Cemetery Drive escrita por Cross Killjoy


Capítulo 2
This Night, Walk The Dead




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[...]

23h17min

Em plenas chamas, bem no gramado da frente, estavam queimando as seguintes palavras, que compunham toda uma pequena e simples frase, que fora cuidadosamente banhada em álcool e em intenções de maiores impactos:

“FIND ME”

Logo em seguida, depois que a fogueira arranjada no improviso deu-se ao trabalho de queimar, uma densa fumaça de coloração negra foi erguendo-se, caminhando por livre e espontânea vontade, em direção a uma das janelas que atendia a um dos quartos, daquela casinha tipicamente americana. Não demorou muito tempo, senão alguns segundos, e como fora planejado, alguém acabou rendendo-se, ao levantar os vidros, completamente desesperado, ansiando algum entendimento quer que fosse, sobre o incêndio em seu verdinho gramado.

(Há alguns metros, esperando, pacientemente, em cima da minha bicicleta, na onde acontecia uma curva ao longo da esquina.)

Por isso mesmo, que ele não pôde encontrar-me, com seus lindos e assustados olhos esverdeados.

E aquelas seis letrinhas que incineraram-se por si mesmas, após o circunstancial efeito de roçar o gatilho do isqueiro em seu pavio de combustão, soaram mais irônicas, do que realmente deveriam.

(Risos.)

No entanto, foi no auge de seu assombro, que ele vestiu um agasalho qualquer por cima do pijama de morcegos, e correu para baixo, abrindo a porta da frente com uma expressão não menos que horrorizada.

Gerard: – O q-quê...? – perguntou-se, abismado, engolindo em seco, e elevou as duas mãos, enterrando os dedos nos longos fios de cabelo. Por instinto, talvez, acabou livrando-se de um suposto devaneio acerca das causas, deixando de contemplar as palavrinhas que borraram-se nas chamas, para olhar ambos os lados da rua. Esperto, mas não o suficiente para encontrar-me. De qualquer modo, estando mais preocupado com a possibilidade do fogo alastrar-se, e, por conseguinte, adotar todo o restante do gramado, correu novamente para dentro da casa, desajeitado, tropeçante, voltando somente quando arrumou um balde cheio d’água para sustentar, com certa dificuldade, em suas mãos. Balançou-o, e despejou a maior parte do conteúdo, por sobre a fogueira, assim como o balde de metal.

PSSSSSSSSSSSSS!

E sobraram cinzas, apenas.

(Com o final da questão de fogo, ui!, pedalei com certa empolgação, parando, tão somente, quando cheguei de frente à casa do meu melhor amigo.)

Gerard: – F-foi v-vo...?! Por quê...? – franziu o cenho, olhando-me, meio bravo, meio desentendido.

Eu: – Aham... – confirmei. Sorri de canto, e continuei, explicando-lhe com algum tipo de convicção sobre-humana. – Porque, se não fosse desse jeito, com certeza você não iria descer as escadas, para encontrar-me. Simplesmente. Então, achei, que, se houvesse um grande propósito, talvez conseguisse arrancar-lhe de sua cama essa noite, com uma forcinha extra e um pouquinho mais de criatividade... – não aguentei-me, e ri, tentando, inutilmente, acobertar o mais puro deboche com uma das mãos, enquanto a outra continuava segurando, firmemente, o guidão da bike.

Gerard: – Mas que... Porra, Frank! – chamou-me a atenção, desnorteado. – Só pode ter enlouquecido... Ao menos você sabe que horas são?!

Eu: – Provavelmente, amigo. – meneei a cabeça e pisquei os olhos, pausadamente, evidenciando o meu ceticismo, em relação à falta de humor de Gerard. – Hora de dar-lhe uma carona. Então, suba logo de uma vez, gafanhoto do tio Frãn. – alinhei a bicicleta no intuito de dar-lhe algum espaço para sentar-se, no banco do passageiro.

Gerard: – Não! Eu não irei a lugar algum com você, ainda mais há essa hora! – agitou a cabeça, reforçando a negação. – Nós temos uma avaliação de inglês amanhã, e...

Eu: – Largue de ser frangote, Gege! Sobe, vai? Pooor favooor...?! Ãn?!

Gerard: – Masoq...? – abespinhou-se com a minha infantilidade. E eu gargalhei. – Oh, merda! Okaaay... – deu-se por vencido, cruzando os braços, e forjou um bico tão enorme quanto o Mundo em seus lábios, tamanho o aborrecimento. Larguei o sorriso, e comemorei a minha vitória com um gesto mudo, sibilando um “Yes!”. Gerard girou seus olhos, e então lembrou-se de perguntar. – Mas, pra onde estamos indo, exatamente?

Eu: – Estamos indo passear no cemitério. Agora, ande logo com isso, e ponha esse seu traseiro forteeenho aqui... – indiquei-lhe o banco detrás com o polegar. Mas Gerard não respondeu-me, devidamente. Ainda parecia um pouco irritado. Mais pela piada de peso, que por qualquer outra coisa que eu tenha dito e/ou feito. Contudo, aceitou o convite, sentando-se na garupa da minha bicicleta, não esquecendo-se de assegurar-se de ter fechado a porta da frente de sua casa; Sim, ele havia fechado. Olhei-o por cima do ombro, conferindo, silenciosamente, se ele também havia lembrado de sentar-se com segurança; Sim, ele havia lembrado. Tanto, que, circulou a minha cintura, num abraço desajeitado, não querendo ficar para trás, quando eu começasse a pedalar loucamente.

(Risos.)

Eu: – Pronto?

Gerard: – Jamais!

Eu: – Desconsiderarei a sua resposta anterior... Ou seja, pronto! – ri, e comecei a pedalar, sentindo-o encolher-se no banco, receando o tamanho da minha empolgação, para com aquele passeio noturno. E Gerard tinha motivos reais para ter medo. Eu apenas não poderia imaginar o quanto... Ou será que poderia?

(Risos.)


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