Não esperava que as torturas dos Jogos Vorazes fossem começar antes mesmo de entrar na arena. De repente eu estou cercado por três figuras mais bizarras que Íris depilando o meu peito e a barba do meu rosto sem nenhum perdão. Fico imaginando se isso é proposital, porque se a Capital é tão superior assim a nós, poderia ter criado algum tipo de substancia que fizesse os pelos caírem sem causar essa dor infernal.

- Ah! - não consegui conter o grito quando eles começaram a depilar a minha barba.

- Calma garoto, não podemos te entregar para a sua estilista sem antes depilar essa sua barba. - dizia um mulher que tinha o tom da pele levemente azulado.

Aquilo continuou por mais alguns minutos e no final mesmo eu usando toda minha força para resistir em não gritar nem nada uma lágrima acabou escorrendo pelo canto do meu olho esquerdo.

- Você tem sorte por ser homem. - dizia a outra mulher que tinha algo como se fossem alguns fios de gato na bochecha. - Os tributos femininos tem que fazer uma depilação total. E geralmente fazem menos escândalo que vocês.

Naquele momento me veio na cabeça a imagem de mim pegando aquele líquido que passaram na minha pele para me depilar e passar na cara da mulher e arrancar aqueles bigodes escrotos, mas eu respirei fundo e fiquei calado.

Depois da depilação eles terminaram de fazer minhas unhas( o que eu achei desnecessário) e deram uma aparada no meu cabelo (ai eu nem reclamei, tinha que cortar ele algum dia mesmo). Depois de me darem me molharem com uma ducha gelada para que os pelos que ficaram caídos no meu corpo na depilação e do corte de cabelo, eles saíram para que eu esperasse a minha estilista sozinho. A única coisa que me deram para vestir depois disso foi um avental de papel.

Não demorou nem um minuto e ela apareceu. Por incrível que pareça eu imaginava mais uma figura bizarra surgindo com o novo estilo estranho da Capital, mas até que ela era, mais “normal”. Tirando as orelhas dela que foram alteradas para que no final parecessem ser pontudas.

- Olá, você deve ser o Trevor. - ela disse sorrindo para mim. - Meu nome e Elfie.

- Oi, então você é a minha estilista né? Bom já sei que eu vou ter que ir vestido de vaca ou de algum outro animal que criamos para o seu consumo aqui. - Eu respondi um pouco frio.

Ela riu um pouco com a minha colocação.

- É verdade, mas para esse ano estava pensando em algo diferente. Vestir vocês de animais para mim parasse algo meio forçado como se estivesse dizendo que vocês são apenas mais dois pedaços de carne que vieram do seu distrito para saciar a fome dos cidadãos da capital. - ela disse.

Não consegui me conter e comecei a rir. Ela de um jeito acabou de descobrir como os Jogos são interpretados no meu distrito, somos apenas dois pedaços a mais de carne que enviamos para a Capital, mas ao contrário dos animais que mandamos, nós não somos consumidos como alimento, mas sim como alguma diversão masoquista deles.

- É... pode ser. - Contenho-me nas palavras.

- Trevor, eu tive uma ideia de como você pode ir vestido no desfile. - ela dizia me analisando. - Pode tirar o seu avental um estante.

Fiquei meio sem graça, mas fiz o que ela pediu. Elfie ficou me olhando analisando cada parte da anatomia do meu corpo com seus olhos em seguida começou a andar em círculos para poder observar minhas outras partes além da frente.

- Seu pai, era aquele homem que ficou berrando quando você foi chamado, certo? - ela perguntava.

- Sim.

- Pelo que eu soube ele é açougueiro da sua cidade. Você trabalhava com ele?

- Sim desde os meus 13 anos. - respondi querendo saber onde ela iria chegar.

- Não planejo mandar você para o desfile como um animal a ser abatido, mas sim como alguém que irá abater os outros oponentes. - Elfie dizia sorrindo para mim.

Ela saiu do quarto e não demorou alguns minutos para retornar segurando algo que parecia guardar o meu traje. Elfie abriu o zíper e puxou o traje para fora.

- É assim que você irá vestido. - ela dizia enquanto eu olhava, espantando para aquilo.

Depois que terminei de vestir o traje para o desfile, ela me encaminhou por uma espécie de túnel até onde desembocamos numa espécie de arena gigante onde seria realizado a nossa apresentação de abertura do Jogos. Encontro a minha carruagem, a antepenúltima da fila. E chegando lá pude ver os tributos do 11 olhando para mim amedrontados.

Em frente a minha carruagem já estavam lá me esperando Gregory e Selina estavam me esperando, mas Marion ainda não tinha chegado. Pude ver meus mentores me olharem com um certo espanto. Bom como posso descrever o meu traje para o desfile, digamos que Elfie me fez vestir uma espécie avental de açougueiro na parte de cima, mas esse não era o ponto principal, eu o avental estava coberto de sangue e eu estava segurando um facão com sangue também. Tudo artificial, pelo menos eu acho que seja.

- É sério isso? - Gregory perguntou olhando para Elfie.

- Claro, isso mostra a ferocidade do distrito 10. - Elfie dizia sorrindo.

- Se ele fosse enfrentar animais de fazenda, mas não seres humanos. - Gregory disse meio irritado.

- Eu gostei. - falei. - Afinal temos que mostrar alguma característica nossa, e eu acho bem melhor do que ficar fantasiado de um animal.

Gregory me olhou e ficou parado, mas pelo sua expressão eu acho que ele conseguiu entender a mensagem.

- Tem razão sobre esse aspecto. - ele disse.

Nesse momento Marion apareceu com seu estilista. Eu achei que ela fosse estar igual a mim, mas pelo jeito eles tiveram uma ideia mais inovadora esse ano. Enquanto eu era um açougueiro que matava animais, ela estava vestida como se fosse uma trabalhadora de fazenda, uma criadora de animais já que segurava um bezerro de mentira nas mãos. Sinceramente eu achei que ela ficou bonitinha, mas quando ela me viu ficou meio assustada.

- Por favor, não me diga que você vai decapita o meu bezerrinho no meio do desfile. - Marion disse se encolhendo com animal, mas sorria para mim.

- Poxa ele é tão bonitinho, não tenho coragem de fazer isso. - disse olhando para os meus mentores e rindo.

- Entrem logo ai! - Gregory disse ainda mal-humorado.

- Nós decidimos que você representariam a vida e a morte dos animais que vocês criam no seu distrito. - disse o estilista de Marion.

- Mas é claro, Trevor você deve se demonstrar feroz, tente urrar para a plateia e se puder de uns golpes com o facão no ar. - Elfie disse.

- Ok. Pode deixar, vou dar uma de maníaco sanguinário. - debochei da ideia. - Mas pode deixar vou apontar para as pessoas como se eu tivesse dizendo “eu se mexerem comigo vou acabar com vocês”

- Exatamente isso que nós queremos que você faça! - minha estilista dizia animada.

- Não se preocupem, vai dar tudo certo. - Selina dizia animada também.

Começo a ouvir a voz de Claudio Templesmith o locutor dos Jogos Vorazes anunciando que o desfile dos tributos estava prestes a começar.

Nos despedimos dos nossos mentores e estilistas e subimos na carruagem para esperar a largada e começarmos a andar.

Como posso descrever a sensação de andar naquela carruagem com nova na nossa frente e duas andando atrás. Cercados por duas arquibancadas gigantes com várias pessoas gritando os nossos nomes como se fôssemos celebridades. Se alguma parte desses Jogo pode ser descrita como incrível, era essa.

Enquanto Marion acenava para as pessoas e as vezes fazia carinho no seu bezerro como se ele fosse real, eu tentava fazer cara de mal e apontava a minha faca para a plateia dizendo “Eai quem vai ser o próximo?!” Por um momento eu me olhei na tela gigante que ficava no meio da arena, sinceramente aquilo estava ridículo, mas então uma rosa caiu em na nossa carruagem, foi ai que tive uma ideia. Eu peguei a flor e a prendi na coleira do bezerro. As pessoas começaram a gritar quando viram isso. Consegui passar a minha mensagem.

- Não entendi... - murmurou Marion meio atônita.

- Depois eu explico. - murmurei para ela.

Nós continuamos a andar por mais algum tempo até que chegamos no final da pista e entramos na cidade. Continuamos andando até que as doze carruagens preenchem o Círculo da Cidade onde ficavam os mais importantes membros da Capital. Nossos cavalos continuaram a cavalgar até chegarem a mansão do Presidente Snow.

Lá um homem baixo de cabelos brancos estava parado nos esperando, era o próprio. Quando as carruagens param, ele começa o seu longo discurso de boas vinda e dando início a abertura da Sexagésima Quarta Edição dos Jogos Vorazes. Enquanto ele falava na tela do centro ficavam mudando o foco para cada carruagem onde nós estávamos. Quando estava começando a anoitecer, o hino nacional começou a tocar e nós desfilamos mais uma vez pelo círculo até que somos levados para o Centro de Treinamento.

Lá nossos mentores e estilistas já estavam a nossa espera para nos receber. Quando dessemos da carruagem eles nos dão os parabéns para a nossa performasse no desfile.

- Ei a ideia da rosa no bezerro foi genial. - Gregory me parabenizou.

- Sim, aquela hora era como se você estivesse dizendo. “Posso ser do Distrito 10, mas não vim aqui para matar animais e sim meus adversário”! - dizia Elfie.

- Eh... Pode ser isso... - eu balbuciei, pra falar a verdade nem eu entendi porque fiz aquilo, mas me pareceu uma ideia melhor do que ficar dando uma de maníaco psicopata. - Eu posso limpar esse sangue da minha cara? Ou devo esperar até chegarmos ao nosso andar?

Elfie joga para mim uma toalha e eu enxugo o meu rosto. Agora minha cara pelo menos estava menos limpa.

- Vamos subir para o andar agora. - anunciou Íris logo atrás de nós. - Venham eu vou levá-los.

Enquanto eu estava andando esbarro sem querer em algo meio dourado. Logo depois percebo que era o garoto do distrito 2 vestindo alguma armadura.

- Foi mal. - eu digo.

- Olha por onde anda, idiota! - ele grita comigo.

Aquilo não ira prestar.

- Poxa desculpa cara, não sabia que os cachorrinhos da Capital tinham preferência aqui. - eu rebati.

Ele avança furiosamente para cima de mim e eu o empurro para trás.

- Isso vindo do garoto da carne? Por falar nisso bela fantasia, mas isso ai não é o que vocês vestem normalmente lá?

Nesse momento eu perco o controle e levo o facão que eu estava segurando até o pescoço dele. Acho que fui tão rápido que o garoto do 2 nem percebeu meu movimento e ficou apenas me olhando atônito.

- A sua sorte é que essa faca não é de verdade. - eu murmurei para ele.

Sou jogado para trás por alguma mão que segurou no meu ombro.

- Você está louco! - Gregory berra comigo. - Quer arranjar confusão aqui mesmo idiota?!

Nesse momento o mentor que eu presumo ser do 2 aparece e começa a berrar com o garoto do 2 também. Posso ver que o meu mentor está realmente com raiva, ao passo que eu só posso pedir desculpar enquanto nos distanciamos dali.

- Aquele garoto é um Carreirista, ou seja, eu ele vai andar na arena com pelo menos mais cinco tributos bem treinado para caçar os mais fracos. Você quer realmente já começar esse Jogo sendo o principal alvo deles? - ele me adverte.

- Você queria que eu o deixasse me humilhar só porque o distrito dele recebe mais recursos e atenção da Capital? - eu retruquei. - De qualquer maneira eu vou ter que matá-lo na arena, então porque tanto desespero agora?

- Ok, se quer jogar assim, jogue. Mas não se esqueça que eu já ganhei esse negócio uma vez, e já vi vários Jogos e posso lhe dizer que essa sua atitude ai só vai fazer você ser um dos primeiros a morrer.

Nós nos calamos e caminhamos até o elevador. Subimos nele sozinhos até o décimo andar. Quando a porta se abre eu vejo o tamanho daquele lugar, eram sem dúvida umas duas vezes maior que a minha casa e era todo impressionante. Quase me perdi no meu plano, Gregory estava certo, agir daquele jeito era algo imprudente e burrou. A menos que eu fizesse isso de propósito, e ai que eu realmente iria começar a maquinar como ganhar esses jogos.