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Tive que usar todo meu autocontrole para não virar um lobo gigante bem no meio da sala de estar. Todo meu corpo tremia e o calor subia e descia por meu corpo tentando forçá-lo a transformação.

Minha mão segurou mais firme o telefone em minha orelha, enquanto com a mão livre apertava a cintura de Nessie, puxando-a para mais perto de mim. Precisava dela perto para me segurar na pequena e linha fina que me impedia de arrancar a cabeça de Nahuel.

Todos ainda me encaravam, esperando que Leah nos desse mais informações do que estava acontecendo.

A voz angustiada dela me chamava urgente.

— Jacob? Ainda está aí?

— Sim, estou. — minha voz era só um grunhido no fundo de minha garganta. — Por tudo que é mais sagrado Leah, me explique o que aconteceu!

— Eu não sei! — ela gritou — Ele estava tão mal, tão doente, mas de repente ele se sentia melhor. A febre cedeu e a hemorragia cessou e ele ficou bem durante toda a noite. Mas enquanto fui buscar algo para ele comer, eu ouvi o grito de dor dele e o estrondo de algo se quebrando! Quando cheguei no quarto Jhon estava lá, naquela forma nojenta! Eu não pude me transformar! Eu sei que foi arriscado, então nem pense em me dar um sermão também, porque Sam já fez isto!

Ela falava tão rápido que eu duvidava que ela estivesse respirando.

— Eu tinha que me transformar para me proteger, mas não consegui. Você me entende? Eu só consegui ficar olhando os olhos dele! E me olhava com fúria e achei que fosse me atacar, mas ele se virou, arrebentou a parede e fugiu! Estamos procurando que nem loucos, mas não conseguimos pegar o rastro. — ela parou para tomar fôlego, mais logo falava de novo, rápido demais. — Precisamos de Edward e de Jasper, Jacob! Eles são os únicos que conhecem um pouco dessas criaturas. Precisamos deles aqui para quando encontrar Jhonatan, para podermos ajudá-lo!

Engoli em seco. Eu sabia o quanto era difícil para Leah pedir ajuda aos Cullens, e isso mostrava o quanto ela estava sofrendo.

Olhei para os Cullens, todos os rostos eram máscaras brancas, no meio da sala. Não precisei perguntar. Edward e Jasper acenaram com a cabeça concordando.

— Não se preocupe, vamos chegar o mais rápido possível.

Leah deu um soluço quando não pode mais conter seu choro.

— Venham depressa, por favor! — ela murmurou antes de desligar.

Vários olhos raivosos rapidamente estavam sobre Nahuel que sorria de forma pesarosa.

— Eu disse que vocês estavam em perigo... — murmurou.

— Você terá que ser mais específico. — Edward sibilou.

— Eu não posso! Estaria assinando minha sentença de morte se contasse tudo que sei. — Nahuel declarou.

— A estará assinando agora se não abrir a boca! — Emmett bradou e Jasper foi para o lado dele demonstrando que concordava com suas palavras.

Nahuel os encarou por um momento. Então, olhou para mim e Renesmee e por fim olhou para Edward, e foi com ele que falou.

— Façam o que tiverem que fazer.

Edward o fitava com fogo nos olhos. Eu sabia o quanto ele lutava contra seus conceitos de violência e ao mesmo tempo pensava na segurança de sua família, da mesma forma que eu lutava contra meus instintos.

Matar Nahuel agora seria vantagem ou desvantagem? Ele poderia nos ajudar posteriormente como já fez antes, ou procurava apenas apelar para os valores humanos desta família de vampiros, apenas para traí-los depois?

Eu sabia qual era a decisão antes mesmo de Edward falar. Eles não matariam Nahuel. Os Cullens eram bons demais para isso.

Mas minha surpresa não foi pequena quando ouvi o apelo na voz de Nessie.

— Pai. — ela chamou fracamente.

Edward ainda se demorou um pouco até virar para olha-la. Nessie balançou a cabeça em negativa, os olhos suplicantes.

Edward suspirou, antes de voltar-se para sua família, mais especificamente para Bella. Ela tinha a mesma opinião que a filha.

Então, Edward virou-se para Nahuel, o fogo em seus olhos ainda vivo.

— Se não pode nos ajudar mais, então vá embora. Somos gratos pelo aviso, mas Alice já está plenamente satisfeita com dois pontos cegos e não precisamos de mais um. — Edward fez uma pausa antes de ameaçar. — Mas eu quero que saiba que não vamos ser manipulados e nem ameaçados. Seja o que for que estejam tramando, nós vamos detê-lo. Pode ter certeza disto.

Nahuel balançou a cabeça uma vez, e ao contrário que eu esperava sua expressão não era vitoriosa.

— Sei que não vão acreditar em mim — disse — mais eu realmente desejo que vocês o detenham.

Declarou, virou-se para porta e saiu, mas não antes de lançar um último olhar em minha direção.

Em segundos, sua passagem por esta sala parecia imaginação. Tudo ficou silencioso. Eu podia ver as mentes ali trabalhando, tentando encontrar explicações e saídas para o que acabamos de saber.

— E agora o que vamos fazer? — Bella foi a primeira a quebrar o silencio interminável.

— Temos que voltar o mais rápido possível para Forks e ajudá-los a encontrar Jhonatan. — Edward disse.

— Mas e quanto às informações de Nahuel? Acreditamos nele ou não? — Bella ainda perguntava.

— Não temos como saber o quanto do que ele disse pode ser verdade. A única certeza que temos é que Jhonatan esta precisando de ajuda.

— É a coisa mais inusitada que eu já ouvi. Como Jhonatan pode ter se transformado em um filho da Lua durante a luz do dia? Até onde sei a mutação dessas criaturas são dependentes do ciclo lunar, e é dai que vem seu nome. — Jasper perguntava mais para si mesmo do que para os outros.

— Outra coisa: como e porque ele sofreu a mutação? — Bella perguntou.

Todos olharam para Edward que franziu a testa.

—Eu não me recordo de ter visto na mente de Caius a forma como isso ocorre. Você sabe, Jasper?

O vampiro loiro ainda pensativo coçou seu queixo.

— Não com clareza, mas essas criaturas são tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes a nós, que eu creio que seja da mesma forma que ocorre a transformação da nossa espécie: através da mordida.

— Isso não é provável. Se fosse dessa forma eu e Embry seríamos Filhos da Lua agora. — eu disse.

Nessie estremeceu em meus braços, mas continuou em silêncio.

Mas Jasper e Edward balançaram a cabeça em sincronia.

— Isso não significa muito. Os genes de seus organismos já são mutantes e não reagiram a infecção das criaturas. — Edward disse.

— Mas se eles são tão parecidos com sua espécie assim, e se eles transmitem a porcaria genética deles através da mordida, nós deveríamos estar mortos a esta altura então, não? — perguntei e encarei Edward que franziu os lábios.

Para isso ninguém tinha resposta.

— Seja o que for que houve com ele, tenho certeza que é culpa de Nahuel. Dele e dessa irmã dele. — Emmett disse.

— E os Volturi? Será que estão ou não envolvidos nisso? — Rosalie questionou.

— O que Nahuel disse não corresponde a minha visão. — Alice disse pensativa, o cenho franzido. — Johan não parecia estar sendo repreendido. Parecia na verdade uma conversa muito amistosa.

— Tem certeza Alice? Suas visões são muito subjetivas... — Emmett disse.

— Eu sei o que eu vi! Se eles tivessem mudado de ideia, eu teria visto também! — Alice rebateu e levou uma mão a sua têmpora esquerda. Ela estava forçando demais a sua mente, tentando ver através dos pontos cegos.

— Mas e se não pudesse ver? E se o que você viu foi apenas uma jogada e um truque para nos enganar? E se eles estiverem brincando com os pontos cegos de sua visão? Aro sabe muito bem a extensão do seu poder. Ele pode estar escondendo algo... — Rosalie conjecturava mais e mais, e tudo que ela dizia fazia sentido.

— Seja o que for, ficar aqui não vai ajudar em nada. — eu disse e todos os olhos se voltaram para mim. — Temos que voltar para Forks. Nós aqui estamos em desvantagens, assim como minha família está. Nossa união é o que irá nos salvar agora, como da última vez.

Os vampiros acenaram com a cabeça uma vez, concordando. Em meio às dúvidas era a única certeza que tínhamos.

Renesmee que esteve o tempo todo em silêncio, se soltou de meus braços e saiu da sala rumo à cozinha.

Todos a observaram sair sem fazer menção a isto. Após ela desaparecer, Edward fez um gesto com a cabeça indicando que eu fosse atrás dela.

Ele não precisava dizer duas vezes.

Nessie encarava a janela enorme do lado oeste da cozinha, seus braços estavam cruzados quando entrei no cômodo. Ela não fez nenhum movimento com minha entrada, nem mesmo para verificar quem estava atrás dela.

Suspirei ao ver seus ombros curvados. Mais uma vez ela tomava as culpas de todos para si, e eu já até imaginava o que se passava em sua mente fértil e mártir.

Ela havia herdado muitas características de Bella e uma delas era a autoacusação. Estava se martirizando pelo sofrimento dos outros e nem mesmo levava em conta à própria segurança. As ameaças de Nahuel haviam sido claras: Johan queria Renesmee.

Andei devagar até ela. Seu cabelo longo estava em um penteado meio solto o que fazia seu pescoço ficar escondido. Afastei as mechas e depositei um beijo em seu ombro antes de apoiar meu queixo nele e de passar meus braços em torno dela.

— Eu te amo. — sussurrei em seu ouvido.

Ela fechou os olhos e deu um sorriso fraco.

— É isso que me mantém viva. — ela sussurrou de volta.

Sorri e beijei sua face.

— Então sabe que não tem nada para se preocupar não é? Sabe que nós vamos dar um jeito nisso. Nós sempre damos!

Ela suspirou, mas não me respondeu.

Ficamos abraçados, olhando a neve branca e o céu que começava a escurecer, anunciando nova tempestade.

Quando pensei que ela havia esquecido seus medos, murmurou.

— Mas a que preço?

— Como assim? — perguntei.

— Será que sairemos inteiros mais uma vez? Será que todos ficarão seguros?

— Claro que vamos! Somos fortes Nessie. Tudo que temos que fazer é ficarmos juntos, e nada vai nos derrotar.

Senti os ombros dela se encolherem.

— Eu sei, e tudo que eu queria era deixar todos vocês seguros. Achei que quando fossemos embora, sua família estaria a salvo. Mas eu estava tão enganada! O que fizeram com Jhon é culpa minha. Se estivéssemos lá, talvez eles não tivessem se concentrado nele...

— Shi... — eu sussurrei e virei seu corpo para que ela se virasse para me olhar.

Seus olhos sofridos encontraram os meus e por um momento, eu só pude fita-la. Então aproximei meu rosto do seu e beijei sua testa, inalando profundamente o perfume dos seus cabelos.

— Não ha segurança no nosso mundo, Nessie. Por mais que tentemos, sempre vai ter algo com o que nos preocupar. E teremos muitos anos para nos preocupar. - sorri e esperei que ela me acompanhasse, mas não o fez. - Nossa única esperança é ficarmos juntos, sempre, não importa o que aconteça.

Nessie balançou a cabeça e suspirou, antes de abraçar minha cintura e apoiar a cabeça em meu peito. Abracei seus ombros sentindo seu coração bater forte contra meu peito, o som que me mantinha respirando.

Nada, nem ninguém iria machucá-la. Eu morreria para garantir isto!

*****

As próximas horas foram gastas com organização. Estávamos nos preparando para voltar para casa após tanto stress contido, muitas especulações e argumentações, os Cullens estavam agora em extremo silencio. Moviam-se quase que automaticamente, sem prestar atenção no que faziam, perdidos em seus próprios pensamentos. Ou apenas agindo como vampiros deviam agir.

Eu não havia trazido coisas que valia a pena levar de volta. Tudo que eu precisava já estava comigo, e estava sentada em meu colo, na varanda da frente enquanto esperávamos os outros.

O caminho para o aeroporto continuou silencioso e pesaroso. Todos temiam pela segurança de Jhonatan e imaginavam o sofrimento que minha família estava passando. A sensação é que eu podia sentia a dor deles, me acertando, mesmo estando a quilômetros de distância.

Minha cabeça estava a mil. As palavras de Nahuel ecoavam em minha mente, fazendo o silencio não ser tão incomodo afinal.

Já no avião eu me senti mais tranquilo apesar das circunstâncias. Eu sentia que estávamos mais seguros a trinta mil pés do chão. A sensação de que estávamos sendo vigiados o tempo todo não era em vão. Sabe-se lá quem mais poderia estar nos seguindo. As visões de Alice eram muito limitadas com relação a híbridos para nos deixar calmos.

Nessie não falava também, mas não deixava de me tocar em nenhum só momento e sempre que podia se aconchegava em meu ombro.

Ela adormeceu nas primeiras horas após termos deixado o chão e eu tentei fazer o mesmo, com a esperança de fugir ao menos por alguns instantes, o que enfrentaríamos quando o avião pousasse.

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Chovia quando chegamos em Forks. O tempo ruim combinava com o estado de espírito de todos. A saudade de casa não foi o suficiente para aplacar a tristeza com que teríamos que lidar.

Carlisle e Esme nos esperavam no aeroporto. Abraços silenciosos foram trocados entre os Cullens e seus patriarcas, mas todos tinha pressa de chegar em casa, mas precisamente a reserva. Sam nos esperava na fronteira.

Ouvi sem registrar Carlisle explicando a Edward as teorias de como Jhonatan poderia ter virado aquela criatura asquerosa.

Para mim era irrelevante. Minha preocupação maior era encontrá-lo e acabar com o sofrimento que Leah e Sam estavam passando, junto com toda a minha família. Depois cuidaríamos da parte técnica. Pelo silencio de Nessie podia adivinhar que ela sentia o mesmo.

Leah esperava junto com Sam na fronteira. Estava magra e seus olhos estavam rodeados por sombras escuras e seu maxilar estava contraído.

Ela não desabaria na frente dos Cullens. Apesar de tudo que passava e de ter pedido a ajuda deles, seu orgulho era muito grande para que ela deixasse que eles vissem o quanto estava fragilizada.

Já Sam, era a figura da angústia. Seus ombros estavam caídos e seu rosto estava retorcido de agonia. Eu imaginava como sua cabeça devia estar lotada de pensamentos pesarosos.

Apenas acenos de cabeça foram trocados antes que ele começasse a contar com voz fraca aquilo que já sabíamos: Jhonatan continuava desaparecido. Leah acrescentava um detalhe ou outro com voz trêmula. Os Cullens escutavam em silencio, mas via-se claramente em seus rostos pálidos o quanto lamentavam o ocorrido.

E neste momento de crise, com minhas duas famílias separados apenas por uma linha imaginária tentando se unir mais uma vez no intuito de se ajudarem, que eu percebi maravilhado o que um imprinting poderia fazer.

Seu poder era maior do que imaginavam. Ele não era apenas capaz de unir duas pessoas, como também unir duas famílias de seres que deveriam se odiar eternamente e se destruir mutuamente. Uni-las não apenas por interesses, mas por um amor sincero que estava estampado no rosto de todos.

Como que para confirmar isto, Nessie deu um passo à frente e tocou o ombro de Leah. Todos paralisaram quando Leah ergueu a cabeça e olhou-a com rancor e surpresa.

Mas isto durou poucos segundos, porque Nessie terminou a distância entre elas e a envolveu em seus braços. Leah se retesou por um momento, mas para o choque de todos devolveu o abraço e chorou nos ombros de Renesmee.

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