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Subi os degraus da varanda com Jake a meu lado. Os burburinhos dentro da casa cessaram.

Os dedos dele tremiam e eu sabia que a esta altura, Edward já havia ouvido seus pensamentos. Jake nunca havia sido bom em esconder algo dele. Suspirei, pois meu pai não ia ser fácil, mas eu não ia ceder. Havia encontrado o sentido das minhas emoções por Jacob e nada me faria desistir dele.

Mas quando me virei e vi sua expressão tensa, me perguntei se era o momento certo.

Toquei o rosto dele:

“Tem certeza?” – questionei através do meu dom, porque não tinha sabia se eu ainda era capaz de falar, tamanha era a minha ansiedade.

Ele apenas sorriu e virou minha mão para beijar a palma.

Abri a porta e me deparei com oito vampiros congelados no meio da sala. Se eu fosse humana poderia até dizer que eram esculturas, pela imobilidade excessiva deles.

O único sinal de vida, se é que se pode dizer assim, eram os olhos topázio de Edward que eram duas chamas vivas de pura ira contida, ao olhar a minha mão entrelaçada na de Jacob.

Empinei o queixo, esperando.

Os segundos se arrastavam e ninguém respirava, nem mesmo Jake.

Por fim, Bella se moveu, enroscando seu braço no de meu pai. Se era um gesto de carinho ou para conte-lo, eu não saberia dizer.

– Bem. – ela disse num sussurro, quebrando o silencio perturbador da sala – Isso não deveria ser nenhuma surpresa.

Com suas palavras, os outros foram aos poucos relaxando, mas não saíram dos lugares em que estavam. Edward, porém continuou com os mesmos olhos febris e ombros levemente arqueados, como se realmente a única coisa que o mantinha em seu lugar, fosse o braço de Bella no seu. Também não dava indícios de que falaria alguma coisa.

– Bella, nós temos algo a dizer. – Jacob falou com a voz firme e se moveu apertando mais sua mão na minha.

Isso pareceu tirar Edward do transe imediatamente. Em questão de milésimos de segundos, ele estava em nossa frente, com Bella e Emmett, logo atrás dele. Seu tivesse piscado, teria perdido sua aproximação. Apesar de ser mais baixo, sua sombra pareceu avultar-se sobre Jacob que não esboçou nenhuma reação. Mas sua mão continuava trêmula. Meu tio tocou o ombro de Edward.

– Irmão, fique calmo. - pediu Emmett e imediatamente uma sensação de tranquilidade se espalhou pelo cômodo. Mas o dom de Jasper não era o bastante para acalmar meu pai neste momento.

– Isso não vai acontecer, Jacob Black. – ele disse em uma voz baixa, mas extremamente ameaçadora.

– Isso não é decisão sua. – respondi de forma controlada. Alguém teria que manter a calma nessa conversa. E teria de ser eu. Pois Jacob parecia que ia explodir num lobo gigantesco a qualquer momento.

Edward olhou para mim, como se só agora tivesse percebido que eu também estava ali.

– Renesmee, saia daqui. Agora. – ele parecia não ter autocontrole suficiente para aumentar o volume de sua voz.

–Não. – disse com firmeza. Minha temperatura estava elevada, mas minhas mãos estavam geladas. Eu não iria sair de forma alguma. - Para que? Para que vocês dois percam a cabeça e se machuquem?

Ele meneou a cabeça, comprimiu os lábios e voltou sua atenção para Jacob:

– Então, você sai! - ele sibilou.

Com uma mão, Edward me empurrou para o lado para que eu saísse do caminho e com a outra usou toda a sua força para empurrar Jacob, que tremia, mas matinha suas emoções controladas.

– Pai, não! – gritei, enquanto Esme me puxava para trás.

Como Jake não reagiu, Edward deu-lhe um soco no estomago que o fez atravessar a sala e atingir uma parede, causando uma fissura e derrubando os quadros que estavam pendurados nela. Jacob caiu de joelhos no chão e abraçou a barriga. Ainda assim, quando levantou a cabeça seus olhos encontraram os meus e ele continuou a controlar os tremores que assolavam o seu corpo, seus instintos tentando força-lo a se transformar em outra coisa.

– Pai, por favor... - choraminguei me debatendo, enquanto Carlisle ajudava Esme a me manter fora do centro do conflito.

Meu coração estava divido. Por um lado, queria que Jacob reagisse e não deixasse Edward o tratar dessa forma. Mas por outro, não queria nenhum dos dois feridos. Por que ninguém fazia nada? Olhei para Emmett e Jasper que deram de ombros, mas via-se que estavam preparados para intervir se a situação saísse do controle.

– Edward... - me surpreendi ao ouvir a voz de Jacob, que ainda estava de joelhos no chão. – Por favor? – ele pediu com a voz suplicante e ofegante. - Você vê tudo que passa em minha cabeça. – ele continuou e inexplicavelmente, os tremores cessaram. Ele não queria reagir. – Sabe que só quero o que é melhor para ela. E essa, foi a decisão que ela tomou.

Edward continuou em seu lugar, fixando-se em Jacob, com um olhar tão feroz que poderia muito bem fazê-lo virar cinzas.

Então, Bella parou a seu lado e tocou-lhe o rosto. Ele olhou para ela e pude ver que aos poucos, os olhos coléricos de Edward foram se suavizando. Tornou a olhar para Jacob e seus ombros também relaxaram, com certeza à medida que ele comprovava a sinceridade nas palavras dele. Emmett e Jasper relaxaram também.

Edward suspirou.

– Desculpem-me. É só que ... eu fui pego de surpresa. – Edward disse, com a voz entrecortada, revelando a incerteza da sua afirmação.

Jacob se levantou, enquanto Esme e Carlisle me soltavam e em menos de um segundo o estava abraçando e ele a mim. Ele expirou de alivio enquanto encaixava o queixo no meu ombro. Ouvi alguém trincar os dentes atrás de mim.

Percebi que Emmett estava segurando a risada, se divertindo com a cena. Seu riso reprimido fazia a estrutura da casa ter pequenas vibrações. Mas até ele sabia que não era momento para rir.

Alice revirou os olhos e andou com sua forma graciosa até ficar entre Edward e Jacob.

– Edward, por favor! – ela disse teatralmente. - Vocês estão fazendo disso uma tempestade num copo d’água. Se acalmem. Temos coisas mais importantes para resolver.

Edward olhou para ela, de uma forma assassina, demonstrando que sua raiva fora apenas escondida e não extinta. Alice nem se abalou.

Minha mãe puxou o braço dele, o que chamou sua atenção por tempo suficiente para ele se controlar novamente. Ambos se sentaram no sofá.

Jacob pareceu relaxar por completo ao meu lado, enquanto Carlisle se moveu para o centro da sala.

– Nós queríamos vocês aqui por motivos diferentes. - ele disse – Mas isto... – ele meneou a cabeça olhando para as nossas mãos, novamente juntas. - Nos pegou um pouco de surpresa.

– Acho que repulsa seria uma palavra melhor para meus sentimentos. – murmurou Rosalie, com sua voz de sinos soando critica.

Senti Jacob apertar a minha mão e seus músculos começaram a ter leves espasmos.

– Rosalie.- Carlisle disse balançando a cabeça em reprovação. – Não vamos recomeçar os desentendimentos.

Ela bufou, mas não disse mais nada.

– Edward? – Carlisle perguntou, dando a chance de iniciar o assunto, mas meu pai balançou a cabeça suavemente, negando. Ele ainda não estava controlado o suficiente.

– Pois bem.- Carlisle continuou. – Sabem que Alice tem visões mais claras quando nem você Nessie, nem Jacob estão por perto. Então enquanto estavam fora, Alice teve a visão de que Johan, o vampiro pai de Nahuel, que nos ajudou na batalha contra os Volturi anos atrás, estará vindo para essa região daqui a aproximadamente dois meses. Ao que parece, ele está desacompanhado, mas não podemos dizer ao certo, pois Alice não vê com clareza os híbridos que são... filhos dele.

Lutei para meu queixo não cair. O que Johan poderia querer nessa região?

– Como sabem que é ele? – Jake perguntou e logo em seguida olhou para meu pai.

– Eu o reconheço dos pensamentos de Nahuel e Huillen. - meu pai respondeu olhando para um canto qualquer da sala.

Jacob bufou. Pelo visto ele já tinha se recuperado da desavença anterior.

– Mas porque tanto alarde com isso? – ele disse dando de ombros – Nós somos muitos aqui. Não vejo como ele pode ser uma ameaça.

– Nós não sabemos Jacob. – Edward disse sem levantar o rosto para nós.- Não sabemos quantos eles podem ser. Até onde sei, ele estava com três filhas devotas conforme Nahuel nos afirmou quando esteve aqui. Mas ele mesmo não vê o pai há alguns anos. Não podemos ter certeza. Quantos outros... experimentos ... - Edward travou o queixo quando disse a palavra. – ele pode ter feito? Nós não sabemos. – ele repetiu comprimindo os lábios.

– Tudo bem então, temos que estar preparados para evitar um desentendimento. – eu declarei já ansiosa. Detestava estes tipos de conflito que pareciam estar sempre pairando a volta de minha família. E eu sentia que mais uma vez eu era centro.

Olhei em torno da sala e nenhum deles respondeu a minha declaração.

– O que foi? – perguntei enquanto sentia Jacob ficar tenso a meu lado.

– Nós não vamos enfrentá-lo, Nessie. – foi minha mãe a dizer – Não queremos deixar que ele nem ao menos tão chegue perto. Temos a teoria que ele vem para ver você. – ela confirmou meus temores e eu percebi que Jacob também não precisava do dom de Alice para saber o que viria a seguir.

– E então? – ele perguntou, entre dentes.

Bella nos olhou por um momento e seu rosto estava angustiado quando disse:

– Então, nós vamos para o Alasca.

O ar me faltou. Era como se eu estivesse sufocada. Mesmo imaginando o que eles iriam me impor, o choque me deixou paralisada.

– Ir embora? – perguntei num fio de voz. Meus joelhos ficaram trêmulos novamente, mas dessa vez não era de desejo por Jacob.

– Sim. – foi Edward quem me respondeu.

– Isso é loucura! – Jacob cerrou os punhos. – Tolice! Porque fugir quando somos em numero o bastante para derrotá-los? Em quantos eles poderiam ser? Cinco? Dez? – ele agora tremia dos pés a cabeça enquanto falava numa rapidez surpreendente até para mim - Tenho certeza que não são mais do que o exército de recém-criados que enfrentamos no passado e com certeza não tão fortes!

Jacob olhou para minha mãe que abaixou a cabeça. A ira de Edward estava voltando conforme Jacob falava, mas ele parecia não perceber. Ou não se importava agora.

– A questão não é essa Jacob. – foi Carlisle quem respondeu. – Não sabemos as motivações dele e de quem quer que esteja com ele. Johan é um sádico e não queremos que alguém assim, tenha contato com Renesmee. Você estaria disposto a expô-la a este risco?

Jacob estreitou os olhos.

– Sabem que não. Mas podemos escondê-la. Enquanto eles estiverem aqui pelo menos.

Rosalie bufou.

– Eu vou ser sincera. Você não deveria estar nessa conversa. Isso é pra ser resolvido entre a família! – ela sibilou.

– Rose! – Esme advertiu, falando pela primeira vez nesta conversa. Então olhou para nós. – Há mais do que isso Jacob. Nós estamos em Forks há muito tempo. Já devíamos ter ido embora. O fato de Johan aparecer, só nos estimulou a tomar a decisão de quando ir.

Jake iria abrir a boca para contestar, mas eu toquei seu braço e ele se calou.

Então olhei para cada rosto perfeito da minha família.

– Tudo bem. – disse com a voz mais calma que podia.

Todos começavam a relaxar quando Edward trincou os dentes. Sim, ele sabia qual era a minha decisão.

– Você quer dizer que...? – Rosalie começou, mas eu a interrompi.

– Sim eu quis dizer, tudo bem vocês podem ir. Mas eu vou ficar.

Bella arfou e Esme levou a mão ao pescoço, enquanto os outros voltavam a serem estátuas.

– Não quero ser um empecilho para nenhum de vocês. – declarei olhando para o chão. - Tinham suas vidas antes de eu aparecer e devem continuar como sempre. Nunca irei pedir para se sacrifiquem por mim dessa forma.

– Não! – eles disseram em uníssono.

– Não, não, não...- minha mãe sussurrou e em milésimos de segundos já estava me abraçando , apertado. – Nunca mais repita isso Nessie. Nunca mais! Você é a minha prioridade. E nada que eu faça por você é muito. – ela levantou a cabeça e me encarou, com seus olhos dourados. – Mais que minha própria vida, lembra?

Olhei para o rosto pálido de Bella, distorcido pela tristeza, enquanto tocava o medalhão no meu pescoço. Meu coração se aqueceu. É claro que eu sabia que ela faria tudo por mim. Que todos fariam. Já não tinham feito diversas vezes? Toda minha família, os Quileutes e até amigos distantes arriscaram suas vidas por mim. E sei que estariam dispostos a arriscar de novo, se preciso.

E era esse o ponto.

Não queria que eles se sentissem obrigados a me proteger constantemente. Infelizmente, eu era o elo fraco desta família. Minha parte humana nunca permitiria que eu me defendesse sozinha em nosso mundo.

Eu detestava esse sentimento de fraqueza.

Estava decidida a deixar que minha família tomasse o rumo que quisesse, agora que meu destino estava entrelaçado no de Jacob de uma forma que eu sentia que não havia volta.

Edward balançou a cabeça, se negando a aceitar as verdades em meus pensamentos.

– Nessie, você está errada. Você não é o elo fraco. Pelo contrário. – ele se aproximou devagar e seus olhos não expressavam mais a ira de antes. Agora carinho e compreensão era o que via-se neles. Ele tocou meu rosto. – Você é o elo mais forte que poderia haver. Seu nascimento fortaleceu os laços de nossa família e nos uniu aos Quileutes de uma forma totalmente inesperada.

Jacob deu um sorriso torto, mas Edward o ignorou.

– Nossa família é mais forte do que nunca. – Carlisle também afirmou com sua voz transbordando de ternura. – Por sua causa principalmente. Então o que a faz feliz, nos faz felizes também. Se não está preparada para deixar Forks... - ele olhou para seus filhos e obteve a confirmação que estava procurando – então não deixaremos. Ficaremos todos e enfrentaremos o que for preciso.

Olhei para os lindos rostos de minha família. Todos menearam a cabeça confirmando as palavras de Carlisle, até mesmo Rosalie, enquanto encaravam Jacob.

Eu não os merecia. Eles realmente abririam mão de qualquer coisa por mim. Me senti desprezível por praticamente obrigá-los a ficar. Mas o que eu podia fazer? Nunca conseguiria me afastar de Jacob e jamais seria capaz de pedir a ele para abandonar a sua terra, seus irmãos e sua família.

O sentimento de culpa instalou-se em minha mente com suas garras negras e eu tinha certeza de que demoraria a sair dali.

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