Cemetery Drive escrita por Cross Killjoy


Capítulo 3
In A Solitary Style




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[…]

23h36min

Pelo menos, seguimos um longo pedaço do caminho para o acesso ao cemitério, em cima da minha bicicleta. Mas, como sempre, Gerard ousou algumas reclamações. Dizendo, como um verdadeiro covarde, frangalhão, que eu estava correndo demais, que eu queria matar a nós dois, chocando a bike em alguma árvore que plantasse, de repente, em meu campo de visão. No entanto, colocando a modéstia um pouquinho de lado, afinal de contas, não precisamos dela para nada que seja realmente importante; Confesso-lhes que tenho uma habilidade e tanto para com os pedais. Apesar de ser do tipo pequeno, diga-se, quase insignificante, compenso, cheio de gás, quando bem acompanhado de um propósito. E naquela noite, eu tinha um dos mais belos. Algo sinceramente importante para mim. Talvez, por isso, tenha feito alguma questão de compartilhar o meu passeio noturno com Gerard. Suponho que melhores amigos existam apenas para momentos como esse.

Gerard: – Só diga-me... Porquê. – ele pediu-me, parecendo um pouco mais conformado, descendo de cima do banco do passageiro, num pulinho ligeiro.

(Senti um leve tranco, tamanha a diferença de peso, entre Gerard e eu. Entenderam, o porquê do apelido carinhoso?! “Gege”... Risos.)

Estávamos subindo uma ladeira. Daquela parte mais íngreme da cidade, eu deveria ir empurrando a bicicleta.

Eu: – Bem... – olhei-o de esguelha: Gerard continha ares de verdadeiro interesse em meus motivos para sair, assim, no meio da noite, longe do alcance dos olhos de minha mãe, para botar fogo no gramado do meu melhor amigo, afim de somente convidar-lhe para um inconsequente passeio em meio aos túmulos. De fato, uma situação inusitada. Entretanto, nem mesmo poderiam julgar-me tão insano, quando eu já havia planejado coisas muito piores, em verões passados. – Lembra-se daquele filme... The Awakening of Indolence¹?

Gerard: – Não... – ele apertou os olhos, indeciso, caminhando ao meu lado, enquanto tentava buscar qualquer coisa em sua memória. – Sobre... Erm... Vampiros?!

Eu: – Sim, mas... Em realidade, mais que isso, Gege. – dei de ombros, lamentando a minha própria consideração por filmes do gênero trash horror. A bicicleta pesando toneladas. Gerard andando em meu encalço, como algum tipo de estímulo, bastante comum em equipes de torcida. Passos lentos, cuidadosos, e bem treinados, pois aquela não era a nossa primeira visita ao cemitério. Mas, acredito, que, fosse a mais importante dentre todas. – Lembra-se de Saphire, a pobre de sorte?

Gerard: – Você diz... Aquela mocinha que foi pega pelo Drácula? – questionou-me, duvidoso, e enterrou as mãos dentro dos bolsos frontais de seu moletom, olhando-me com uma expressão severamente confusa.

(WFT?! Es-p-pasmos aqui, pfvr... Risos.)

Eu: – Não, Gerard! Aquele não era o Conde Drácula... O nome dele era Morpheus! – obriguei-me a estacionar a bicicleta. Então, analisei-o seriamente, por alguns instantes, desacreditado; Assistimos The Awakening of Indolence por duas vezes, na casa de Gerard, com Mikey, seu irmãozinho, dormindo sobre o meu colo... Como ele poderia esquecer-se da trama?!

Gerard: – Que seja... No final de tudo, os propósitos serão sempre os mesmos!

Eu: – Não serão, não, Gerard... – espantei-me, suspirando, em reflexão, incrivelmente desacorçoado com o rumo do assunto. Gerard sempre conseguia anular quaisquer que fossem as minhas intenções, apenas com a sua falta de seriedade. Ok, estávamos falando de ficção. Geralmente, concluíam-se da mesma forma. A criatividade e paciência dos roteiristas, produtores, diretores... No limite. Mas era toda uma questão de interpretação. E não seria por essa infelicidade puramente comercial, que eu abandonaria o meu olhar crítico e alguma admiração pelas obras cinematográficas. Poderiam até não serem bem estruturadas como deveriam, e eu continuaria gostando, mesmo assim. Porque, tratando-se de um gênero carente em recursos, era razoavelmente bom. – Pense um pouquinho, gafanhoto. Morpheus era americano, e não romeno, como o nosso famoso Conde Drácula. Além de quê, ele não representou um demônio... Não, exatamente. Morpheus era como um Deus dos sonhos.

Gerard: – E...? – arqueou uma das sobrancelhas, inquisitivo. Rolei os olhos, adquirindo alguma força de vontade para empurrar a bicicleta e respondê-lo.

Eu: – Ele usou desses poderes... Ou melhor, características, para atrair Saphire até o cemitério.

Gerard: – Por que o cemitério? – começou a andar, bem ao meu lado, como antes.

Eu: – Porque, uma vez que o cemitério fosse como uma espécie de jardim para Morpheus, e sendo ele um completo admirador do belo e assombroso, ele queria Saphire, para sepultá-la em suas terras como um raro lírio, cor do céu. – forcei os pneus da bike passarem por cima de uma lombada. Conseguir, consegui. Mas isso custou-me uma falta de equilíbrio deselegante, que resultou Gerard segurar-me pelos ombros, ajudando-me a não derrubar a minha bicicleta, como a mim mesmo, de cara, no asfalto. Sorri, sem qualquer jeito. E ele apenas fechou a cara, dizendo-me, silenciosamente, para que tomasse mais cuidado. Prosseguimos, comigo ainda empurrando a bicicleta, e Gerard ainda em meus calcanhares. – Por Morpheus ser um vampiro, e, portanto, naturalmente solitário e desajustado para algumas coisas da vida... – gesticulei, soltando uma das mãos do guidão, por um instante. – Imagino que ele quisesse muito conhecer o azul esplendor. E como sabemos, sanguessugas não podem entrar em contato com a luz do dia. Então, de certo, ele simplesmente resolveu ter um pedacinho das nuvens, ornamentando o seu jardim macabro. – fechei os dedos, novamente, ao redor do controle da bike, entusiasmado. – Ele não transformou Saphire. Enterrou-a, depois de roubar-lhe a essência... Eternizou-a como um bem precioso, como uma joia rara. Fazendo-a existir para todo o sempre.

Gerard: – Certo... – rolou os olhos, impaciente. – Mas, na realidade, o que eu queria saber era por que NÓS estamos indo ao cemitério. – explicou-me, desnecessariamente, e mordeu os lábios, agitando a cabeça levemente, como se eu fosse um grande idiota que empolgou-se com a análise de um filme; O que não deixava de ser a verdade, mas... Eu tinha notado a questão, apenas delonguei mais que o necessário.

(Risos.)

Eu: – Porque acredito que Saphire esteja enterrada no cemitério de Jersey. E se esse for realmente um fato em concreto, que possa ser confirmado por nossos olhos, o sanguessuga Morpheus seria bem maior e bem mais real que uma simples personagem nascida de filme de gênero trash horror, conseguindo elevar-se ao status de lenda urbana! – pausa dramática. – Nós precisamos verificar isso de perto, Gege...



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Notas finais do capítulo

The Awakening of Indolence¹: O filme não existe. Mas, o título, é meu. Pertence a um capítulo de um conto e tals... Enfim