Eu acordei mais cansada do que quando fui dormir. Sábado de manhã. Nada mais emocionante. Ainda mais quando se está na escola.

–Ohayo Yuri-chan! –Shouta diz tão alegremente que chegou a irritar.

–O...hayo... –Bocejei. – Nhá, que merda.

Levantei da cama com certa dificuldade. Fui até o banheiro e liguei o chuveiro. Despi-me e entrei, relaxando com a água quente caindo em meu rosto.

–Hey, Yu-chan... –A voz não parecia muito longe. –Largou a porta aberta...

–MALDITO! FECHA ESSA PORTA! –eu grito o mais alto que eu posso.

–Nyah, eu estou com os olhos fechados! –Eu conseguia imaginar o sorriso idiota no rosto dele!

–SAIA DAQUI SEU MALDITOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO! –Eu ouvi o barulho da porta fechar. Graças a Deus.

Depois do banho, eu me troco bem rápido, saindo com o cabelo molhado do banheiro. Sentei-me na cama e comecei a enxugá-lo.

–Deixe-me enxugar seu cabelo Yuri-chan! –Ele não pediu. Sentou-se atrás de mim e começou a enxugá-lo e penteá-lo.

Ele fazia com muita delicadeza. Talvez estivesse com medo de me machucar, ou estava sendo só ele mesmo. Aquilo era relaxante. Eu senti que poderia dormir ali.

–Yu-chan? –Ele me desperta dos pensamentos. –Você é minha pequena sabia? –A respiração dele no meu pescoço me fez arrepiar.

–Não sou sua! –Eu levantei, ignorando-o.

Abri a porta e sai do dormitório. Precisava colocar as coisas em ordem. Era complicado. Tudo muito complicado. Eu caminhei até aquele jardim atrás do colégio. Atravessei a passarela, que nos permitia chegar a uma casinha, onde poderíamos enxergar o lago. Sento-me na beirada e tento pensar um pouco.

Talvez tudo aquilo esteja acontecendo por um engano. Eu não gosto dele. De jeito nenhum. Ele é o meu oposto. Bom, até que ele não é feio. Alto e corpo atlético, chamava bem atenção. Seus cabelos negros ajeitados na franja que cobria a testa eram lisos e brilhantes. A pele clara era linda. O cheiro que saia dele era incrível. Não era perfume, mas sim, algo natural. Dele mesmo.

Ele era gentil. Bom, pelo menos às vezes. Ele não se importava se eu via Yaoi ou não. Quando contei do meu irmão, ele até ficou alegre...

– Flash Back On

Era só mais um dia de aula. Nos fomos obrigados a escrever um belo texto ou ler um livro. Ah, o livro me parecia mais interessante. Peguei qualquer um dentro da minha bolsa. Fitei o livro. “Um amor cego”, de Yoshida Takashi. Meu lindo Onii-chan havia escrito há um tempo. Era uma das primeiras cópias. A capa eram dois lindos homens juntos, abraçados. Logo veriam que era um Boys Love.

–Yu-chan, que livro é esse? –Shouta toma o livro da minha mão. Idiota.

–ME DEVOLVA! –Eu puxei o livro. –Cuidado! É uma das primeiras cópias do livro do meu irmão...

–Seu irmão? –Ele perguntou, tomando o livro de mim com mais cuidado. –BOYS LOVE?! SEU IRMÃO É O TAKASHI-SAMA!?

–É... –Eu me assusto com a reação dele. Como ele conhece meu irmão?

–Não acredito! Ele é incrível! Eu amo os livros dele! Mesmo sendo Boys Love, são simplesmente incríveis! Por favor, me deixe conhecer seu irmão qualquer dia Yuri-chan! ONEGAAAAAI! –Ele me levantou, segurando meus ombros e fazendo cara de cachorro abandonado.

–Claro! –Eu sorri simpática.

Senti ele me abraçar. Mas um abraço muito forte. Eu corei pelo ato dele e segurei inconscientemente sua blusa. Ele demorou a me soltar, e quando soltou, viu meu rosto corado e sorriu. Irritei-me e fechei a cara, sentando-me novamente na cadeira.

–Yu-chan, você é realmente fofa! –Sinto os lábios dele em minha bochecha. Corei ainda mais.

– Flash Back End.

Pois é. Ele ficou bem alegre. Foi ai que eu me surpreendi pelo fato dele gostar de Boys Love... Talvez nunca ache alguém assim.

–Ah, por que você me deixa tão confusa? –falo para mim mesma, fechando os olhos e pendendo minha cabeça para trás, sentindo bater na madeira.

–Quem te deixa confusa? –A voz me fez abrir os olhos. Shouta me fitava com uma cara lindamente fofa.

–AAAH! –Soltei um grito de susto e me desequilibrei. Eu ia cair no lago se ele não tivesse me puxado.

–Nossa! Eu não posso ser tão feio assim!

–Você não é feio! Só me assustou! Apareceu do nada assim! –Eu tentei me explicar.

–Você me acha bonito... –Ele se inclinou, sussurrando em meu ouvido. - Y-u-ri-chan? ~~

Eu corei. Empurrei-o e fechei a cara. Merda. Ele era só um idiota. Eu me virei para o lago, me sentando novamente na beira do quiosque. Ele se senta a minha frente, tentando chamar a minha atenção. Eu desviei o olhar, tentando ao máximo evitá-lo.

–Yuri? –Seu tom de voz estava sério.

Eu o fitei, e ele se aproximou, fixando seu olhar no meu. Era quase impossível desviar. Ele encostou a cabeça no meu ombro e eu, sem perceber, corei. Meu rosto ardia. Ele me fitou de novo, e deu um sorrisinho bobo. Chegou perto e me beijou. Eu retribuo, colocando a mão em seus cabelos negros. Aquilo era bom. Eu não podia parar... ESPERA! O QUE EU TO PENSANDO?!

Eu o empurrei e levantei. OH MERDA! MAS QUE CARALHO! O QUE TÁ ACONTECENDO YURI?! QUAL SEU PROBLEMINHA?!

–Yuri? O que foi? –Ele se levantou e veio na minha direção.

–NÃO. CHEGA. PERTO! – Eu gritei. –VOCÊ NÃO TÁ AJUDANDO MUITO A SITUAÇÃO AQUI AMIGO!

Eu me virei para sair correndo, mas algo segura meu pulso. Suas mãos frias me prendem me fazendo fita-lo novamente. Deparo-me com um rosto tristonho, de cachorro abandonado. Eu parei e o fitei por uns minutos. Não nos movíamos direito. Não fazíamos nada.

O som do meu celular corta o silêncio. Ele me solta, se virando. Eu ainda estava parada.

–Atenda logo. –Foi frio.

–Alô? –Minha voz tremia.

– Yuri? É o Takashi. O que aconteceu? –Talvez minha voz esteja modificada demais.

–Hã, nada! O.. O que você quer?

–Só liguei pra avisar que segunda eu vou mandar o Ma-chan lhe entregar os doces que pediu...

–Ah, claro... Bom, Sayonara.

Eu nem dei tempo dele desligar. Olhei o relógio. 13h00min. Quanto tempo tinha passado desde que estivéssemos ali?

Viramo-nos e caminhamos até os dormitórios. Era meio triste. Eu não queria estar ali. Com ele. Não naquele momento. A cena cravada em minha memória... Ah, ela era tão clara! Chegava a ser irritante.

–Vamos jogar videogame na sala de jogos? –Ele quebrou o gelo.

–Claro!

Bom, o resto da tarde foi normal. Eu evitei qualquer aproximação com ele. Não queria tanto contato. Ele era só um cara.... Um cara normal pelo qual eu tinha uma pequena queda.