A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 26
O vencedor


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi bem difícil de escrever, todas as cenas de ação pra mim são. Isso explica a demora, mais não justifica. Obrigada pelos novos favoritos "cecipms" , "AnaTakeda" , "PAulaFErnanda" e "Letícia", eu acho ótimo que estejam gostando. Obrigado mais uma vez "cecipms" pelos seus adoráveis comentários! Boa Leitura!!



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A garota que segurava nas mãos de Maicon era loira e delicada. Sua pele morena, devido ao sol, trazia algumas sardas que combinavam perfeitamente com ela. Os olhos cor de âmbar brilhavam cada vez que se desviavam em direção ao meu amigo e não era preciso uma apresentação formal para saber que eles estavam juntos. Ela tinha quase a mesma altura de Maicon, mas seu físico era um tanto magricela e menos definido. Eles pareciam perfeitos um para o outro.

- Lu, essa é a pessoa que eu queria te apresentar – disse Maicon timidamente – ela é hmm... é... minha...

- Namorada – completou a garota loira.

- Ah, oi! – eu cumprimentei, me sentindo tão tímida quanto meu amigo.

Nós esperamos que Maicon nos apresentasse, mas ele só ficou lá, nós olhando por alguns minutos, sem saber aparentemente o que dizer. Quando o silêncio se tornou constrangedor, a namorada dele tomou a iniciativa e eu tive certeza que ia gostar dela.

 - Meu nome é Ana. Ana Dupret. E você é a Luiza, certo?

- Isso mesmo. É um prazer Ana – eu disse com sinceridade. Nós nos cumprimentamos com beijos no rosto – eu espero que possamos ser amigas, assim como eu e Maicon.

- Com certeza, eu já gosto de você antes mesmo de te conhecer. O Maicon fala super bem de você – ela completou com um sorriso.

- Hmm, obrigada. Ele andou meio sumido por uns tempos, mas agora eu entendo o porquê, então você está perdoado ok? – eu disse tentando incluir Maicon na conversa.

Maicon olhou para Ana e ambos sorriram com meu comentário. Eu pensei em algo mais a dizer, mas Maicon salvou o meu o dia, interrompendo minha tentativa de deixar as coisas menos constrangedoras.

- Meninas, o torneio vai começar!

Nós nos aproximamos da cerca e eu pude ver uma procissão entrando no campo. À medida que cada pessoa entrava, Maicon me atualizava sobre seu nome e sua função na aldeia.

O primeiro a entrar no campo foi Tozini, Tz para os íntimos. Ele parecia ter por volta dos 25 anos e um corpo muito bem torneado. Pele negra, olhos escuros e dreads que chegavam até o centro de suas costas. Ele foi escalado como Juiz e narrador do torneio e para isso estava vestido estilosamente, calça caqui bege com uma camisa azul marinho dobrada até o cotovelo, e sobre seu pescoço um cachecol um tom mais claro.

Os próximos a entrarem, formavam um grupo de cinco pessoas: quatro homens e uma mulher. Era o Conselho da Aldeia que hoje fariam o papel dos jurados. Chang estava entre eles e era o único que eu conhecia. Os outros três homens eram todos de meia idade e Maicon me disse os nomes deles: Mário, Carlos e Nicolau. A moça, que parecia ter por volta dos 50 anos, chamava-se Telma e era esposa de Nicolau. Todos demonstravam segurança e sabedoria, típicos integrantes de um conselho.

Os jurados caminharam até uma mesa comprida com cinco cadeiras, montada especialmente para eles. Posicionada em um canto isolado, mas com uma visão privilegiada do campo de batalha, eles podiam analisar todas as jogadas e dar seu julgamento caso fosse necessário.

Minha Mãe, seguida de perto por Victor, foi a próxima a entrar. Ela usava um vestido comprido e formal, demonstrando certa superioridade como administradora da Aldeia. Ela impunha respeito e era claramente admirada pelo seu povo. Eu senti uma pitada de emoção quando ela acenou para os torcedores a multidão a aplaudiu até que ela se sentasse no seu lugar reservado, bem ao lado da mesa do Conselho. 

Em seguida, foi à vez dos competidores. Como minha irmã tinha prometido: muitos homens e pouca roupa, mas havia algumas garotas também. Quatros em um grupo de doze competidores. Todos usavam uma armadura leve que remetia vagamente aos gladiadores romanos e as garotas eram as que tinham menos partes do corpo à mostra.

O grupo dividiu-se e eu vi Alex seguido por duas garotas e mais três rapazes caminharem para o lado direito do campo, enquanto que os seis competidores restantes se posicionaram no lado esquerdo.

TZ caminhou até o centro do campo e começou sua apresentação, sua voz amplificada por um microfone sem pedestal.

- Imerianas e Imerianos! – começou ele – Hoje estamos realizando o 20° Torneio Gibets! E para começar, vamos aos competidores!

- Na equipe amarela temos Mayra como Guardiã. Bia e Pedro como defensores. Thiago, Abel e Guilherme são os atacantes. Desejem sorte a equipe amarela!

- Que os elementos lhe deem sorte! – gritou a torcida em uníssono.

- Na equipe vermelha, Taurus é o Guardião. Jade e Malu são as defensoras. Alex, Leon e Danilo jogam como atacantes. Desejem sorte a equipe vermelha!

- Que os elementos lhe deem sorte! – repetiu a torcida em uníssono.

- Agora eu chamo a voz de nossa querida Líder, Cássia!

Ao pronunciar o nome de minha mãe, a torcida imediatamente se calou, todos ficaram em silêncio para ouvir o pronunciamento de minha mãe. Quando ela começou, eu senti o poder que ela emanava e a segurança que aquelas pessoas viam nela.

- Primeiramente, sejam bem vindos ao torneio – desejou minha mãe, já ao lado de TZ no centro do campo – Lembrem-se todos: apesar do medo, nós temos a capacidade de defender uns aos outros. Os Gibets foram criados para que nunca esqueçamos o que somos capazes. Podemos ser vitoriosos. Somos os únicos que controlam os elementos, nós podemos também controlar a nossa vida.  Não deixe que lhe roubem seus direitos! Nós somos melhores que tudo isso. E que os elementos lhes deem sorte!

- E que os elementos lhe deem sorte, sábias palavras minha líder. Obrigada! – agradeceu TZ, enquanto Cássia voltava a sua posição.

- Então, competidores, coloquem seus capacetes e ajustem-se em suas posições.

- As regras são claras, a equipe que colocar 50 bandeiras da cor sua equipe espalhadas pelo campo dentro do baú e tranca-lo primeiro, vence o jogo.

- Combate corpo a corpo, não é permitido. Nunca toque no seu adversário. Sejam espertos e tentem continuar inteiros até o final do jogo.

- Mas é claro, se isso não for possível, a curandeira mais linda da Aldeia pode dar um jeito nisso. Agradeçam a presença de Sofia!

Sofia, que só agora eu notara, estava sentada ao lado de uma maca em um dos lados do campo. Ela acenou quando TZ a chamou e sorriu alegre.

- Que os elementos lhe deem sorte! E que comece o Jogo!

Ao soar o apito, uma confusão, literalmente, começou no campo. Eu juro que tentei entender o que estava acontecendo, mas minha mente parecia lenta demais para acompanhar. Bandeiras voadoras, pedras flutuantes, água, fogo, folhas, tudo se misturava em emaranhado incompreensível.

- Alguém, por favor, me explica o que está acontecendo? – Eu gritei para ser ouvida no meio da multidão exaltada.

- Maicon, explica pra ela, é tudo muito confuso a primeira vez que se vê. Ela deve estar ficando louca! – gritou Ana em resposta, a empolgação em sua voz.

- Ali! Vê Mayra ao lado do baú? – não era bem uma pergunta então eu não precisei responder – ela é guardiã da equipe amarela, assim como Tauros é da equipe vermelha. Eles têm que cuidar do baú para que a equipe adversária não roube as bandeiras. Eles também são responsáveis pela contagem, quando tiver 50 bandeiras eles trancam o baú e o jogo chega ao fim. Vê, eles ficam do lado oposto ao campo do seu time.

- Essa parte é fácil de entender... Ai meu Deus! Ele colocou fogo na outra equipe! – eu gritei assustada com o que eu via. Maicon riu em resposta.

- Calma! Isso faz parte do jogo.

Ana também riu do meu assombro, enquanto Maicon continuava a me explicar.

- Esse cara que colocou fogo na equipe vermelha é um defensor, ele tem que impedir que os atacantes levem as bandeiras até a guardiã da equipe. Olha! Jade já está apagando o fogo! Ela é defensora da equipe vermelha.

Eu olhei a garota ruiva criando uma espécie de chuva sobre os integrantes de sua equipe que estavam pegando fogo. Pouco a pouco as chamas se apagaram e eu pude ver aliviada, que Alex continuava inteiro.

- Olha, Lu, O Leon, da equipe do Alex, vai atacar. Aposto que enquanto ele ataca os outros vão correr para pegar as bandeiras vermelhas.

E foi exatamente o que aconteceu. Leon fez surgir da terra, ramos finos e fortes que se enroscaram aos pés dos jogadores da equipe amarela, prendendo-os ao chão. Enquanto ele dominava seus opositores, Alex e Danilo correram em direção as bandeiras vermelhas.

Enquanto eles coletavam tantas bandeiras quantas eles conseguiam, eu vi Pedro, da equipe amarela colocar fogo sobre os ramos que Leon tinha criado. Em alguns segundos, Thiago, Abel e Guilherme estavam livres para o contra-ataque.

Esse jogo era emocionante e as vantagens mudavam em um piscar de olhos. Você tinha que estar bem atento para não perder nenhum lance. Era empolgante, mas também assustador com as coisas que eu via acontecer como em um passe de mágica.

Alex estava agora bem próximo de entregar suas bandeiras para Taurus, o guardião de sua equipe, quando várias pedras vieram voando em sua direção. Eu gritei antecipando o que viria a seguir. Alex foi rápido em sua defesa, mas isso não impediu que uma pedra batesse em cheio no centro de sua testa, deixando uma marca avermelhada e um pingo de sangue.

Malu rapidamente parou Abel quando percebeu o que estava acontecendo. Com uma rajada de vento, ela fez todas as pedras caírem ao chão, enquanto o jogador da equipe amarela era arremessado ao outro lado do campo. Alex pôde se levantar e entregar as bandeiras a Taurus.

As equipes estavam praticamente empatadas, 20 bandeiras para a equipe vermelha, 24 para a equipe amarela. Embora eu achasse que a vantagem estava sobre a equipe amarela, já que eles tinham mais bandeiras, Ana me garantiu que aquela contagem não era nada.  E ela estava certa, porque em menos de dois minutos, a equipe vermelha colocou mais 15 bandeiras em seu baú.

O jogo continuava cada vez mais excitante, com rajadas de vento que arremessavam os competidores e ramos verdes que os prendiam ao solo. Eu percebi que a água e o fogo eram usados apenas para defesa, e nunca como ataque. Quando alguém usava o fogo para bloquear uma passagem o defensor da outra equipe apagava com a água. O fogo era usado para libertar os jogadores dos ramos verdes, e água, às vezes servia para atrapalhar a direção que o jogador seguia. O fato é que apenas os especialistas em ar e terra é que atacavam; os especialistas em fogo e água, só defendiam.

Mais uma vez as vantagens mudaram. A equipe amarela estava na frente com 46 bandeiras, enquanto a equipe vermelha contava com apenas 35. Eu torci para que Alex pudesse cumprir sua promessa de vencer o torneio, embora eu tivesse que concordar que a equipe amarela estava fazendo um ótimo jogo. Talvez não houvesse chances para a equipe vermelha.

E mais uma vez, eu estava enganada. Em uma jogada de mestre, a equipe vermelha conseguiu colocar as quinze bandeiras faltantes de uma só vez, e tudo isso graça a Alex.

Eu nunca me perguntei qual era a especialidade de Alex, não porque eu não tivesse curiosidade, mas porque ele me mantinha tão ocupada fazendo perguntas sobre mim, que raramente falávamos sobre ele. Naquele instante eu percebi que eu não sabia quase nada dele e nunca tinha visto o quão incrível ele podia ser. O que ele fez pra ganhar aquele jogo me deixou extremamente admirada.

Jade e Malu se posicionaram entre os atacantes da equipe amarela, entretendo-os. Leon e Danilo recolhiam as bandeiras enquanto Alex cuidava de Bia e Pedro, os defensores da outra equipe.

É verdade que sozinho, Alex não ganharia esse jogo, mas se não fosse por ele, eles tampouco ganhariam. Quando Leon e Danilo estavam com todas as bandeiras, eu pensei que eles as levariam até Taurus o guardião, mas não. Eles as fizeram flutuarem até Alex, que estava bem próximo ao seu baú.

Então, como numa cena de ficção cientifica, ele pegou todas as bandeiras vermelhas e se lançou no ar, literalmente voando, até pousar ao lado de Taurus que as trancou no baú. O apito soou mais uma vez, e a equipe vermelha venceu o jogo.

Eu não esperei que Alex chegasse até onde estávamos. Eu corri até ele, empolgada com o que eu tinha acabado de presenciar. Eu também não pensei muito em meus atos, quando reparei, já estava pulando em seu colo em um abraço de urso. Ele me abraçou de volta por um instante, me colocando gentilmente no chão logo em seguida.

- Alex! – eu gritei – Isso foi muito legal, como assim você voa?

-Ele sorriu como resposta da minha empolgação e suas palavras em seguida foram como se o que ele tinha feito não fosse nada mais que o comum.

- É uma coisa de ar.

- E ele é um dos únicos que consegue fazer – interrompeu Ana – Alex vocês foram ótimos, foi empolgante.

- Obrigada Ana.

- Ei, cara, aquele toque final foi espetacular! – disse Maicon dando um abraço camarada em Alex.

- Bem, nós planejamos aquilo, cada um teve sua parte nisso. Mas... A razão de termos ganhando esse jogo está bem aqui do meu lado.

Ele me puxou para o seu lado me apertando em um abraço. Eu o olhei sem entender como eu tinha participado dessa vitória e percebendo minha confusão, ele me atualizou sobre o meu feito.

- Eu te disse que iria ganhar esse jogo para você, não disse?

- Eu não sabia que eu tinha que levar isso a sério.

- Sempre leve a sério o que eu digo, Luz. Principalmente se eu falo pra você.

Eu me desconcertei com seu comentário e tudo que pude fazer foi dar um sorriso em resposta.

- Por falar nisso, isso aqui é seu.

Alex retirou a medalha que estava sobre seu pescoço, a que ele tinha acabado de ganhar no torneio, e colocou sobre minha cabeça.

Eu a analisei sobre minhas mãos. Um delicado círculo transparente com os quatro elementos esculpidos no centro: terra, fogo, ar e água. Era perfeita e bela, um presente que eu não tinha como aceitar.

- Alex, eu não posso...

- Você pode e você vai, não faça essa desfeita. Eu ganhei esse jogo pra você, então ela é sua.

- Não, Alex, você ganhou, você a merece. Eu só fiquei aqui assistindo.

- Então tá, ela é minha, mas você vai ter que guardar ela pra mim, indefinidamente.

- Isso não é justo! – eu protestei rindo de sua solução. Ele era um cara muito esperto para meu gosto.  Procurei por Maicon e Ana para que eles fossem a minha defesa, mas eles já tinham partido.

- Alex, eu acho que eu to com fome.

- Que tal um lanche com bastante carne e coisas gordurosas?

- Eu espero que isso seja bom – eu disse, mas minha voz foi encoberta por uma sirene alta e barulhenta que ecoou por todo o campo.

Todos ao meu redor, inclusive Alex, ficaram imediatamente tensos, mas que isso, eles pareciam assustados.

- Nós temos que sair daqui, Luz!

- Alex? O que está acontecendo? – eu quis saber.

- Nós temos que sair daqui, Luíza, não pergunte. – ele repetiu, a ansiedade em sua voz.

- Mas Alex e....

- Vem!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Beijitos, e até o próximo capítulo!



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