Calendário novo pregado na parede,

folhas brancas e cheias de espaços pra se preencher...

Olho as folhas de um calendário velho jogadas no chão,

tento juntar e pregar na parede de novo

mas as folhas estão desalinhadas demais e acabam caindo da minha mão.]

Lá fora pessoas se abraçam, manequins em exposição na vitrine,

e fazem votos como mascam chicletes.

Chego na porta e volto correndo para o quarto,

junto as folhas do calendário, colo, prego na parede,

mas há muito já amassaram.

E todas sorriem no único dia em que podem sorrir,

todas comem e bebem no dia em que podem viver em fartura.

Um dia em que apesar de tudo, elas se consideram uma família,

e eu estou sem você.

Pessoas pensando que suas palavras fazem efeito

e eu pensando se estas palavras chegarão até você.

Pessoas me empurrando entulho querendo que sua bondade venha junto]

e eu me entulhando de reticências e pontos de interrogação para justificar a ausência dos seus braços em volta de mim]

Nada do que elas pensam me faz contrair as sobrancelhas,

nada do que penso traz serenidade ao meu olhar.

Nada do que elas me empurram me traz um sorriso nos lábios,

nada do que me empurro faz essas nuvens sobre mim se dissipar.

Só queria estar com você e dar um significado a esta data,

quem sabe testar umas quinze posições do kamasutra na sua casa.

Gemidos entrecortados significariam mais que os discursos de fundo branco que ouvi.]

Seríamos dois humanos, em situações humanas, desejando humanamente o outro pra si.]

Mas não estou mais dentro do quarto, estou dentro de mim

e lá dentro acho meu calendário velho, também assim

junto tudo e tento colar na parede com minhas lágrimas,

mas estão amarelados que acabam se desfazendo no fim.

(25/12/2004)