Até Amanhã. escrita por sofia


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

5 reviews c:
Obrigado, todos que estão lendo, isso significa muito c:
Espero que gostem (;



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O sorriso branco dele refletia a lua. Seu cabelo loiro contrastava perfeitamente com seus olhos castanhos. Antes que pudesse dizer algo inteligente, legal e sexy, comecei a tossir.

Eu acho que tossir não é sexy.

Mas a minha sobrevivência importava mais agora. Ou não.

-Você está bem? – perguntou ele.

Claro que sim. Eu só acabei de quase ser morta pela minha própria irmã em um dos meus pesadelos reais.

Mas ao invés de ser grossa, eu apenas sorri.

-Que bom. Você não sabe nadar não é? Algum dia eu posso te ensinar. – disse ele, rindo.

Hilário.

Acabei de descobrir que por dentro esse garoto não era nada bonito.

Aí eu me lembrei de que ele tinha acabado de salvar a minha vida.

-Sei. – disse, com um fiapo de voz.

-Mas você estava se afogando – disse ele, franzindo o cenho.

Não, minha irmã morta estava me afogando. É diferente.

Sorri, sem resposta.

-AH, me desculpe. Nem me apresentei. Lucas – disse, ele com aquele sorriso encantador. AHH.

-Lola – sussurrei.

-Oi Lola – ele brincou.

É, talvez ele não fosse tão ruim assim.

Eu dei uma risada tímida.

-Onde você mora? – Silêncio.

Ele podia ser um maluco disfarçado. Mais silêncio. Depois de tudo que passei, nada mais era impossível.        

Ele franziu o cenho e logo entendeu que eu não o responderia assim tão cedo.

-Então vá para casa. – disse ele – você não está em perfeitas condições.

Me derreti.

Um garoto. Bonito. Desconhecido. Se preocupando comigo.

Eu não sabia se entrava em pânico ou simplesmente agarrava ele como se fosse meu.

Mas num momento, eu tinha coisas mais importantes para me preocupar. Como a minha irmã. Ela tinha morrido? Minha respiração começou a falhar.

Meu primeiro instinto foi correr. Correr dos meus problemas, correr daquele garoto, correr da morte.

Mas então eu lembrei que tudo começou quando eu tropecei, correndo. E eu parei.

O garoto me encarava. Como se eu fosse uma doente mental. Talvez eu fosse.

Sorri para ele, timidamente.

-Obrigado por salvar minha vida. – disse tão baixo que nem sei como ele ouviu. Mas ele sorriu de volta.

Não se era o fato de eu ter quase morrido, mas a minha casa parecia mais distante agora.

A porta estava semiaberta, como eu havia deixado. Empurrei-a lentamente. Ela rangeu.

-Pai? – sussurrei. Ele estava dormindo.

Fui andando pé anti pé até o banheiro do meu quarto, e lá me tranquei.

Lavei o rosto e cuidei de meus ferimentos. É, aquilo não tinha sido um sonho. Ou um pesadelo. Mas a gota. O sangue. O garoto. Só faltava ele aparecer na minha frente para eu acreditar realmente que tudo aquilo era real.

Algumas gotas de sangue escorriam pelo box do banheiro enquanto eu lavava minha perna e meu braço. Aquilo me perseguia.

E o pior de tudo é que eu ainda não havia encontrado Cassy.

Algumas lágrimas que corriam pelo meu rosto. Eu as contive.

Meu quarto estava vazio, assim como a cama em que Cassy dormia. Olhei pela janela. Nenhum sinal.

Eu poderia me desesperar pela minha irmã desaparecida, mas eu sabia que ela estava bem. E eu tinha Lucke. Cassy prometera a mim que ela ficaria bem, e caso estivesse em perigo, Lucke me avisaria.

Isso pode soar ridículo, de confiar em um amigo imaginário da minha irmã, mas depois de tudo que vivi hoje, aquilo parecia fazer sentido.

Assim, eu olhei para Lucas entrando na sua casa, enquanto a lua grande e gorda brilhava. Apaguei a luz e me deitei na cama, e por um segundo, apenas, eu me esqueci de todos os meus problemas.

Fui acordada pela luz do Sol na minha cara. Iria lembrar de fechar a janela hoje. Janela.

Lucas. Lago. Cassy.

E todos os meus problemas voltaram a minha mente. Mas antes que pudesse entrar em pânico novamente, percebi que a luz do banheiro estava acessa.

Cassy.

Sentada no chão do banheiro. Ela sorriu timidamente para mim. Agarrei-a com todas as minhas forças. Ela não havia morrido.

Cassy me olhou como se estivesse perguntando algo.

Então era como se aquilo tudo nunca tivesse acontecido?

Não importava. Cassy estava ali comigo.

-Oi Lucke. – sussurrou Cassy.

-Oi Lucke. – sussurrei para o nada, esperando que Lucke estivesse ali.

Cassy riu.

-Lucke disse que você se lembrou dele ontem. Da promessa. Enquanto eu não estava. – disse Cassy.

-E onde você estava, mocinha?

Cassy riu, de cabeça baixa.

Antes que ela pudesse responder, meu pai abriu a porta do banheiro, enquanto batia.

-Aí está você! Você saiu ontem à noite? Eu ouvi alguns passos, mas eu pensei que podia ser Nutella e...

-Foi Nutella – menti, sorrindo.

-AH. Vamos tomar café? – ele sorriu.

Me levantei lentamente enquanto Cassy sussurrava algo com Lucke.

Peguei minhas pantufas e desci as escadas, acompanhada por meu pai e Nutella.

A escada estava macia, provavelmente por causa das pantufas.

Tomei meu café, lentamente, enquanto observa Cassy conversar animadamente com Lucke.

-Você sente falta dela, não é? – disse meu pai, me desviando de meus pensamentos.

Assenti. Mas eu não queria falar sobre isso.

-Você também. Que tal botar um balanço no jardim agora? Para se lembrar dela? – Meu pai sorriu.

Mas ele não me respondeu.

Mas eu sei que ele também sentia falta dela. Assim como Cassy e todos nós.

Mudei de assunto, indo sentar no sofá com Lucke e Cassie.

Mamãe sempre chamou Cassy de Cassie, mas meu pai sempre preferiu Cassy, e eu acabei me acostumando.

Cassy me olhou, pensativa.

-Lucke disse que te viu ontem.

-É. Eu também vi ele. – disse. Nós já havíamos falado sobre isso ontem, não?

-No jardim. Enquanto eu estava... Ocupada. – disse Cassy, escondendo um riso.

-Onde você estava, mocinha? – repeti. Agora ela iria me responder.

Cassy riu.

-Resolvendo problemas. Você sabe.

Não, eu não sei. AH. Talvez problemas como não matar sua própria irmã afogada. Então aquilo foi real.

Antes que eu pudesse responder, algo bateu na janela.

Depois de tudo que passei, a minha primeira reação foi correr, com Cassy em meus braços.

Mas era só Lucas. Me matando de susto.

-É assim que me agradece por salvar sua vida? – disse ele.

-SH. – disse, fazendo um sinal para calar a boca. Meu pai não podia saber que minha irmã havia quase me matado na noite anterior.

Ele me olhou, questionando.

Fiz um rápido sinal para que Cassie voltasse para casa.

-Eu já te agradeci. – rugi. Aquele garoto estava me irritando.

Ele franziu o cenho.

-O que você quer? – fui grossa. – Não precisa responder.

Não queria que ele desse uma resposta romântica e melosa do tipo “você”.

Ele abaixou a cabeça.

-Onde você mora? – perguntei, me sentindo mal por ter sido tão grossa. Afinal, ele tinha realmente salvado minha vida. Mas logo me arrependi de ter perguntado.

-Mas perto do que você imagina. – disse ele, dando uma risada tímida.

Hilário.

O encarei.

-Você não vai me dizer assim tão cedo, não é?

Ele riu. Eu entendi isso como um sim.

Um silêncio profundo instalou-se entre nós.

-Hmm. Mas, o enfim, o que você quer? Em troca da minha vida? – ele riu.

-Que tal se você me pagasse um lanche?

Uma vida por um lanche. Que legal.

Olhei para ele durante alguns segundos para ver se ele estava falando realmente sério.

E ele estava.

-Aonde? – respirei fundo.

Ele me puxou pela minha mão e começamos a correr.

Aquele garoto ainda não aprendera que eu não gosto de correr?

O vento começou a bater na minha cara, mas era uma sensação boa. Então eu ignorei o fato de que da última vez que eu corri, eu quase morri, e comecei a pensar nas coisas boas.

Do tipo que eu estava saindo com um garoto. Eu estava saindo com alguém. Algum amigo.

Meus pensamentos foram interrompidos quando nós paramos em um matagal completamente baldio.

-Que lanchonete legal. Você vem sempre aqui? – ironizei.

Ele riu. E me empurrou morro abaixo. Legal.

Não,ele não estava tentando me matar,pois o morro era pequeno e era só grama para todos os lados.

E antes de cair eu puxei o pé dele junto

Antes que pudesse falar algo superinteligente do tipo “Ai”, eu comecei a rir freneticamente, como ele, enquanto o sol se punha lentamente.

-MUUU. – brinquei, quando consegui parar de rir. Rimos mais ainda.

É, talvez o Lucas (vulgo) bonitinho (vulgo) idiota não fosse não idiota assim. Ou talvez fosse.

-Vamos logo. – disse ainda rindo um pouco. – não posso deixar minha irmã sozinha em casa por muito tempo e...

-Irmã? Você tem uma irmã? – qual era o meu problema em tocar naquele assunto?

-Tenho. – disse, com a voz seca.

-Quantos anos ela... – o encarei, não o deixando terminar a frase.

Ele entendeu e logo mudou de assunto.

-Viu? Já chegamos.

Ele apontou a uma lanchonete com um letreiro em letras neon, escrito “Lanchonete do Bill”, cheio de pessoas dentro, mesas coloridas e música alta.

Bem cafona, mas não era ruim.

-Bienvenida señorita. – disse Lucas, com um sotaque espanhol. Idiota.

Eu ri.

Lucas ia cumprimentado todos que via pela frente, e eu fingia conhecer alguém.

Sentamos em uma das mesas coloridas. Aquilo me lembrava uma mistura de um cassino de Las Vegas e uma creche bem colorida, com arco-íris e unicórnios.

-O de sempre. – sorriu lucas para a garçonete.

Eu olhei para ele, sem saber o que dizer.

Peguei o menu e olhei em busca de algo que pudesse gostar. Ou entender.

Estava tudo em alemão. Que legal.

-Ela vai querer o que o Bruno sempre pede. – Lucas salvou minha pele.

-Quem é Bruno? O que ele sempre pede? E porque está tudo em alemão? – sussurrei para lucas depois que a garçonete com os patinetes havia ido embora.

-Relaxa. – disse ele, rindo – O Bruno sempre pede papas fritas, um cheeseburger e uma água. AH, essa era um restaurante chiquérrimo alemão, que faliu, e eles transformaram nisso aqui. – ele fez um movimento com os braços – e o orçamento não estava tão bom para trocar o cardápio. Ou eles só ficaram com preguiça. – Lucas deu de ombros.

Eu ri.

A garçonete de patinetes trouxe nosso pedido.

Abri a caixa com o meu cheeseburger. É, era apetitoso. Tinha algo branco no pão, que não era gergelim, mas a fome falou mais alto.

-Hm, mas e aí, me fale sobre você.

Lucas me olhou. Ele estava muito concentrado na comida para responder.

-Lucas. – falei, e ele olhou para mim com uma cara de “porque você me interrompeu?”.

-AH. Falar sobre mim? Eu sou um cara de muitos segredos.

Idiota.

Eu o encarei.

-Que tal se eu for te contando pouco a pouco?

-Como? – perguntei. Aonde ele queria chegar?

-Todo dia. Um bilhete em frente a sua porta. – ele sorriu.

A ideia parecia um pouco ridícula, mas concordei, educadamente. Afinal, ele havia salvado a minha vida. Mas agora a dívida já havia sido paga.

-Quanto tenho que pagar? – disse, rindo, da troca absurda.

Ele me deu um papel com a quantia.

Fomos até o caixa, e eu paguei minha dívida. Pronto.

-Agora eu não te devo nada pela minha vida. – disse, sorrindo.

Ele riu.

Já estava escuro. Fomos caminhando lentamente até o lago. O lago onde tudo havia acontecido.

- E então... – disse, me balançando para frente e para trás, nervosa.

Ele se aproximou.

Comecei a entrar em pânico.

Mas ele só sussurrou.

-Cuidado para não se afogar de novo.

Eu ri, enquanto observava ele andar até uma casa um pouco velha, mas em bom estado.

Havia algumas palmeiras na entrada, e um extenso gramado. Ele entrou, e eu corri até a minha casa, onde Cassy me esperava na porta.

-HM. Eu estou vendo. Você e ele.

-Cassy! – disse, empurrando-a, de leve, enquanto ria escandalosamente.

Entramos, e eu me joguei no sofá, enquanto Cassie sentava no colo de Lucke, e eles sussurravam um com o outro.

Antes que pudesse reclamar com Cassy, meu pai foi se sentar ao meu lado.

-Onde você estava? – ele me encarou.

-Numa lanchonete. Com uma amiga. – menti.

-AH. – disse ele, rapidamente ligando a TV.

Achei que ele perguntaria “Que Amiga?” porque sim, eu sou tão antissocial a essa ponto. Mas isso não importa.

Subi as escadas lentamente, acompanhada por Cassy e Lucke.

Quando percebi, a lua já estava ali, grande, brilhante e gorda como sempre. Sorri para Cassy, que retribuiu, e apaguei a luz.

E a última coisa em que pensei foi em Lucas.


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Notas finais do capítulo

Reviews? c:



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