As Crônicas De Um Ninja-Mago De Fibra escrita por The Amazing Spider Green


Capítulo 3
O Tocha-humana não é um herói tão legal agora


Notas iniciais do capítulo

Foi mal a demora, mas é que eu estive muito ocupado com trabalhos escolares, e ainda tinha que tentar atualizar minhas outras histórias, portanto, tudo o que eu tenho a dizer é: ESCOLA É UMA CHATICE!!!
Bem, vamos com o Capítulo!



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Naruto já havia ido a muitos museus nos meses em que esteve com Carter e Dr. Kane, mas nunca ao British Museum. Estava fechado e completamente escuro, mas o curador e dois seguranças esperavam por eles na escada da frente.

— Dr. Kane!

O curador era um dos sujeitos mais feios que Naruto já vira. Engordurado num terno barato. Naruto já viu múmias com mais cabelos e dentes melhores. Ele apertou a mão de Dr. Kane como se estivesse conhecendo um dos Kage.

— Seu último trabalho sobre Imhotep é brilhante! Não sei como traduziu aqueles encantamentos!

— Im-ho-quem? — cochichou Sadie ao lado de Carter, ainda segurando o braço de Naruto.

— Imhotep — esclareceu Carter. — Alto sacerdote, arquiteto. Alguns dizem que era um mago. Projetou a primeira pirâmide com degraus. Você sabe.

— Não sei — respondeu Sadie. — Não me interessa. Mas, obrigada.

Naruto revirou os olhos.

— Mas não foi você mesma que perguntou a ele o que era Imhotep?

Sadie fez uma careta emburrada, fazendo Naruto dar uma risadinha.

Dr. Kane agradeceu ao Homem-múmia por recebê-los em um feriado. Depois, pousou a mão no ombro de Carter.

— Dr. Martin, quero que conheça Carter, Sadie e Naruto.

— Ah! Seu filho, obviamente, e... — O Homem-múmia olhou hesitante para Sadie e Naruto. — E esses jovenzinhos?

— Sadie é minha filha e Naruto meu afilhado — respondeu Dr. Kane.

O rosto do Homem-múmia ficou atordoado por um instante. Naruto olhou para Carter e Sadie e os viu franzirem as testas, irritados. Ele não os culpava. Momentos em que pessoas ficavam confusas por descobrirem que eles são irmãos devem ocorrer bastante. Naruto não sabia como reagiria. E sem falar que Sadie se parecia mais com Naruto do que com Carter.

— Sim, sim, é claro. Por aqui, Dr. Kane. É uma honra recebê-lo.

Os seguranças trancaram as portas. Eles pegaram a bagagem de Naruto, Carter e Dr. Kane. Um deles estendeu a mão para a bolsa de trabalho de Dr. Kane.

— Ah, não. — Dr. Kane parecia muio tenso. — Eu levo esta aqui.

O mesmo segurança estendeu a mão para a mochila azul de Naruto.

— Nem vem, cara. Eu não confio em ninguém com as minhas coisas. Cai fora.

O segurança pareceu indignado, mas resmungou algo sobre as crianças de hoje em dia serem rebeldes e não serem como as de antigamente e se foi. Naruto deu de ombros.

Os guardas permaneceram no saguão e eles seguiram o curador até o pátio interno, que Carter disse ser chamado de Great Court (pelo menos esse nome não era muito idiota!). Parecia sombrio à noite. A luminosidade pálida do teto abaulado de vidro espalhava sombras que se cruzavam pelas paredes como uma gigantesca teia de aranha. Naruto podia ouvir os passos de todos ecoarem pelo piso de mármore.

— Então — disse Dr. Kane —, a pedra.

— Sim! — respondeu o Homem-múmia. — Mas não sei que nova informação poderá extrair dela. A morte já foi exaustivamente estudada. É nosso artefato mais famoso, é claro.

— É claro — concordou Dr. Kane. — Mas você pode se surpreender.

— O que ele está tramando agora? — cochichou Sadie.

Naruto não sabia de que pedra eles estavam falando. A menos que... Não, não podia ser. O que Dr. Kane iria querer justamente com aquela pedra?

Naruto notou que Dr. Kane ficava olhando em volta, como se esperasse que aquelas pessoas que surgiram do nada na Agulha aparecessem novamente. Mas ele não devia se preocupar. Eles estavam trancados em um museu cercado por guardas e aparato de segurança de alta tecnologia. Ninguém poderia incomodá-los ali... Pelo menos era o que Naruto esperava.

Eles viraram à esquerda na ala egípcia. As paredes eram recobertas por grandiosas estátuas de faraós e deuses, mas Dr. Kane passou por elas e caminhou diretamente para a atração principal no centro da sala.

— Linda — murmurou ele. — E não é uma réplica?

— Não, não — garantiu o Homem-múmia. — Nem sempre mantemos a pedra verdadeira em exposição, mas, para você... Esta é real.

Eles olhavam para um pedaço de rocha cinzenta com cerca de noventa centímetros de altura e sessenta de largura. Estava em um pedestal, dentro de uma cápsula de vidro. A superfície plana da pedra tinha sido entalhada com três linhas distintas de escrita. A linha superior era formada por desenhos que compunham a antiga escrita egípcia: hieróglifos. A linha do meio era demótica, um tipo de escrita do período em que os gregos controlavam o Egito, quando muitas palavras gregas se misturaram ao idioma egípcio. A última linha era em grego.

— A Pedra de Roseta — Carter confirmou seus pensamentos.

— Isso não é um programa de computador? — perguntou Sadie.

Naruto e Carter tiveram vontade de dizer quanto ela era estúpida, mas o Homem-múmia os impediu com sua risada nervosa.

— Mocinha, a Pedra de Roseta foi a chave para decifrar os hieróglifos. Foi descoberta pelo exército de Napoleão em 1799 e...

— Ah, tudo bem — interrompeu-o Sadie. — Já lembrei.

Naruto sentia o cheiro da mentira na frase de Sadie.

Por isso ele mesmo resolveu continuar.

— Sadie — começou Naruto —, até a pedra ser descoberta, nenhum retardado foi capaz de ler os hieróglifos, por séculos — sabe como é, essa escrita é meio embolada. A linguagem escrita do Egito havia sido completamente esquecida, pelas pessoas serem um montão de gente retardada que não se lembram nem mesmo da última coisa que comeram. Então um inglês chamado Thomas Young — uma das únicas pessoas menos retardadas no mundo, na minha opinião — comprovou que os três idiomas da Pedra de Roseta transmitiam a mesma mensagem, mas como ele ainda era idiota, não sabia o que significava. Um francês chamado Champollion — que com certeza não é retardado — se dedicou a esse trabalho e decifrou o código de hieróglifos.

Sadie parou de mascar o chiclete e fitava Naruto em choque, de boca aberta, e logo depois abriu um sorrisão.

— Finalmente — disse ela feliz —, alguém que fale sobre história sem me fazer querer dormir.

Carter fitou Naruto com gratidão. Naruto sempre conseguia adicionar seu humor quando falava sobre o Egito, o que o fazia ser considerado um ótimo professor, apesar de ter treze anos. Ele sabia que ele seria a única pessoa capaz de ensinar Sadie sem ela dormir.

— O que diz a mensagem? — perguntou Sadie mostrando mais interesse sobre o Egito do que Carter jamais havia visto em sua vida inteira.

Naruto deu de ombros.

— Nada importante. É, basicamente, uma carta de agradecimento de alguns sacerdotes do Rei Ptolomeu V. Quando foi entalhada, a pedra não tinha grande importância, pois, como eu disse, a maioria das pessoas é burra por não terem visto seu verdadeiro potencial. Mas, com o passar do tempo... Ao longo dos séculos, finalmente ela se tornou um símbolo poderoso. Talvez a mais importante ligação entre o Egito Antigo e o mundo moderno.

— Naruto está certo — concordou Dr. Kane. — Fui tolo por não ter percebido seu potencial antes.

Agora tanto Naruto quanto Carter e Sadie estavam confusos e, aparentemente, o Homem-múmia também.

— Dr. Kane? — perguntou ele. — Sente-se bem?

Dr. Kane respirou profundamente.

— Peço desculpas, Dr. Martin. Estava apenas... pensando alto. Será que pode remover o vidro? E se puder buscar os artigos que solicitei, que integram seus arquivos...

O Homem-múmia assentiu. Ele digitou um código em um pequeno controle remoto e a frente do vidro se abriu com um estalo.

— Vou precisar de alguns minutos para ir buscar anotações — disse o Homem-múmia. — Se fosse qualquer outra pessoa, eu hesitaria em permitir acesso restrito, mas sei que você vai ser muito cuidadoso.

Ele olhou para o Uzumaki e os irmãos Kane como se eles pudessem criar problemas.

Naruto deu um sorriso maroto.

— Nós vamos pensar no seu caso, Homem-múmia.

Sadie deu uma risadinha e concordou. E logo depois corou ao ver que ainda estava agarrada ao braço de Naruto, então o largou, e Naruto franziu a testa levemente, sentindo-se um pouco decepcionado.

Carter abanou a cabeça. Ele adorava Naruto, mas ele poderia ser tão impulsivo às vezes!

— Seremos todos muito cuidadosos — prometeu Dr. Kane. — Não é mesmo, Naruto?

Naruto franziu a testa, relutante, mas acenou com a cabeça.

— O.k. Mas só porque é você quem está pedindo, Dr. Kane.

Assim que os passos do Homem-múmia se afastaram por um corredor, Dr. Kane olhou para as crianças com uma expressão muito agitada.

— Crianças, isso é muito importante. Vocês precisam sair desta sala e ficar lá fora.

— Isso significa que algo perigoso vai acontecer. Seja o que for, eu farei! Faz tempo que não sinto adrenalina no corpo.

Sadie o olhou com uma sobrancelha arqueada, enquanto Carter deu uma risadinha. Naruto certamente era um tipo raro de pessoa.

Ele tirou do ombro a alça da bolsa de trabalho e a abriu apenas o suficiente para pegar nela uma corrente de prender bicicleta e um cadeado.

— Sigam o Dr. Martin. Vão encontrar o escritório dele no final do Grand Court, à esquerda. Só há uma entrada. Quando estiverem lá, passem esta corrente por dentro dos puxadores da maçaneta e prendam com o cadeado. Precisamos atrasá-lo.

— Quer que tranquemos o curador no escritório? — perguntou Sadie, subitamente interessada. — Brilhante!

— Claro, nos dê o material e faremos — disse Naruto dando de ombros, como se não fosse grande coisa.

— Pai, o que está acontecendo? — quis saber Carter.

— Não temos tempo para explicações — disse ele. — Esta será nossa única chance. Eles estão vindo.

— Quem está vindo? — indagou Sadie.

Dr. Kane segurou os ombros dela.

— Meu bem, eu amo você. E sinto muito... Lamento por muitas coisas, mas não temos tempo agora. Se isso der certo, prometo que farei tudo ser muito melhor para nós todos. Carter, você é meu homem valente. Naruto, seu pai com certeza estaria orgulhoso de você. Precisam confiar em mim. Lembrem-se, tranquem o Dr. Martin. Depois, fiquem longe daqui!

Carter e Sadie automaticamente saíram, mas antes que Naruto pudesse segui-los, Dr. Kane o segurou pelo ombro.

— Naruto — chamou ele, a voz preocupada.

Naruto virou-se, confuso.

— O que foi?

Dr. Kane lançou-lhe um olhar preocupado.

— Caso o que estou planejando não dê certo, eu preciso que você me prometa que, seja qual for a situação, sempre manterá a si mesmo e Carter e Sadie seguros, o.k.? Eu preciso ter certeza que meus filhos e afilhado estão seguros.

Naruto o fitou confuso, mas acenou, determinado.

— Eu juro pela minha vida, Dr. Kane, quando eu digo que Carter, Sadie e eu estaremos bem. Eu juro pelo meu nindo, meu caminho ninja! Essa é uma promessa!

Dr. Kane enviou-lhe um olhar agradecido, a face preocupada e agitada relaxando consideravelmente.

— Obrigado, Naruto — agradeceu ele. — Agora vá.

Acorrentar a porta do escritório do Homem-múmia foi fácil. Mas, assim que eles terminaram o trabalho, olharam para o caminho que haviam percorrido até ali e viram uma luz azul surgindo da galeria egípcia, como se Dr. Kane tivesse instalado nela um gigantesco aquário cintilante.

Sadie olhou para Naruto e Carter.

— Sinceramente: têm alguma ideia sobre o que ele está tramando?

— Nenhuma — respondeu Carter pelos dois. — Mas ele tem se comportado de um jeito estranho ultimamente. Tem pensado muito na mamãe. Ele guarda a foto dela...

Carter não queria dizer mais nada. Naruto colocou uma mão reconfortante em seu ombro. Felizmente, Sadie assentiu, indicando que havia entendido.

— O que ele carrega naquela bolsa?

— Não sei. Ele me disse que nunca olhasse dentro dela.

Sadie ergueu uma sobrancelha.

— E você nunca olhou? Meu Deus, é bem sua cara, mesmo, Carter! Você não tem jeito.

— Ei, eu tentei, mas aquele homem é muito astuto! Consegue prever meus movimentos. Me pergunto se ele tem o sharingan.

Sadie o olhou, confusa.

Sharin–o quê?

— Depois eu explico — disse Naruto. — Agora nós temos que...

Ele não pôde terminar de falar, nesse momento, um tremor sacudiu o chão.

Assustada, Sadie agarrou os braços de Naruto e Carter.

— Ele disse que devíamos ficar longe daquela sala. Suponho que vão obedecer essa ordem também.

Naruto nem pôde falar nada, pois Sadie o havia agarrado, puxando-o o caminho todo que eles haviam feito antes.

Carter suspirou exasperado e murmurou:

— Por que eu não podia ter uma irmã normal?

E saiu correndo atrás dos dois.

Quando os três chegaram à entrada da galeria egípcia, eles pararam de repente. Dr. Kane estava em pé diante da Pedra de Roseta, de costas para eles. Um círculo azul brilhava no chão, em volta dele, como se alguém tivesse acendido tubos de neon escondidos sob o piso.

Dr. Kane tinha tirado o casaco. A bolsa carteiro estava aberta a seus pés, revelando uma caixa de madeira de uns sessenta centímetros de comprimento decorada com imagens egípcias.

— O que ele está segurando? — cochichou Sadie. — Aquilo é um bumerangue?

Com toda certeza o que Dr. Kane levantou com a mão parecia um bumerangue. Era uma espécie de bastão encurvado. Mas, em vez de arremessar o objeto, ele o encostou na Pedra de Roseta. Sadie prendeu o fôlego. Dr. Kane estava escrevendo na pedra. Onde o bumerangue encostava, linhas azuis cintilantes surgiam no granito. Hieróglifos.

Não fazia sentido. Como ele podia escrever palavras cintilantes com um bastão? Mas a imagem era clara e brilhante: chifres de carneiro sobre um quadrado e um X.

Abra — murmurou Sadie.

Naruto e Carter olharam estranhamente para ela, pois eles tiveram a impressão de que Sadie tinha traduzido a palavra, mas isso era impossível. Eles viviam com Dr. Kane havia muito tempo — Carter mais, mas Naruto também passou muito tempo com Dr. Kane — e não conseguiam ler mais que alguns poucos hieróglifos. Era algo muito difícil de aprender.

Dr. Kane levantou os braços. Ele entoou "Wo-seer, i-ei", e mais dois símbolos hieroglíficos surgiram azuis e brilhantes na superfície da Pedra de Roseta.

Mesmo perplexo, Naruto e Carter reconheceram o primeiro. Era o nome do deus egípcio da morte.

— Wo-seer — sussurraram. Jamais ouviram o pronunciado daquele jeito, mas sabiam que o significado era o mesmo. — Osíris.

Osíris, venha — disse Sadie, como se estivesse em transe. Então, seus olhos se arregalaram. — Não! — gritou ela. — Papai, não!

Dr. Kane se virou, surpreso.

— Crianças... — começou a dizer.

Mas era tarde demais. O chão tremeu. A luz azul se tornou assustadoramente branca, e a Pedra de Roseta explodiu.

Quando Naruto recuperou a consciência, a primeira coisa que ele ouviu foi uma risada — um som horrível, eufórico — misturada ao alarme do museu.

Naruto se sentia como se tivesse sido atropelado por Shukaku. Estava tonto, e cuspiu um pouco de sangue que estava em sua boca. Carter também acordou e cuspiu um pedaço da Pedra de Roseta. A galeria estava em ruínas. Ondas de fogo tremulavam em poças no chão. Estátuas gigantescas estavam caídas. Sarcófagos haviam sido derrubados de seus pedestais. Pedaços da Pedra de Roseta haviam sido arremessados em todas as direções com tanta que se cravaram nas colunas, nas paredes e nos artefatos expostos.

Sadie estava desmaiada a seu lado, mas não parecia ferida. Carter a sacudiu, segurando seus ombros.

— Ugh — resmungou ela.

Diante do trio, onde antes estivera a Pedra de Roseta, havia agora um pedestal fumegante, destruído. O piso estava coberto por uma fuligem escura, exceto pelo círculo azul e brilhante em torno de Dr. Kane.

Ele olhava na direção das crianças, mas não parecia estar olhando para elas. Um corte em sua cabeça sangrava. Ele segurava o bumerangue com força.

Naruto não entendia o que ele estava olhando. Então, a horrível gargalhada ecoou novamente pela sala, e o Jinchuuriki percebeu que ela soava à direita, à frente deles.

Havia alguma coisa entre Dr. Kane e eles. No início, Naruto quase não conseguia distinguir — era apenas um calor, uma energia tremulante. Naruto apertou os olhos, que ficaram vermelhos com pupilas em forma de fenda, e finalmente pôde distinguir o que era: o nebuloso contorno de um homem de fogo.

Não pode ser ele, Kurama disse na mente de Naruto, e o loiro pela primeira vez ouviu um tom que nunca ouviu antes na voz de Kurama: medo.

A Kyuubi — que Naruto descobriu ser na verdade Kurama — acabou tornando-se uma grande amiga para Naruto. Ele adorava tanto Kurama que até começou a chamá-lo de "Kurama-nii-san", e Kurama o chamava de "Otooto." Kurama lhe ajudou bastante em seus estudos sobre os pergaminhos que Naruto recebeu.

O homem era mais alto que Dr. Kane, e sua gargalhada era cortante, assustadora.

— Bom trabalho — disse ele. — Muito bom trabalho, Julius.

— Você não foi invocado! — A voz de Dr. Kane tremia.

Ele levantou o bumerangue, mas o homem estalou um dedo e o bastão voou de sua mão, estilhaçando-se contra uma parede.

— Eu nunca sou invocado, Julius — respondeu o homem em voz baixa. — Mas quando você abre a porta, deve estar preparado para receber visitas.

— Volte para o Duat! — ordenou Dr. Kane com firmeza. — Eu tenho o poder do Grande Rei!

— Ah, que medo — respondeu o homem de fogo em tom debochado. — Mesmo que soubesse usar esse poder, e você não sabe, ele nunca me dominou. Eu sou o mais forte. Agora vai ter o mesmo destino que ele.

Naruto e Carter não conseguiam entender nada, mas sabiam que deviam ajudar Dr. Kane. Carter tentou pegar o fragmento mais próximo, mas ele estava tão apavorado que sentia seus dedos imóveis, paralisados. Suas mãos para nada serviam.

Naruto, por outro lado, tirou a mochila de suas costas e a colocou no chão. Naruto arrancou alguma coisa dela. Carter sorriu ao ver que era a katana de Naruto.

A katana tinha uma lâmina prateada de fio duplo com um cabo preto em detalhes vermelhos e laranjas, que formavam uma imagem de Kurama.

Antes que Naruto pudesse fazer qualquer coisa, Dr. Kane olhou para ele como se dissesse: Saia. Naruto percebeu que ele se esforçava para manter o homem de costas para eles, esperando que Sadie, Carter e ele escapassem sem ser notados.

Sadie ainda estava atordoada. Carter conseguiu arrastá-la para trás de uma coluna, para as sombras. Quando ela começou a protestar, Naruto cobriu sua boca com a mão. Isso a despertou completamente. Ela viu o que acontecia e parou de lutar contra Carter.

Alarmes soaram. O fogo bloqueava as portas da galeria. Os seguranças deviam estar a caminho, mas Naruto não sabia se isso era bom para eles.

Dr. Kane se abaixou, mantendo os olhos fixos no inimigo, e abriu a caixa de madeira pintada. Tirou dela uma vareta parecida com uma régua. Murmurou algumas palavras, e a vareta se transformou em um cajado do tamanho dele.

Sadie sufocou um grito. Carter também não conseguia acreditar no que via, e estava de boca aberta, enquanto Naruto simplesmente arregalou os olhos ainda vermelhos. Mas as coisas ficaram ainda mais esquisitas.

Dr. Kane jogou o cajado aos pés do homem, e a coisa se transformou em uma enorme serpente — três metros de comprimento e tão larga quanto uma pessoa —, com escamas acobreadas e olhos vermelhos e brilhantes. Ela atacou o homem, que a agarrou pelo pescoço sem esforço algum. A mão do homem explodiu em chamas, e a cobra queimou até virar cinzas.

— Um truque velho, Julius — debochou o homem de fogo.

Dr. Kane olhou para o trio, silenciosamente os incentivando a fugir. Parte de Carter e Sadie se negava a acreditar que aquilo era real. Naruto, por outro lado, sabia que aquilo era real. Ele já passou por coisas muito estranhas, e sabia quando uma coisa era verdade. A seu lado, Sadie pegou um fragmento de pedra.

— Quantos? — perguntou Dr. Kane ao homem de fogo, tentando desviar sua atenção das crianças. — Quantos eu libertei?

— Bem, os cinco — respondeu ele, como se explicasse alguma coisa para uma criança. — Você devia saber que formamos um grupo, Julius. Logo eu libertarei ainda mais, e todos eles serão muito gratos. Serei nomeado rei outra vez.

— Os Dias do Demônio — lembrou Dr. Kane. — Eles o deterão antes que o fim chegue.

O homem de fogo riu.

— Acha que a Casa pode me deter? Aqueles velhos tolos não conseguem nem parar de discutir entre eles. Deixe que a história seja agora recontada. E, desta vez, você jamais se reerguerá!

O homem de fogo moveu a mão. O círculo azul em torno de Dr. Kane ficou escuro. Dr. Kane tentou agarrar a caixa de ferramentas, mas ela deslizou pelo chão.

— Adeus, Osíris — disse o homem de fogo.

Com outro movimento da mão, ele conjurou um esquife cintilante em torno de Dr. Kane. No início, era transparente, mas, à medida que Dr. Kane se debatia e batia contra as laterais, o caixão foi se tornando mais e mais sólido: um sarcófago egípcio dourado cravejado de joias. Dr. Kane olhou para as crianças uma última vez e moveu os lábios formando a palavra fuja, antes de o caixão afundar no chão, como se o piso tivesse se transformado em água.

— Pai!/Dr. Kane! — gritaram Carter e Naruto.

Sadie arremessou a pedra, mas ela atravessou a cabeça do homem de fogo sem lhe causar dano.

Ele se virou, e por um terrível momento seu rosto apareceu entre as chamas. O que as crianças viram não fazia sentido. Era como se alguém tivesse sobreposto duas faces diferentes. Uma quase humana, com pele pálida, traços cruéis, angulosos, e olhos vermelhos brilhantes; a outra, como a de um animal de pelagem escura e presas afiadas. Pior que um cachorro, um lobo ou um leão — algum animal que nenhuma das crianças jamais tinha visto. Aqueles olhos vermelhos os olharam, e eles souberam que iam morrer.

Atrás do trio, passos pesados ecoaram no piso de mármore do Grand Court. Vozes gritavam ordens. Os seguranças, talvez a polícia — mas eles não chegariam a tempo.

O homem de fogo investiu contra eles. Quando ele já estava a poucos centímetros do rosto de Carter, Naruto o pegou pelo pescoço de alguma forma e o empurrou contra a parede, rosnando como um animal.

— Ei, Tocha-humana! — gritou Naruto em meio aos rosnados. — Por que não se mete com alguém que saiba lutar?

O recém-nomeado Tocha-humana olhou para Naruto por um momento, como se o examinasse, e por fim disse com um sorriso no rosto:

— Kurama?

Naruto arregalou os olhos.

— O quê?

— Há quanto tempo, velho amigo. — O Tocha-humana sorria ainda mais. — Vejo que conseguiu um hospedeiro.

— Do que diabos você está falando, imbecil? — gritou Naruto sentindo o chakra de Kurama fortalecendo seu corpo. Um manto vermelho borbulhante cobria seu corpo como uma segunda pele, que tinha longas orelhas de raposa e uma cauda em seu traseiro. Seus dentes caninos se tornaram presas e suas unhas viraram garras, e suas marcas nas bochechas se intensificaram.

— Eu vejo a energia de Kurama em você, menino — informou o homem a Naruto. — Me surpreende que possa usá-la sem se machucar, mas ainda tem muito a aprender.

O homem fez um gesto com a mão, e Naruto voou para trás, caindo entre Carter e Sadie, que foram ver se ele estava bem, e Sadie arregalou os olhos quando viu o chakra de Kurama em Naruto, que retrocedeu em seu corpo, e as marcas de bigode de Naruto voltaram ao normal, e suas presas e garras diminuíam, e ao abrir os olhos levemente, eles viram que seus olhos ficarama azuis e as pupilas estavam redondas.

O Tocha-humana novamente tentou atacar Carter, mas ele foi repelido quando estava a poucos centímetros de seu rosto. O ar parecia estalar com a eletrecidade. O amuleto pendurado em seu pescoço ficou quente a ponto de tornar-se desconfortável.

O Tocha-humana sibilou, olhando para Carter com mais atenção.

— Então... é você.

O prédio tremeu novamente. Do outro lado da sala, parte da parede explodiu num raio brilhante de luz. Duas pessoas passaram pela abertura: o homem e a garota que eles tinham visto na Agulha, suas vestes tremulando. Ambos seguravam cajados.

O Tocha-humana rosnou. Ele olhou Carter e Naruto uma última vez.

— Em breve, meninos.

Então, toda a sala explodiu em chamas. Uma eclosão de calor sugou todo o ar dos pulmões do Uzumaki e dos Kane e eles caíram.

A última lembrança de Naruto foi do homem de barba bifurcada e da garota de azul em pé ao lado de Carter, que também estava com os olhos entreabertos. O loiro ouviu os seguranças gritando, aproximando-se correndo. A garota debruçou sobre Carter e tirou da cintura uma adaga curva.

— Precisamos agir depressa — disse ao homem.

— Ainda não — retrucou ele com alguma relutância. Seu forte sotaque parecia francês. — Devemos ter certeza antes de destruí-los.

Naruto fechou os olhos e mergulhou na inconsciência.


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Notas finais do capítulo

E aí, tá bom? Se gostou, mande Reviews.