A Forja De Hefesto escrita por andreiakennen


Capítulo 4
Capítulo 4 (final)


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, gostaria de agradecer as recomendações incríveis feitas pela Vane e a Angelique. A Forja de Hefesto parece um trabalho tão simples, mas só a Vane que acompanhou todo o processo de elaboração sabe o quanto me esforcei, pesquisei e trabalhei para enquadrar essa história no pedido da destinatária, que foi a Nemui, e o quanto me debati em receios em relação ao contexto estar ou não a contento.
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Mas é só quando termino a fic, recebo reviews e recomendações que chegam a dar um engasgo, como as que recebi aqui no Nyah, é que percebo que o esforço e o trabalho valera mesmo a pena. Não me considero merecedora de tantos elogios, mas os recebo com carinho sempre.
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Esse é o último capítulo, espero de verdade que gostem!



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A Forja de Hefesto

Revisado por Vane

Capítulo 4 (Final)

Congelava os tonéis de água, tropeçava, derrubava-os, pedia desculpas informando que havia sido sem querer. Durante seus dias de aprendizado, Hyoga conseguiu instaurar um pequeno caos na área de produção. Vários trabalhos passaram a ser entregues com atraso; houve reclamações e até mesmo cancelamentos por parte de alguns clientes. Foram tantos os transtornos, que alguns forjadores já não queriam que ele sequer se aproximasse de sua bancada de trabalho.

Hyoga se encontrava com Levian aos domingos, que eram livres para descanso e por isso, livres para encontros. Nesse dia, todos os trabalhadores tinham acesso à área C, um local de lazer com biblioteca, sala de jogos e até quadra de esportes.

“Se continuar nesse ritmo, mais uma semana e você estará fora da Forja.”

Decidira aceitar o acordo de Levian quando ouvira no alojamento alguns trabalhadores falando sobre a matéria-prima que dava poderes especiais às armas forjadas para os deuses. Ouvira dizer também que essas armas ficavam em um lugar restrito, a que somente os responsáveis pelos grupos A (Forja) e B (desenvolvimento de outros trabalhos) tinham acesso. Ou seja, Homero e Levian.

No entanto, seu mau desempenho em suas funções fazia-o passar constantemente por momentos como aquele, em que lhe chamavam a atenção.

— O que há de errado com você? — Homero perguntou, irritado.

— Não há nada de errado comigo. Eu sou um cavaleiro. Nunca usei minha cosmo-energia para esse tipo de trabalho — alegou Hyoga tranquilamente.

O homem levou a mão direita à sua fronte e massageou-a com os dedos.

— Hefesto não quer mais você na Forja.

— Ótimo! — O jovem comemorou. — Me mandem embora daqui então.

Homero parou com a massagem e ergueu os olhos para Hyoga.

— É proposital, não é? Está sendo desajeitado, destruindo os trabalhos que os artesãos demoram semanas e alguns até meses para elaborar, de propósito?

Hyoga fitou o rosto do homem, sério. Homero, por sua vez, não precisava de resposta; o silêncio dele dizia tudo.

— Você nunca sairá daqui, criança. Não sei o que anda conversando com Levian, mas seja o que for, ele o está iludindo. Desista de fazer essas tolices. De qualquer forma, o mestre não quer você na Forja. Irei remanejá-lo. Venha comigo.

Hyoga se esforçou para conter sua empolgação. Finalmente havia conseguido o que queria e imaginou que estava sendo levado para a ala de Levian. No entanto, sua euforia se desfez assim que Homero e ele pararam diante de uma porta através da qual podia-se ouvir gritos de reclamações.

— Por hoje, irá trabalhar com os projetores. Talvez, se entender a confusão que está criando, você tome algum juízo.

Assim que abriu a porta, Hyoga viu o garoto — o mesmo que recolhera os objetos de Hefesto que arremessara no chão no seu primeiro dia na Forja —, tentando conter com seus braços magros a fúria de um homem alto e robusto. Este queria ultrapassar a linha divisória entre o salão de espera e os guichês de atendimento.

— Por favor, senhor. Espere sua vez para ser atendido.

— Homero! — gritou ele ao ver o responsável pela Forja. — Até que enfim você apareceu! Eu quero falar com Hefesto. Chame-o aqui agora! — bradou em tom de exigência. — Essa é a segunda semana em que venho e dizem que meu pedido não está pronto! Eu não saio daqui sem a minha espada ou sem falar com Hefesto.

— Terá que esperar para ser atendido, Diomedes ­— Homero disse, em seu tom comum de paciência. — Estamos com alguns contratempos na linha de produção.

— Danem-se seus problemas! Se não estão dando conta do trabalho, peçam mais escravos! Eu não vou esperar nem mais um segundo sequer.

— Isso é verdade! — gritou alguém mais atrás, apoiando a revolta e criando alvoroço entre os presentes no salão de espera. — O meu pedido também está em atraso!

Hyoga percebeu que, em sua maioria, os que aguardavam eram guerreiros assim como ele, provavelmente servidores de outros deuses. Alguns seguravam suas armas quebradas; outros, as armaduras.

Homero aproximou-se da linha, fazendo gesto com as mãos para todos acalmarem os ânimos.

Mas foi nesse exato momento que Hyoga viu o gigante Diomedes, tomado pela raiva, apanhar o garoto pelo pescoço e erguê-lo. Os olhos do ex-cavaleiro de Athena se arregalaram. Assustado com a atitude do guerreiro e mesmo estando com parte de sua cosmo-energia contida pelo selo de Hefesto em suas algemas, ele correu para socorrer o garoto que, no momento seguinte, foi arremessado em direção à parede.

— Não!

Hyoga fez tanta força para usar seu cosmo, que naquele momento não sentiu o ardor das algemas queimando seus punhos. Conseguiu avançar rápido o suficiente para apanhar o garoto antes que ele se chocasse contra a parede. Os dois caíram no chão e um novo alvoroço se instaurou no recinto.

— Você está bem? — Hyoga perguntou.

Depois de tossir e recuperar o fôlego, o garoto balançou a cabeça em sinal afirmativo, aliviando o desespero do cavaleiro.

— Malditos fedelhos! Eu vou ensiná-los a respeitar um semideus! — Diomedes bradou, rompendo a corda de isolamento com os punhos e caminhando na direção de Hyoga e do garoto caído.

Homero também tentou segurá-lo:

— Pare, Diomedes! Está fora de si, homem!

Mas o responsável pela Forja levou um golpe tão potente no estômago, que foi arremessado contra a parede, no outro extremo da recepção, e caiu desmaiado.

Hyoga se posicionou diante do garoto.

— Se quer descontar sua fúria em cima de alguém, venha me pegar. Eu sou o verdadeiro culpado pelos problemas na Forja. Não envolva pessoas inocentes nisso!

— Mais um escravo abusado... Vou dar um jeito nesses lixos por Hefesto.

Hyoga viu o homem retirar uma espada de tamanho desproporcional da bainha e fechou os olhos. Sabia que sem poder usar seu cosmo, não seria capaz de deter a força de um semideus. Mas ao contrário do que imaginou, não chegou a ser golpeado, pois ouviu o barulho de dois objetos metálicos entrando em atrito. Ao reabrir os olhos, surpreendeu-se ao ver Hefesto diante de si.

A espada que ele segurava estava cruzada com a de Diomedes.

— Maldito Hefesto! Um deus, defendendo esses lixos?! Por isso que você é a piada entre os deuses!

— Não se atreva a tocar nos meus cooperadores.

— São um bando de escravos fedidos e inúteis!

— Não são inúteis — o deus bradou. — Sem eles aqui a Forja de Hefesto não seria metade do que ela é hoje. Olhe para trás e veja quantas pessoas estão aqui. Acha que se eu estivesse sozinho, atenderia todos esses pedidos? Não me importa nem um pouco que falem de mim, ou que me achem a piada do Olimpo. Mas se você chama meus colaboradores de lixo, está chamando minha forja de lixo também e isso eu não vou permitir de forma alguma. Então é melhor que saia. Se mais alguém aqui pensa da mesma forma, eu peço que se retire imediatamente também. São livres para procurarem outro ferreiro menos patético do que eu.

O silêncio predominou por alguns instantes no ambiente.

Hyoga não sabia o que era aquilo que estava sentindo, um aperto no peito, um nó que se formara em sua garganta. Mas teve a impressão que era aquela a sensação que um filho tinha ao ser defendido pelo pai.

Ele também sentiu os braços do garoto que amparara apertados em volta de seu corpo. Afagou o alto da cabeça dele, sorriu e sussurrou, tranquilizando-o:

— Não se preocupe. Agora vamos ficar bem.

...

Depois de passar por todas as bancadas e se certificar de que a água continuaria resfriada o bastante até o final do expediente, Hyoga parou para observar Hefesto trabalhando. Forjar era um processo minucioso que exigia força física e concentração. Ele aquecia o ferro na fornalha, retirava-o, golpeava-o, voltava a pô-lo na fornalha e repetia o processo quantas vezes fossem necessárias. Até, de acordo com ele, retirar toda a impureza do ferro e torná-lo uniforme. Ele trabalhava por instinto, sem manuais, sem medidores. O resultado final, que era dado pelos polidores, era fascinante, gerando verdadeiras obras de arte.

O deus parou ao ver o rapaz observando-o.

— Quer tentar amanhã?

Pego de surpresa, Hyoga perguntou novamente, para ter certeza de que não havia ouvido coisas:

— Como, senhor?

— Você já observou o bastante. Acho que está na hora de tentar.

O cavaleiro abriu um sorriso e assentiu.

— Sim, senhor.

— Vá. Homero deve estar te esperando.

— Certo.

Minutos depois, Hyoga seguia para a sala de Homero, na parte superior do Templo, quando avistou Levian vindo na direção oposta à sua. Como não havia outro caminho a ser feito até o local, não conseguiria desviar do encontro que vinha evitando até aquele momento, por supor que o homem lhe cobraria uma justificativa pelo rompimento do acordo.

No entanto, foi bem diferente do que imaginara. O homem estacou ao seu lado e empinando mais o nariz, falou em tom de desdém:

— A compreensão de que Athena realmente o deixou à mercê da própria sorte alcançou sua mente e por isso você resolveu fazer seu pé de meia ao lado do deus mais próximo. É realmente bastante instável a sua devoção — Levian ironizou, em tom ferino.

Hyoga sabia que o homem estava contrariado devido ao fracasso de seu plano de autopromoção. Por isso procurou ser o mais seco o possível na resposta:

— Se é isso o que você conclui, só posso lamentar por sua limitação. Mas a minha devoção continua sendo para todos aqueles que são justos. Então ela não mudou; apenas se ampliou. Tenho certeza de que a deusa Athena não abandonou seus guerreiros. Caso contrário, nem vivo eu estaria. Ela só deve estar limitada no momento. E enquanto o resgate não chega, prefiro não manchar a honra dos Cavaleiros de Athena traindo e conspirando contra os justos.

Depois disso Hyoga voltou a andar e deixou para trás um Levian sem reação, enquanto a certeza do que pretendia fazer crescia, apagando qualquer vestígio de dúvida que ele ainda tivesse.

Depois de algumas batidas na porta e o pedido de licença, Hyoga entrou na sala de Homero e o encontrou ao lado de uma pequena fornalha, onde ele aquecia o marcador na brasa.

— Tem certeza de que quer fazer isso, Hyoga? — perguntou Homero, fazendo questão de dizer o nome do rapaz, o qual agora reconhecia pela bravura e pelo instinto de proteção aos mais fracos. — Sabe que não precisa. Agora o mestre confia em você — concluiu, tirando o marcador da brasa.

— Sim, eu sei — Hyoga disse, enrolando a manga comprida da camisa, até descobrir o antebraço. — Eu não quero ser diferente dos meus irmãos, Homero. Então, estou pronto.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Olá, Nemui! (E quem mais se aventurou nessa história.)
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Bem, como esse pedido não era o plot que eu tinha escolhido (mas era a sua primeira opção e eu gosto de tentar a primeira opção do meu amigo secreto), tive um caminho tão árduo quanto o do Hyoga para trilhar, para conseguir desenvolver esse trabalho.
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Mas, eu só tenho a agradecer. De verdade. Sempre digo à Vane, e repito agora para você também: escrever para o Coculto é um desafio. Porque se eu escrevesse algo a que estou habituada, não seria um desafio. Por isso, pelo desafio de me por à prova, que amei tanto escrever essa história para você.
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Não tenho certeza de que a fic vai estar completamente do seu agrado, pois nossos estilos são bem diferentes, mas procurei ser criteriosa com seu pedido. Se não fosse a Vane me ajudando com o processo de revisão, sério, estaria travada até agora. xD
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A fic foi mesmo bem pequena, sei que daria para desenvolver melhor ou fazer mais capítulos, mas serei sincera, me dei por satisfeita com o tamanho dela. O final não foi bem um final. Ele deixa margens para você leitor imaginar o que melhor se encaixa em suas expectativas.
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Nos vemos no Coculto do início do ano! o/
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Beijos!