Logo que chegaram, Hinata colocou Yui, ainda desacreditada, na grama. Ela olhou-o de cima, surpreendida. Ele apenas olhou para frente com ar de superior esperando anunciarem o vencedor.

- A vencedora desta competição é Shiina! Parabéns! – fora entregue uma taça dourada nas mãos da garota que a olhava com indiferença, como se aquela vitória fosse óbvia.

Os dois suspiraram forte. Como eles puderam esquecer que Shiina estivera competindo com eles? Era praticamente impossível vencê-la em algo.

- Obrigada...

Hinata ao escutar a voz baixinha da garota logo a olhou com pressão nos olhos. Yui não entendera de inicio o significado daquilo. Ele estava chateado? Irritado? Talvez... contente?

- Não agradeça. Me perdoe por não ter te ajudado antes. – e estendeu a mão para que ela pudesse se erguer.

Yui, com um só golpe de impulso tentou se reerguer, mas não pôde. Sua perna estava sangrando mais que antes. Ela gemia um pouco e até derrubou uma ou duas lágrimas, mas as limpou correndo tentando esconder a dor.

- O que é isso?! Yui, você está perdendo muito sangue! – Hinata falou com desespero na voz.

- Não está doendo... É apenas um arranhão.

- Idiota!

Pegou-a correndo em seu colo. Yui já estava fraca, havia perdido uma grande quantidade de sangue, o que a fez ficar pálida. Hinata vendo aquilo ficou aterrorizado. Ele sempre soube que Yui tinha o físico fraco, e mesmo assim a fez competir com ele, um garoto forte, saudável. Pensou consigo mesmo que seu egoísmo não tinha limite.

Ele correu o quanto pôde para chegar à enfermaria da escola.

Ao chegar, se assustou com a reação da enfermeira ao ver o fermento de Yui. Perguntou desesperado em busca de uma resposta positiva.

- Por favor, essa garota é muito frágil, cuide bem dela. – disse com um olhar amargurado.

- Não se preocupe, tomaremos conta dela.

- Obrigado.

Saiu da enfermaria acabado. Sentiu uma pontada de dor em seu coração. “Mas o que eu tinha na cabeça fazendo-a competir comigo?” Repetia várias vezes, concluindo ser um grande idiota.

Sentou-se na primeira fileira da arquibancada, que já estava desocupada, colocou suas mãos em sua face e começou a desejar que tudo desse certo.

Yuri e Otonashi saíram as pressas. Notaram algo de muito estranho no garoto.

- O que houve, Hinata?

- Yui não está bem...

- O que ela tem?

- Perdeu sangue.

Aquilo bastou para que ambos notassem a gravidade da situação. Do jeito que aquela garota era grácil, era provável que adquirisse uma anemia ou algo ainda pior por simplesmente ter ferido seu joelho e agredido seus ossos.

- Podemos visitá-la? – perguntou Yuri, abatida.

- Não.

Hinata nunca esteve tão mal quanto naquele dia. Ele olhava com frieza o gramado, dava respostas diretas, o que não era de seu feitio.

Kimura e Tachibana haviam ficado nos degraus acima sem entender a situação. A garota de cabelo esbranquiçado desceu com calma as escadas enquanto Kimura virou-se e tomou o rumo para voltar à sua casa.

Yuri sentou-se ao lado de Hinata, acariciando suas costas, tentando reanimá-lo. Otonashi adquiriu uma expressão tristonha e Kanade tinha um olhar apático.

Yui teve de passar a noite na enfermaria da escola.

No dia seguinte, Hinata acordou mais cedo que nos dias normais, vestiu seu uniforme, pegou sua bicicleta e saiu a pedalar em direção a sua escola. Estacionou-a no local próprio e correu afobado em direção ao quarto onde Yui dormira.

Bateu de leve a porta. Pôde escutar um leve susto que a garota havia levado e aquilo o fez rir baixinho.

- Quem é? – disse impaciente

- Não gosta de surpresas? – falou aparecendo com um grande sorriso no rosto

- H-hinata!

Ele se aproximou da cama onde ela estava. Yui estava pálida e com olheiras, o que dava uma sensação de fraqueza a quem visse. Hinata acariciou de leve os fios rosados da garota o que a fez ganhar um tom de pele um pouco mais avermelhado.

- Você não sabe esconder seus sentimentos, boba.

- O que você quer insinuar com isso? – perguntou irritada

- Nada, nada. – continha um sorriso enternecido em sua face – Sabe, Yui, quando você estiver melhor e sair deste lugar horrível, queria... err... Meus pais queriam que você fosse jantar lá em casa. E aí?

- Sério? Estou mesmo com saudades de seus pais! É claro que eu vou! – disse eufórica quase que caindo da cama.

- Ei, ei, ei ! Vai com calma, passarinho! Você ainda não está pronta para voar! – disse rindo.

- Não me compare mais com um animal tão frágil!

“Infelizmente, Yui, você é...” pensou Hinata desfazendo o sorriso em seu rosto.

- Quantos dias você terá de ficar aqui?

- Não sei... no máximo cinco dias.

- Hm. Eu vou lá para a escola, talvez já tenha batido o sinal e eu nem se quer escutei.

- Não bateu não. Da para escutar o sinal daqui.

- Então vou ir para não chegar atrasado.

- Hinata...

- Hm?

Yui se afastou um pouco deixando um espaço vazio em sua cama. Bateu três vezes de leve no local e falou:

- Espere mais um pouco... eu não quero ficar sozinha. – falou com um tom manhoso na voz.

Hinata abaixou a cabeça com um sorriso visível em sua face e sentou-se ao lado da garota que tinha seu coração na palma de sua mão. Envolveu-a em seu braço e a puxou para perto de si.

- Se alguém ver isso com certeza serei linchado deste local. – falou corando.

Yui ria e o abraçava com força. Debruçou-se sobre seu peito e fechou os olhos serenamente, sentindo-se plenamente segura. Ela já não precisava mais se preocupar com o escuro, com os pesadelos que tivera na noite passada, com as injeções... sua força estava lá, abraçando-a. Mostrando-a que aquele simples ato valia bem mais que uma vitória vazia.

Antes que pudesse perceber, dormiu com sua cabeça sobre seu querido amigo... e amado.

Hinata tinha de conter os olhos pesados. Não conseguira dormir bem naquela noite. Em uma cama tão macia, vendo-a bem e tranquila... não poderia haver oportunidade melhor.

Fechou os olhos, apertou-a em seu abraço.

- Eu te amo. – cochichou em seu ouvido...

... e dormiu.

Passou-se uma... duas... duas horas e meia até que alguém encontrasse-os entrelaçados, em um sono profundo. Ambos com noites mal dormidas, ambos envolvidos em um amor puro.

A enfermeira, tão seca e fria, chacoalhou Hinata com força, gritando para que ele acordasse.

- Moleque, você não deveria estar aqui! Vá já para a aula!

- Hmm...? Ah... não.

Sorriu, postou sua cabeça na de Yui e voltou a dormir. Irritada com aquela ação, a enfermeira deu um grande tapa naquele rosto branquelo de Hinata que acordou gritando, mas se conteve ao ver a pequena feição de Yui com os olhos fechados, sorriso nos lábios, adormecida. Sorriu ao vê-la tão angelical. Beijou sua cabeça e saiu correndo.

- Me desculpe, perdi a hora.

A enfermeira prenderá seu cabelo em um coque, olhou para Yui e sussurrou ao vento:

- Você é uma garotinha de sorte, hein?

E voltou ao seu trabalho.

Hinata chegou à quarta aula, geografia, matéria que nunca fora seu forte.Olhou sorridente para seu grupo de amigos e sentou-se bem atrás de Otonashi, que o fitava com estranheza.

- Por onde andou Príncipe Encantado?

- Assistindo ao sono da minha princesinha – falou corando – Ela está bem melhor.