A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 14
Confusões


Notas iniciais do capítulo

Meus agradecimentos especiais para CarolKati, Pipoca Sonhadora, Usuy Ishimura e Keiki Ztar por escolherem essa história como favorita e a todos aqueles que a companham. Abrigada de coração! Sem vocês está história não existiria.



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Eu não sou uma pessoa que foge dos desafios, enfrento os problemas de frente e sempre procuro ver o lado bom das coisas, mas naquele momento, quando eu tinha acabado de descobrir que a vida inteira vivi uma vida que não me pertencia, tudo o que eu conseguia pensar é que eu tinha que sair dali. Foi como se eu estivesse lendo um jornal por tanto tempo que me esqueci de segurar as folhas, então quando veio o vento, todas as páginas da minha história saíram voando, agora eu tinha que correr pra recuperar as folhas perdidas e colocar as ideias em ordem.

A única coisa que consegui dizer para Cássia é que tudo não passava de um grande engano, uma grande mentira. Tinha que ser mentira, ira irreal demais, fantasioso demais. Esse tipo de drama só acontece nos filmes e nos romances. Era um sonho, é isso, só um sonho, pensei. Mas não, não era um sonho. Aquela senhora em minha frente era bem real, tão real quanto todas as coisas que estavam ao seu redor. Eu tinha que sair dali. Eu precisava me reorganizar. Corri até a porta mesmo sabendo que ela estava fechada, se precisasse eu a derrubaria com os pés, que fosse! Eu não podia ficar ali nem mais um minuto. Mas não foi preciso. Assim que cheguei perto, a porta abriu sozinha e passei correndo sem saber que direção tomar.

O sol cegou meus olhos assim que coloquei os pés no caminho de pedra. Eu já tinha me acostumado com a claridade do dia, mas às vezes parecia que o sol brilhava com mais intensidade que em outros momentos. Tudo bem, até o sol estava contra mim hoje. Eu podia superar isso, eu ia superar isso. Continuei correndo à procura de um lugar em que eu pudesse me sentar só e pensar. Vez ou outra eu desviava de um habitante que vinha em minha direção, mas eu sequer via seu rosto, nada me detinha. Foi preciso um esbarrão tão forte pra me derrubar no chão. Eu não vi de que direção ele veio se não tinha desviado. Maicon me ajudou a levantar e eu cobrei o que ele estava me devendo, enquanto me livrava das folhas e pedrinhas que colaram em meu corpo.

- Você – eu disse apontando para Maicon – vai me levar de volta pra casa agora! – ordenei.

- Você está em casa - ele disse.

- Nós temos um acordo Maicon - eu disse bufando, mas não era para eu parecer com uma criança rebelde – Cumpra com sua palavra e me leve para a Fortaleza.

- Eu vou cumprir, mas não agora, não com você assim fora de si. Eu posso imaginar como você está confusa, então coloque suas ideias em ordem e quando eu tiver certeza que você já pode tomar suas decisões sem se influenciar pelo calor do momento, então, ai eu te levo.

- Maicon, estou totalmente plena de mim e sou capaz de tomar minhas decisões agora mesmo e quero ir pra minha casa. Agora!- gritei.

- Eu não posso Luiza, não com você assim. – reafirmou ele, calmamente. Pelo jeito não conseguiria faze-lo mudar de ideia, então tudo que consegui fazer foi me frustrar.

- Mais você prometeu – cobrei como uma criança chorona. Ele não respondeu só veio até meu lado e me abraçou forte me consolando como da outra vez. Era incrível como eu me sentia segura em seus braços, ele tinha o poder de me acalmar facilmente, mas, mais que isso, com ele, eu conseguia colocar todas as minhas emoções pra fora. Foi por isso que quando ele me abraçou o desespero tomou conta de mim e as lágrimas vieram com força total.

- Vamos sair daqui – propôs ele me guiando – Vamos pra um lugar onde ninguém esteja olhando. – continuou ele ao reparar que todos estavam em suas janelas bisbilhotando. Poxa, não se podia ter privacidade aqui?

- Aonde vamos? – perguntei entre lágrimas.

- Vamos até Sofia, a casa dela fica mais afastada da cidade, lá você vai ficar longe dos curiosos e vai poder pensar com calma.

A casa de Sofia era a casa mais incomum que já vi. Por mais que eu tentasse, não consegui me lembrar de ter visto nada parecido até então, nem na aldeia, nem nos arquivos da Fortaleza. A casa era totalmente singular. Tábuas de madeira desgastadas pelo tempo e dispostas em horizontal formavam as paredes compondo a casa em dois andares. O andar superior ocupava o lado direito formando um cubo sobre o andar inferior e o térreo era um paralelepípedo que dividia seu espaço com três janelas e uma porta. As duas janelas superiores eram idênticas as de baixo e se pareciam com portas que não chegavam até o chão. Mas sabe o que era o mais inusitado de tudo? Os galhos e ramos de folhas que cobriam em alguns pedaços a extensão da casa dando uma graça de casa abandonada. Era linda, mas apesar disso me perguntei se seria segura.

- Sofy! – gritou Maicon batendo palmas.

Eu já não chorava mais quando Sofia apareceu na janela do andar de cima, mas pelo que ela disse a seguir, eu não estava com uma aparência muito boa.

- Meu deus o que fizeram com você Luiza? Você está péssima!

- Você é tão boa em animar as pessoas Sofy – ironizou Maicon – Você vai deixar a gente aqui fora?

- Cala boca Maicon! – retrucou ela – Essa sou eu – declarou dando de ombros - Entrem, a porta está só encostada.

O interior da casa não parecia condizer com o exterior. Ali dentro, as coisas pareciam bem mais novas apesar de simples. Imaginei que os quartos estavam no andar de cima, pois ali no térreo, a cozinha e a sala formavam um único cômodo dividido apenas por uma cortina de contas.

- Sentem-se no sofá – convidou ela descendo as escadas. – Fiquem a vontade!

Ela se juntou a nós, sentando-se na poltrona vermelha a nossa frente.

- Pelo jeito você muito com o que lidar. Como você está Lu?

- Que pergunta Sofy, precisa dizer como ela está? Você não está vendo? – reclamou Maicon e ela mostrou-lhe a língua em resposta. Nesse momento uma bola de pelos caramelo passou correndo por nós e pulou em meu colo, fazendo com que eu  pulasse de susto com o gato.

- Runa, sua gata folgada, desça já daí! – ralhou Sofia com a gata – Desculpe por isso Lu – falou ao pegar Runa e retirá-la de meu colo, mas foi só ela colocar a gata no chão que ela pulou novamente em mim. Sofia olhou feio e quando quis pega-la de novo eu a impedi. Era reconfortante tê-la sobre mim.

- Tudo bem, pode deixar – eu disse acariciando o pelo macio de Runa – Eu só me assustei por um momento, não estou acostumada com isso. Nós não temos animais de estimação na Fortaleza. – expliquei.

- Que triste – lamentou Maicon – Eu tinha um cachorro, mas ele morreu de velhice, é bom, eles nos fazem companhia, eu sinto falta dele.

- Maicon, sua menininha, deixe as crises com seu cachorro de lado, nós estamos aqui pra ajudar Luiza, depois nós trataremos de você – brincou Sofia, no que ele respondeu com uma careta, e eu ri. Era engraçado vê-los de picuinha.

- É bom te ver sorrindo – manifestou-se Maicon com um sorriso nos lábios.

Sofia pegou uma almofada azul que estava do seu lado e atacou-a na cara de Maicon. Ele pegou a almofada e revidou acertando-a na cabeça. Eu não pude me conter e cai na gargalhada. No momento seguinte a almofada acertou meu braço.

- Ei! – protestei e devolvi a almofadada. Momentos depois, estávamos todos fazendo uma guerra de almofadas. Runa desviava com destreza toda vez que uma almofada ameaçava acerta-la e tive inveja dela já que eu não conseguia fazer o mesmo. Depois da farra, estávamos todos esgotados no sofá e rindo. Lentamente meu riso foi se tornando mais forte até que se tornou histérico e eu cai no choro novamente.

- Eu estou perdida – desabafei - Tudo o que eu sempre tive certeza se foi. Meu mundo desabou como em um terremoto, eu não sei o que fazer nem em quem confiar já que tudo o que eu sempre conheci não passava de uma mentira.

- Você pode confiar na gente baby – consolou Sofia me abraçando. Maicon fez o mesmo e então, estávamos em um abraço triplo. 

- Você pode ficar aqui em casa o quanto quiser. Você dorme no meu quarto comigo.

Era tão bom tê-los ali em meu abraço, eu nunca tinha passado por emoções tão fortes e contrastantes, eu queria ir pra casa, mas me sentia tão bem ali com Maicon e Sofia, e eu não queria perder isso. Eu me sentia como parte da família, amada. Na Fortaleza eram só os laços de obrigação. Mas por que então eu queria voltar pra lá?

- Eu não quero incomodar.

- Você não vai incomodar e além disso você pode me ajudar com as coisas por aqui se você quiser – ela disse tentando me convencer.

- Mas eu não sei fazer nada Sofy- eu disse em pânico com a idéia.

- Não importa, eu quero que fique. Por favor, fique! – insistiu.

- Está bem – concordei convencida, talvez fosse ser divertido.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!



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