Havia se passado um mês do incidente no churrasco e as coisas apenas pareciam piorar. Lucas estava cada vez mais fechado e afoito, e bastava que as mães fizessem qualquer pergunta sobre o assunto, que o menino apenas dizia que estava bem e se fechava mais ainda. As mães sabiam que ele não estava bem. Ele tinha mudado muito seu jeito de ser e isso estava as preocupando mais ainda.

O menino havia se tornado a sombra da casa. Fala e comia pouco, e as musicas que tocava no violão estavam cada vez mais tristes, pois, ele despejava toda seus sentimentos nas musicas que tocava. “Strawberry Fields”, perdera lugar para “Lonely Day”, e no lugar das versões acústicas de “Last Friday Night” e “Teenage Dream” agora se ouvia “Back to Black” e “Hurt”. As musicas que o menino tocava, e que um dia foram a trilha sonora da família, agora só contribuíam para tornar o ambiente mais triste e melancólico.

O menino também começara a ter pesadelos, e mais de uma vez foi pego escondido no banheiro chorando. A situação começava a afetar o resto da família. Santana e Brittany se sentiam completamente impotentes. Elas queriam fazer com que aquilo parasse, mas não sabiam como ajudar o filho.

Os outros filhos também se esforçavam muito para que as coisas melhorassem. Ani escreveu várias poesias e textinhos para o loiro, e também o emprestou seus livros favoritos. Maria incentivava o menino a tocar músicas alegres e dançantes para que ela pudesse dançar. E Carlos havia se transformado no guarda costas de Lucas. O mais velho sentia-se culpado por aquela situação, e isso só instigou ainda mais seu instinto de proteção. Qualquer um que olhasse errado para Lucas, receberia um olhar mortal de volta.

Uma noite, porém, as mulheres foram acordadas por gritos vindos do quarto dos meninos. Mais do que depressa, elas se levantaram e correram em direção ao quarto. Lá, elas perceberam que não foram as únicas a serem acordadas pelos gritos. Suas duas outras filhas estavam em pé na frente do quarto, com expressões assustadas.

--Ani, o que está acontecendo?—Santana perguntou

--Eu não sei! A gente ouviu os gritos e veio correndo ver o que estava acontecendo. —respondeu a menina de olhos verdes.

Lentamente, as duas mulheres abriram a porta do quarto, e a cena que presenciaram era de cortar o coração. Carlos estava sentado na cama do irmão com uma expressão assustada, enquanto Lucas estava deitado agarrado ao travesseiro, chorando muito.

Britt imediatamente correu, tomou o menino em seus braços, e o segurou em um abraço muito apertado. O menino a agarrou e ensopou sua camiseta com lágrimas. Brittany nunca tinha visto nenhum de seus filhos daquela forma.

Santana pediu para que o mais velho se retirasse do quarto, e apenas esperou que a porta batesse para se juntar ao abraço.

Ficaram daquele jeito durante algum tempo até que perceberam que os soluços estavam cessando e a respiração do menino estava voltando ao normal. Brittany aproveitou para tomar a iniciativa:

--Queridinho,  o que está acontecendo?—Ela tentou falar da forma mais suave possível.

-- Nada mãe. Eu estou bem. – ele respondeu com a maior mentira do mundo. – foi só um pesadelo.

-- è claro que você não está bem mi hijo.—Santana interveio. – Ninguém fica desse jeito por causa de um pesadelo. Desde o churrasco você tem estado diferente. Mas quando perguntado sobre isso, você responde com as mesma mentiras. Por favor, mi hijo, deixe a gente te ajudar. - ela completou.

Um silêncio desconfortável se instalou no quarto por algum tempo. Até que o loirinho se pronunciou:

-- E se ele estiver certo Mami? E se eu for realmente um vi...

-- Não diga essa palavra!—Brittany não deixou o menino completar.

--Mas e se for verdade? Ele não seria o primeiro a falar isso de mim. E além do mais eu já me sinto tão diferente dos outros meninos. Talvez essa apenas seja a realidade. —ele completou sua linha de pensamento.

Elas se surpreenderam com a maturidade com que o menino falava, e perceberam  o quanto ele precisava delas.

-- Agora me escute Lucas. – Santana tomou conta da situação. Ela raramente usava os nomes completos dos filhos, apenas quando a conversa era muito séria. – Essas pessoas não poderiam estar mais erradas sobre você... —ela deu uma pausa para o menino assimilar o que ela estava dizendo. --...  e eu não quero mais ouvir essa palavra que você ia dizendo saindo da sua boca. – ela estava bastante séria. – Você é uma pessoa muito especial, Lukie, você  é bonito e talentos, e não importa o que você seja, ou o que venha a ser, ou com quem se apaixone. Nós vamos sempre te amar, Né Britt- Britt?

--Corretíssimo San!— a loira completou o discurso da outra.

-- Então mi hijo, não fique triste porque você é muito especial para ficar para baixo. Entendido?

--SÍ, mami! – o menino, que não tirava os olhos da latina, respondeu.

-- Já está tarde e acho que passou um pouquinho da hora de dormir.

-- Posso dormir com vocês?—o loiro perguntou esperançoso.

--Claro!!—as duas respondera em uníssono.

Santana permitiu que o menino envolvesse os braços em torno de seu pescoço, e foi para o quarto delas com ele no colo. No caminho, ela cochichou no ouvido dele:

-- Amanhã a gente pode sair para compra aquelas cordas novas de violão que você queria.—ao ouvir isso, o menino abriu um sorriso que há algum tempo ela não via, e naquele momento, ela soube que, por mais que as coisas estivessem ruins, eles encontrariam uma forma de superar todos os problemas, juntos.