É estranho, mas a única coisa que me lembro do e-mail era a primeira frase, porque depois daquilo, nós duas ficamos tão aturdidas que nem lemos o resto.

– Gostaríamos de parabenizá-la por ter ganhado o concurso One Month With One Direction... – Gabriela leu e depois olhou para mim, tão incrédula quanto eu. – Meu Deus do Céu, Laura. – foi só o que ela disse, antes da ficha realmente cair e nós começarmos a gritar que nem duas loucas.

Graças a Deus, minha mãe tinha saído sei lá pra onde, então ninguém iria encher o saco. Lemos e relemos o e-mail inteiro, checamos o remetente, o twitter e tudo o que dava pra checar para temos certeza, e tudo parecia certo.

O voo, pago por eles, sairia da cidade de São Paulo no dia 20 de novembro. Deus do Céu. Quatro dias. Eu ia ter que convencer minha mãe a me deixar ir e ainda a me levar para São Paulo, que, por sinal, é muito longe de Rondônia, onde eu morava. Eu nunca conseguiria, mas tinha que tentar, certo?

Contei para o meu pai primeiro, quando ele chegou. Ele era do tipo ‘siga os seus sonhos’, então me apoiou, até mesmo quando eu falei sobre ir para São Paulo. Disse que me ajudaria a convencer a minha mãe e tudo mais, mas eu ainda não tinha muita certeza.

Eu estava no meu quarto, então não pude ouvir minha mãe chegando. Mas soube que ela estava em casa quando ouvi um grito, depois algo caindo no chão. Eles estavam discutindo de novo, a terceira vez naquela semana. Há algum tempo, quando as brigas começaram a ser mais frequentes, eu chorava sempre. Achava que eles iam se separar, mas, agora, eu não ligava mais. Talvez o divórcio fosse melhor mesmo. Talvez eles estivessem fazendo mal um ao outro... De qualquer jeito, eu iria para Londres e aquilo tudo não me incomodaria mais. Eles eram adultos, não precisavam de mim por perto e eu, realmente, não queria estar.

Acordei com minha mãe me cutucando e chamando meu nome com uma voz de choro. Eu não me lembro de ter cochilado, mas de qualquer jeito, o relógio marca 20h05. Olhei para ela, e pude jurar que ela estava realmente chorando. Não adiantaria nada perguntar, ela sempre negava, mas eu o teria feito do mesmo jeito, se ela não tivesse me interrompido:

– Eu e seu pai decidimos deixar você ir viajar. – ela praticamente jogou as palavras em cima de mim. Eu ainda estava meio sonolenta, mas aquilo me fez ficar agitada. Eu nunca imaginei que seria tão fácil... era como se eles quisessem se livrar de mim ou algo do tipo.

– Sério? Deixaram mesmo? – perguntei, meio incrédula, porque aquilo só podia ser pegadinha.

– Sim. – ela suspirou. – Sua tia Silvia está indo para lá também, então você vai com ela.

Aquilo não era exatamente o que eu queria, mas era melhor do que eu esperava. Pelo menos eu poderia ir. E, além disso, Silvia era a minha melhor tia. Ela tinha 35 anos, uma personalidade de 15 e aparência de 25. Tinha cabelo preto com mechas, piercing no nariz e usava calças de couro. Era realmente muito legal, além do fato de me amar e sempre dizer que eu era uma das suas sobrinhas favoritas. Eu tinha certeza de que minha mãe tinha pedido para ela ficar de olho em mim 100% do dia, mas ela não obedeceria. Ela nunca obedecia ninguém, e me deixaria solta pra fazer o que quisesse. Pelo menos ela confiava em mim, não achava que eu fosse fazer alguma besteira.

– Obrigada, mãe. – murmurei.

São Paulo, 20 de Novembro

Eu acho que nunca tinha ficado tão nervosa na minha vida inteira. Eu estava sentada numa das cadeiras do aeroporto com a minha tia, esperando o voo. Ela estava falando sobre como Londres era legal, sobre todas as coisas boas que tinha visto na última vez que foi para lá e tudo mais, mas eu não conseguia me acalmar. Ela não parou de falar um segundo até nós entrarmos no avião, e eu estava quase mandando ela calar a boca quando ela finalmente dormiu. O voo demorou cerca de 11 horas, então, como nós saímos do Brasil às 3h da manhã, teríamos chegado às 14h em Londres, mas por causa do fuso-horário, já eram 19h.

Silvia ficou comigo no aeroporto, até eu avistar Paul. Fui falar com ele, com o corpo todo tremendo, a língua presa, mal conseguindo respirar. Eu tinha ensaiado aquilo umas quinhentas vezes, treinado o inglês nos últimos dias, mas mesmo assim, eu tinha certeza de que ia acabar me enrolando toda.

– Oi! – minha tia falou, toda simpática. Naquela hora, eu vi como era bom que ela tivesse me acompanhado. – Então, hm... você é o tal do Paul, certo? Segurança da One... Direction, não é? – nessas horas eu me lembrava de que ela tinha 35 anos e não conhecia eles. Pelo menos ela sabia falar inglês, e o nome estava certo. De qualquer jeito, eu estava morrendo de vergonha, com o rosto queimando, olhando para baixo.

– Sou sim. – respondeu, tentando ser simpático também. Eu quase morri quando ouvi aquilo. – Então... ela – ele apontou para mim – é a Laura, não? Posso ver sua identidade, mocinha? Desculpe, mas é preciso.

Entreguei a identidade pra ele, e tive que levantar o rosto para que ele pudesse ver. Acho que estava parecendo um tomate de tão corada, mas ele, felizmente, não riu ou algo do gênero.

– Hm, parece que está tudo certo... Os meninos estão dentro do carro. Onde está sua mala? – ele me ajudou a pegar as malas e depois perguntou a minha tia se ela queria me acompanhar. Eu preferiria que fosse assim, porque acho que explodiria se ficasse sozinha com todos eles, sem ninguém que eu conhecia por perto, mas ela disse que eu precisava me virar e sei lá o que mais, e me deixou lá sozinha.

– Sua mãe é bem diferente, não é? A maioria não largaria a filha sozinha em Londres. – ele comentou, enquanto me acompanhava para o carro. Meu rosto não queimava mais, então eu acho que não estava mais tão vermelha.

– Ela não é minha mãe – falei. – É minha tia. E ela é bem diferente mesmo... quero dizer, ela tem 35 anos e parece ter 15. – dei uma risada forçada, para disfarçar o nervosismo.

– 35 anos? Não parece. – ele sorriu. – Oh, ali está o carro. – ele apontou para um carro preto, parado perto dos táxis. - Está pronta?