mesmo local descampado que havíamos visto antes. Tínhamos passado pela pequena porta de madeira na sala de Vilma, a qual agora apenas nos observava pela janela.

Não havia ninguém, o que nos fez esperar até alguma pessoa da guarda da Floresta Encantada aparecer, mas parecia que ninguém viria.

-O que vamos fazer? – perguntou Victória. Estávamos cansados, pois o sol estava forte e vinha direto na gente.

-Temos que esperar – eu disse. – Tenho certeza de que alguém vai vir até nós.

Olhei em volta. Parecia que o que eu tinha dito não fazia o menor sentido. Estávamos sozinhos em meio à floresta. O que faríamos? Só nos restava esperar. A velha casa que, por fora, parecia conter um estilo medieval, mas por dentro era completamente equipada estava com apenas uma das luzes acesa.

A iluminação vinha da pequena janela de madeira. Clareando tudo próximo a ela até mesmo do lado de fora, apesar de ser inútil a iluminação debaixo do sol escaldante.

-Acho que vi alguma coisa – disse Victória depois de um tempo que estávamos esperando. Olhei para ela e vi que apontava para frente, em direção ao local onde ficavam as construções da Floresta Encantada.

-Deve ser alguém vindo – eu disse. – Acho que eles não vão nos dar treinamento algum hoje.

A copa das árvores mexia e folhas caiam em pequena quantidade no chão quando tudo isso acontecia. Alguém estava vindo.

-Desculpem-me a demora – disse Dave com um tom de cansaço. Enquanto falava, se aproximava de nós dois, que levantamos rapidamente. – O treinamento de vocês depende de uma poção que Marta preparou. Ela se atrasou o que fez com que vocês esperassem.

-Não tem problema – disse Victória. – Mas acho melhor começarmos a treinar antes que escureça.

-Certo – disse Dave como se não entendesse muito que ela dizia. Talvez, por Victória ter dito rápido demais, ou porque ele parecesse cansado para prestar atenção a qualquer coisa ao seu redor.

Ele abriu o pote que tinha nas mãos, com um pó que tinha uma coloração escura. Parecido com pólvora, mas certamente o efeito era completamente diferente. – Afastem-se.

Demos um passo para trás como ele mandou, nos afastando do pote que Dave mantinha entre suas mãos. Ele soltou a tampa do pote, e levantou-o, mas ainda o tinha na mão. O sol que bateu nele fez com que tudo se soltasse. Era magia, feita unicamente por Marta, a bruxa mais poderosa que já conheci.

O pó se dissolveu e desapareceu. Primeiramente achei que não ocorreria nada de muito interessante, mas, depois de observar melhor, ele não havia desaparecido, mas se unificado em apenas um local.

-Esse pó foi feito para o treinamento de todos da guarda – disse Dave. – Ele faz com que seus piores pesadelos e inimigos se tornem realidade. Vocês têm que detê-lo, mas aviso, ele é rápido demais.

Dave se afastou. Indo em direção a grande quantidade de árvores que formavam parte da Floresta Encantada. Ele era a pessoa mais idosa da guarda, mas apenas cuidava de assuntos como esse com a ajuda de outros moradores locais.

Ficamos somente eu e Victória na vasta clareira. Nada aconteceu de repente, estávamos em completo silêncio. Tudo estava normal, o pó não estava mais no local de antes, havia desaparecido.

-Acha que vai acontecer alguma coisa? – perguntou Victória desaminada por nada ter acontecido.

Nem mesmo consegui responder, pois o pó voltou dessa vez, descendo até encostar-se ao chão, mas subindo novamente formando o formato de uma pessoa que não era possível descrever até que ficasse mais nítido.

-Minha nossa – disse Victória.

-Quem é ele? – perguntei olhando para um homem com o rosto completamente desfigurado e que tinha uma cicatriz no pescoço, como se tivesse costurado depois de ter sido quase arrancado.

-Não sei qual é o nome – disse Victória. – Eu nunca soube, mas eu sempre tinha o mesmo sonho em noites de tempestade quando era pequena. Ele vinha caminhando por uma rua escura até que me via. Nesse momento ele tentava me pegar, para matar rapidamente, mas eu nunca via o que acontecia logo após isso, pois acordava assustada e em prantos.

-Acho melhor lutarmos contra ele – eu disse.

-Não – disse ela quase que me interrompendo. – Sou eu quem vai lutar contra ele, é bom que terei minha vingança.

Ela sacou as adagas, deixando uma em cada mão. Aquela coisa não poderia nos machucar, pensei, afinal de contas, era apenas um treinamento.

Victória andava calmamente na direção dele, fazendo com que o homem também viesse em nossa direção. Em segundos a noite caiu rápida demais para falar a verdade. O que estaria acontecendo? Tudo estava escuro ao redor e nenhuma árvore podia ser vista. Pisquei o olho e quando abri prédios abandonados faziam um beco sujo e estreito em meio ao nada.

Os dois continuavam andando, como se nada estivesse acontecendo. Era como o sonho de Victória, o pó se transformara em seu maior pesadelo.

Ela olhou para trás rapidamente, vendo se eu continuava ali. Para onde eu iria? Não sabia qual seriam as consequências em sair em meio ao treinamento e nem mesmo sei se eu estaria na Floresta Encantada ao sair de lá.

Olhei para Victória, estava acompanhando tudo de longe, fazendo com que ela ficasse mais segura consigo mesma. Ela parou, mas o homem continuou andando, ela recuou, mas ele não parou. O pesadelo estava se formando ali mesmo, mas, dessa vez, ela não acordaria em sua cama em meio ao quarto, protegida de uma trovoada, ela tinha que conseguir.

Eles correram para o final do beco. O homem desconhecido atrás de Victória que não parou em ver a que a suja e pichada parede de tijolos estava cada vez mais próxima a seu corpo. Acelerou o passo, mas não se encontrou com a parede do beco, que se transformou em uma rua deserta e mal iluminada.

-Vou te pegar – dizia a criatura e corria mais rápido do que antes.

Victória corria aos prantos, as adagas ainda em sua mão. Ela parecia estar horrorizada com tudo aquilo, foi nesse momento que parou.

-Você vai me pegar? –perguntou ela com um sorriso no rosto, mas mantinha um tom sério na voz. – Durante anos você me perturbou com todos esses gritos e perseguições. Chega. Está na hora de você ser pego por mim.

Ele parou, mas continuava olhando fixamente para ela. Victória andava em sua direção com uma adaga em cada mão. Parecia feroz e que nada poderia impedi-la naquele momento, mas foi no instante seguinte em que ela também parou.

-O que foi? – perguntei, interrompendo pela primeira vez o treinamento dela.

-Não sei se posso fazer isso – disse Victória.

-Não é real – eu disse e isso pareceu animá-la novamente.

-Tem razão – disse. – Não vou ferir ninguém já que ele não existe.

Cada passo que Victória dava, parecia estar mais decidida que iria acabar de uma vez por todas com aquilo. O homem continuava parado, sem nem mesmo piscar, esperando que ela chegasse cada vez mais perto.

Ela nesse momento começou a correr, as adagas à frente na altura de seus ombros. O homem era mais alto e por isso o acertaria no peito.

Ela correu, mas parou exatamente bem a sua frente. Ele não fez nada, era como se estivessem se olhando no espelho, apesar das duas pessoas serem completamente diferentes.

Victória desferiu o primeiro golpe, mas o homem não ficou parado como antes. Ele se abaixou e a agarrou pela perna, fazendo com que caísse no chão imediatamente.

-Victória – eu disse, correndo para ajuda-la. Ela não o machucaria verdadeiramente, mas ele poderia machuca-la a qualquer instante.

-Não se aproxime – disse ela. Saindo de baixo do homem. Tinha apenas uma adaga na mão esquerda e parecia mais furiosa do que antes. – Posso cuidar dele sozinha.

O homem se levantou, tinha a outra adaga em uma de suas mãos. Aproximava-se rapidamente de Victória, apontando a faca na direção de seu pescoço. Ela lhe deu um chute que o fez cair, mas a adaga não foi parar no chão e sim fincada em sua perna.

-Minha nossa! – disse Victória, mas o homem continuava andando. – Como isso é possível.

Ele não era real, o que fazia com que ele pudesse realizar coisas impossíveis e irreais.

-Já chega – disse Victória. Ela correu na direção do homem e cortou sua cabeça, desta vez inteiramente e ele desapareceu no ar, junto com todo o cenário ao redor.

-Você está bem? – perguntei. Logo após termos voltado à tranquilidade em meio à Floresta Encantada. O sol estava se pondo e Dave estava de volta à clareira.

-Estou – disse Victória, sendo praticamente interrompida por Dave.

-Muito bem – disse ele. – É uma pena que não podemos treinar mais por hoje. Já vai anoitecer e de noite não é muito aconselhável para se andar de noite. Tem criaturas mais selvagens e que podem atacar qualquer um, apesar de não lembraram que fizeram isso.

Assim, o treinamento acabou, mas ainda tínhamos muito que passar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Bruxas De Tonderville- A Maldição" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.