The Girl Next Door escrita por Fernanda Meinert


Capítulo 11
I'm going to tell you a story


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aqui está mais um capítulo. Eu queria agradecer pelas reviews e também esclarecer uma dúvida: quando aparecem frases em itálico, significa que é o pensamento de alguém, Quinn, Rachel, Santana, enfim, depende do contexto. Boa leitura!



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“Rach, posso entrar?” Santana ouvia o choro baixinho vindo do quarto da morena.


Desde que Quinn se fora, Rachel se escondeu lá e não saiu mais. Ela odiava estar chorando. Porque ela simplesmente não sabia o motivo disso. As lágrimas começaram a cair e ela sentiu vontade de ficar sozinha. Pronto.


No entanto, Rachel sabia que não era só isso. Ela estava chorando por Quinn. Isso era fato. Mas por quê?


Porque Quinn tinha um amigo que poderia ser seu amante? Porque ela descobriu que, possivelmente, gostava de Quinn de um jeito que ela não deveria? Porque no fundo ela sabia que nunca seria correspondida? Certamente, chorava por todas as alternativas acima.


“Rach... por favor...” A latina já estava se cansando. Era a terceira vez que ela batia na porta em menos de uma hora. E nada de resposta.


Desde que Santana viera morar com Rachel, a morena despertara algum instinto protetor na latina. E ela odiava admitir, mas amava a diva de forma incondicional. Sentia o dever de protegê-la do que quer que fosse. E vê-la nesse estado partia seu coração.


Rachel, Brittany e Quinn eram as únicas pessoas que realmente geravam algum tipo de preocupação em Santana. E nesse caso, a latina estava muito preocupada. Principalmente porque ela podia imaginar o que a morena estava passando. Ela já passou por isso.


“Rach...” Ela bateu uma vez na madeira. E em seguida, ouviu sendo destrancada.


Abaixou o trinco vagarosamente e abriu a porta. Deparou-se com o ambiente escuro. Um solitário feixe de luz que partia da janela era o único ponto de iluminação. E os pôsteres da Broadway que muito lembravam a Rachel Berry sonhadora de Lima estavam quase invisíveis.


Santana deu pequenos passos em direção à cama. Onde a morena estava se refugiando debaixo da montanha de cobertores. Sentou-se ao lado de Rachel e cruzou as mãos sobre o colo.


O choro abafado era o único som que provinha do quarto. E a latina esperava desesperadamente que a morena falasse alguma coisa. Mas ela não o fez. Então Santana acendeu o abajur de luz amarela e voltou o olhar para a ponta da cabeça de Rachel que não estava coberta pelos cobertores. Levou sua mão até lá e começou a acariciar.


“Rach...” Santana a chamou, mas não obteve resposta. “Olha para mim.” Nada. “Por favor...” Então a morena cedeu. E desceu o cobertor até o pescoço. Revelando os olhos vermelhos, o rosto inchado e as bochechas encharcadas de lágrimas.


A morena passou as mãozinhas pelo rosto. Tentando, de alguma forma, secar as lágrimas que continuavam caindo. Vendo que não obteria sucesso, desistiu e deixou que elas escorressem.


“Você quer conversar sobre isso?” Santana perguntou com a mão descansando na cabeça da diva que se limitou a assentir.


A latina esperou algum pronunciamento por parte de Rachel. Mas esse nunca veio. Então percebeu que teria que tomar as rédeas daquela conversa.


“Você está chorando por causa de Quinn?” A latina perguntou calmamente. E Rachel assentiu. Apenas a cabeça estava para fora do cobertor e dos olhos continuavam a escorrer algumas lágrimas. “E você sabe o porquê de estar chorando?”


Santana se arrependeu de ter feito aquela pergunta. Visto que a morena agora soluçava e levava as mãos aos olhos, tentando esconder o rosto.


“Ei, ei, ei, ei...” A latina disse com a voz calma, deitando-se ao lado de Rachel e trazendo-a para se aconchegar ao seu peito. A morena não hesitou e abraçou Santana o mais forte que podia. “Você precisa se acalmar, tudo bem?” Acariciava as costas da morena de cima para baixo. “Eu vou te contar uma história.”


A latina percebeu Rachel ficar um pouco mais calma. Como uma forma de ouvir o que ela tinha a lhe dizer. E Santana tomou isso como uma deixa para começar.


“Era uma vez uma linda latina. Ela tinha cabelos negros como a noite e macios como a seda. Seu corpo era espetacular. Ela era, de fato, gostosa...” Santana recebeu um beliscão por parte de Rachel. A latina desviou o olhar do teto para a morena e percebeu que ela portava um pequeno sorriso. Primeiro objetivo: completo. “Tudo bem, eu paro. Mas você está perdendo uma ótima história.” Rachel revirou os olhos e fez um gesto com a mão para que Santana continuasse.


“Quando eu tinha doze anos de idade, acredite ou não, eu costumava ser um pouco sozinha. Não sei, as crianças me achavam um pouco agressiva. Nunca entendi.” A latina completou de forma divertida e viu a morena sorrir mais uma vez. “Então, para aliviar um pouco da tristeza que eu sentia, passei a realmente me isolar. Eu não deixava as pessoas chegarem perto de mim. E os poucos que tentavam ser meus amigos... eu simplesmente os mandava para a puta que pariu. Se é que me entende.” Santana sentiu o peito de Rachel sacudir contra o dela. Sinal que a diva estava rindo em silêncio. “E aquele dia não era muito diferente. Eu estava sentada sozinha na mesma mesa de sempre. Quando uma garotinha loira e alta, dona dos olhos azuis mais lindos e inocentes que eu já vi, se atreveu a se aproximar de mim. Eu a senti perto, e logo me preparei para mandá-la embora dali. Mas assim que olhei para seu rosto, meu corpo travou e nada saiu da minha boca. E algo me dizia que eu não queria que ela se fosse.”


Santana olhou em direção a Rachel para ver se a morena ainda a ouvia. Ao constatar que sim, voltou para sua história.


“Como eu não consegui dizer nada, a garota sentou ao meu lado e começou a comer seu almoço. E a única coisa que eu queria fazer era bater em mim mesma. Mas não porque eu agi feito idiota na frente de todos. E sim porque eu agi feito idiota na frente dela. E antes mesmo que eu pudesse me dar conta, ela falava sobre o filhotinho de gato que havia ganhado. E também dizia coisas completamente absurdas, mas que me faziam rir como ninguém jamais conseguiu. E foi ai que eu tive minha primeira melhor amiga.”


Rachel sorria enquanto a latina lhe contava a história. Ela sempre quis saber como Santana e Brittany se conheceram.


“Mas os meses foram passando. E as coisas se tornaram confusas. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo e morria de medo de descobrir. Eu amava Britt. E esse não era o problema. Afinal, ela era minha melhor amiga. Mas eu a amava de outro jeito. Do jeito que diziam errado. Do jeito que eu deveria amar os garotos.” Santana respirou fundo, tentando se manter calma. Porque do mesmo jeito que essa história lhe trazia boas lembranças. Também a fazia lembrar de momentos difíceis. “E eu era tão jovem. E tinha tanto medo, que acabei me afastando dela.” Uma lágrima solitária escorreu em seu rosto. “E foi de longe a pior coisa que eu já fiz em toda a minha vida. As coisas não estavam boas antes, mas depois disso, ficaram muito piores. E quando eu cheguei ao meu limite. Quando eu percebi que não aguentaria mais, decidi que era hora de contar a ela. Eu estava confusa. Eu estava com medo. Mas nada era pior do que não tê-la sem nem ao menos ter lutado. Porém, só tive toda essa coragem aos meus catorze anos. Eu esperei dois anos, Rach. Dois longos anos dos quais eu odeio me lembrar. Mas quando eu contei a ela, tudo melhorou. Eu sabia que havia a possibilidade dela me rejeitar. Nós nunca consideramos a melhor das hipóteses.” Riu sem humor. “Mas ela existe, Rach. Ela sempre existe.” Rachel abraçou a latina com força. Ela estava mal. Mas as amiga precisava de um abraço. E ela o daria.


“Termina a história...” A morena sussurrou com a voz ainda embargada pelo choro.


“Oh, você quer que eu termine?” A latina sorriu. “Pois bem, Britt se aproximou de mim e me deu o mais doce de todos os beijos. E disse que um sentimento tão lindo assim não deve ser guardado para você mesmo. E ela sentia-se honrada em ser a pessoa pela qual eu estava apaixonada.” Santana suspirou. “E algumas pessoas ainda dizem que ela é idiota.” Balançou a cabeça em descrença.


O silêncio predominou no quarto. Ambas estavam vagando em seus próprios pensamentos e tomando nota de suas vidas. Até que Rachel se pronunciou.


“Obrigada, San...”


“De nada, Rach...” A latina depositou um beijo nos cabelos castanhos e começou a cantarolar algumas músicas que fizeram Rachel sorrir.


xxxxx

Quinn se preparava para dormir quando ouviu um som que partia de seu computador. Ela andou até ele com as sobrancelhas unidas e balançou o mouse para que a tela voltasse ao normal.


O barulho chegou novamente aos seus ouvidos. E ela notou que ele provinha do skype. Estranhou. Ainda não era sexta-feira. Não poderia ser Shelby. Então examinou a tela e percebeu que era Monica quem a chamava para uma conversa em vídeo.


Rapidamente um sorriso tomou conta de seus lábios e ela se apressou em aceitar a chamada. Mas quando a tela se abriu na imagem de Monica, Quinn estranhou. A morena estava totalmente séria e não se incomodou em pronunciar nenhuma palavra durante o primeiro minuto. Então Quinn o fez:


“Oi...?” Ela disse, arqueando uma sobrancelha em confusão.


“Sua. Cretina.” A voz da amiga saiu dura e fria, fazendo com que Quinn se assustasse.


“Mas o que-“


“SUA CRETINA! QUAL É O SEU PROBLEMA? VOCÊ PROMETEU LIGAR! PROMETEU MANDAR E-MAILS! POIS EU NÃO VEJO A PORRA DO SEU NOME NO MEU CELULAR HÁ DIAS! OU O SEU E-MAIL RÍDICULO NA MINHA CAIXA DE ENTRADA! ENTÃO EU REPITO: QUAL É O SEU PROBLEMA? EU DEVIA BATER EM VOCÊ! EU DEVIA MANDAR RAIOS PELO COMPUTADOR E ELETRECUTAR VOCÊ, EU DEVIA...“ As lágrimas começaram a escorrer descontroladamente do olhos verdes da morena. “Eu sinto sua falta, caralho. Eu te amo.” Monica chorava copiosamente. E Quinn mantinha a expressão confusa e assustada. Ela ainda tinha problemas com as mudanças repentinas de humor da amiga.


“Monica, eu...” Quando finalmente saiu de seu transe, a loira decidiu falar. “Me desculpa. É que aconteceu tanta coisa.” Ela não teria como se desculpar sem magoar a amiga.


“Você me trocou?” A voz de Monica parecia quebrada.


“O que? Não! Claro que não!”


“Então o que aconteceu?” A morena parecia mais calma.


“Só algumas coisas. Mas eu gostaria de falar sobre isso ao vivo. Que tal se você passasse o ano novo aqui em Nova York?” Naquele momento os olhos de Monica adquiriram tal brilho, que Quinn não pode deixar de sorrir.


“Você está falando sério?”


“Totalmente sério.” A loira assentiu sorrindo.


“EU NÃO ACREDITO! EU VOU PARA NOVA YORK!” A garota pulou da cadeira e executou algum tipo de dança da vitória. Quinn não conseguiu controlar as risadas e elas acabaram escapando.


“Mon... você se importa se eu desligar agora? O dia foi cansativo.” A loira esfregava os olhos. Sentindo as pálpebras ficando pesadas.


“Sem problemas, Q. Mas, por favor, não me deixe tanto tempo sem notícias.”


“Não deixarei. Tchau, Mon. Eu amo você.”


“Eu também te amo.” Elas sopraram beijinhos. E Quinn encerrou a chamada.


A loira desligou o computador e se jogou na cama. Ela sentia-se cansada. Mas ao mesmo tempo, muito feliz. Porque Rachel estava realmente lhe dando uma chance. E ela sentia como se elas estivessem voltando para a amizade que costumavam ter.


Quinn só estava confusa com uma coisa. Depois do jantar a morena ficara estranha. Não dizia muitas palavras. Apresentava sorrisos forçados. E mal olhava para seu rosto. No entanto, a loira preferiu culpar o cansaço a pensar no real motivo. Até porque ela não tinha o direito de se intrometer nos assuntos de Rachel.


Os pensamentos da loira começaram a ficar confusos. A visão embaçada. E o corpo pesado. Então ela adormeceu.


xxxxx

Rachel acordou nos braços de Santana. Ela ficou ali mais um pouco, tentando realmente acordar. Mas lembrou-se que a latina tinha a mania de dormir com a boca aberta. E certamente, seu cabelo estava babado. Droga.


Levantou-se o mais rápido que pode. Ela realmente não se importava se tinha acordado a latina. A saliva dela estava em sua cabeça. Então Santana lhe devia uma.


Quando a água tocou seu corpo, ela ficou infinitamente melhor. Sentiu a sensação das lágrimas secas em sua bochecha desapareceram. O corpo ficar mais ágio. E o humor mais alegre.


A história que Santana contara começou a transitar nos pensamentos de Rachel. E ela entendeu o ponto que a latina queria chegar. Não desista antes de lutar.


Mas a morena ainda não sabia pelo que lutar. Seria pelo coração de Quinn? Isso ainda era muito estranho e a deixava extremamente confusa. No entanto, ela finalmente percebeu que o sentimento que nutre pela loira é mais do que uma simples amizade.


E agora tudo fazia sentido. Os sonhos. A tristeza que parecia não ter fim. E a imensa vontade de perdoar Quinn, independente de tudo o que havia passado.


Um sorriso bobo apareceu em sua face. Ela ia mesmo tentar conquistar Quinn Fabray? Rachel Berry tentando conseguir o coração da Head Cheerleader Quinn Fabray? Isso seria um fato histórico.


E ela sabia que as pessoas escreveriam musicais sobre isso. E mais uma vez ela estaria debaixo dos holofotes. Porque ela é uma estrela. E estrelas sempre brilham.


xxxxx

Santana já estava acordada há dez minutos. Ela aguardava Rachel terminar o café da manhã enquanto observava à morena. Algo estranho estava acontecendo. A latina tinha as sobrancelhas unidas e rodeava a colher de chá no seu café preto. E mais uma vez ela constatou: algo muito estranho estava acontecendo.


Rachel virou para ela com a bandeja de waffles. A morena portava um sorriso incrivelmente grande e assustador.


Santana se lembrava daquele sorriso. Rachel já o usara uma vez, durante a noite, enquanto a latina estava em seu quarto escuro. Lembrava-se da diva batendo na porta e em seguida, ela sendo aberta. E a única coisa que a latina pode fazer foi gritar. Porque ela via a replica feminina e musical do boneco Chuck.


Rachel portava o sorriso do boneco Chuck.


“Ahn... Rach?” Santana perguntou hesitante. Tentando afastar as lembranças daquela noite.


“Sim?” A morena voltou a olhar a latina com aquele sorriso imenso e assustador.


“Está tudo bem?”


“Está tudo ótimo. Maravilhoso. Perfeito.” Rachel abocanhou um waffle e mastigou-o sonhadora.


“E eu posso saber o porquê?” Santana começava a se sentir mais tranquila e com menos medo. Rachel não é o Chuck. O Chuck não existe. Pelo amor de Deus, Santana! Você costumava ser mais corajosa! Ok, calma. Você ainda é corajosa. Mas você tem medo de bonecos. Bonecos sorridentes. E com vida. Oh, isso é assustador.

A latina sacudiu a cabeça, tentado se livrar dos pensamentos.


“San, está tudo bem?” Agora Rachel que estava preocupada.


“Ahn, sim. Está tudo bem.” Santana disse mais para si mesma. “Mas continuando, por que você está ótima, maravilhosa, perfeita?” Completou sorrindo.


“Eu vou visitar Quinn hoje à tarde e as pessoas vão escrever musicais sobre nós.” Rachel falou tudo tão depressa que a latina demorou em raciocinar. E mesmo quando ela o fez. Não entendeu.


“Claro.” Preferiu não estender o assunto. “Eu tenho uma reunião daqui a pouco.” Disse olhando o relógio da cozinha. “E provavelmente vou voltar tarde.” Santana disse a última parte entristecida. Ela odiava deixar Rachel sozinha.


“Tudo bem.” A morena suspirou.


A latina sabia que podia confiar em Rachel. E também sabia que ela não era mais uma criança. Mas a morena não saía muito. Não fazia questão de ver os amigos. E adquirira o péssimo hábito de pesquisar doenças na internet. E consequentemente achar que tem todas elas. No começo era engraçado. Porém agora Santana achava um pouco preocupante.


“Mas nós podemos jantar juntas.” A latina disse enquanto se levantava.


“Claro.” Rachel não tirou os olhos dos waffles.


“E você pode chamar Quinn se quiser.” Levantou a cabeça e percebeu Santana piscando para ela. Limitou-se a sorrir. Mas a latina viu que esse sorriso era diferente. Era aquele lindo sorriso típico de Rachel Berry. Que, graças a Deus, não lembrava o assustador boneco Chuck.


xxxxx

Quinn estava esparramada no sofá com um enorme prato de macarrão com queijo em cima dela. O canto da boca estava sujo de cheddar e a blusa cinza agora tinha detalhes em amarelo também.


Ela não tinha dom na cozinha. E por conta disso só sabia cozinhar três coisas: macarrão com queijo, ovos com bacon e panquecas. E não é como se ela precisasse de algo mais para viver.


Hoje ela planejava ficar o dia inteiro em casa. Esperava que em algum momento a inspiração aparecesse e ela pintasse um quadro maravilhoso. Ou vários.


Enquanto ela zapeava os canais da televisão, três batidas na porta foram ouvidas. Quinn bufou e com muito esforço se levantou e andou até a cozinha. Onde deixou o prato com o macarrão não terminado e seguiu até a porta.


Quando a abriu, deparou-se com Rachel vestindo um shorts jeans com a barra desfiada e extremamente curto, o que desconcertou a loira completamente, fazendo com que ela se perguntasse por que diabos não conseguia retirar os olhos das esbeltas pernas morenas. E por que o ambiente tinha ficado tão quente de repente. Ela estava suando?


A morena também usava uma blusa branca de ombro caído e meio transparente. Deixando transparecer sutiã branco que ela usava por baixo. Quinn? O que está acontecendo com você? A loira procurou controlar a leve tremedeira que começou a aparecer em sua mão, escondendo-a no bolso traseiro do seu agasalho.


“Oi, Quinn.” Rachel respondeu adorável ao mesmo tempo em que se perguntava o que tinha de errado com a loira.


“Ah, oi. Oi, Rach.” Ela responde sem graça enquanto passava a mão livre pelos cabelos.


Elas continuaram sem falar nada. A morena esperava um convite para entrar. Mas Quinn apenas a observava. Ora seu rosto, ora suas pernas.


“Quinn?” Rachel decidiu quebrar o silêncio.


“Sim.” Ela desviou os olhos das coxas morenas e sentiu seu rosto corar.


“Eu não quero ser intrometida, mas o aquecedor do corredor quebrou e eu estou congelando.” A morena comentou esfregando os braços, tentando conter o frio.


“Ah! Claro. Me desculpe. Por favor, entre.” Quinn abriu espaço para que Rachel entrasse. Enquanto estapeava o próprio rosto e murmurava um “idiota” para si mesma.


Rachel adorava o apartamento da loira. Era tão organizado, iluminado e cheio de vida. Ela caminhou até a janela e se deparou com a maravilhosa vista que Quinn tinha. Em seguida, observou as janelas do lado, constatando que Kurt não estava em casa.


A loira parou ao lado da morena. E admirou os olhos castanhos que estavam encantados com o que viam.


“Eu nunca vou deixar de amar essa cidade.” A morena murmurou mais para si mesma. Mas Quinn foi capaz de ouvir e acabou sorrindo.


“É maravilhosa.” Ela comentou, desviando o olhar para Rachel, que sorria em sua direção.


“O que foi?” Quinn comentou depois de algum tempo em silêncio. Vendo que Rachel ainda mantinha os olhos e sorriso direcionados a ela.


“Tem queijo no canto da sua boca.” A morena comentou risonha.


Rachel levou o polegar até o lugar sujo e deslizou de leve, encostando nos lábios de Quinn sem intenção. E nesse momento os sorrisos de ambas desapareceram. E foram trocados por expressões sérias.


Quinn era capaz de sentir o ar saindo das narinas de Rachel e batendo em seu rosto. Assim como sua respiração fazia no da morena. Os olhos castanhos estavam conectados nos verdes e esses retribuíam o olhar com mesma intensidade.


Quinn respirou fundo. Absorvendo todo o cheiro de baunilha que exalava da morena. Visto que ela ainda mantinha o dedo no canto da boca da loira, se atrevendo a invadir um pouco mais o espaço dos lábios. Comprovando o quão macio eles eram.


Rachel sentia que o mundo havia parado. E a única coisa capaz de ouvir era a batida do seu coração. Que ameaçava voar para fora do seu peito a cada segundo.


“Eu...” Quinn começou, fazendo Rachel se afastar rapidamente e desviar o olhar para os sapatos. “Eu vou trocar de roupa.” Apontou para a blusa manchada de queijo.


A morena levou o olhar para a loira novamente e sorriu. Elas precisavam fazer algum esforço para o clima se tornar mais leve.


“Talvez você deva tentar pinturas em tecido.” Rachel comentou risonha. Sentindo-se mais confortável.


“Pinturas em tecido com queijo. Então eu poderia trabalhar num canal gourmet e ser artista ao mesmo tempo. Meus sonhos se tornando realidade.” A morena riu baixinho.


“Você sonha em trabalhar num canal gourmet?” Rachel comentou confusa.


“Quem não sonha? Imagina você sendo paga para comer. Isso seria maravilhoso.” As duas riram e já se encontravam visivelmente mais relaxadas. “E agora eu vou me trocar antes que baratas decidam me atacar.”


“E nós não queremos isso.” Rachel completou.


“Não mesmo.” Quinn deixou a sala e seguiu até seu quarto.


Fechou a porta atrás de si e se escorou nessa. O que diabos acabou de acontecer?

Rachel decidiu sentar em uma das poltronas cinza e aveludadas, que juntas do sofá, formavam uma meia lua em frente à TV. Ela batucava os dedos em suas coxas descobertas enquanto se perguntava onde Quinn guardava os quadros que pintava. Ela vasculhou o lugar com os olhos. Mas só encontrou um cavalete vazio perto a janela.


Então seus olhos pararam na porta do lado do quaro de Quinn que estava fechada. A curiosidade falou mais alto. Fazendo-a se levantar e seguir com passos hesitantes até o cômodo.


No entanto, quando ela ia abaixar o trinco, uma Quinn desesperada – que ela mal havia notado no ambiente – se pôs em frente à posta, esticando os braços e proibindo que Rachel passasse.


“Quinn?” A morena disso um tanto assustada. “Algum problema?” E apesar da situação, ela reparou no shorts que Quinn usava. E sentiu o ar ficar um pouco mais quente.


“Não. Nenhum.” A loira respondeu rápido. Rápido demais.


Mas era óbvio que havia um problema. Um problema que ela pintara na sua primeira semana em Nova York. A maldita tela com a perfeita figura do rosto de Rachel estampada.


“É aqui que você guarda suas pinturas, certo? Deixe-me entrar.” A morena mantinha a calma. Quinn se desesperou e despejou tudo de uma vez:


“Eu tenho um peixe dourado chamado George. Quero que você o conheça.” A loira agarrou o braço de Rachel e obrigou-a a ir até a varanda, enquanto buscava um copo de água para se acalmar.


“QUINN!” A artista ouviu a voz esganiçada de Rachel vindo da varanda.


No mesmo momento, a loira correu em direção à diva.


“O que foi? O que aconteceu, Rachel?” Quinn perguntou desesperada, procurando por algo com o que se preocupar.


“George! Ele morreu!” A morena estava completamente horrorizada. Enquanto apontava para o peixe boiando no aquário.


No entanto, Quinn jogou os braços para cima e involuntariamente disse: “Graças a Deus!” Expressando um imenso alívio.


Rachel lançou um olhar assustado e reprovador ao mesmo tempo, fazendo Quinn repensar suas palavras:


“Quer dizer... Oh! Não!” Respondeu tanto soar desesperada e triste. Porém, resultando completamente falso.


“Vem!” Rachel ignorou o quão terrível atriz era sua amiga e pegou-a pela mão.


“Para onde estamos indo?” Quinn perguntou confusa, porém deixando-se ser levada.


“Vamos preparar um funeral para George.”


“Mas ele é só um peixe! Não podemos jogá-lo na privada e sei lá... dizer algumas palavras e então puxar a descarga?”


“Quinn!” Rachel parou de andar e deu um tapa no braço da loira. “Ele é um animalzinho indefeso que teve o azar de ser adotado por você! Agora vamos.” A loira bufou e novamente se deixou ser levada.


Ao menos ela estava passando um tempo com Rachel.


E havia se livrado de George.


A alma dele não voltaria para assombrá-la. Certo?


...


Peixes tinham alma?



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Notas finais do capítulo

George estará para sempre em nossos corações. Amém.