Capítulo I

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– Aquela é… - Kakashi observou com o seu único olho exposto a menina que passou por ele e Gai, cabisbaixa.

– Sim, é a garota que o Itachi deixou para trás. – Gai suspirou e seu olhar também acompanhou a menina de longos cabelos castanhos. – Eu pensei que ele a amava. Mas parece que isso não foi o suficiente para ele não fazer aquilo.

E quando Gai dizia aquilo, ele se referia a chacina que Itachi havia provocado no seu próprio clã, deixando que apenas seu irmão mais novo sobrevivesse.

– Aquele Itachi... – Kakashi resmungou. Não entendia nenhum pouco os motivos do seu kohai ter feito uma coisa daquelas. E parece que ele não era o único a não entender. Ninguém na vila compreendia por que o gênio do clã Uchiha havia se rebelado e matado a todos, até mesmo os seus familiares.

Suspirou, de qualquer forma, aquilo não lhe dizia respeito.

– Hein Kakashi! – O assunto sobre Itachi já esquecido por Gai. – Vamos ter mais uma disputa, meu eterno rival?! – E o fogo da juventude queimava dentro da besta verde de Konoha.

– Are, are... – Kakashi suspirou mais uma vez. Não estava no clima para ter mais uma daqueles disputas estranhas propostas por Gai. – Acho que eu vou deixar para uma próxima...

– Mas...! KAKASHI! – E Gai se agarrou as vestes do grisalho. – Você está no auge da sua primavera da juventude! Não se tem vinte anos para sempre!

– Hai, hai. – Kakashi concordou e começou a soltar a sua roupa das mãos de Gai. – E é por não ter essa idade duas vezes que eu estou indo embora. – Ja ne! – E sumiu numa nuvem de fumaça.

– ISSO NÃO É JUSTO! – E Gai começou a chorar.

Não muito longe dali, da copa de uma árvore, Kakashi observava o surto que Gai dava. Suspirou pela milésima vez naquele dia, que cada vez continuava mais deprimente.

Qual era o problema de Gai? Por que aquele sobrancelhudo continuava a insistir naquelas disputas bizarras? Kakashi já havia jogado jo-ken-pô por toda uma vida. Bem, mas quando aquele idiota colocava algo na cabeça, nem mesmo um genjutsu lhe tiraria aquela ideia da mente.

Na verdade... Kakashi nunca havia pensando em usar um genjutsu em Gai antes. Sorriu por debaixo da máscara com a possibilidade. Talvez assim, finalmente ele poderia se livrar daquelas disputas sem pé nem cabeça.

Kakashi estava distraído pensando em que tipo de genjutsu usaria em Gai, e como o usaria, e por isso não percebeu a aproximação de uma pessoa, que saltava de árvore em árvore.

– ABUNAI! CUIDADO! – Foi o que Kakashi escutou antes de sentir o seu corpo receber um forte impacto e a gravidade fazer o seu trabalho, o levando, junto com o que o havia atingido de encontro ao chão.

Estatelado no chão, com um galo na cabeça e com um peso sobre o peito, Kakashi piscou, sem conseguir acreditar no que havia acontecido.

– Mas o que...? – Ele soergueu a cabeça confuso, e mais confuso ainda ficou ao ver que o objeto não identificado que o havia atingido era a menina que ele havia visto acabar de passar. Ela tinha a cabeça pousada no seu peito e parecia tão confusa quanto ele. Os grandes e bonitos olhos verdes estavam abertos em choque.

– G-Gomen? – Disse incerta.

– “Gomen”? – Kakashi repetiu e riu. Mas que situação bizarra era aquela? – Antes de pedir desculpas, será que poderia me contar o porquê de ter me atropelado?!

– Ah! – Ela corou e se ergueu do peito de Kakashi, saindo se cima dele. – E-Eu... – Gaguejou, nervosa. Ela havia caído em cima de um ninja ANBU, um senpai seu. – Eu estava perseguindo uma ave... – Desviou o olhar.

– Ave? – Kakashi não havia visto nenhuma ave. – Que tipo de ave?

– Uma coruja... – Ela ainda não o encarava.

– E por que raios você estaria perseguindo uma coruja? Ainda mais de dia?

– Por que ela é o meu kuchiyose, mas se recusa a me obedecer. – Suspirou e ficou mais vermelha. Lhe doía admitir esse tipo de coisa.

– Como assim o seu kuchiyose não lhe obedece?

– Eu lhe responderia se soubesse... – Jun suspirou e se pôs de pé, batendo o pó da roupa. – Bem, mais uma vez, me desculpe por ter lhe ‘atropelado’, agora eu vou voltar a procurar a Kin...

– Kin? – Kakashi também se pôs de pé. – Esse seria o nome da sua coruja?

– Aham. – Jun concordou e suspirou. Não fazia a mínima ideia da onde aquela desgraçada poderia ter se enfiado.

– Um bonito nome.

– Sim, e ele combina com os olhos dela... – Jun sorriu ao se lembrar da sua coruja, que embora, travessa, era linda. O nome ‘Kin’, que significa ouro, fazia jus aos olhos dourados dela. – Agora só me perguntou aonde ela se enfiou... – Murmurou para si mesma.

– Você teria alguma pena dela, ou algo do tipo...? Eu sou um ninja rastreador. – Kakashi deu de ombros. Afinal, não estava fazendo nada mesmo. – Posso lhe ajudar, se quiser.

– Você pode?! – A menina perguntou esperançosa, os olhos verdes dobrando de tamanho.

– Claro que posso. – O grisalho sorriu por debaixo da máscara e fez alguns selos. – Kuchiyose no jutsu!

Um pequeno pug surgiu no chão.

– Kakashi? – O pequeno pug falou. – Para que me chamou? Eu pensei que você não ia sair em missão pelo resto dessa semana... – Disse o pequeno cão e bocejou. Kakashi havia interrompido o seu cochilo da tarde.

– Ah Pakkun... – Kakashi se abaixou e pegou o cão no colo. – Não seja mal-educado e ranzinza. Você é só um filhote, deveria ser amável e fofinho.

– Own! – Jun não estava aguentando em si. Aquele pug era a coisinha mais fofa e apertável do mundo, ainda mais por ser um filhote.

– Mas o que temos aqui... – Pakkun se voltou para a jovem. – Por acaso o Kakashi me invocou para tentar seduzir-lhe? Fazer com que você caia de amores por mim, um lindo e fofo filhote, para em seguida cair de amores pelo dono, não tão bonito, desse filhote?

Jun riu.

– Acho que não... – E se adiantou, afagando a pequena cabeça do cão.

– Oh... Mas para esquerda! – Pakkun pediu e Jun riu novamente. – Se você não a está tentando seduzir, Kakashi, eu o farei.

– Ok, ok, chega! – Kakashi cortou o papo furado do seu cão. – Eu te invoquei aqui pois preciso da sua ajuda.

– Minha ajuda? – Pakkun perguntou distraído enquanto ainda recebia carinhos de Jun.

– Sim. A coruja dela sumiu, e eu preciso de você para rastreá-la. – Explicou. – Eu sei que você ainda é meio novo nisso, mas acho que você dá conta, não dá?

– Mas é claro que dou! Farei tudo por esses lindos olhos verdes.

E Jun riu novamente. Aquele cão era realmente muito fofo e engraçado.

– E a pena? – Kakashi pediu.

– Ah... – Jun parou de fazer carinho em Pakkun para procurar a pena de Kin nas suas vestes. – Aqui está... – Ela estendeu uma longa e cinzenta pena.

- Ok. – Kakashi recebeu a pena e pôs Pakkun no chão. – Hora de mostrar serviço, Pakkun!

- Yosh! – Pakkun farejou algumas vezes a pena, e logo ele havia encontrado o rastro do cheiro. – Me sigam! – Pediu e pulou para uma árvore a leste, seguindo nessa direção. – A fonte do cheiro não está muito longe minna.

Continua...