“Das músicas que criei alimentando a minha saudade de você, de nenhuma lembro muito bem, porque todas foram esquecidas quando a encontrei novamente. Esse sentimento me faz ser poético e acreditar que qualquer um é capaz de amar alguém. Sei quantas dores carrega consigo e quantas finalmente está deixando pelo caminho. Farei de tudo para “consertá-la”. Quantos sonhos deixou de seguir porque bloquearam seu caminho? Quantas vezes se viu perdida no meio de um vazio e não sabia para onde ir? As vezes, a porta a qual julga certa era a mais incorreta. Já sonhou que, havia se levantado da cama, foi ao banheiro, mas quando percebeu, ainda estava deitada em sua cama? Eu sei que é confuso, mas é assim que eu me sentia, como se já tivesse superado a sua ausência, estava vivendo a minha vida e quando abri os olhos de verdade, ainda estava lá, parado, esperando você.

Não sou bom com textos, a menos que os mesmos tenham uma melodia. Sei que mudei e com o passar dos dias, vou mudar sempre, as vezes isso é até bom. Guardo alguns dos meus momentos em músicas, você em seu caderno. Escrever no seu caderno é como se, de alguma forma, eu fosse ficar gravado pra sempre. Espero que, na próxima página, escreva algo feliz, assim como em todas as outras restantes.”

Fechei o caderno e o carreguei minha mão direita. Fui para o quarto o qual eu estava hospedada. A janela estava com fechada e fina cortina branca estava aberta só pela metade. Guardei meu caderno na mala e Teddy bateu na porta.

“Leu?” –Ele perguntou.

“O seu texto? Sim.” –Respondi, enquanto dobrava o casaco.

“E qual sua resposta?”

“Sobre...?”

“O texto.”

“Não vi pergunta alguma.”

“E sobre a próxima página?”

Fiquei em silêncio, tentando lembrar sobre o que eu havia lido e lembrei do que ele havia escrito. Me levantei rapidamente e abri a mala, peguei o caderno e passei as páginas . Encontrei a que eu havia lido e olhei para Teddy, seu olhar indicava que eu deveria virar a página. No verso, na linha do meio, antes de ler, pude identificar que era uma pergunta. Olhei para Teddy novamente e seu olhar gritava para eu ler logo.

“Se casaria comigo? Não que isso seja um pedido... mas se casaria?”

Sorri ao terminar de ler. Teddy se sentou do meu lado e fechou meu caderno. Seus olhos aguardavam minha resposta. Sorri novamente e Teddy permaneceu com sua expressão séria.

“Por que essa pergunta se ainda não é um pedido?”

“Para não atrapalhar meus planos.”

Sorri de nervoso, em algum momento, ele me pediria em casamento. Teddy passou sua mão esquerda sobre meu cabelo e pude senti-la chegar até minhas costas. Ele aproximou seu rosto do meu e ao contrário do que eu me preparei para receber, Teddy beijou minha cabeça.

“Quero que se prepare para uma grande noite semana que vem.”

“Como eu me preparo?”

“Digamos que envolve uma antiga paixão.”

Teddy se levantou e saiu do quarto. Fiquei olhando para a parede cor de rosa claro e não conseguia parar de sorrir. Com minha mão direita, eu apertava levemente meu lábio inferior enquanto eu ria. Ouvi a campainha tocar mas não me importei muito. Depois de alguns minutos, Imogen foi me chamar para o almoço e na sala, encontrei Teddy fazendo cócegas em Briony. Pigarreei e Teddy parou. Briony foi parando de rir aos poucos e acenou para mim. Fui em direção a mesa de jantar e Teddy se sentou ao meu lado.

“Hey! Ainda tem com ciúmes da Briony?”

Nada respondi e me servi. Era frango com salada de ovos. O suco de maçã estava pouco doce, mas delicioso. Comemos em silêncio, exceto o fato de Imogen perguntar tudo sobre a vida de Briony, o que já estava me incomodando. Ao final do almoço, ela pediu para conversar comigo e fomos para perto da janela da sala.

“Olha, eu não quero atrapalhar o relacionamento de vocês e...”

“Se acha boa o suficiente para atrapalhar nosso namoro?”

“Não. Eu só...”

“Acha que quando quiser Teddy vai querer namorar contigo?”

“Me desculpe?”

“Não sei porque ainda estamos tendo essa conversa.”

Briony ficou me olhando e pude perceber que fui grossa demais.

“Olha, me desculpa. Eu demorei tanto pra ter esse momento de novo e ...”

Briony sorriu e colocou sua mão direita sobre meu ombro. Seu sorriso gentil me fez esquecer de toda a insegurança que eu sentia com a presença dela.

“Teddy e eu somos grandes amigos. Assim como espero que sejamos um dia.” –Ela disse.

Nos abraçamos e pude ouvir alguém bater palmas. Nos viramos e vimos Teddy sozinho entre os sofás. Ele se aproximou da gente e disse que não esperava nunca presenciar tal momento e estava feliz com nosso entendimento. Pedi para que Teddy se retira-se e deixasse-nos conversando. Descobri que Briony já havia visitado o Brasil quando pequena, mas não passou mais de dois dias pelo Rio de Janeiro, foi com seu pai e uma rápida viagem de negócios, ela de nada se lembra, só sabe que pisou em solo brasileiro porque tem uma foto no aeroporto. Eu me sentia péssima por ter a julgado mal e antes de uma concreta conversa.

“Sábado, o próximo, será um grande dia.” –Disse Teddy.

Ficamos encarando Teddy sorrir misteriosamente sem nada revelar. Segundo Imogen, no próximo sábado Teddy faria um show comemorativo de ano novo, era a única coisa a qual poderíamos esperar, uma surpresa em seu show. Eu não queria criar expectativas, mas eu imaginei dez pedidos de casamento diferentes, era isso que eu esperava do tão aguardado dia. A preocupação era que Penélope decidisse nascer antes do tempo ou então, ele já sabia disso e a surpresa na verdade era uma viagem de volta ao Brasil. Minha cabeça estava perturbada com imaginações. Eu criava roteiros, falas, tudo o que devia acontecer. Eu pensava na minha possível reação ao ver Teddy ajoelhado a minha frente com um anel de brilhantes em suas mãos. Eu me achava uma idiota, porque enquanto Imogen e Briony conversavam comigo, eu não prestava atenção e apenas ficava querendo prever o futuro e me sentir preparada psicologicamente para isso. Como eu sempre faço, estava imaginando atuações as quais pudessem me decepcionar.