Uma semana depois do leve problema de Shouta, fomos obrigados a voltar a Enfermaria. Dessa vez, por minha causa.

–Eu to bem. –Menti. Estava com muito frio.

–BEM?! –Shouta dizia, tocando minha testa. –Você está com febre! Vomitou e tudo mais! Você está com virose e ainda vem falar que está bem?!

Bom, ele estava certo. Depois de alguns exames, eles afirmaram que eu estava com virose. Legal isso. Agora, cá estou, nos braços desse menino, sendo levada até o dormitório. Eu ainda estou com frio, mas ele é quente e aconchegante.

–Qualquer outra garota ficaria feliz. – Maiako tentava me animar.

–Sim Sim! –Kaori dizia, saltitando pelo quarto. –Ah, ser cuidada por Shouta. O cara mais lindo, gentil e cavalheiro do colégio Seika. Meu Deus, qualquer garota daria o dedo para estar no seu lugar! Ah...

A porta se abriu, e Shouta entrou com um belo sorriso no rosto, acompanhado de Ma-chan, Kaito, Meito e Toshio. Todos rindo. Eles vieram me visitar depois que descobriram da virose. Shouta trazia uma sacola com remédios e outra com algumas comidinhas leves.

Eles se aconchegaram no quarto e Shouta se aconchegou ao meu lado, fazendo minha cabeça pousar sobre seu peito. Corei quando todos me fitaram com “aquele olhar” e depois fechei a cara.

Quando percebi, havia dormido. Eu ainda sentia a respiração calma de Shouta e o carinho que ele fazia em meus cabelos lisos. Ah, era tão confortável. Eu realmente poderia ficar ali para sempre.

–Ei, preciso ir para minha cama! Já é bem tarde! –ele sussurrou suavemente para mim.

–Não... –Neguei ainda meio sonolenta. –Fica aqui...

–Você que pediu...

Ele se levantou, e eu abri os olhos para tentar ver o que ele ia fazer. Estava escuro. Fiz um esforço para enxergar o horário no relógio. Eram 22h00min. Ele saiu do banheiro só de cueca boxer preta. Oh, não que eu repare, mas, ele tinha um belo volume na parte da frente... Ok, Ma-chan não está me ajudando muito agora.

Ele se deitou ao meu lado, me cobrindo e cobrindo ele. Puxou-me para seu peito e começou a fazer carinho em meus cabelos. Ah, e naquele estado. Cansada e nos braços do menino que eu odiava, adormeci.

–Hey... – voz suave me acordou pela manhã. Uma voz muito calma... Abri os olhos lentamente, e Shouta me fitava com um lindo sorriso.

–Você estava me vendo dormir? –Eu corei. Maldito.

–Sim... –Ele sorriu. –Fica linda dormindo. Acho que quando casarmos, eu vou acordar mais cedo só para vê-la dormir.

– Idiota! Quem disse que vamos casar?! –Eu levantei rápido e cambaleei, quase cai.

Ainda estava um pouco mal por culpa da virose. Deitei-me na cama novamente enquanto via Shouta trocar de roupa. Nesse momento, eu pude finalmente observa-lo melhor. Ele era alto e belo, os cabelos negros combinavam com seu tom de pele bem clara. Olhos intensos e serenos. Lábios vermelhos como vinho. Seu tipo físico era invejável e particularmente, falando como amiga do Ma-chan, sua bunda era linda. Eu fiquei o observando um momento. Sua beleza me fascinava.

–O que foi Yu-chan? –Ele sorriu para mim, me despertando da hipnose. –Admirando o corpo de seu futuro marido?

–IDIOTA! –Eu o odiava. –CALA BOCA E SAIA DO QUARTO PARA QUE EU POSSA ME TROCAR!

Antes que eu berrasse mais uma vez, ele saiu. Suspirei e levantei da cama. Troquei-me o mais rápido que consegui, arrumei meu cabelo, prendendo-o com uma tiara vermelha. Peguei a mochila e sai do quarto, encontrando Shouta conversando com o Kaito no corredor.

O resto do dia correu bem. Bem até demais.

O sinal do intervalo tocou. Todos saíram, porém, eu fiquei arrumando algumas coisas. A porta da sala se abre, e por ela, entraram Meito, Keiko e Rin. Keiko vem em minha direção, batendo na minha mesa.

–Levanta ai nerd. –Eu obedeci, levantando. –Escuta só - Ela colocou o dedo na minha cara. –O Shouta é MEU entendeu? SÓ MEU. Eu não aceito dividi-lo com alguém como você!

–Ele que vem passar a mão em mim Keiko. –Eu digo fria.

–HÁ.HA.HA.HA. FAZ-ME RIR! Escuta aqui tontinha, você acha mesmo que ele faz isso porque te acha bonita? Ele faz isso para me fazer ciúmes e porque gosta de iludir garotinhas idiotas e feias como você! Já se olhou no espelho hoje? Você é o cão menina! Eu só não te mando pro inferno porque o Diabo não aceita concorrência! –Eu ia meter um tapa bem dado na cara dela, mas algo me impedia. –E mais uma coisa, FICA.LONGE. DO. SHOUTA.

Ela se vira e sai, seguida por suas amigas. Eu fiquei parada lá. Aquelas palavras ecoavam na minha cabeça. Era estranho, eu não deveria me abalar por culpa disso. Mas...

–Você tá bem? –Shouta se senta ao meu lado no jardim. –Está assim desde o intervalo.

–Estou bem. –Menti.

–Me conte o que acontece

–Estou bem, já disse.

–Yuri...

–Ai Shouta, dá licença vai.

Eu pego minha mochila e saio. Estava com vontade de chorar. Ah, que merda. Minha visão tá ficando embaçada. Droga, droga, droga. Eu abro a pesada porta da biblioteca e corro para o fundo dela, num lugar afastado e escondido. Sento-me lá e choro. Não sei por que, mas, as palavras de Keiko me magoaram.

Hoje eu finalmente descobri que nunca vou ser bonita o bastante para o Shouta. Descobri que ele nunca me quis de verdade. Que só queria me magoar. Só isso. Iludir. Ah, porque estou chorando?! Eu não me importo com ele! Não me importo mesmo! Ele é só um idiota metido a besta! Ai que merda...

–YURI! –Pare de chorar! É a voz dele! Ele vai te ver chorar! Ele vai te ver chorar!

Eu sinto aqueles braços me envolverem num abraço apertado. Ele passava a mão em meu cabelo e murmurava coisas que eu não conseguia decifrar.

–O que aconteceu?!

–NADA! NADA! –As lágrimas corriam pelo meu rosto. –NÃO FINJA SE IMPORTAR! –Eu o empurrei. –VOCÊ É SÓ MAIS UM IDIOTA! UM IDIOTA METIDO A BESTA! A KEIKO ME CONTOU! VOCÊ NUNCA ME QUIS! VOCÊ MENTIU, TENTANDO ME ILUDIR! MAS NÃO CONSEGUIU! EU... EU ODEIO VOCÊ! ODEIO! ODEIO!

Eu levantei e sai. Oh merda, que merda que merda! Faz só 3 meses que estou aqui e isso já acontece? Ah, não consigo enxergar direito. Bati a porta do dormitório do Ma-chan, esse, abriu quase que rapidamente. Ele me abraçou e me consolou. Por fim, acabei dormindo lá. Não conseguiria encarar o Shouta. Não depois disso tudo. Não quero encara-lo. Não quero.