A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 8
Levada




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 Antes de sair da caverna, Victor me fez jurar que não contaria nada aos outros e como eu não tinha motivos para objeta-lo, concordei. Procuramos por todo lado a minha venda, e quando não achamos, ele resolveu que agora suas mãos é que fariam o papel delas.  Por que ele fazia tanta questão de que eu as colocasse de novo? Será que aquele lugar era uma espécie de esconderijo, ou será que ele não queria que eu visse o caminho de volta para o acampamento? Quando tomei coragem para perguntar-lhe, ele me lembrou da luz do sol no exterior e como isso poderia ser doloroso. Confesso que fiquei aliviada, a ideia de que ele não tinha confiança para me mostrar o caminho me incomodava.

O passeio de volta estava sendo bem mais demorado que o da ida, não sei se pela dificuldade de andarmos colados, ou se por ele estar tentando prolongar o momento.  A verdade é que, não importava o motivo, eu estava gostando da sua companhia. Ele queria saber das mais diversas coisas, desde coisas que eu gostava ou não gostava, até fatos sobre a minha infância. Agora, estávamos conversando sobre suas peraltices de criança, eu achava tudo muito engraçado e ria sem parar quando Victor parou abruptamente. Seu temperamento brincalhão se evaporou substituído por uma tensão aparente; algo de errado estava acontecendo e eu não podia ver o que era. Imediatamente me senti vulnerável.

- Luiza, escute, fique aqui. Não saia daqui. Nós temos um problema, eu vou ter que retirar as minhas mãos de seus olhos, mantenha-os fechados. A claridade pode machuca-los. Isso é sério. – me advertiu.

- Victor, o que está acontecendo, onde estamos? – quis saber preocupada.

- Nós já chegamos ao acampamento, mas tem algo de errado, não saia daqui e não abra os olhos. Eu vou checar o que aconteceu.  Eu já volto – ele me deu um selinho rápido e me deixou sozinha.

Nós tínhamos um problema, qual seria o problema? Aquelas informações eram muito vagas para minha sede de conhecimento. Eu queria poder descobrir com meus próprios olhos, mas se eu os abrisse, talvez a luz fosse a última coisa que veria. Eu estava numa grande batalha interna, meu instinto queria que eu abrisse os olhos, minha razão tentava me convencer de que eu os mantivesse fechados. Sentei no chão e encostei a cabeça nos meus joelhos, a razão saíra vencedora. Sentada, esperando por Victor e ouvindo toda aquela conversa sem poder interagir, nunca me senti tão impotente antes.

- Sofia! Sofia! – escutei Victor chamar.

- Victor! – chamou Pedro - Já era em tempo, que bom que vocês estão bem! Tira a gente daqui!

- O que aconteceu aqui? – quis saber Victor.

 - Eles levaram tudo Victor. Não sobrou nada, nem comida nem roupas. Não sei o que seriam de nós se não estivéssemos quase chegando – completou Pedro.

- Mas vocês estão feridos? – perguntou Victor.

Feridos? Quem estava ferido? Eu queria poder ajudar, estava cada vez mais impaciente sem poder fazer nada.

- Nós estamos bem – alguém respondeu. Precisei de um segundo para reconhecer a voz de Miguel.

- Ótimo! Quem fez isso com vocês? – interrogou Victor.

- Saqueadores – respondeu Miguel.

Saqueadores? Onde estava Maicon e Sofia? Por que eles estavam tão quietos? Minha vontade era de levantar dali e sair correndo para poder ajudar, ninguém estava ferido mais eu ainda não ouvira a voz de Sofia nem de Maicon, se algo tinha acontecido a eles eu queria saber imediatamente. Não conseguia conter minha ansiedade.

- Victor, eu sinto muito – era a voz de Maicon. Ele sentia muito. Sentia pelo que? Sofia, onde estava Sofia? De repente eu senti muito medo, meu coração disparou e senti meu estomago revirar. Eu não podia mais esperar:

- Victor! – gritei em pânico – o que está acontecendo? Eu quero saber!

Escutei passos em minha direção.  Alguém levantou minha cabeça e colocou algo sobre minhas orelhas.

- Pode abrir os olhos. – permitiu Victor.

- O que? Mas e o sol? – perguntei apavorada.

- Abra Luiza! – gritou Maicon.

Eu sentia receio, mas segui adiante. Minha vontade de saber, mais que isso, vontade de ver o que estava acontecendo era bem maior que meu medo. Assim que abri os olhos a claridade me cegou, meus olhos queimaram, e imediatamente os fechei novamente.

- Abra Luiza – pediu Victor mais uma vez – É um pouco incômodo no início, mas você só tem que se acostumar, esses óculos vão proteger seus olhos, você só não pode tira-los.

Eu tentei mais uma vez e fechei. Mais uma e fechei de novo. Na terceira consegui mantê-los aberto por mais que um segundo, mas foi só na quinta vez que consegui realmente ver o que se passava. Os óculos realmente funcionavam e pela primeira vez, eu estava vendo a Iméria de dia. Ela conseguia ser ainda mais bonita que à noite, porém eu não tinha tempo para reparar em seus detalhes porque eu tinha coisas mais importantes pra observar no momento. Victor, Pedro, Miguel e Maicon me olhavam com tristeza nos olhos.

- Parabéns Pedro, seu experimento funcionou – Parabenizou-lhe Victor, sem emoção, distraindo-me por um momento.

- Vocês não sabiam se ia funcionar? – perguntei furiosa, como eles podiam me arriscar assim?

- Claro que não Luiza, eu tinha certeza que funcionaria, é que o senhor Victor nunca confia na tecnologia. Eu o fiz especialmente pra você, ele funciona como os óculos-de-sol antigos, mas com a lente transparente.

- Hmm, obrigada Pedro, é incrível – respondi mais por educação, eu tinha outras preocupações – Cadê Sofia? – perguntei.

Todos ficaram em silêncio por um momento.

- Sofia! – gritei indo em direção às barracas e torcendo para que ela estivesse bem – Sofia! Onde você está!

- Ela não está ai – disse Maicon me pegando pelo braço – Ela foi levada.

- Levada? Como levada? Por quem?

- Eu avisei, eu falei pra ela não vir, eu não queria que ela viesse. Eu implorei pra ela ficar em casa mais ela é teimosa. – disse Victor em pânico.

- Mantenha a calma, Victor! – implorei - Nós temos que ir atrás dela!

- Como manter a calma, ela é minha única família! Eu não sei o que vou fazer se alguma coisa acontecer com minha irmã.

Irmã? Por essa eu não esperava. Parecia absurdo, eles eram água e vinho, tão diferentes um do outro que era difícil acreditar. Mas eu sabia o que ele estava dizendo, naquele momento eu sentia o mesmo medo que ele. Era verdade que Sofia não era minha irmã e que só nos conhecíamos há poucos dias, mas pra mim era como se ela fosse. Eu não sabia que tinha tanto carinho por ela até esse momento. O que eu mais desejava era que ela estivesse bem, e que nós conseguíssemos resgata-la em segurança. Toda a minha apreensão sob o que ia acontecer comigo quando eu chegasse à aldeia imérica não fazia o menor sentido quando comparada a isso. Fui até Victor e apoiei meu braço em suas costas numa tentativa de conforta-lo, ele me abraçou por alguns minutos e quando soltou, Miguel intercedeu:

- Victor, a Luiza tem razão, eles foram em direção a Floresta Perdida, se nos apressarmos conseguiremos encontra-los.

- Vamos Victor o que você está esperando – incentivei.

- Você tem razão. Vamos juntar as coisas, rápido! – Concordou Victor.

- Isso! – me animei, fui em direção à barraca e comecei a recolher as coisas.

- Você não Luiza- me interrompeu Victor.

- Eu não, o que?

- Se você está pensando que vai com a gente, está completamente enganada – respondeu Victor friamente.

- Mas eu vou ficar aqui? Sozinha? – quis saber.

- Não, você Pedro e Miguel vão pra aldeia. Maicon e eu vamos para a floresta.

- Como assim? Você não pode estar falando sério! Victor eu não vou com eles, pode esquecer, eu vou atrás de Sofia com vocês!

- Mais não vai mesmo! Você achou mesmo, por um momento, que eu ia permitir isso?

- Victor! – protestei indignada. Como ele podia ser tão irracional? – Você não pode me impedir!

- Não?

Ficamos nos encarando por um momento. Eu não ia ceder e pelo jeito ele também não. Que vencesse o melhor! Depois de um segundo ele deu um sorriso derrotado e quando eu pensei que tinha vencido, ele me pegou, me jogou sobre seus braços e me prendeu no furgão.

- Victor! Victor! Tire-me daqui! –gritei revoltada.

- Você vai para aldeia junto com Pedro e Miguel Luiza! Está pra nascer quem vai me contrariar. – respondeu ele vitorioso.

“Isso não vai ficar assim. Não mesmo” pensei revoltada enquanto planejava o que fazer. Eu tinha que arranjar uma forma de fugir. Olhei à minha volta e não acreditei na minha sorte: minha mochila, com meu chakram, minha flecha e todas as minhas coisas estavam lá. Então talvez eu tivesse uma chance. A vantagem estava do meu lado, eu só tinha que esperar a primeira oportunidade e no momento certo eu sairia de lá.

Dez minutos depois e o automóvel começou a se mover. Era esse o momento ou seria tarde demais. Peguei meu chakram e passei a lâmina, com cuidado para não fazer barulho, no pequeno vão entre as duas portas. Engenhosamente, movi a trava de segurança e a porta se abriu. Agora eu estava nas mãos da sorte mais uma vez, se eles não olhassem para trás pelo espelho retrovisor não teriam como me ver. “Que a sorte estivesse a meu favor”. Guardei meu chakram, coloquei minha mochila nas costas e pulei.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, não esqueçam dos reviews, digam o que gostaram, o que não gostaram, ou o que esperam para o próximo capítulo. São os reviews que me movem!! Beijokas !!