A Forja De Hefesto escrita por andreiakennen


Capítulo 3
Capítulo 3




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A Forja de Hefesto

Revisado por Vane

Capítulo 3

Hyoga estava abraçando os joelhos, sentado no chão da cela. Não havia móvel algum no lugar, nem janelas; somente a porta de ferro diante dele e a claridade provinda de uma lamparina fixada na parede ao lado da porta.

Não sabia ao certo quanto tempo se passara, mas deduzia pela quantidade de refeições que lhe haviam servido até aquele momento: treze. Duas por dia. O almoço, que era servido certamente no meio do dia e o jantar no início da noite.

Treze refeições seriam equivalentes a seis dias e meio, quase uma semana de cárcere na solitária. Punição recebida por ele ter estragado um trabalho importante de Hefesto, o qual este tinha um prazo curto para entregar — foi o único argumento de Homero ao aprisioná-lo ali.  Mas não acreditava que escravos fossem presos somente por estragar um trabalho. Provavelmente Homero não quisera lhe dizer a verdade para defender a imagem de seu deus, mas Hyoga tinha quase certeza de que havia sido aprisionado por ter cuspido no rosto do deus e contestado a sua pena.

Porém, algo fizera Hyoga sentir-se como se fosse ele o vilão da história, principalmente quando vira o garoto novato, assim como ele, tomar as dores do deus ao recolher os objetos jogados no chão. Hefesto não lhe dissera uma única palavra reprobatória. No entanto, Hyoga percebera que sua atitude havia sido condenada não somente por Homero, mas por todos os trabalhadores daquele lugar. Aquilo o vinha incomodando de uma forma que ele não imaginara que incomodaria.

Encostou a testa nos joelhos e escondeu o rosto.

“Não estou arrependido. Só queria entender porque estou tão incomodado. Não é pelo fato de eu não ter apoio dos demais. Afinal, eles devem ter consciência de que estão pagando por seus crimes e por isso não se julgam no direito de contestar nada.”

Ouviu passos se aproximando do lado de fora e parando diante de sua cela.  Houve em seguida um som de molho de chaves e a porta de ferro foi destrancada. Hyoga imaginou que era sua refeição que estava chegando mais cedo. Por isso preferiu não se mover da posição em que se encontrava até que seu carcereiro deixasse a bandeja com alimento, recolhesse a vazia e fosse embora. Contudo, diferente das outras vezes, os passos daquela pessoa produziam um som diferente no chão.  Hyoga o reconhecia; era o pisar de uma bota metálica. Mas não foi preciso erguer os olhos para identificar o recém-chegado, pois os cabelos de Hyoga foram agarrados e puxados para trás, obrigando-o a erguer o rosto e olhar direto para aquele homem agachado diante dele, Levian.  

— Onde foi parar toda a sua altivez, vassalo? — ele quis saber, sorrindo-lhe sarcástico. — Não me diga que alguns dias na solitária já foram suficientes para abrandar toda a sua fúria?  

Hyoga manteve seu olhar no do homem e respondeu aos questionamentos dele com outra pergunta:

— O que quer aqui?

Levian esboçou um breve sorriso e emendou rapidamente a resposta:

— Ajudá-lo a fugir.

— Não há como.  

— Será mesmo? Vejo que o velho Homero fez muito bem o seu trabalho de abalar  psicologicamente os seus novos vassalos com historinhas de terror — ele disse, soltando os cabelos loiros e erguendo-se.

Hyoga o acompanhou, levantou-se e continuou fitando Levian com desconfiança. Não acreditava que ele estivesse lhe oferecendo ajuda por nada.

— Então, o sr. Homero mentiu? Desculpe-me, mas eu não acredito nisso. Posso parecer ingênuo, mas sei reconhecer uma pessoa sincera e devota quando encontro uma.

— Claro — afirmou Levian, retomando o sorriso sarcástico. — Aquele tolo é tão devoto quanto você, falando da “sua deusa” o tempo todo como se ela realmente se importasse; como se Hefesto se importasse conosco. Aprenda uma coisa, garoto: os deuses não se importam conosco, os humanos. Somos somente convenientes aos seus caprichos. Enquanto estivermos servindo-os e sendo de alguma utilidade, teremos nossas vidas poupadas. A partir do momento em que nos tornarmos um fardo, seremos descartados como lixo. Sua deusa não se importa com você. Ela não fará nada para ajudá-lo.

— Mentira! — gritou Hyoga, explosivo. Não podia permitir que alguém que não conhecia Athena a julgasse de forma superficial.

— Mentira? — o subordinado de Hefesto repetiu em tom desdenhoso. — Quer prova maior do que você estar aqui? Acha mesmo que se a grande deusa da sabedoria se importasse, ela iria ao menos deixá-lo chegar a esse lugar? Está por conta da sua própria sorte a partir de agora, garoto. Se não fizer nada por si mesmo, ninguém mais o fará.

Hyoga emudeceu. Não podia se permitir ser levado por aquela conversa. Mas desde o momento em que fora informado de que seria julgado à revelia pelos deuses, vinha lutando para não crer que ele e os companheiros haviam sido abandonados por Athena.  

—Não há motivos para desespero — informou Levian, ganhando outra vez a atenção do novo escravo. — Existem duas opções nesse caso. Ou você se resigna, como os demais que chegaram com você, ou não. Se a sua opção for a segunda, como eu imagino que seja, posso ajudá-lo a se livrar dessas algemas.

— Em troca do quê? — Hyoga foi direto.

— Em troca de que me ajude também, é claro.

— Com o quê?

— Darei os detalhes se aceitar o acordo.

— Como posso ter certeza de que existe mesmo uma forma de me livrar dessas algemas sem ser pelas mãos do próprio criador delas?

— Diga-me... Hyoga, certo? Você é um ex-cavaleiro de Athena que possui o domínio do cosmo de gelo, estou correto?

— Sim.

— Então deve ter ouvido falar do Esquife de Gelo Eterno que só pode ser produzido por alguns usuários desse tipo de cosmo, não é mesmo?

— Óbvio que ouvi falar. Eu já estive preso em um feito pelo meu mestre.

— É mesmo? Melhor ainda! — o homem falou em tom teatral. — E como você está aqui agora, suponho que alguém o libertou do Esquife de Gelo Eterno. Como essa pessoa o fez?

A imagem de Shiryu relampejou na mente de Hyoga e ele arregalou os olhos ao compreender onde Levian queria chegar.

— Existe uma arma capaz de destruir essas algemas?

— Você é esperto. Eu gosto disso.  

— Onde eu a encontro?

— Sem acordo, sem mais informações. Então, qual é a sua resposta?

...

Naquele mesmo dia, Hyoga foi libertado da solitária. O carcereiro, um homem negro, alto e careca, foi quem lhe deu a notícia e em seguida o escoltou até o elevador.

— Pode ir sozinho. Alguém o esperará lá em cima. Apenas mova a alavanca até ela chegar ao chão.

O rapaz assentiu e entrou no elevador, fazendo conforme o carcereiro lhe dissera.

Como não havia portas, assim que sua cabeça ultrapassou o chão do piso superior, Hyoga conseguiu ver quem o esperava. Não imaginava que seria diferente.

— Bem-vindo de volta — Homero o saldou, mostrando-lhe aquele estranho sorriso gentil.

Hyoga não respondeu.

— Eu também não estaria de bom humor se tivesse passado uma semana na solitária. Mas depois de tomar um bom banho e dormir em uma cama, tenho certeza de que você se sentirá mais disposto. Siga-me. Vamos para o alojamento.

Sem esperar uma resposta, o homem deu as costas ao escravo e seguiu por uma escada de pedra. Hyoga, por sua vez, acompanhou-o em silêncio.

Assim que os dois atravessaram a passagem que dava para superfície, os olhos de Hyoga se arregalaram ante aquele belo cenário. Ia acabando o entardecer no monte Etna. O sol já se havia posto, deixando os tons de laranja e púrpura predominarem no colorido do céu. O ar soprou gelado e o jovem cerrou as pálpebras para aproveitar mais aquela sensação.

Lembrou-se da proposta de Levian e reabriu os olhos para fitar as costas de Homero. Levian lhe mostraria onde estava a arma capaz de destruir aquelas algemas, mas em troca, teria que ajudá-lo a destituir Homero de seu posto. Para isso, precisava apenas ser um escravo ruim, aliás, como já vinha sendo.

“Assim que Homero for destituído, eu não só mostrarei onde está a arma capaz de livrá-lo dessas algemas, como farei vistas grossas à sua tentativa de fuga.”

Sabia que era um risco confiar naquele homem. Nada garantia que ele cumpriria aquele acordo, e também, não tinha certeza quanto à veracidade da existência de uma arma capaz de destruir aquelas algemas. Poderia ser apenas um artifício que Levian estava usando para enganá-lo e tentar alcançar o posto almejado. No entanto, se fosse verdade, ele parecia ser o caminho para se sair dali. Por isso, antes de aceitar, Hyoga pedira um tempo para pensar. Nesse ínterim, iria investigar melhor o assunto.

“Por mim não há problema algum quanto a esperar, meu jovem. Apenas lembre-se de que tornar-se um bom escravo significa ter suas algemas provisórias trocadas por um selo definitivo. Aí sim, terá que se resignar à escravidão por toda a eternidade.”

Continua...


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Notas finais do capítulo

Vou postar o último capítulo no fim de semana.
Deixem reviews! 8)
Beijos