As Crônicas De Um Ninja-Mago De Fibra escrita por The Amazing Spider Green


Capítulo 4
Os inspetores são idiotas


Notas iniciais do capítulo

Bem, tá aqui o capítulo.
Ah, e olhem para as notas finais. Elas são importantes.



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— Já dissemos isso uma vez, e repetiremos: foi isso o que aconteceu! — disse Naruto aborrecido, sentado no sofá dos Faust, ao lado de Carter.

Assim que Naruto, Carter e Sadie acordaram, a polícia já estava lá. Eles separaram Sadie de Carter e ele — e Naruto ficou um pouco magoado ao ver um certo olhar de alívio no rosto dela. Ele não sabia aonde a colocaram, e quando lhe perguntaram o que aconteceu, ele lhes contou a história. Quando ele terminou, olhavam ele como se estivesse louco.

Depois ele, Carter e Sadie foram enviados até a casa dos Faust, e não fizeram pergunta nenhuma. Colocaram Sadie em seu quarto, e nem a permitiram falar com os avós.

E agora, lá estavam Naruto e Carter, explicando pela centésima vez o que havia acontecido no museu ao inspetor Williams.

O inspetor simplesmente balançou a cabeça e foi até o quarto de Sadie.

— Naruto, pode ir até o quarto de Sadie? — perguntou Carter. — Estou preocupado com ela, e acho que o inspetor vai falar alguma mentira para ela.

Naruto acenou afirmativamente, com um olhar sério.

— Primeiro irei atrasá-lo — disse o loiro.

Naruto usou o Hiraishin no Jutsu e abaixou as calças do inspetor, que tropeçou, caiu e ficou praguejando sobre fivelas de cinto inúteis. Naruto teve de fazer toda a força do mundo para não rir. E logo depois, para atrasar ainda mais o inspetor, arrancou cada uma das roupas — tirando as de baixo — dele, e jogou para fora da casa. E logo depois agarrou o inspetor e o jogou para fora da casa. Naruto precisava de todo o tempo possível, e aquele foi o jeito mais prático — e humilhante — que ele pensou. O inspetor ficou muito sem-graça ao ter sua samba-canção vermelha com coraçõezinhos róseos exibida. E, coincidentemente, muitas pessoas que moravam na Inglaterra estavam caminhando naquela mesma rua.

Já dá para saber o que aconteceu em seguida, certo?

Naruto, logo após terminar, correu até uma árvore perto do quarto de Sadie e pulou, saltou e deu várias cambalhotas — como um macaco — pelos galhos da árvore. E logo após alcançar a janela de Sadie, ele bateu nela, e Sadie se virou assustada para ele. Ela correu até a janela e a abriu, e Naruto entrou no quarto dando uma cambalhota para a frente, pousando no chão com graça e leveza.

— O que você está fazendo aqui? — exigiu saber Sadie a Naruto, dando-lhe um olhar severo.

— Carter me mandou aqui. O inspetor está vindo para cá — explicou Naruto.

— E daí? — perguntou Sadie, obviamente desinteressada.

— Sadie, não importa o que ele fale, não importa o que ele afirme, não acredite em uma só palavra dele, o.k.?

— O.k. — Sadie acenou com a cabeça.

Naruto notou o amuleto de Sadie.

— Ei, posso ver seu amuleto? — perguntou o Jinchuuriki curioso.

Sadie deu um passo para trás, cautelosa.

— Por que quer ver? — Ela ergueu uma sobrancelha.

— É que eu só vi o de Carter. O dele é o Olho de Hórus. Estou curioso para saber qual é o símbolo do seu amuleto.

Sadie, cautelosa e relutantemente, mostrou seu amuleto a Naruto, que o vislumbrou fascinado. Ele se aproximou tanto do busto de Sadie que a menina corou e virou a cabeça, constrangida e envergonhada.

— Eu nunca soube o significado desse símbolo. Parece um anjo, ou talvez um robô alienígena assassino — admitiu Sadie ainda constrangida pela aproximação do loiro.

— Maneiro — comentou Naruto. — Você tem um tyet como símbolo.

— Um o quê?

— Um tyet — disse Naruto. — Também conhecido como Nó de Ísis. Esse símbolo era considerado um dos símbolos da vida. É muito maneiro você ter um desses.

Ahn... Obrigada — agradeceu Sadie corando.

— Mas é estranho — disse Naruto. — O símbolo de Carter simboliza proteção, e o seu vida. Ou Dr. Kane realmente acredita nesses símbolos, ou foi bastante coincidência. Mas se ele realmente acreditava nisso, ele queria muito você e Carter seguros, Sadie. Na verdade, eu invejo vocês dois um pouco. Eu queria poder ter um pai como Dr. Kane.

— Mas eu só fico com meu pai por dois dias ao ano. — Sadie abaixou a cabeça, triste. — Fico triste por isso. Me sinto...

— Rejeitada? — sugeriu Naruto.

— É — concordou Sadie, surpresa. — Como sabe?

— Eu conheço essa sensação. — Naruto deu de ombros. — Mas eu ainda acho bom que Dr. Kane tenha se esforçado tanto para poder te ver mesmo que por dois dias ao ano. A maioria dos pais teria desistido dos filhos na situação dele. Eu nunca conheci meu pai, sabe? Nem minha mãe. Para mim, cada momento com alguém de sua família vale à pena. Eu daria dois minutos por um momento com os meus pais, quanto mais dois dias, e ainda por ano. Dr. Kane é um bom pai, Sadie. É uma garota de sorte.

Sadie pensou sobre isso, e depois sorriu para Naruto, que devolveu o sorriso. Então ela franziu a testa.

— Mas é estranho — ela disse. — Durante toda aquela esquisitice no museu, o colar ficou mais quente.

— Tire — disse Naruto simplesmente, dando de ombros.

— Não — Sadie respondeu. — Eu sinto que ele está realmente me protegendo de alguma forma.

— "Farei tudo ser muito melhor. Inclusive para você, Naruto", Dr. Kane tinha dito — lembrou-se Naruto.

— Bem, foi um fracasso colossal, pai — disse Sadie secamente.

Naruto revirou os olhos. Sadie sempre seria Sadie.

Sadie queria acreditar que tudo não tinha passado de um pesadelo: os hieróglifos brilhantes, o cajado que virava cobra, o caixão. Essas coisas simplesmente não acontecem. Mas ela sabia que não era exatamente assim. Ela não teria sido capaz de sonhar com nada tão horrível quanto o rosto do Tocha-Humana — esse nome diminuía o medo dela — quando ele se virou para ela e os meninos. "Em breve, meninos", ele tinha dito a Naruto e Carter, como se pretendesse encontrá-los. Imaginar era suficiente para fazer as mãos dela tremerem. Ela também não conseguia deixar de pensar na parada na Agulha de Cleópatra, em como seu pai tinha insistido em ver aquele lugar, como se estivesse tomando coragem, como se o que ele pretendia fazer no British Museum tivesse alguma relação com sua mãe.

Sadie de repente olhou para a escrivaninha no quarto, fazendo Naruto arquear a sobrancelha.

Não, pensou Sadie. Não vou fazer isso.

Mas ela foi até lá e abriu a gaveta. Naruto ficou bem atrás de Sadie, quase a tocando, olhando por cima do ombro dela. Ela empurrou para o lado algumas moedas velhas, seu estoque de doces, uma coleção de lições de matemática que ela tinha esquecido de entregar e algumas fotos com suas amigas Liz e Emma, experimentando chapéus ridículos no Camden Park — aquelas fotos fizeram Naruto arquear uma sobrancelha. E embaixo de tudo isso estava o retrato de uma mulher loira.

Naruto viu que era Ruby Kane, mãe falecida de Carter e Sadie.

— Onde conseguiu a foto? — perguntou o loiro.

— Meus avós têm pilhas de fotos — explicou Sadie. — Eles mantêm um altar para Ruby no armário do corredor: trabalhos de arte que minha mãe tinha feito na infância, suas notas sempre fabulosas, a foto da formatura na universidade, suas joias favoritas.

— Nossa... Eles são meio... obcecados — disse Naruto, desconcertado, não sabendo mais o que falar.

— Concordo. É absolutamente doentio. Eu não vou ser como eles, não vou viver no passado. Mal me lembro de minha mãe, afinal, e nada pode mudar o fato de ela estar morta.

— Isso não é meio... frio?

— Talvez. — Sadie deu de ombros. — Mas eu ainda não vou viver no passado. Conhece o velho ditado: Quem vive no passado...

... é museu — terminou Naruto, sorrindo.

— Exato. Por isso eu guardo essa única foto.

Naruto olhou para a foto. Parecia uma foto de quando a família Kane vivia em Los Angeles, como Carter lhe havia contado. Ruby estava em pé na varanda, com o oceano Pacífico atrás, segurando um bebê gordinho e cheio de dobras que um dia cresceria e se tornaria uma pessoa. Naruto deduziu ser Sadie. Ruby parecia linda, mesmo de short e camiseta velha. Na verdade, a semelhança dela com Naruto era assustadora: olhos azuis brilhantes, cabelos louros que estavam no momento presos por uma fivela. Ela tinha uma pele perfeita.

— Sadie, me assusta o quanto você se parece com sua mãe — comentou Naruto fascinado, olhando de Sadie para a foto de Ruby.

— Todos dizem isso, mas eu não consigo nem ao menos me livrar das espinhas, que dirá parecer assim tão linda e madura.

Naruto ficou em silêncio, olhando Sadie com um olhar vazio. Até de repente ele dar uma longa gargalhada, com direito à caída no chão, punhos no chão, mãos na barriga para parar a dor nela e tudo.

A pele de Sadie ficou vermelha de raiva.

— Do que você está rindo?

— De como você é burra — respondeu Naruto, ainda rindo.

— O quê? — O rubor nas bochechas de Sadie cresceu.

— Você não faz nem ideia do quanto é parecida com ela, não é? — disse Naruto, ainda gargalhando como se não houvesse amanhã.

Sadie arqueou uma sobrancelha.

— Sadie, olhe só para ela — disse Naruto, ficando de pé, ainda rindo, e mostrando a foto de Ruby. — Você é uma versão de doze anos dela. Não consigo ver uma diferença, exceto que os traços dela estão mais maduros que os seus, mas tirando isso, nada.

Sadie arregalou os olhos.

— Ei, quer que eu te mostre uma foto dos meus pais? — perguntou Naruto, e ao ver Sadie assentindo ele tirou a mochila azul das costas e a abriu, tirando uma das fotos que ele tinha de seus pais. — Aqui. — Naruto estendeu o braço com a foto para Sadie, que a pegou.

Ao ver as pessoas na sala, Sadie arregalou os olhos. Se Naruto não estivesse lá ou não tivesse os riscos de bigode nas bochechas, ela teria jurado que o homem na foto era ele, só que com vinte e tantos anos e sem riscos nas bochechas. Ele usava um macacão azul. Os cabelos louros arrepiados eram tão grandes que mechas caíam pelas maçãs do rosto dele. Os olhos azuis brilhavam com genuína felicidade e amor. De braços dados com ele estava uma mulher, os longos cabelos ruivos caindo nas costas e os olhos azuis tão intensos que pareciam violetas brilhavam com malícia e traquinagem — assim como os de Naruto. Vestia um vestido branco com detalhes verdes. Sadie notou que ela se parecia com Naruto também, mas apenas pelo rosto, com as maçãs do rosto salientes, olhos gentis e bondosos e feições que já diziam que ela era uma brincalhona. Sadie já sabia de quem Naruto puxou a personalidade.

A característica mais visível na mulher: a barriga volumosa.

— Estes são os meus pais quando minha mãe já estava próxima do nono mês de gravidez — explicou Naruto com tristeza.

Sadie o olhou culpada.

— E... o que aconteceu com eles?

— Eles morreram — respondeu Naruto com uma voz estranhamente calma. — Morreram quando eu nasci. Nunca os conheci.

Sadie arregalou os olhos em horror. Ela com certeza tinha perdido a mãe, mas ela ao menos viveu com ela por seis anos, e ela ainda tinha o pai e os avós. E então ela pensou em como foi egoísta não aproveitando o que tinha.

— Eu sinto... — Sadie foi interrompida.

— Por favor, não diga Eu sinto muito, o.k.? A última coisa coisa que eu quero é pena. — Naruto parecia feroz, como um animal encurralado.

— O.k. — Sadie voltou-se para a foto. — Você é igualzinho aos seus pais.

Naruto sorriu.

— Mas me responda uma coisa, Sadie: por que você guarda a foto de sua mãe?

Sadie ficou surpresa com a pergunta.

— Bem... — Ela pensou em como explicar. — A foto me fascina, sabe? Porque eu quase não me lembro do tempo que eu e ela tivemos juntas. Mas a principal razão para eu guardar esse retrato é o símbolo na camiseta da mamãe: um daqueles símbolos de vida — um ankh.

— Peraí. Um ankh? — perguntou Naruto, surpreso. — Me dá essa foto. — Ele agarrou o retrato ignorando os protestos de Sadie e olhou o símbolo na camiseta de Ruby: era realmente um ankh.

— Minha mãe, morta, ostentando um símbolo da vida. Nada pode ser mais triste — comentou Sadie tristemente.

Naruto aguçou os olhos para ver se notava mais alguma coisa na foto que ele não tinha notado antes, e então viu: ela sorria para a câmera, mas não de um jeito normal. Era um sorriso matreiro, não muito diferente do seu próprio, que a dedurava saber um segredo. Como se ela e Dr. Kane compartilhassem uma piada só deles.

— Sadie, rápido: o que foi que aquele homem encorpado de corpo comprido que conversou com Dr. Kane disse? — disse Naruto, quase desesperado.

— Bem... Ele falou algo sobre Per Ankh.

Naruto arregalou os olhos.

— Sadie, será que ele estava se referindo ao ankh símbolo da vida?

Sadie arregalou os olhos tanto quanto Naruto.

— Meu Deus. Se sim, o que é um per? Não pode ser pera, pode? A fruta?

Naruto revirou os olhos.

Sadie tinha a sinistra sensação de que, se visse as palavras Per Ankh escritas em hieróglifos, saberia o significado.

Sadie guardou a fotografia de Ruby. Ela pegou um lápis e virou uma das folhas do dever de casa que não tinha chegado a entregar.

— O que está fazendo? — perguntou Naruto olhando por cima do ombro de Sadie.

— Me pergunto o que aconteceria se eu tentasse desenhar as palavras Per Ankh. Eu consegui entender aqueles hieróglifos no museu, certo? Será que eu posso saber qual é o desenho correto?

Naruto tinha um olhar pensativo no rosto, até dar de ombros.

— Eu não tenho ideia, na verdade. Tente.

Quando Sadie encostou o lápis no papel, a porta de seu quarto se abriu.

— Srta. Kane?

Sadie se virou e deixou o lápis cair.

O inspetor Williams — que Naruto resolvera apelidar carinhosamente de Inspetor Cuequinha — estava parado na porta, sério.

Sadie olhou desesperada para seu lado, onde Naruto estava, para ver que ele não estava mais lá. Ela discretamente olhou para cima e viu Naruto preso ao teto, como o Homem-Aranha. Ela ia gritar, até vê-lo colocando um dedo aos lábios, fazendo um Shhhh silencioso, praticamente implorando. Sadie conseguiu se conter. O interrogaria depois.

— O que está fazendo?

— Dever de matemática — respondeu a garota.

O pé-direito era baixo, por isso o inspetor precisou se abaixar para entrar. Ele vestia um terno de cor neutra, que combinava com os cabelos acizentados e o rosto pálido.

Naruto estreitou os olhos para ele, atento à conversa.

— Muito bem, Sadie. Sou o inspetor Williams. Vamos conversar, está bem? Sente-se.

Ela não se sentou, nem ele, o que provavelmente o aborreceu. Naruto não podia culpar Sadie. É difícil parecer uma figura de autoridade quando você está curvado como o Quasímodo. Menos ainda para Naruto, que o vira apenas de roupa íntima.

— Fale tudo o que sabe, por favor — pediu ele. — Desde o momento em que seu pai chegou para buscá-la.

— Eu já disse tudo à polícia no museu.

— Conte mais uma vez, se não se importar.

Ela disse tudo de novo. A sobrancelha esquerda do Inspetor Cuequinha subia cada vez mais, empurrada pelos trechos mais estranhos de seu depoimento, como as letras brilhantes e o cajado que virara serpente.

— Muito bem, Sadie — disse o Inspetor Cuequinha. — Você tem uma imaginação incrível.

— Não estou mentindo, inspetor. E acho que sua sobrancelha está tentando fugir.

Naruto colocou uma mão na boca para abafar as risadas.

O Inspetor Cuequinha tentou olhar para as próprias sobrancelhas, depois franziu a testa. Naruto riu ainda mais abafado pela mão.

— Escute, Sadie, tenho certeza de que tudo isso é muito difícil para você. Entendo que queira proteger a reputação de seu pai. Mas ele já se foi...

Naruto conteve um rosnado.

— Foi afundado no chão dentro de um caixão, você quer dizer — insistiu Sadie. — Ele não está morto.

O Inspetor Cuequinha abriu as mãos.

— Sadie, eu sinto muito. Mas precisamos descobrir por que ele praticou esse ato de... bem...

— Ato de quê?

Ele pigarreou incomodado.

— Seu pai destruiu artefatos muito valiosos e, aparentemente, acabou se matando nesse processo. Gostaríamos muito de saber por quê.

Raiva preencheu os olhos de Naruto, que se controlava para não esganar o Inspetor Cuequinha.

Sadie o encarou.

— Está dizendo que meu pai é um terrorista? Você é louco?

— Telefonamos para alguns conhecidos de seu pai. Soubemos que o comportamento dele tornou-se estranho depois da morte de sua mãe. Ele se retraiu e desenvolveu certa obsessão por seus estudos, passando mais e mais tempo no Egito...

Naruto bateu na própria testa, revirando os olhos. Dr. Kane era egiptólogo, pelo amor de Deus. É claro que ele passava muito tempo no Egito.

— Ele é egiptólogo! Você devia estar procurando por ele, em vez de fazer perguntas estúpidas!

Naruto deu uma piscadela com um sorriso para Sadie de onde estava, e ela sorriu de volta.

— Sadie — começou o Inspetor Cuequinha, e sua voz sugeria que ele continha com esforço o impulso de estrangular a garota. Sadie estranhava, ela sempre provoca esse tipo de reação nos adultos. — Existem grupos de terroristas extremistas no Egito, e eles não concordam que artefatos egípcios sejam mantidos em museus de outros países. Essas pessoas podem ter procurado seu pai. Talvez, no estado em que estava, seu pai tenha se tornado alvo fácil para eles. Se tiver ouvido ele mencionar algum nome...

Sadie passou por ele e foi até a janela. Ela estava tão furiosa que não conseguia pensar. Ela se recusava a acreditar que seu pai estivesse morto. Não, não, não. E um terrorista? O simples pensamento a fazia ter vontade de rir. Por que os adultos eram sempre tão idiotas? Eles sempre repetem "diga a verdade", e quando você diz, eles não acreditam no que ouvem. De que adianta?

Ela olhou para a rua escura. De repente, aquela sensação de arrepio gelado ficou pior do que nunca. Ela focou a árvore morta onde havia encontrado seu pai mais cedo. No mesmo local, sob uma lâmpada da rua, olhando para ela, estava o sujeito do casaco comprido, dos óculos redondos e do chapéu — o homem que seu pai tinha chamado de Amós.

Sadie sabia que deveriamse sentir ameaçada ao descobrir que um homem a encarava da escuridão da noite. Mas sua expressão era de autêntica preocupação. E ele lhe parecia muito familiar. Era irritante não conseguir lembrar por quê.

Naruto arqueou a sobrancelha, mas também viu o homem, e então estreitou os olhos.

Atrás de Sadie, o Inspetor Cuequinha pigarreou.

— Sadie, ninguém a culpa pelo ataque ao museu. Compreendemos que você foi levada ao local contra sua vontade.

Ela se virou para ele.

— Contra minha vontade? Eu tranquei o curador no escritório.

A sobrancelha do Inspetor Cuequinha voltou a subir.

— Mesmo assim, você não sabia quais eram as intenções de seu pai. É possível que seu irmão e o amigo dele estejam envolvidos?

Sadie riu.

— Carter? Por favor! Naruto com certeza não. Ele não parece esse tipo de pessoa.

— Então, está determinada a protegê-los, também. Acha mesmo que Carter é seu irmão? Já pensou que Naruto talvez seja...

Naruto arregalou os olhos, e depois eles passaram para uma tonalidade forte de vermelho-sangue brilhante que se parecia com a de um felino, com pupilas fendidas. Ele enfiou as garras no teto, como uma maneira de estravazar a raiva, e arreganhou as presas ameaçadoramente, engolindo um forte rosnado que insistia sair de sua garganta.

Sadie não podia acreditar no que ouvia. Ela queria socar o nariz dele.

— O que você quer dizer com isso? É porque Carter não tem a mesma aparência que eu? E você acha que Naruto é meu irmão simplesmente por se parecer comigo?

O Inspetor Cuequinha piscou.

— Eu só quis dizer...

— Eu sei o que você quis dizer. É claro que Carter é meu irmão! E é claro que Naruto não é! Eu até já vi uma foto dos pais dele, seu imbecil!

Naruto sorriu um sorriso que, devido às presas, ficou assustador.

O Inspetor Cuequinha levantou as mãos pedindo desculpas, mas Sadie ainda estava furiosa. Por mais que Carter a aborrecesse, ela odiava quando as pessoas imaginavam que eles não eram irmãos, ou quando olhavam para seu pai com espanto quando ele dizia que eles eram os três da mesma família. As pessoas olhavam para nós como se tivessem feito algo errado. O estúpido Homem-Múmia no museu. O Inspetor Cuequinha. Acontecia o tempo todo, sempre que seu pai, Carter e ela estavam juntos. Todas as vezes. E agora, com Naruto, começariam a achar que eles eram irmãos.

— Sinto muito, Sadie — desculpou-se o Inspetor Cuequinha. — Só quero me certificar de distinguir culpados de inocentes. Vai ser mais fácil para todo mundo se você colaborar. Qualquer informação serve. Alguma coisa que seu pai tenha dito. Pessoas que ele tenha mencionado.

— Amós — ela falou, só para ver como ele reagiria. — Ele encontrou um homem chamado Amós.

O Inspetor Cuequinha suspirou.

— Sadie, isso é impossível. E você com certeza sabe disso. Falamos com Amós há menos de uma hora, e ele nos atendeu por telefone, da casa dele em Nova York.

— Ele não está em Nova York! — insistiu Sadie. — Está bem...

Ela olhou pela janela e Amós havia desaparecido. Típico.

Naruto também olhou e estreitou os olhos, desconfiado.

— Isso não é possível — afirmou ela.

— Exatamente — o Inspetor Cuequinha concordou.

— Mas ele estava aqui! — exclamou. — Quem é ele? Um dos colegas de papai? Como você sabia para onde devia telefonar?

— Sadie, é melhor parar com a farsa.

Farsa?

O Inspetor Cuequinha a estudou por um momento, depois ergueu o queixo como se tivesse tomado uma decisão.

— Carter e Naruto já nos disseram a verdade. Não queria incomodá-la, mas eles nos contaram tudo. Eles entendem que é inútil proteger seu pai agora. É melhor que também coopete conosco, e não haverá nenhuma acusação contra você.

Naruto colocou o braço na sua frente e enfiou as garras nele, apertando com a mão como uma forma de se acalmar. Ele também mordeu a mão, enfiando as presas na pele macia. Sangue saía. Claro, ele estava sentindo uma dor insuportável, mas era melhor que assassinar uma pessoa.

Sadie olhou para Naruto, que balançou freneticamente a cabeça em sinal negativo, dizendo que era mentira. Não que ela precisasse disso para saber que era mentira.

— Você não devia mentir para crianças! — gritou ela, esperando que alguém a ouvisse lá embaixo. — Carter e Naruto jamais diriam uma palavra contra papai, e eu também não direi!

O Inspetor Cuequinha não teve nem a decência de se mostrar constrangido.

Ele cruzou os braços.

— Lamento que pense dessa maneira, Sadie. Bem, acho que é hora de descermos... para discutir as consequências com seus avós.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu estou tentando atualizar todas as minhas fics porque eu vou viajar no dia dezoito, mas tem algumas fics que eu perdi a inspiração, por isso não fiquem muito esperançosos. Sinto muito.
Mas enquanto isso, REVIEWS!!!!!!!!!